maio 25, 2022

A MARINHA GRANDE ...

 


Marinha Grande, anos 90?


"(...) A Marinha Grande tem história, porque tem alma. A força da sua alma advém-lhe da força do trabalho, da força das suas populações que ao longo dos séculos construíram uma cidade, um concelho à sombra de uma "Catedral verde e sussurrante". Foram esses homens humildes ou importantes, ricos ou pobres, que a serrar as tábuas que foram nas caravelas à Índia, que à boca do forno moldaram obras primas, que travaram a mais dura das batalhas, a batalha do trabalho e realizaram a mais importante das revoluções, a revolução dos espíritos indomáveis, a revolução do progresso. A obra tem justamente um inegável interesse de representar, ou melhor, tentar representar a expressão completa e multiforme do concelho da Marinha Grande, em todos os seus aspetos laborais, sociais, culturais e humanos."  
                                                                                                       Víctor Hugo Beltrão, 1935-2018    
                                                                                                                                                                                            



Parque de Merendas, Portela, Marinha Grande


Amanhã é feriado municipal, dia em que os marinhenses 
" se juntavam nos lugares mais aprazíveis do Pinhal ou das praias para almoçarem e merendarem em convívio uns com os outros. Escolhiam-se principalmente a Praia Velha, a Fonte das Canas, o Samouco, as Árvores, a Ponte Nova, o Tremelgo, a Valdimeira; e os que não tinham transporte quedavam-se pelo pinhal da Guarda Nova"



A descrição de uma cidade, as suas vicissitudes ao longo do tempo, 
as suas origens e percurso 
é a nossa sugestão de leitura para o seu feriado.




"O grande amor que nutro pela Marinha Grande, minha terra natal, 
levou-me um dia a pensar escrever um livro onde pudesse responder às perguntas que frequentemente nos são feitas sobre como se fundou, povoou e desenvolveu esta cidade"
                                                                                                 João Rosa Azambuja, 1921-1994




A "Cidade da Marinha Grande - Subsídios para a sua História"
 torna-se um instrumento de trabalho para quem queira e precise de conhecer  e aprofundar a história do concelho da Marinha Grande"
                                                                                     Víctor Hugo Beltrão, 1935-2018



maio 20, 2022

AS VIÚVAS DE DOM RUFIA

"A rua estendia-se de gente. A fila das viúvas havia-se dissolvido no todo da multidão, assim que as gentes saíram de casa para a rua, mas logo que o cortejo arrancou voltou a unir-se, muito junta, como se fossem todos da família do morto. As viúvas de Dom Rufia iam juntas, algumas de braço dado, esquecendo a vergonhosa briga de instantes antes. Enchiam os lenços de desgosto, pensado, certamente, nos bons momentos que haviam passado com o falecido ou na paixão que ainda lhe tinham. Domitilia, Acélia, Joaquinita, Maria de Jesus, Cremilda, Mariana, Antónia do Preto e até Armindinho Costureira, vestido de viúva, cercaram a pobre tia, Maria Teresinha, e seguiam logo atrás do esquife."


Um romance irresistível e cheio de humor
cuja ação decorre no Alentejo no início de século XX e com personagens
 fascinantes e inesquecíveis 
é a nossa sugestão de leitura de fim de semana 




Conhecido por Dom Rufia desde moço, Firmino António Pote, criado sem recursos numa vila alentejana, promete a si mesmo tornar-se rico. Negando-se à dureza do trabalho do campo, divide durante anos a sua sobrevivência entre o ócio e alguns negócios frugais. Mas, já nos trinta, munido de assombrosa imaginação, bonito como poucos e gozando de uma enorme capacidade de persuasão, sobretudo entre as mulheres, lobriga várias maneiras de alcançar o seu objetivo, fingindo continuamente ser quem não é. Para isso, porém, é obrigado a viver em vários lugares ao mesmo tempo, dando a Juan de los Fenómenos, um velho chileno em busca de proezas sobre-humanas, a ilusão da ubiquidade.
Quando o corpo sem vida de Dom Rufia é encontrado no meio do campo, a recém-empossada Guarda Republicana não imagina as surpresas que o funeral reserva. O aparecimento de uma estranha carta assinada pelo tio do morto é só o princípio da desconfiança de que ali há mão criminosa.



