setembro 29, 2021

EU NÃO SOU UMA RAPARIGA COMO AS OUTRAS, SABES?


"(...) A verdade é que estou entre os primeiros a desvendar o que se passa numa seita judaica de mente muito limitada; os seus membros estão altamente motivados para manter em segredo a natureza do seu estilo de vida, e a existência desta comunidade é uma questão muito incómoda que muitos judeus gostariam de ignorar. Afirmo desde já que não peço desculpas por ter tornado público este assunto." 


Deborah Feldman nasceu a 17 de agosto de 1986. Cresceu na comunidade hassídica satmar, no bairro de Williamsburg, em Brooklyn, Nova Iorque. 
Na América, os judeus hassídicos recuperaram uma herança que esteve para desaparecer, envergando os trajes tradicionais, falando apenas em ídiche. As mulheres não podem usar calças, nem ouvir música ou ler livros. A sua função é ter filhos e os casamentos são arranjados entre as famílias. Quando foi mãe, percebeu que tinha de salvar o filho daquele mundo.
Em 2012 lançou um livro de memórias que se tornou rapidamente um best-seller.


Deborah cresceu sob um código de costumes, implacavelmente impostos, que tudo controlava: o que podia vestir, com quem podia falar ou o que estava autorizada a ler, entre outras restrições. Foram os momentos insubmissos que passou com as densas personagens literárias de Jane Austen e de Louisa May Alcott que a ajudaram a imaginar um estilo de vida alternativo.
Ainda adolescente, viu-se aprisionada num casamento disfuncional, sexual e emocionalmente, com um homem que mal conhecia. A jovem satmar, bem-comportada, viu-se sufocada pela tensão entre os seus desejos e as suas responsabilidades; esta  foi-se tornando cada vez mais explosiva e, aos dezanove anos, quando deu à luz, compreendeu que, fossem quais fossem os obstáculos, teria de forjar um caminho - para si e para o filho - que a levasse à felicidade e à liberdade.


"É difícil acreditar que esta seja uma história real. 
É um daqueles livros que é impossível parar de ler."
                                                                                                                       The New York Post



Unorthodox é também uma minissérie de quatro episódios, que estreou na Netflix, e onde a autora, Deborah Feldman, esteve pessoalmente envolvida na produção da série. É a primeira série falada em ídiche, a língua que a maioria dos judeus falava na Europa antes da Segunda Guerra Mundial.

"Uma das grandes surpresas na criação de Unorthodox, a série da Netflix, foi como atraiu magicamente tantos homens e mulheres com histórias semelhantes à minha. Vieram trabalhar como atores e figurantes, consultores e tradutores, de tal modo que, em dada altura, estar no estúdio dava a sensação de se estar presente numa reunião especialmente emotiva".









setembro 21, 2021

JOSÉ AUGUSTO FRANÇA (1922-2021)

 "O que fiz, fiz. O que escrevi, escrevi. 

Arrependimentos não tenho. Penas, algumas."


José Augusto França, 1922-2021

José Augusto França, historiador, sociólogo, crítico de arte, professor catedrático jubilado da Universidade Nova de Lisboa, considerado o nome maior da Historiografia da Arte em Portugal, nasceu a 16 de novembro de 1922, em Tomar. 
Em 1944 licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa e em 1959 foi para Paris como bolseiro do estado francês, tendo estudado com Pierre Francastel.
Em 1962 obteve o grau de doutor em História e em 1969 o de doutor em Letras, pela Universidade de Paris.
Foi em 1946 que se manifestou o seu interesse pela pintura, na sequência de viagens que fez a Espanha e a Paris. Continuou a viajar pela Europa e América, até se fixar em Paris em 1959. Aí, privou com intelectuais portugueses ali exilados,  António José Saraiva e Joaquim Barradas de Carvalho, conheceu Roland Barthes, o poeta André Breton, Daniel Cohn-Bendit, o líder do movimento estudantil do Maio de 68 e o galerista Daniel-Henry Kahnweiler, que lhe contava histórias sobre Picasso.


