março 08, 2022

FAZER OUVIR A SUA VOZ





"A pista das palavras cruzadas era coisa como "atividade geralmente exercida por mulheres". Não me lembro da solução, mas nunca mais me esqueci da resposta do meu sobrinho, na altura com 9 anos: "limpar a casa". Raio dos putos, parece que nascem ensinados: chegam de dedo em riste para mexer nos ecrãs tácteis, e parece que têm entranhado no ADN que limpar a casa é função das mulheres. 
Quando soube que o meu filho era rapaz, a primeira coisa que me ocorreu foi: como é que vou eliminar estes resquícios pegajosos de machismo do seu organismo? Quase todos os homens que amo e respeito, que considero e que se consideram feministas, têm comportamentos em que, aqui e ali, ainda ecoa essa herança. Há uma certa falta de preocupação e proatividade doméstica, como a peúga que se deixa num canto ou o prato que não se levanta da mesa. É mais forte que eles - o que não é desculpa. Atrás desses homens há uma história de mulheres invisíveis que, como por magia, faziam as peúgas e os pratos sujos desaparecer e aparecer de novo limpos e arrumados - tcharam!
Esta engrenagem silenciosa não só gerou homens-crianças como gerou mulheres-senhoras que, em pleno século XXI, ainda se chegam à frente porque, enfim, é mais forte que elas. Que arregaçam as mangas e dizem: "Se eu não fizer, ninguém faz". Que acham que estão a tomar as rédeas da vida doméstica, mas estão apenas a ser condescendentes como as outras antes delas. (...)



Se as mulheres soavam a mulheres, era porque precisavam de refletir a sua feminilidade, de fazer ouvir a sua voz. Se os homens soavam ao Universo, era porque nunca precisaram de pensar sobre a sua masculinidade. Podiam simplesmente percorrer os meandros da condição humana, ir mesmo lá ao fundo, chafurdar na filosofia à vontade - porque , entretanto, havia uma mulher que pegava nas peúgas e nos pratos e que os deixava escrever, que os deixava pensar, que os deixava ser. (...)



Tenho complexos de chamar a atenção dos homens à minha volta: apanha a peúga, é preciso fazer, é preciso tratar. Por um lado, provoca-me dores de crescimento ouvir-me dizer essas coisas, ver-me obrigada a ser pragmática e eficiente - menos interessante, portanto. Por outro, faz-me sentir encurralada num sistema de estereótipos: há muitos homens que ainda acham que as mulheres são umas chatas (porque não os deixam ser) e muitas mulheres que assumem essa função (porque não se permitem ser).
Mas quero crer que hoje sou mulher e sou humanidade. E penso: o que poderiam ter sido as mulheres que viveram para deixar os homens viver? O que poderiam ter sido as minhas avós, a minha mãe?
Espero que, daqui a uns anos, o meu filho pegue neste livro e ache esta reflexão obsoleta. 
E, já agora, espero que depois o volte a guardar na estante."
Ana Markl










SER FEMINISTA É SER A FAVOR DOS DIREITOS HUMANOS




março 04, 2022

SOU HISTORIADORA DE ALMAS


"O mundo russo é bom: a sua humanidade, assim como tudo o que o mundo tem
 venerado até agora:
 a sua literatura, o seu balé, a sua grande música. 
O que não é apreciado é o mundo de Béria, Stalim, Putin e Sergei Shoigu"



Filha de pai bielorrusso e de mãe ucraniana, Svetlana Aleksievitch, nasceu a 31 de maio de 1948 na Ucrânia, em Stanislav, hoje Ivano-Frankivsk mas cresceu em Minsk, capital da Bielorrúsia, onde vive atualmente. 
Jornalista e escritora, é autora de cinco livros e de vinte guiões de documentários.



A Biblioteca Municipal tem os seguintes livros da autora:
  • A guerra não tem rosto de mulher
  • Rapazes de zinco
  • Vozes de Chernobyl
  • O fim do homem soviético

Svetlana Alexievich criou um novo género literário de não-ficção que é inteiramente seu. Escreve "romances de vozes". Desenvolveu este género literário livro após livro, apurando constantemente a estética da sua prosa documental, sempre escrita a partir de centenas de entrevistas. Com uma notável concisão artística, a sua perícia permite-lhe enlaçar as vozes originais dos testemunhos numa paisagem de almas.




