setembro 29, 2021

EU NÃO SOU UMA RAPARIGA COMO AS OUTRAS, SABES?


"(...) A verdade é que estou entre os primeiros a desvendar o que se passa numa seita judaica de mente muito limitada; os seus membros estão altamente motivados para manter em segredo a natureza do seu estilo de vida, e a existência desta comunidade é uma questão muito incómoda que muitos judeus gostariam de ignorar. Afirmo desde já que não peço desculpas por ter tornado público este assunto." 


Deborah Feldman nasceu a 17 de agosto de 1986. Cresceu na comunidade hassídica satmar, no bairro de Williamsburg, em Brooklyn, Nova Iorque. 
Na América, os judeus hassídicos recuperaram uma herança que esteve para desaparecer, envergando os trajes tradicionais, falando apenas em ídiche. As mulheres não podem usar calças, nem ouvir música ou ler livros. A sua função é ter filhos e os casamentos são arranjados entre as famílias. Quando foi mãe, percebeu que tinha de salvar o filho daquele mundo.
Em 2012 lançou um livro de memórias que se tornou rapidamente um best-seller.


Deborah cresceu sob um código de costumes, implacavelmente impostos, que tudo controlava: o que podia vestir, com quem podia falar ou o que estava autorizada a ler, entre outras restrições. Foram os momentos insubmissos que passou com as densas personagens literárias de Jane Austen e de Louisa May Alcott que a ajudaram a imaginar um estilo de vida alternativo.
Ainda adolescente, viu-se aprisionada num casamento disfuncional, sexual e emocionalmente, com um homem que mal conhecia. A jovem satmar, bem-comportada, viu-se sufocada pela tensão entre os seus desejos e as suas responsabilidades; esta  foi-se tornando cada vez mais explosiva e, aos dezanove anos, quando deu à luz, compreendeu que, fossem quais fossem os obstáculos, teria de forjar um caminho - para si e para o filho - que a levasse à felicidade e à liberdade.


"É difícil acreditar que esta seja uma história real. 
É um daqueles livros que é impossível parar de ler."
                                                                                                                       The New York Post



Unorthodox é também uma minissérie de quatro episódios, que estreou na Netflix, e onde a autora, Deborah Feldman, esteve pessoalmente envolvida na produção da série. É a primeira série falada em ídiche, a língua que a maioria dos judeus falava na Europa antes da Segunda Guerra Mundial.

"Uma das grandes surpresas na criação de Unorthodox, a série da Netflix, foi como atraiu magicamente tantos homens e mulheres com histórias semelhantes à minha. Vieram trabalhar como atores e figurantes, consultores e tradutores, de tal modo que, em dada altura, estar no estúdio dava a sensação de se estar presente numa reunião especialmente emotiva".









setembro 21, 2021

JOSÉ AUGUSTO FRANÇA (1922-2021)

 "O que fiz, fiz. O que escrevi, escrevi. 

Arrependimentos não tenho. Penas, algumas."


José Augusto França, 1922-2021

José Augusto França, historiador, sociólogo, crítico de arte, professor catedrático jubilado da Universidade Nova de Lisboa, considerado o nome maior da Historiografia da Arte em Portugal, nasceu a 16 de novembro de 1922, em Tomar. 
Em 1944 licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa e em 1959 foi para Paris como bolseiro do estado francês, tendo estudado com Pierre Francastel.
Em 1962 obteve o grau de doutor em História e em 1969 o de doutor em Letras, pela Universidade de Paris.
Foi em 1946 que se manifestou o seu interesse pela pintura, na sequência de viagens que fez a Espanha e a Paris. Continuou a viajar pela Europa e América, até se fixar em Paris em 1959. Aí, privou com intelectuais portugueses ali exilados,  António José Saraiva e Joaquim Barradas de Carvalho, conheceu Roland Barthes, o poeta André Breton, Daniel Cohn-Bendit, o líder do movimento estudantil do Maio de 68 e o galerista Daniel-Henry Kahnweiler, que lhe contava histórias sobre Picasso.


 Helena Vieira da Silva, Arpad Szenes, Fernanda França, José-Augusto França,
 Novais Teixeira, e António Dacosta, na casa de Vieira da Silva e Arpad
no Boulevard de Saint Jacques em Paris.


Nas décadas de 1940 e 1950 foi uma das figuras mais dinâmicas e influentes da vida cultural em Portugal. Participou no Grupo Surrealista de Lisboa, organizou o primeiro salão nacional de arte abstrata.
Lecionou na Sociedade Nacional de Belas Artes e desde 1974 que foi professor catedrático da Universidade Nova de lisboa, onde criou os primeiros mestrados em História de Arte em Portugal.
Autor de referência da cultura no nosso país, destacam-se os seus estudos sobre a arte em Portugal nos séculos XIX e XX. 