 Helena Vieira da Silva, Arpad Szenes, Fernanda França, José-Augusto França,
 Novais Teixeira, e António Dacosta, na casa de Vieira da Silva e Arpad
no Boulevard de Saint Jacques em Paris.


Nas décadas de 1940 e 1950 foi uma das figuras mais dinâmicas e influentes da vida cultural em Portugal. Participou no Grupo Surrealista de Lisboa, organizou o primeiro salão nacional de arte abstrata.
Lecionou na Sociedade Nacional de Belas Artes e desde 1974 que foi professor catedrático da Universidade Nova de lisboa, onde criou os primeiros mestrados em História de Arte em Portugal.
Autor de referência da cultura no nosso país, destacam-se os seus estudos sobre a arte em Portugal nos séculos XIX e XX. 

Tem mais de noventa livros publicados, incluindo romances e contos, artigos em revistas da especialidades e em exposições onde foi comissário.
Foi um frontal opositor ao Estado Novo
Foi um admirador de Charles Chaplin e de Alexandre O' Neill.
A 16 de dezembro de 2005 foi assinado o termo de formalização da doação do seu espólio à Biblioteca Nacional de Portugal.
No passado dia 18 de setembro faleceu na casa de saúde de Jarzé, em França.

Recebeu as seguintes condecorações:
  • 1992, medalha de Honra da Cidade de Lisboa
  • 10 de junho de 1991, Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique
  • 10 de novembro de 1992, Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública
  • 30 de janeiro de 2006, Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique
  • 2012, Medalha de Mérito Cultural



"Olhei dez mil quadros, vi mil, estudei cem e compreendi dez"
                                                                                                 José Augusto França


Veja AQUI a bibliografia de José Augusto França que faz parte do fundo documental da nossa Biblioteca Municipal, disponível para empréstimo domiciliário. 


"José Augusto França, um homem notável que permanecerá 
uma referência na História e na Cultura nacionais"
 Manuel Heitor
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior







setembro 17, 2021

QUE DIABO ESTÁS A FAZER AQUI?

"Não há maior dádiva do que o amor de um gato"
                                                                               Charles Dickens


"Fora em setembro de 2018, três meses antes de nos conhecermos, que eu partira de Dunbar, a minha cidade natal na costa leste da Escócia, para percorrer o mundo de bicicleta. Tinha feito 30 anos há pouco tempo e queria libertar-me da rotina da vida, fugir ao meu cantinho do mundo e concretizar algo que valesse a pena. É justo dizer que as coisas não tinham estado a correr minimamente de acordo com o planeado. Conseguira atravessar o Norte da Europa, mas a minha viagem consistira numa série de desvios e distrações, falsas partidas e contratempos, a maior parte deles autoinfligidos. (...)
Mas, depois, quando parei de cantar e o som se tornou mais nítido, apercebi-me do que era. A minha reação foi de perplexidade. Não podia ser, pois não? Era um miado.
Virei-me e, pelo canto do olho, vi-o. Um gatinho escanzelado, cinzento e branco, corria desenfreado pela estrada, tentando desesperadamente acompanhar-me. Travei a fundo e estaquei.
Estava estupefacto. 
- Que diabo estás a fazer aqui? - perguntei-lhe."
 


No início de 2019 publicou um vídeo no Instagram no momento em que encontrou Nala, a gata que resgatou na Bósnia. O vídeo chamou a atenção dos meios de comunicação de todo o mundo e já tem mais de 130 milhões de visualizações.
Dean e Nala continuam a viajar juntos pelo mundo e partilham as suas aventuras na conta Instagram @1bike1worl, que tem mais de 750 mil seguidores. O seu canal no YouTube teve mais de cinco milhões de visualizações. 
Dean aproveita a visibilidade alcançada nas redes sociais e a disponibilidade das pessoas para ajudarem monetariamente as causas que divulga e para consciencializar o seu público para a proteção ambiental e o bem estar animal.