Tem livros publicados em vários países da Europa, Estados Unidas da América, China, Vietname e Índia. Está traduzida em 22 línguas e algumas das suas obras foram adaptadas a peças de teatro e a documentários.
Entre muitos outros importantes galardões internacionais, recebeu:
  • Em 2001 o Erich Maria Remarque Peace Prize
  • Em 2006 o National Book Critics Circle Award para não ficção
  • Em 2011 o Prémio Ryszard Kapuscinski
  • Em 2013 o Prix Medicis Essai
  • Em 2015 o Prémio Nobel da Literatura
  • Em 2021 o Sonning Prize
A Europa está a viver o seu maior desafio desde a Segunda Guerra Mundial.
A 22 de fevereiro, Vladimir Putin ordenou às forças militares russas que entrassem nas repúblicas separatistas ucranianas de Donetsk e Luhansk, chamando a esse ato "missão de paz" e  reconhecendo oficialmente, Donetsk e Luhansk como estados soberanos, totalmente independentes da Ucrânia.
A 24 de fevereiro, Vladimir Putin anunciou uma "operação militar especial" para "desmilitarizar" a Ucrânia, lançando uma operação em larga escala no país. Nesse mesmo dia a Rússia assumiu o controle de Chernobyl

Em 1991, Jacques Lesourne e Bernad Lecomte escreviam 
 O Pós-comunismo: do Atlântico aos Urais



"O que será a URSS de 2025? (...)
- no pior dos casos, um Estado autoritário, centralizado, impondo a sua lei a toda ou em parte da atual URSS, mantendo a segurança exterior graças ao seu armamento nuclear estratégico, fazendo avançar mal ou bem uma economia mista em zonas de liberalização definidas, com uma parte da produção mundial reduzida a sete por cento e um rendimento real médio da ordem dos cinquenta por cento do rendimento francês... (...)
Militarmente, o perigo não desapareceu e subsistirá enquanto a URSS - ou o que lhe suceder - se não tenha tornado numa zona democrática satisfatória e pacífica como a América do Norte ou a Europa Ocidental. Um perigo que se concebe de duas formas: a chantagem nuclear de um governo autoritário desejoso de obter do Ocidente algumas vantagens económicas (...), ou antes uma ação aventureirista desencadeada por uma fração do Exército em situação de quase guerra civil e podendo assim ameaçar países estrangeiros ou as populações soviéticas".






fevereiro 23, 2022

DA MEIA-NOITE ÀS SEIS


"Em final de março apareceu-me esta mulher, a Susana Ribeiro de Andrade,
 assim, com apelido e tudo, o que tem a ver com a ideia de cidadania inteira, 
a pessoa na pólis e o que é que o seu nome carrega."
                                                                           Patrícia Reis



Patrícia Reis nasceu em Lisboa a 12 de dezembro de 1970. Começou a sua carreira de jornalista n'O Independente, na revista Sábado e estagiou na revista norte-americana Time. Esteve no Expresso, fez a produção do programa de televisão Sexualidades, trabalhou na revista Marie Claire, na Elle e nos projetos especiais do diário Público. Desde 2000 que assume a edição da revista Egoista.
Estreou-se na ficção em 2004 e é ainda autora de livros infantojuvenis, muitos deles com o selo do Plano Nacional de Leitura.

Da autora fazem farte do fundo bibliográfico da Biblioteca Municipal os seguintes romances:
  • Morder-te o coração, 2007
  • Antes de ser feliz, 2009
  • Gramática do medo, com Maria Manuel Viana, 2016
  • As crianças invisíveis, 2019
  • Da meia-noite às seis, 2021

Escrita num registo de intimidade que nos envolve, 
esta narrativa segue a vida, presente e passada, de personagens 
que se cruzam e cujas opções de vida refletem o que
 é prioritário em tempos de pandemia.




Susana Ribeiro de Andrade é uma locutora de rádio a tentar sobreviver à perda súbita do marido, vítima de Covid-19.
Rui Vieira, jornalista na mesma estação de rádio, debate-se com as consequências de um acidente que veio expor as fragilidades da sua vida familiar e amorosa.
Ambos vão encontrar um novo alento para reconstruir as suas vidas no programa de rádio das madrugadas, e aquelas horas mortas, da meia-noite às seis, serão uma alternativa ao oxigénio, não só para eles, como para os seus ouvintes.


