dezembro 30, 2021

FELIZ 2022

 



"Esta é a hora em que podemos, de facto, reaprender tantas coisas! 
Podemos reaprender a estar nas nossas casas, mas também a sentir que depende de nós o nosso prédio, a nossa rua, o nosso bairro, a nossa cidade, o nosso país, dando substância efetiva a palavras, tantas vezes destituídas dela, como são as palavras "proximidade", "vizinhança", "humanidade", "povo", e "cidadania". (...) 
Sem nos tocarmos, podemos reaprender o valor da saudação, o estímulo de um cumprimento, a incrível força que recebemos de um sorriso ou de um olhar.
Sem que os nossos braços se estendam na direção uns dos outros, podemos abraçar-nos afetuosamente, como já o fazíamos ou de um modo mais intenso ainda, transmitindo nesses abraços reinventados o encorajamento, a hospitalidade, a certeza de que ninguém será deixado só. (...)"
José Tolentino Mendonça, 
In O que é amar um país



Feliz 2022


dezembro 23, 2021

FELIZ NATAL

Na sequência do despacho do Sr. Presidente da Câmara Municipal a conceder tolerância de ponto a todos os funcionários da autarquia, informamos que iremos estar encerrados nos dias 24 e 31 de dezembro.







dezembro 15, 2021

UM NATAL PERFEITO

Quando o viu na repartição de Finanças pensou que se tinha enganado. Mas logo ele lhe acenara, sorrindo, não havia engano. 

"Que sítio tão pouco poético", pensou. Durante estes anos todos sempre tivera a certeza de o voltar a encontrar um dia, mas nos sonhos o reencontro era sempre no Guincho e ao pôr do Sol.
"Aos anos que a gente não se via!", exclamaram ambos, e riram (...)
Virou-se para ela e disse-lhe que estava cheio de pressa, viera apenas requisitar os novos modelos de recibos verdes, mas um dia destes havia de lhe telefonar para combinarem um encontro com mais tempo. Ela estremeceu e pensou que se calhar iam estar outros 40 anos sem se verem e, num impulso arrisca, "porque não vais passar o Natal lá a casa?". Logo se arrepende, que disparate, ele há-de ter família, mulher e filhos, netos, quem sabe, e vai já desculpar-se quando o vê tirar rapidamente a agenda do bolso, e perguntar-lhe a morada. (...)



Durante toda essa semana ela só pensou no jantar de Natal. O jantar de reencontro, 40 anos depois. Um clássico. Todas as revistas femininas tinham, para ele, receitas infalíveis. Folheou-as vezes sem conta. Hesitou entre um peru assado com champanhe e um peru assado com castanhas, mas acabaria por se decidir por uma velha receita que lhe ensinara a avó que vivia nos Açores, que aproveitava os miúdos do bicho e os refogava com miolo de pão. Comprou toalha nova, naqueles tons de vermelho e verde que as revistas exibiam, com muitos ramos de azevinho no centro, e levou o requinte ao ponto de entrar numa loja resplandecente de cristais e porcelanas e comprar duas flûtes para o brinde com champanhe francês, e duas chávenas da Vista Alegre para o café. Nada poderia falhar.

Ele chegou tarde e a barafustar, "que chatice, nem nestes dias  aqueles gajos me dão sossego! Só sabem é pensar em aumentos de ordenado, em subsídios de Natal, mas quando toca a trabalhar, tá quieto ó mau!" (...) e, franzindo o sobrolho, pergunta-lhe "que perfume puseste?", mas antes que ela tenha tempo de responder já ele continua "é que a minha rinite dá logo sinal, daqui a pouco começo a espirrar que nunca mais paro!". Ela quer então abrir um pouco a janela, mas ele grita "nem pensar!", com o frio que vai lá por fora então é que a garganta lhe ficava apanhada de todo.

É preciso começar a conversar, o jantar de Natal tem de ser perfeito, e ela pergunta-lhe se tem ido ao cinema, mas logo ele a desilude, há anos que não sabe o que é um filme, agora é só o trabalho, "o trabalho e as chatices da vida, um colesterol altíssimo, só posso comer cozidos e grelhados e nada de carnes, álcool nem uma gota, café nem cheirá-lo, e descafeinado ainda é veneno pior para o meu fígado", diz. Ela tenta sorrir (o peru no forno, o champanhe no frigorífico, o lote de café escolhido a rigor) e avança, timidamente, que o Natal é diferente, no Natal toda a gente pode infringir as dietas, mas ele dá uma gargalhada, o que é que tem ser Natal?, para ele é um dia como os outros, há anos que não dá nem recebe prendas, isso é bom para o pessoal mais novo, por isso nem agora dá tréguas à dieta, "até porque a minha saúde não admite brincadeiras!".


