julho 19, 2012

A MIM O QUE ME RODEIA É O QUE ME PREOCUPA


Lágrimas

Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos,
Brilhavam como pérolas os prantos.

Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-lhe cantando alegres cantos.

E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
"- Tu pareces nascida da rajada,
"Tens despeitos raivosos, resolutos;

"Chora, chora, mulher arrenegada;
"Lagrimeja por esses aquedutos...
"- Quero um banho tomar de água salgada"


Este poema data de 1874.
E o seu autor morreu há precisamente 126 anos e foi o introdutor da poesia moderna em Portugal. Ignorado à época, passaram-se décadas até que o seu valor fosse reconhecido. A descoberta ficou a dever-se a Fernando Pessoa que, um dia, sobre ele escreveu: "O sentimento é forte e sincero, mas reprimido: e é nisto que Cesário é curioso. É um português que reprime o sentimento". 
Falamos de Cesário Verde, hoje um clássico da Literatura Portuguesa.

Desenho de Columbano

José Joaquim Cesário Verde, nasceu em Lisboa a 25 de fevereiro de 1855. Em 1873 matriculou-se no Curso Superior de Letras, mas apenas o frequentou durante alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida.

Cesário Verde dividia-se entre a produção de poesias, que publicava nos jornais, e as atividades comerciais herdadas do pai.

Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já tinha vitimado o irmão e a irmã. Essas mortes inspiraram um dos seus principais poemas, Nós, de 1884.

Tenta curar-se da tuberculose, mas sem sucesso e vem a falecer a  19 de julho de 1886.
No ano seguinte, o seu amigo Silva Pinto organiza a compilação da sua poesia no Livro de Cesário Verde e que é publicado em 1901.


Com uma visão extremamente plástica do mundo, retratou a cidade e  o campo, seus cenários de eleição, transmitindo o que aí era oferecido aos sentidos, em cores, formas e sons.
"A mim o que me rodeia é o que me preocupa", refere o poeta numa carta ao seu amigo Silva Pinto.
Se, por um lado, exalta os valores viris e vigorosos, saudáveis, da vida do campo, sem visões bucólicas, detinha-se, por outro lado, na cidade, na sedução dos movimentos humanos, solidarizando-se com as vítimas de injustiças sociais.
Conhecido como o poeta da cidade de Lisboa, foi igualmente o poeta da Natureza anti-literária, numa antecipação de Fernando Pessoa/Alberto Caeiro, que considerava Cesário Verde um dos vultos fundamentais da nossa história literária.


Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.



O que se passou a seguir...
 está na página 108 
do Livro de Cesário Verde 
que se encontra na Biblioteca Municipal da sua cidade.



Sem comentários:

Enviar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...