Pintura de Jack Vettriano


"A Susana e o Rui encontram-se por mero acaso e no fim do livro o que sobra é "estou aqui para ti, o que é que precisas? Não estás sozinho!"
                                                                                                                                              Patrícia Reis






fevereiro 16, 2022

A CADELA

Finalista do National Book Award 2020 nos EUA
Prémio Biblioteca de Narrativa Colombiana 2018
Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura - PNL 2027-2021


"A magia deste romance reside na capacidade de abordar uma série de questões importantes enquanto parece estar sempre a falar de outras coisas. 
Que questões são essas? 
Violência, solidão, resiliência, crueldade.
Os livros de Pilar Quintana maravilham-nos com a sua prosa
 desassombrada, acutilante, poderosa"
                                                                                                              Juan Gabriel Vásquez


A Cadela 
Pilar Quintana



Na costa da Colômbia virada ao Pacífico - num lugar onde a paisagem luxuriante contrasta com uma pobreza extrema e o homem é uma migalha diante da força dos elementos - vive Damaris, uma negra com cerca de 40 anos que toda a vida quis ser mãe. A sua relação com o marido tornou-se, aliás, fria e turbulenta à medida que o casal foi sacrificando tudo o que tinha à obsessão de Damaris e, apesar disso, ela nunca conseguiu engravidar. Mas a vida desta mulher frustrada parece encontrar uma réstia de esperança no dia em que adota a última cadelinha de uma ninhada.
Só que, tal como os filhos nem sempre correspondem às ambições que os pais têm para eles, Chirli também não será a cadela com que Damaris sonhou.


"Damaris seguiu-a ao longo de todo o jardim até às escadas e viu-a descer, atravessar o canal, que estava seco, chegar ao outro lado, sacudir-se, seguir o seu caminho no meio das crianças que voltavam da escola e perder-se na aldeia, já sem olhar para trás uma única vez. Damaris não chorou, mas quase."




Pilar Quintana nasceu  em Cali, Colômbia, em 1972. É uma das mais aplaudidas e lidas escritoras de toda a América Latina. Trabalhou como guionista de televisão e redatora de publicidade, mas teve também outras ocupações menos ligadas às letras, como ser terapeuta de jaguares, vender roupas ou passear cães.
Foi escritora-convidada na Universidade do Iowa e participou no Workshop de Escritores Internacionais na Universidade do Hong Kong.
Viajou por todo o mundo ao longo de três anos e instalou-se num vilarejo da costa do Pacífico, numa casa sem eletricidade nem água canalizada, donde partiu para Bogotá, onde agora reside.
A Cadela representou um marco na sua carreira como escritora e foi o romance literário mais vendido na Colômbia nos últimos anos.
O romance foi escrito no seu telemóvel enquanto amamentava o seu filho.





"Em A Cadela, Pilar Quintana liga com extraordinária mestria a natureza humana
 e o caos do universo. É um romance cheio de incógnitas sobre os sonhos não realizados,
 a culpa e os lugares por onde passa, apesar de tudo o amor."
                                                                                                                         Gabriela Alemán





fevereiro 09, 2022

IRIA VOLTAR A GUIAR

 


João Pedro Marques nasceu em Lisboa em 1949. Foi professor do ensino secundário e posteriormente, ao longo de duas décadas, foi investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical e Presidente do Conselho Científico desse Instituto entre 2007 e 2008.
Doutorado em História pela Universidade Nova de Lisboa, onde lecionou durante a década de 1990, é autor de dezenas de artigos sobre temas de história colonial.
Em 2010 publicou o seu primeiro romance, Os Dias da Febre, seguindo-se Uma Fazenda em África, Vento de Espanha, A Aluna Americana, todos  disponíveis para empréstimo domiciliário na nossa Biblioteca Municipal.
É o seu mais recente romance, O Prazer de Guiar, publicado em setembro de 2021, que hoje apresentamos.


"O Prazer de Guiar representa, uma reação contra a automatização e robotização do mundo e contra o envelhecimento, o meu e o da minha geração. Os personagens centrais do meu romance são um homem e uma mulher de 70 anos que não se resignam a aceitar placidamente o mundo automatizado e sem alma, ainda que confortável, em que vivem, e que decidem quebrar as regras  e viver uma aventura interdita."




