janeiro 26, 2022

BOM DIA MINHA SENHORA, VIEMOS PARA INSTALAR O MEDO


"Oh, sim, minha senhora. A instalação do medo é uma coisa rápida. Antes que dê por isso, já ele está instalado e pronto a usar. Antigamente levava anos. Agora, com as novas tecnologias, é apenas uma questão de minutos". 



Tocam à campainha. A mulher esconde o filho na casa de banho e vai abrir a porta.
E se o medo fosse um serviço, a bem do país e do progresso, entregue ao domicílio?
Cumprindo o decreto-lei de instalarem o medo em todos os lares o mais rapidamente possível, dois técnicos entram.
Carlos, o bem-falante, e o Sousa, com mau ar e voz doce, dialogam sobre os mais diversos assuntos, desde o desemprego às doenças e pandemias, das convulsões de mercado e taxas de juro à violência e terrorismo, criando um clima de tensão crescente.
Num tom irreverente e mordaz, Rui Zink convoca em cada leitor a urgência da coragem - aquela que orienta o coração de uma mãe. 
 

Para assinalar os 35 anos de vida literária de Rui Zink, foi reeditado em 2021, no dia 16 de junho, data em que o autor completou 60 anos, o livro que estamos hoje a divulgar.
"Este livro de 2012 é reeditado em 2021. Como diria Cardoso Pires, confere. Teve alguma reescrita, rasuras, até um novo capítulo, pelo que é, com todas as letras, uma nova edição."

Instalação do Medo, 2016 com os atores
Nuno Janeiro e Margarida Moreira


A 18 de julho de 2021, a adaptação para teatro do romance A Instalação do Medo esteve em cena no Festival D'Avignon, em França, pela companhia Théâtre des Halles, com encenação de Alain Timár. 
Em 2017, foi atribuído à edição francesa da A Instalação do Medo o Prix Utopiales para melhor livro estrangeiro.
Esta obra já foi adaptada ao teatro pelo encenador Jorge Listopad e ao cinema, em 2016, pelo realizador Ricardo Leite, através de uma curta-metragem homónima, distinguida em 2017 com vários prémios em festivais, designadamente no Curtas-Metragens de Faro e no Fantasporto, no Porto.

"(...) uma obra notável que devia tornar-se obrigatória nas escolas, se as escolas fossem o oposto do que são - como um dia hão-de ser: 
lugares onde se aprende a desinstalar o medo"
Inês Pedrosa, 27 de novembro de 2013



Rui Zink, escritor e professor universitário nasceu em Lisboa a 16 de junho de 1961. 
É desde 1997 professor auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde se licenciou em Estudos Portugueses em 1984. 
Em 1990 esteve nos Estados Unidos da América onde foi leitor de Língua Portuguesa na Universidade de Michigan.
De regresso a Portugal, foi monitor de cursos de "Escrita Criativa", de que foi o introdutor no país e os quais ministrou durante cinco anos.
Foi em 1987 que se iniciou como ficcionista, com o seu romance Hotel Lusitano, que pode ser requisitado na Biblioteca Municipal.
Colaborou ainda em jornais e revistas, nomeadamente, no semanário O Independente em 1991 e na revista K em 1992.
Foi ainda tradutor das obras de Matt Groening, Saul Bellow e Richard Zenith.
Em 2005 Rui Zink recebeu o Prémio P.E.N Clube Português pelo seu romance Dádiva Divina e em 2009 recebeu o Prémio Ciranda pelo seu romance Destino Turístico.
Representou Portugal em eventos como a Bienal de São Paulo, a Feira do Livro de Tóquio e o Edimburgh Book. 
Os seus livros estão traduzidos em: alemão, bengali, croata, francês, hebraico, inglês, japonês, romeno, sérvio.

" - O medo toma formas maiúsculas. O medo é sábio. O medo sabe o que é melhor para nós. O medo preocupa-se. O medo nunca anda longe. Está sempre perto de nós. Mais perto do que julgamos, mesmo quando julgamos que está longe. O medo é certo. O medo é verdade. O medo ama-nos.  (...)
A mulher faz as contas. São capazes de ter razão. Oito. Oito mil milhões de humanos sobre a terra. Obviamente, algum tinha de acabar por comer um pangolim".

Pangolim, mamífero que vive em zonas tropicais da Asia e África





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