"A cultura é uma das formas de libertação do homem. Por isso, perante a política, a cultura deve sempre ter a possibilidade de funcionar como antipoder. E se é evidente que o estado deve à cultura o apoio que deve à identidade de um povo, esse apoio deve ser equacionado de forma a defender a autonomia e a liberdade da cultura para que nunca a ação do estado se transforme em dirigismo"
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Assembleia Constituinte, agosto de 1975
Das maiores poetisas da língua portuguesa, Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto, a 6 de novembro de 1919, no seio de uma família de ascendência aristocrática. Aí passou a infância e adolescência. De origem dinamarquesa por parte do pai, a sua educação decorre num ambiente católico e culturalmente priveligiado, que influenciou a sua personalidade. Frequentou o curso de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em consonância com o seu fascínio pelo mundo grego (que a levou igualmente a viajar pela Grécia e por toda a região mediterrânica).
Antes do 25 de Abril foi um dos elementos fundadores da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Após a Revolução dos Cravos integrou a Assembleia Constituinte como deputada pelo Partido Socialista. A sua atividade literária e política pautou-se sempre pelas ideias de justiça, liberdade e integridade moral.
Colaborou nas revistas Cadernos de Poesia (1940), Távola Redonda (1950) e Árvore (1951) e conviveu com nomes da literatura como Miguel Torga, Rui Cinatti e Jorge de Sena.
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua
Sophia de Mello Breyner Andresen
Escreveu várias obras para a infância, inicialmente destinadas aos seus filhos, mas que rapidamente se tornaram verdadeiros "clássicos", cujas reedições se vão sucedendo até hoje. Pode encontrar algumas destas obras na Sala Infantil da Biblioteca Municipal.
A sua obra literária encontra-se parcialmente traduzida em França, Itália e nos Estados Unidos da América.
Em 1994 recebeu o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores e, no ano seguinte, o Prémio Petrarca, da Associação de Editores Italianos. O seu valor como poetisa e figura da cultura portuguesa, foi também reconhecido através da atribuição, em 1999, do Prémio Camões.
Em 2001, foi distinguida com o Prémio Max Jacob de Poesia, num ano em que o prémio foi execionalmente alargado a poetas de língua portuguesa. Em 2003, foi distinguida com o Prémio Rainha Sofia da Poesia Iberoamericana.
Faleceu a 2 de julho de 2004.
A 26 de janeiro deste ano, fizemos referência à cerimónia oficial de doação do espólio da Sophia de Mello Breyner Andresen à Biblioteca Nacional. Hoje voltamos a fazer referência a uma nova homenagem, ocorrida a 6 de novembro, com o descerramento do seu busto no Jardim Botânico do Porto, local que outrora integrou a Quinta do Campo Alegre, residência dos seus avós, João e Joana Andresen.
"Este é um lugar mágico da sua infância, mas espero também que seja um local de vida e de culto na cidade do Porto", sublinhou o reitor da Universidade do Porto, José Marques dos Santos.
Segundo Ruben Andresen, primo da autora, foi no Campo Alegre que Sophia teve o primeiro contacto com a poesia quando, numa festa de Natal, uma empregada a ensinou a recitar "A Nau Catrineta".
Porque os outros se mascaram, mas tu não
Porque os outros se mascaram, mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo, mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam, mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis, mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam, mas tu não.
Estes e outros poemas, bem como os contos infantis, pode encontrá-los AQUI na sua Biblioteca
Boa Semana com Boas Leituras
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