Raquel e João têm cerca de 70 anos de idade. Amaram-se na juventude e, em tempos idos, foram casados e criaram filhos em conjunto antes de a vida os ter afastado. O Prazer de Guiar é a história do seu reencontro e reaproximação. É, também, simultaneamente, um romance on the road, no qual o casal reencontrado vai viver uma aventura adolescente que lhe reabre os horizontes numa fase tardia da sua existência.
O palco da sua aventura é Portugal no ano de 2032, um tempo em que o progresso tecnológico trouxe bem-estar, mas em que, paradoxalmente, cerceou as liberdades individuais. Uma época cada vez mais automatizada e robotizada em que o Estado já codificou quase tudo, impôs regras e normas em várias áreas vida coletiva, mas proibiu muitas outras coisas, nomeadamente a possibilidade de conduzir nas cidades e principais estradas do país. 
Serão Raquel e João capazes de lutar por esse direito que lhes foi negado?
Terão sucesso no desafio que lançaram às autoridades?
E conseguirão contornar ou iludir a opressiva vigilância policial?

"Ora o Estado, gerido a partir de Bruxelas, cortara-lhe a liberdade. Por isso, para ele, e desde que a lei dos automóveis autónomos entrara em vigor, o acto de circular mais não era do que o ansioso enjoo a que tinha de sujeitar-se sempre que precisava de fazer uma deslocação de mais de três quilómetros. (...). Os carros sem condutor buliam-lhe com os nervos."

Túnel de árvores
Freguesia de São Salvador da Aramenha, Marvão


"O Prazer de Guiar é um grito de liberdade.
Exprime uma revolta contra a automatização e a regulação na vida futura, 
em resultado de um processo que há anos está em curso."
                                                                                                             Carlos Fiolhais, In Jornal I







fevereiro 04, 2022

MARECHAL DE CAMPO WAKE, O MAQUIS SAÚDA-TE!


"Uma mulher? Não podia ser. As mulheres não combatiam ao lado dos homens. Operadoras de rádio, uma ou outra estudante a pintar slogans numa parede, sim, mas com certeza a Resistência não descera ao ponto de pôr uma arma nas mãos de uma mulher. (...) E se o Rato Branco fosse uma mulher? Estariam os franceses dispostos a receber ordens de uma fêmea? Invulgar, talvez, mas não impossível." 


Nancy Wake, The White Mouse, 1912-2011


Para os aliados era uma destemida combatente pela liberdade. 
Uma super espia, uma mulher apaixonada, muito à frente do seu tempo.

Para os Nazis, uma sombra, a pessoa mais procurada do mundo.

Para a História ficou uma lenda.

É  a incrível história de Nancy Wake que 
sugerimos para Leitura do seu fim de semana





Ao início, Nancy Wake era apenas uma jovem que vivia em Marselha, casada com Henri Fiocca, o grande amor da sua vida. Mas, quando França cai aos pés da Alemanha, a sua vida muda para sempre. Nancy Wake passa a ser conhecida como Rato Branco, alcunha dada pela Gestapo àquele que consideravam o membro da Resistência mais difícil de capturar. Sobre a sua cabeça um prémio de cinco milhões de francos.
Quando o marido é preso por traição e torturado pelos nazis, Nancy decide fugir para Inglaterra e junta-se ao Special Operations Executive (SOE).O seu objetivo é salvar o homem que ama, lutar conta a injustiça e o horror e mudar definitivamente o rumo da guerra.
É largada de paraquedas em Auvergne e, num mundo de homens, vê-se obrigada a lutar pelo respeito de alguns dos mais duros combatentes da Resistência francesa. Enquanto ele e os seus maquisards enfrentam os nazis, cada uma das ações que levam a cabo torna mais próximo o fim da guerra, mas ao mesmo tempo agrava a situação de perigo em que o marido de Nancy se encontra.


