outubro 07, 2011



"O meu pão diário é Quatro Quartetos de T.S. Eliot,
que mastigo deliciosamente entre os dentes".
                                                               Tomas Transtromer


A Academia Sueca atribuiu, esta quinta feira, o Nobel da Literatura ao poeta sueco Tomas Transtromer.

Tomas Transtromer nasceu a 15 de abril de 1931 em Estocolmo e, segundo a Academia Sueca, é "um dos poetas vivos mais traduzidos em todo o mundo", cuja obra incide sobre "a morte, a História, a memória e a natureza". Os seus trabalhos estão publicados em mais de 50 línguas.
Licenciado em psicologia, em 1956, pela Universidade de Estocolmo, exerceu funções em instituições de correção juvenil e estabelecimentos prisionais a partir de 1960, passando a dividir o seu tempo entre essas instituições e a poesia.
Iniciou-se na poesia com 23 anos de idade. O seu primeiro livro intitulava-se "17 dikter" (17 Poemas).


Em 1990, um acidente vascular cerebral afetou-lhe a fala e os movimentos, deixando-o parcialmente afásico e com metade do corpo paralisado, sujeito a um discurso quase binário entre o "sim" e o "não". Impedido de escrever pela própria mão, continuou a escrever com o auxílio da sua mulher, tendo publicado três obras desde essa data.
Admirador da música, concentrou-se no piano, tocando diariamente, apenas com a mão esquerda.
Quando lhe perguntaram se se ganha alguma coisa quando se perde a fala, respondeu:


"Perder a fala significa que nunca mais podes esconder-te atrás dela".


Em Portugal, Tomas Transtromer está pouco traduzido, estando apenas representado na coletânea "21 poetas suecos", editado pela Vega, em 1981. Esta é precisamente a nossa sugestão de leitura de fim de semana, que o leitor pode requisitar na sua Biblioteca.

Para o  poeta e tradutor desta obra, Vasco Graça Moura, Tomas Transtromer "tem uma grande força lírica e preocupação social" e considerou-o "um Prémio Nobel muito merecido".

O escritor e crítico literário do Público, José Riço Direitinho, considera que "há talvez duas ou três décadas que Tomas Transtromer merecia esta distinção". É  um poeta com "uma lírica e um imaginário originalíssimos, que em alguns pormenores, o aproxima dos surrealistas".

Neste livro, com tradução de Vasco Graça Moura,  o leitor pode encontrar um poema intitulado "Lisboa",  onde o poeta destaca elementos típicos do bairro de Alfama.


Lisboa

No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes.
Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.
Acenavam através das grades.
Gritavam que lhes tirassem o retrato.

"Mas aqui", disse o condutor e riu à sucapa como se cortado ao meio,
"aqui estão políticos". Vi a fachada, a fachada, a fachada
e lá no cimo um homem à janela,
tinha um óculo e olhava para o mar.

Roupa branca no azul. Os muros quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:
"Será verdade ou só um sonho meu?".


BOM FIM DE SEMANA COM BOAS LEITURAS

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