Carlos Campaniço nasceu em Safara, no concelho de Moura em setembro de 1973.
É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, pela Universidade do Algarve, onde obteve também o grau de Mestre em Culturas Árabe e Islâmica e o Mediterrâneo.
Os seus romances de época têm-se centrado nas comunidades e vivências rurais alentejanas, nas sociedades estratificadas de então e no seu imaginário coletivo.

Para além do romance que hoje sugerimos como leitura para o seu fim de semana, o leitor poderá requisitar outro romance do autor, Mal Nascer, que foi finalista do Prémio Leya em 2013 e galardoado, em 2014, com o Prémio Mais Literatura da revista Mais Alentejo.




"Até que o padre perguntou se alguém queria despedir-se dos restos mortais de Firmino. Maria Teresinha fez-lhe um pranto comovente e beijou-o demoradamente; o tio Homero deu-lhe um beijo na testa sem dizer palavra, mas muito trémulo de mãos; Cremilda, que estava próxima, deixou o braço do marido, e também o beijou, depois Acélia, depois Domilitia, depois Mariana, depois Maria de Jesus, depois Antónia do Preto, depois Joaquinita, depois Armindinho, sem coragem pública para o beijar, fez-lhe uma festa nas mãos que se cruzavam em cima do peito"










maio 11, 2022

O QUE É O ÍNDICE DE FELICIDADE?


"(...) Os papéis estavam ordenados em cinco ou seis pilhas: equações escritas à mão, gráficos, números soltos, o costume. Havia uma folha com uma tabela que ocupava toda a página. Não era uma coisa invulgar naquele quarto, mesmo nas paredes havia tabelas coladas com fita-cola. Mas, repara, o título desta tabela era: ÍNDICE DE FELICIDADE.
O que é isto?
Ele apenas respondeu: 
Estatísticas.  
Peguei na folha e voltei-a. A tabela continuava do outro lado. Era uma lista de países, 149 países, ordenados pelo Índice Médio de Felicidade. O primeiro da lista era a Costa Rica, o último o Togo. As linhas 127, 128, 129 e 130 da tabela - Bulgária, Burkina Faso, Congo e Costa do Marfim, respetivamente - tinham sido sublinhadas com marcador verde. 
O que é o Índice de Felicidade?, perguntei."




Índice Médio de Felicidade
 é um romance admirável e extremamente atual sobre um otimista, que luta até ao fim pela sua vida 
e pela felicidade daqueles que ama.


Em 2015 venceu o 
Prémio União Europeia para a Literatura
e em 2016 foi-lhe atribuído o 
Prémio Salerno Libro D'Europa
atribuído a autores com menos de 40 anos.



Em 2017 Índice Médio de Felicidade foi adaptado para cinema pelo realizador Joaquim Leitão, com argumento do próprio autor, David Machado, em parceria com Tiago Santos, fazendo parte do elenco, entre outros, os atores Marco D'Almeida, Dinarte de Freitas, Ana Marta Contente e Lia Gama.

Marco D'Almeida no papel de Daniel

Daniel tinha um plano, uma espécie de diário do futuro, escrito num caderno. Às vezes voltava atrás para corrigir pequenas coisas, mas, ainda assim, a vida parecia fácil - e a felicidade também. De repente, porém, tudo se complicou: Portugal entrou em colapso e Daniel perdeu o emprego, deixando de poder pagar a prestação da casa; a mulher, também desempregada, foi-se embora com os filhos à procura de melhores oportunidades; os seus dois melhores amigos encontram-se ausentes: um, Xavier, está trancado em casa há doze anos, obcecado com as estatísticas e profundamente deprimido com o facto de o site que criaram para as pessoas se entreajudarem se ter revelado um completo fracasso; o outro, Almodôvar, foi preso numa tentativa desesperada de remendar a vida.
Quando pensa nos seus filhos e no filho de Almodôvar, Daniel procura perceber que tipo de esperança resta às gerações que se lhe seguem. E não quer desistir. Apesar dos escombros em que se transformou a sua vida, a sua vontade de refazer tudo parece inabalável. Porque, sem futuro, o presente não faz sentido.