São as aventuras desta viagem pela Europa, até ao seu confinamento na Hungria, 
devido à pandemia de coronavírus, que sugerimos
 para leitura do seu fim de semana.



"(...) tenho de agradecer à Nala por aturar a minha cantoria, os meus cozinhados e quaisquer hábitos irritantes que eu possa ter sem saber. Tem sido a maior aventura da minha vida ser o teu companheiro de viagem. Obrigada por estares à minha espera naquela montanha, naquela manhã".





setembro 08, 2021

HIGIENIZAÇÃO E VENTILAÇÃO SERÃO A NOSSA SALVAÇÃO



Emma Donoghue nasceu em Dublin a 24 de outubro de 1969. Passou oito anos em Cambridge, Inglaterra, a tirar um doutoramento em literatura do século XVIII, mudando-se depois para London, Ontário, Canadá. Atualmente vive em França com a sua companheira e os dois filhos. 
O Quarto de Jack, bestseller internacional, foi finalista do Man Booker, Commonwealth e Orange Prize e premiado com diversas distinções. A autoria do argumento para o filme O Quarto valeu-lhe uma nomeação para o Óscar de melhor adaptação de argumento original.

A autora terminou em março de 2020 um romance sobre a pandemia que afetou o mundo em 1918.
"Em outubro de 2018, inspirada pelo centenário da gripe espanhola, comecei a escrever A Dança das Estrelas. Pouco depois de ter entregado o primeiro rascunho à minha editora, em março de 2020, a COVID-19 veio mudar o mundo".

" A Dança das Estrelas é uma obra de ficção interligada com factos reais. (...) 
Todas as personagens, incluindo Bridie e Julia Powers, são inventadas, à exceção da Dra. Kathleen Lynn (1874-1955).

Dra. Kathleen Lynn, 1874-1955

"No outono de 1918, Lynn era vice-presidente do comité executivo do Sinn Féin, bem como, diretora do seu ramo de saúde pública. Quando foi presa, o Presidente da Câmara de Dublin interveio, na tentativa de a libertarem para que pudesse continuar o seu combate à pandemia na clínica gratuita que abrira no nº 37 da Charlemont Street."

A Dança das Estrelas, pag 113



A chamada "gripe espanhola" não começou em Espanha. Ficou assim mundialmente conhecida porque a Espanha, país neutro durante a Primeira Guerra Mundial, e ao contrário dos países beligerantes, não ocultava a informação sobre os mortos com essa enfermidade.
Para tentar combater a sua propagação, o governo emitia, todos os dias, comunicados alertando para o distanciamento, o confinamento e o uso de máscaras por parte da população em geral.


Numa Irlanda duplamente devastada pela guerra e doenças, a enfermeira Julia Power trabalha num hospital sobrelotado e com falta de pessoal, onde grávidas que contraíram uma gripe desconhecida são colocadas em quarentena. Neste contexto já bastante difícil de gerir, Julia terá ainda de lidar com duas mulheres enigmáticas: a Dra. Kathleen Lynn, procurada pela polícia por ser uma líder revolucionária do Sinn Féin, e uma jovem ajudante voluntária sem experiência de enfermagem, Bridie Sweeney.
É numa enfermaria minúscula, escura e sem condições que estas mulheres vão lutar contra uma pandemia desconhecida, perder pacientes, mas também trazer novas vidas ao mundo. No meio da devastação, histórias de amor e humanidade, no dia a dia de mães e cuidadoras que, de várias formas, acabam por cumprir missões quase impossíveis.

Das novidades recebidas na Biblioteca Municipal, 
damos destaque ao mais recente livro de
 Emma Donoghue, 
onde a mortífera gripe espanhola, é o centro deste romance.


