“O detonador do romance é um acontecimento passado em
Espanha:
O apedrejamento de um autocarro que levava idosos infetados pela
covid.
A partir daí senti necessidade de o situar de forma correta.”
Fotografia de Tiago Miranda/Expresso |
“O detonador do romance é um acontecimento passado em
Espanha:
O apedrejamento de um autocarro que levava idosos infetados pela
covid.
A partir daí senti necessidade de o situar de forma correta.”
Fotografia de Tiago Miranda/Expresso |
O leitor poderá encontrar na nossa Biblioteca, para empréstimo domiciliário, os seguintes títulos:
Ilha Terceira, Açores |
Lisboa, Chiado, anos 1950 |
Pode encontrar na nossa Biblioteca Municipal o livro da escritora
Guerra. Destruição. Miséria. Sofrimento. Humilhação. Ódio. Superstição. Morte. Este é o cenário dantesco, boscheano, que encontramos nas páginas de "Ventos do Apocalipse". As palavras fortes, cruas, incisivas, dilacerantes e delirantes da autora levam-nos a questionar-nos quanto de ficção existirá no realismo das descrições deste palco apocalíptico em que a guerra mais aberrante será talvez a de dois povos, os mananga e os macuácua, colocados entre dois fogos e não sabendo quem os defende e quem os ataca. Paulina Chiziane é uma contadora nata de estórias. Consegue levar-nos ao âmago do mais baixo dos mais baixos degraus de degradação do ser humano. Com ela percorremos as vinte e uma noites de pesadelo e tormentos que foi o êxodo dos sobreviventes de uma aldeia. Através dela aprendemos a respeitar Sixpence, tornado o herói simbólico, emblemático, e líder venerado desses fugitivos. Pela sua mão desvendamos o mundo de Minosse, a última mulher que restou ao régulo Sianga, e ouvimos as palavras sábias de Mungoni, o adivinho. E compreendemos a loucura de Emelina, a assassina dos próprios filhos. São da autora estas palavras ditas por uma das personagens em absoluto desespero: «Se o homem é a imagem de Deus, então Deus é um refugiado de guerra, magro e com o ventre farto de fome. Deus tem este nosso aspecto nojento, tem a cor negra da lama e não toma banho à semelhança de nós outros, condenados da terra. O Diabo, sim, esse deve ser um janota que segura os freios da vida dos homens que sucumbem.» O leitor julgará.
In, Wook