David Machado com o Prémio Salerno Libro D'Europa

David Machado nasceu em 1978 em Lisboa. É licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão.
Em 2005 foi o vencedor do Prémio Branquinho da Fonseca, da Fundação Calouste Gulbenkian e do jornal Expresso, com o livro infantil A Noite dos Animais Inventados. 
Os seus livros estão publicados em Itália, França, Brasil e Marrocos. Os seus contos foram publicados em antologias e revistas literárias em Itália, Alemanha, Noruega, Reino Unido, Islândia, Marrocos e Colômbia. Em 2016 David Machado integrou a delegação de autores portugueses presente na Feira do Livro de Leipzig.
Para além do romance premiado que hoje divulgamos, o Leitor pode encontrar na Biblioteca Municipal, mais dois romances disponíveis para empréstimo domiciliário:
  • Deixem Falar as Pedras
  • Debaixo da Pele

"(...) Três minutos depois, recebi um e-mail com a tabela. Passei o dedo pelos números no ecrã até encontrar o meu. Almodôvar, havia cinco países nos quais o valor médio de satisfação com a vida era igual a 5,7: Djibouti, Egipto, Mongólia, Nigéria, Portugal e Roménia. (...) É tão pouco. Elas terão pelo menos consciência de que é pouco? Sabem que a possibilidade de serem mais felizes existe, que é real? Estão a fazer alguma coisa para que isso aconteça? Têm um Plano?" 








maio 05, 2022

TODA A GENTE COMETE ERROS. ATÉ DEUS


"Eu admirei Gorki, Mann, Machado, James Joyce como os expoentes da minha geração, mas foi com paixão que me aproximei de Isaac Babel e, dez anos mais tarde, de Hemingway".
                                                                                      Ilya Ehrenburg


Quem foi Isaac Babel, cujo seu livro "Contos de Odessa" foi mencionado pelo jornalista Carlos Vaz Marques no seu programa da SIC Notícias - Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer e pelo critico literário José Mário Silva na edição de 1 de maio do semanário Expresso?

Consultando o nosso catálogo bibliográfico, descobrimos uma edição de 1972, 
da Editorial Inova, com tradução de Egito Gonçalves e
 que hoje divulgamos.




Contos de Odessa
Publicados em 1931, são uma série de histórias curtas, de inspiração autobiográficas, que narram a sua infância na comunidade judaica no gueto de Moldavanka.
Babel descreve, entre outras histórias, a vida do chefe da máfia judaica Bénia Krik, um dos grandes anti-heróis da literatura russa, e o seu gangue, na época da Revolução de Outubro.


Mas quem foi Isaac Babel?


"Nasci em 1894 em Odessa, no bairro de Moldavanka; sou filho de um comerciante judeu. Até aos dezasseis anos, a pedido de meu pai, estudei hebraico, a Bíblia e o Talmude. A vida em casa era difícil: de manhã à noite obrigavam-me a estudar um sem-número de matérias. (...)
Terminada a escola desloquei-me a Kiev e em 1915 a Petersburgo. Passei mal nesta cidade, não tinha autorização de residência e escondia-me da polícia na rua Puckine, num sótão habitado por um criado de café ébrio. (...) no final de 1916, avistei-me com Gorki. Devo tudo àquele encontro e hoje pronuncio o nome dele com veneração e carinho. Publicou os meus primeiros textos em "Létopis" no número de novembro de 1916 (por causa desses textos fui processado nos termos do artigo 1001)".

A 16 de janeiro de 1940, Lavrenti Beria apresentou a Estaline uma lista de 346 nomes de opositores ao regime recomendando o seu fuzilamento. Isaac Babel constava dessa lista. Era o numero 12. Foi julgado 10 dias depois em 20 minutos. "Estou inocente" foram as suas últimas palavras. 
Na versão oficial soviética, Isaac Babel morreu num Gulag a 17 de março de 1941 e os seus escritos e arquivos foram destruídos pela NKVD.
A 23 de dezembro de 1954, durante a governação de Nikita Khruschev, Isaac Babel foi oficialmente absolvido do seu "crime".

"Uma das grandes tragédias da literatura do século XX
                                                                                                                        Peter Constantine,
                                                                                        um dos tradutores de Babel para o inglês

Odessa, Ucrânia


"- Tia Pésia - disse Bénia à velha desgrenhada que se retorcia no chão -, se necessita da minha vida, tome-a, mas toda a gente comete erros. Até Deus. Foi um erro enorme, Tia Pésia. Mas acaso não foi um erro Deus colocar os judeus na Rússia para que sofram como o inferno? Haveria algum mal em que os judeus vivessem na Suíça, rodeados de lagos de primeira qualidade, de ar de montanha e de franceses a dar com um pau? Todos cometem erros. Até Deus". 








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