Ela não diz nada, sorri apenas, sorri para as flûtes de cristal, para as chávenas de Vista Alegre, para o perfume, para o azevinho da toalha, para os conselhos das revistas. Irá, num instante, grelhar umas  postas de pescada que há-de descongelar no micro-ondas, beberão água mineral em copos de vidro grosseiro - e, de repente, fica com a estúpida sensação de estar, com ele, a festejar mais um Natal em 40 anos de um casamento perfeito.



Saboreie uma bica escaldada,
 e leia esta e outras crónicas de costumes da sociedade portuguesa, escritas pela Alice Vieira.






"Estou sempre a escrever a minha vida"





Alice Vieira nasceu a 20 de março de 1943 em Lisboa. É licenciada em Germânicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Iniciou a sua colaboração no suplemento juvenil do Diário de Lisboa com 13 anos e, a partir de 1969, dedicou-se ao jornalismo.
É uma das mais importantes escritoras de literatura juvenil tendo publicado cerca de 40 livros infantis e vendido cerca de um milhão de exemplares.
Em 1979 recebeu o Prémio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança, com o livro Rosa, Minha Irmã Rosa. Em 1983, ganha o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil pelo seu livro Este Rei que Eu Escolhi e, em 1994, o Grande Prémio Gulbenkian pelo conjunto da sua obra. Mais recentemente foi a candidata portuguesa ao Prémio Hans Christian Andersen.
Ultimamente tem-se dedicado à literatura para adultos, com o livro que hoje sugerimos, com Pezinhos de Coentrada, e com o livro de poesia Dois Corpos Tombando na Água, também disponíveis na Biblioteca Municipal.
Orienta regularmente oficinas de escrita criativa.
É membro da direção da Sociedade Portuguesa de Autores.






BOAS FESTAS





dezembro 10, 2021

OS ANÉIS DO MEU CABELO: A história de Mariza


Se passares pelo adro
No dia do meu enterro
Diz à terra que não coma 
Os anéis do meu cabelo
de, Anéis do meu cabelo, canção de Mariza

Mariza teve a ousadia de mexer nos santos do altar, um pecado que os espíritos mais conservadores nunca lhe perdoaram. Nuno Galopim, jornalista e crítico de música, justifica assim a distância que existe entre Mariza e o mundo do fado. "A forma como vestiu o fado, a cor, o cabelo, a atitude, tudo isso chocou de frente com essa ideia do fado higienizado que muitos consideravam ser o autêntico." Mariza recuperou o lado festivo que Amália também interpretava em palco e fê-lo viajando pelo flamengo e pelo mundo da música brasileira. "Apesar de Ó Gente da Minha Terra ser o seu tema emblemático, também sabe cantar a terra dos outros que, no fundo, acaba por ser a sua nesta sociedade global em que vivemos. Tudo aquilo faz sentido."

Para os mais tradicionalistas, Mariza continua a ser uma figura suspeita. "Não é unânime e ainda bem porque dos unânimes não reza a história."
O musicólogo Rui Vieira Nery identificou, logo à partida, uma série de condições muito hostis ao sucesso que se adivinhava desde a primeira hora. "Mariza sempre fez questão de cultivar a diferença, de criar uma certa distância que lhe foi devolvida pelo meio do fado. Ela nunca quis ficar no circuito tradicional da casa típica, do disco ocasional, do espetáculo de fado à antiga. Tinha uma confiança muito forte no seu talento, tinha outras ambições e nunca as escondeu."

Quando canta uma canção, é uma cantora. O que acontece é que ela foi entrando no mundo do fado por um caminho que é o dela. Quando canta fado, canta com aquele poder muito forte que vem de dentro, um poder africano.
Carlos do Carmo

Mariza dos Reis Nunes cresceu entre dois continentes. Dentro de casa estava em Moçambique, a terra onde nasceu, com a sua cultura, a sua música, a sua culinária. Mal saía à rua, mergulhava nas ruelas da Mouraria, na Lisboa antiga, no mundo do fado.
A convivência com dois universos tão diferentes moldou de forma indelével a sua personalidade como mulher e como artista. E o seu amor pela música, aliado ao dom de interpretar todos os géneros com a mesma alma, fizeram de Mariza uma cantora e fadista com tal arrojo e originalidade que, duas décadas depois de ter iniciado a carreira, continua a ser recebida em êxtase nas grandes salas de espetáculo de todo o mundo.

"Gostava de ser recordada como alguém que tentou, com o maior orgulho, 
pôr Portugal na história da música do mundo."
Mariza
Mariza, os amigos, a família e os músicos revelam-nos neste livro a mulher fora do palco, sem saltos altos nem vestidos de renda, com a mão que costumamos ver a agarrar o microfone segurando com força a do seu filho.