"A liberdade é a única coisa pela qual vale a pena viver. 
Enquanto espia, costuma pensar que não me importava se morresse,
porque sem liberdade viver é inútil"
                                                                         Nancy Wake, numa entrevista à BBC



Imogen Kealey é o pseudónimo utilizado pela escritora Imogen Robertson e pelo escritor e guionista Darby Kealey.
Imogen Robertson é escritora de ficção histórica. A viver em Londres, nasceu e cresceu em Darlington e foi leitora de russo e alemão em Cambridge. Antes de se tornar escritora foi realizadora de televisão, cinema e rádio. É autora de diversos romances.
Darby Kealey é escritor e produtor de Los Angeles. Tem um mestrado em Escrita de Argumentos pela Universidade da Califórnia, Los Angeles, e um bacharelato em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Santa Cruz. Tem vários projetos de cinema e televisão em desenvolvimento.


"Nancy Wake foi uma mulher de valor excecional"
                                                    Julia Gillard primeira- ministra australiana (2010-2013)


Montluçon, onde foram espalhadas as cinzas de Nancy Wake

"Quando eu morrer, quero as minhas cinzas espalhadas pelas colinas
 onde lutei ao lado do todos aqueles homens"
                                                                                                                          Nancy Wake




janeiro 26, 2022

BOM DIA MINHA SENHORA, VIEMOS PARA INSTALAR O MEDO


"Oh, sim, minha senhora. A instalação do medo é uma coisa rápida. Antes que dê por isso, já ele está instalado e pronto a usar. Antigamente levava anos. Agora, com as novas tecnologias, é apenas uma questão de minutos". 



Tocam à campainha. A mulher esconde o filho na casa de banho e vai abrir a porta.
E se o medo fosse um serviço, a bem do país e do progresso, entregue ao domicílio?
Cumprindo o decreto-lei de instalarem o medo em todos os lares o mais rapidamente possível, dois técnicos entram.
Carlos, o bem-falante, e o Sousa, com mau ar e voz doce, dialogam sobre os mais diversos assuntos, desde o desemprego às doenças e pandemias, das convulsões de mercado e taxas de juro à violência e terrorismo, criando um clima de tensão crescente.
Num tom irreverente e mordaz, Rui Zink convoca em cada leitor a urgência da coragem - aquela que orienta o coração de uma mãe. 
 

Para assinalar os 35 anos de vida literária de Rui Zink, foi reeditado em 2021, no dia 16 de junho, data em que o autor completou 60 anos, o livro que estamos hoje a divulgar.
"Este livro de 2012 é reeditado em 2021. Como diria Cardoso Pires, confere. Teve alguma reescrita, rasuras, até um novo capítulo, pelo que é, com todas as letras, uma nova edição."

Instalação do Medo, 2016 com os atores
Nuno Janeiro e Margarida Moreira


A 18 de julho de 2021, a adaptação para teatro do romance A Instalação do Medo esteve em cena no Festival D'Avignon, em França, pela companhia Théâtre des Halles, com encenação de Alain Timár. 
Em 2017, foi atribuído à edição francesa da A Instalação do Medo o Prix Utopiales para melhor livro estrangeiro.
Esta obra já foi adaptada ao teatro pelo encenador Jorge Listopad e ao cinema, em 2016, pelo realizador Ricardo Leite, através de uma curta-metragem homónima, distinguida em 2017 com vários prémios em festivais, designadamente no Curtas-Metragens de Faro e no Fantasporto, no Porto.

"(...) uma obra notável que devia tornar-se obrigatória nas escolas, se as escolas fossem o oposto do que são - como um dia hão-de ser: 
lugares onde se aprende a desinstalar o medo"
Inês Pedrosa, 27 de novembro de 2013



Rui Zink, escritor e professor universitário nasceu em Lisboa a 16 de junho de 1961. 
É desde 1997 professor auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde se licenciou em Estudos Portugueses em 1984. 
Em 1990 esteve nos Estados Unidos da América onde foi leitor de Língua Portuguesa na Universidade de Michigan.
De regresso a Portugal, foi monitor de cursos de "Escrita Criativa", de que foi o introdutor no país e os quais ministrou durante cinco anos.
Foi em 1987 que se iniciou como ficcionista, com o seu romance Hotel Lusitano, que pode ser requisitado na Biblioteca Municipal.
Colaborou ainda em jornais e revistas, nomeadamente, no semanário O Independente em 1991 e na revista K em 1992.
Foi ainda tradutor das obras de Matt Groening, Saul Bellow e Richard Zenith.
Em 2005 Rui Zink recebeu o Prémio P.E.N Clube Português pelo seu romance Dádiva Divina e em 2009 recebeu o Prémio Ciranda pelo seu romance Destino Turístico.
Representou Portugal em eventos como a Bienal de São Paulo, a Feira do Livro de Tóquio e o Edimburgh Book. 
Os seus livros estão traduzidos em: alemão, bengali, croata, francês, hebraico, inglês, japonês, romeno, sérvio.