Hoje os nossos recursos e medicamentos são infinitamente melhores,
 mas, a qualquer momento, podemos ficar reféns de um vírus.

A Dança das Estrelas, pag. 176






setembro 03, 2021

O PIOR CHEIRO QUE HÁ, A POLÍTICA!

 
Marinha Grande, Praça Stephens, 18 de janeiro de 1934

"(...) Uma das cartas recebidas, das que mereceram mais credibilidade, dava conta de que poderia tratar-se de um tal Miguel Domingos, natural da Marinha Grande, onde tinha irmãos que poderiam ajudar a esclarecer o mistério. Alertava também para o facto de Miguel ter estado envolvido, com papel relevante, na revolta operária ocorrida a 18 de janeiro de 1934, não tendo sido preso como a muitos sucedeu. (...)
- Viu, Guimarães? Fala do dezoito de janeiro e diz que foi um dos cabecilhas... Isto cheira-me muito mal... o pior cheiro que há, a política! - disse Sousa, pesaroso, deixando cair lentamente o olhar no tampo da secretária, talvez para demonstrar o desalento, antevendo as dificuldades que se deparariam à investigação."

Baseado em factos reais, o romance que sugerimos como leitura para o seu fim de semana, reconstrói de uma forma muito fiel, não só a investigação feita pela PIDE, mas também a sociedade portuguesa do pós-guerra, o combate travado na clandestinidade contra um regime ditatorial.




Ativo militante comunista, o jovem Miguel Domingos era um operário vidreiro revoltado pela miséria que o rodeava. Depois de participar na revolta de 18 de janeiro de 1934, na Marinha Grande, fugiu para a União Soviética onde recebeu formação na Escola Leninista. No regresso, combateu as hostes franquistas em Espanha, foi preso e enviado para um campo de concentração.
No final de 1944 regressou a Portugal e passou a integrar a direção comunista, na qual se manteve até ser afastado em 1949, com problemas de saúde e a suspeita de ter denunciado as casas clandestinas mais importantes do partido, levando à prisão de alguns dos mais célebres dirigentes comunistas. 
Em 1951, num pinhal dos arredores de Lisboa, o seu corpo seria encontrado sem vida.
A quem interessava a sua morte? À família? À PIDE? Ao partido?

Manuel Domingues, 1950

"A razão de ser deste romance é ressuscitar Manuel Domingues, um membro do comité central do PCP entre 1945 e 1949, cujo cadáver apareceu num pinhal em 1951".
"Este homem deixou um filho. O filho tem uma filha. As pessoas gostariam muito de ver o nome do familiar recuperado. Manuel Domingues foi um dos fundadores do PCP na Marinha Grande. Foi um dos organizadores do 18 de janeiro na Marinha Grande. E o nome dele não consta em parte alguma. É contra isso que me bato E não estou sozinho. Há muita gente a pensar como eu. Gostaria que houvesse muito mais. Mas para isso é preciso que saibam que existiu o Manuel Domingues." 
                                                                                                                                 Carlos Ademar


Foto de José Fiães

Carlos Ademar nasceu em Vinhais, em 1960. É Mestre em História Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa.  
Professor da Escola da Polícia Judiciária, trabalhou na investigação de alguns dos crimes que mais marcaram a sociedade portuguesa e colaborou na formação de órgãos de investigação da Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, Angola e Timor. É fundador da Revista de Investigação Criminal.


"(...) - Ele já estava em conflito com a direção do partido?
- Não sei nada de conflitos entre ele e o partido, que era a sua verdadeira casa. Foi um dos fundadores do partido na Marinha Grande quando tinha vinte e um ou vinte e dois anos. (...)
- Senhor agente, ninguém tem mais vontade de ver os assassinos do Miguel presos do que eu. Ninguém. E se não ajudo mais é porque não sei como fazer. Se entretanto me chegar alguma coisa, entro em contacto imediato com o senhor."








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