E esse livro, uma biografia de Mariza escrita por Dina Soares e editado pela Oficina do Livro,
pode ser requisitado na Biblioteca Municipal. 




Dina Soares, é jornalista desde 1987. Licenciada em Comunicação Social pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalhou em diversos meios de comunicação social, entre os quais os jornais Expresso, Diário de Lisboa e Semanário, na TVI, onde fez parte da equipa fundadora, e na Rádio Renascença. Foi por culpa de um curso sobre como escrever uma biografia, no Cenjor, e também devido ao gosto por contar histórias, que chegou até este livro, que é a sua primeira biografia.

"Mariza não é uma fadista convencional, 
é uma cantora excecional, extraordinária."
João Braga

Na Warner Music Portugal é Paulo Miranda quem trata dos discos de Mariza. O poder conquistador da artista começou por o conquistar a ele. "Eu não gosto de fado, gosto de Mariza. Até a conhecer, achava que o fado era muito chato, uma coisa dos meus pais." Bem mais difícil de cativar do que ele próprio, conta Paulo Miranda, era Napoleão e Mariza foi bem-sucedida. "Havia uma reunião anual da EMI em Madrid onde estava sempre o chefe máximo da empresa para a Europa, um francês com um péssimo feitio que tinha a alcunha de Napoleão. Sempre que lhe apresentávamos músicas novas, ele ouvia uns segundos e ordenava logo que se passasse à seguinte. Nesse ano, os meus colegas levaram o fado Ó Gente da Minha Terra, na interpretação do Concerto de Lisboa, que tem seis minutos e vinte segundos. Estamos a falar de uma pessoa que consumia música de todo o mundo e que tinha muito pouco tempo. Quando a faixa acabou, ele ficou em silêncio e disse: "ponham outra vez".

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
de, Ó gente da minha terra, canção de Mariza







dezembro 03, 2021

PASSARAM AINDA ALÉM DA TAPROBANA




"D. Lourenço inspirou e sentiu o odor forte da maresia. Nunca vira uma praia de tamanha beleza. Sentiu-se embriagado com o som das aves e com a paisagem. Tinham desembarcado num lugar mítico, cheio de lendas e histórias que encantavam a corte de Lisboa. Havia séculos que se dizia que a Taprobana era o paraíso na Terra. Uma ilha misteriosa e afortunada, famosa pela canela e pelas pedras preciosas. Sabia que o pai, em Cochim, ficaria orgulhoso e, acima de tudo, que a boa nova agradaria a El-Rei D. Manuel!"



Eduardo Pires Coelho nasceu em Lisboa em 1974. Licenciado em Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa e trabalha em mercados financeiros desde 1997. 
Em 2008 foi considerado o melhor analista de ações português pela Deloitte IRG Awads e, em 2010, o mais certeiro pelo Diário Económico, acumulando vários outros prémios em Espanha e na África subsariana.
Viveu um ano nos Estados Unidos e sete na África do Sul, perto do Cabo da Boa Esperança, tendo já visitado 56 países em quatro continentes.
Em 2011, foi o vencedor do Prémio Literário Esfera das Letras, com o romance O Segredo da Flor do Mar.
Apaixonado pelo mar, pela escrita e pela História, lança agora o seu segundo romance, Taprobana.

"O meu gosto pela História foi determinante para me dedicar
 a romances e thrillers históricos.
 A História de Portugal é rica e guarda muitos segredos e mistérios, 
desde os confins do Brasil até às ilhas mais recônditas da Indonésia."



Ernest Fonseka - médico e cientista do Sri Lanka a trabalhar em Portugal - é encontrado morto no momento em que vários dos seus pacientes terminais melhoram subitamente. A coincidência leva um alto funcionário da instituição, Rui Fernandes, a realizar um inquérito e a concluir que, na verdade, Ernest estava a testar um medicamento desconhecido, misteriosamente ligado à floresta do Sri Lanka. No cerne do enigma está Mafalda de Castro, uma jovem mestiça que, em finais do século XVI, testemunhou os desencontros entre os vários reinos dessa ilha que se chamou Taprobana e assistiu à sua ocupação pelos Portugueses, para depois se apaixonar por um fidalgo.
A pesquisa dos documentos encontrados no apartamento de Ernest revelará factos surpreendentes; mas, no rasto desse segredo guardado há séculos, Rui não escapará a um turbilhão de acontecimentos e perseguições, nem ficará a salvo do perigo e das malhas do amor.



A nobre ilha da Taprobana,
Já pelo nome antigo tão famosa,
Quanto agora soberba e soberana
Pela cortiça cálida, cheirosa,
Dela dará tributo à Lusitana
                                                           Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, canto X



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