" - O medo toma formas maiúsculas. O medo é sábio. O medo sabe o que é melhor para nós. O medo preocupa-se. O medo nunca anda longe. Está sempre perto de nós. Mais perto do que julgamos, mesmo quando julgamos que está longe. O medo é certo. O medo é verdade. O medo ama-nos.  (...)
A mulher faz as contas. São capazes de ter razão. Oito. Oito mil milhões de humanos sobre a terra. Obviamente, algum tinha de acabar por comer um pangolim".

Pangolim, mamífero que vive em zonas tropicais da Asia e África





janeiro 19, 2022

OS DADOS DE 2021

Como é habitual, vamos divulgar os números que resultam da atividade desenvolvida pela Biblioteca Municipal ao longo de 2021, tentando sempre estabelecer a comparação com os dados de anos anteriores. 
Como enquadramento, convém recordar que o início de 2021 ficou marcado pelo agravamento das restrições decorrentes do contexto pandémico, que obrigaram ao encerramento do atendimento presencial na Biblioteca Municipal, apenas sendo assegurado o serviço de empréstimo na modalidade takeaway, com prévia reserva e seleção on-line de documentos. 


Apesar das circunstâncias impostas pela pandemia e do facto de continuarmos a funcionar em instalações provisórias, podemos verificar um aumento significativo do número de livros emprestados mensalmente face ao verificado em 2020. 

Mas não podemos ser indiferentes aos efeitos da pandemia no uso das Bibliotecas e na promoção da leitura. O esforço acumulado ao longo dos anos para a Biblioteca Municipal ser um serviço público com impacto na comunidade, de ser uma referência local no acesso gratuito à informação, promovendo o seu uso regular e presencial, tentando elevar os níveis de literacia, consciencializando para a importância da leitura na formação dos mais jovens, esta trajetória foi interrompida, embora 2021 já apresente uma franca recuperação.


Registamos, também, a continuidade da tendência de anos anteriores, que revelam que o género feminino requisita muito mais livros do que o género masculino, sendo a diferença bastante significativa, dado que 71% dos livros emprestados, ao longo de 2021, foram a leitores do género feminino e o género masculino representa apenas 29% do universo de leitores que requisitaram livros.



Outro dado que extraímos dos números de 2021 é a reduzida percentagem de leitores que requisitam livros na faixa etária entre os 13 e os 17 anos. A faixa etária até aos 12 anos também não é muito elevada, mas aqui convém referir, que muitos dos livros destinados a esta faixa etária são requisitados pelos pais ou encarregados de educação, acabando por ser contabilizados pelo sistema informático como empréstimos na faixa acima dos 18 anos. 


Neste momento a Biblioteca Municipal conta com 2936 leitores inscritos e ativos, ou seja, são leitores que fizeram pelo menos uma requisição no último ano. Também ao nível das inscrições de novos leitores é notório o efeito das restrições decorrentes do contexto pandémico. Consideramos que a suspensão das atividades educativas com as escolas e os constrangimentos associados ao perigo de contágio são, eventualmente, a principal justificação para o reduzido número de novas inscrições nos últimos 2 anos. Também a este nível não é alheio o facto de estarmos a funcionar em instalações temporárias, de reduzida dimensão, que não nos permite ter todo o nosso acervo bibliográfico disponível para consulta e empréstimo.


Dos 108 novos leitores inscritos ao longo de 2021, verificamos a mesma situação que já referimos relativamente ao número de livros requisitados, dado que volta a ser a faixa etária dos 13 aos 17 anos a que regista menor número de novos leitores inscritos, representando apenas 9%. É uma tendência para a qual poderemos encontrar inúmeras explicações, mas que gostaríamos de inverter, nomeadamente, através do aumento de estratégias, em parceria com as escolas, para melhor incentivar a leitura nesta faixa etária.

















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