Tem mais de noventa livros publicados, incluindo romances e contos, artigos em revistas da especialidades e em exposições onde foi comissário.
Foi um frontal opositor ao Estado Novo
Foi um admirador de Charles Chaplin e de Alexandre O' Neill.
A 16 de dezembro de 2005 foi assinado o termo de formalização da doação do seu espólio à Biblioteca Nacional de Portugal.
No passado dia 18 de setembro faleceu na casa de saúde de Jarzé, em França.

Recebeu as seguintes condecorações:
  • 1992, medalha de Honra da Cidade de Lisboa
  • 10 de junho de 1991, Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique
  • 10 de novembro de 1992, Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública
  • 30 de janeiro de 2006, Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique
  • 2012, Medalha de Mérito Cultural



"Olhei dez mil quadros, vi mil, estudei cem e compreendi dez"
                                                                                                 José Augusto França


Veja AQUI a bibliografia de José Augusto França que faz parte do fundo documental da nossa Biblioteca Municipal, disponível para empréstimo domiciliário. 


"José Augusto França, um homem notável que permanecerá 
uma referência na História e na Cultura nacionais"
 Manuel Heitor
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior







setembro 17, 2021

QUE DIABO ESTÁS A FAZER AQUI?

"Não há maior dádiva do que o amor de um gato"
                                                                               Charles Dickens


"Fora em setembro de 2018, três meses antes de nos conhecermos, que eu partira de Dunbar, a minha cidade natal na costa leste da Escócia, para percorrer o mundo de bicicleta. Tinha feito 30 anos há pouco tempo e queria libertar-me da rotina da vida, fugir ao meu cantinho do mundo e concretizar algo que valesse a pena. É justo dizer que as coisas não tinham estado a correr minimamente de acordo com o planeado. Conseguira atravessar o Norte da Europa, mas a minha viagem consistira numa série de desvios e distrações, falsas partidas e contratempos, a maior parte deles autoinfligidos. (...)
Mas, depois, quando parei de cantar e o som se tornou mais nítido, apercebi-me do que era. A minha reação foi de perplexidade. Não podia ser, pois não? Era um miado.
Virei-me e, pelo canto do olho, vi-o. Um gatinho escanzelado, cinzento e branco, corria desenfreado pela estrada, tentando desesperadamente acompanhar-me. Travei a fundo e estaquei.
Estava estupefacto. 
- Que diabo estás a fazer aqui? - perguntei-lhe."
 


No início de 2019 publicou um vídeo no Instagram no momento em que encontrou Nala, a gata que resgatou na Bósnia. O vídeo chamou a atenção dos meios de comunicação de todo o mundo e já tem mais de 130 milhões de visualizações.
Dean e Nala continuam a viajar juntos pelo mundo e partilham as suas aventuras na conta Instagram @1bike1worl, que tem mais de 750 mil seguidores. O seu canal no YouTube teve mais de cinco milhões de visualizações. 
Dean aproveita a visibilidade alcançada nas redes sociais e a disponibilidade das pessoas para ajudarem monetariamente as causas que divulga e para consciencializar o seu público para a proteção ambiental e o bem estar animal.

São as aventuras desta viagem pela Europa, até ao seu confinamento na Hungria, 
devido à pandemia de coronavírus, que sugerimos
 para leitura do seu fim de semana.



"(...) tenho de agradecer à Nala por aturar a minha cantoria, os meus cozinhados e quaisquer hábitos irritantes que eu possa ter sem saber. Tem sido a maior aventura da minha vida ser o teu companheiro de viagem. Obrigada por estares à minha espera naquela montanha, naquela manhã".





setembro 08, 2021

HIGIENIZAÇÃO E VENTILAÇÃO SERÃO A NOSSA SALVAÇÃO



Emma Donoghue nasceu em Dublin a 24 de outubro de 1969. Passou oito anos em Cambridge, Inglaterra, a tirar um doutoramento em literatura do século XVIII, mudando-se depois para London, Ontário, Canadá. Atualmente vive em França com a sua companheira e os dois filhos. 
O Quarto de Jack, bestseller internacional, foi finalista do Man Booker, Commonwealth e Orange Prize e premiado com diversas distinções. A autoria do argumento para o filme O Quarto valeu-lhe uma nomeação para o Óscar de melhor adaptação de argumento original.

A autora terminou em março de 2020 um romance sobre a pandemia que afetou o mundo em 1918.
"Em outubro de 2018, inspirada pelo centenário da gripe espanhola, comecei a escrever A Dança das Estrelas. Pouco depois de ter entregado o primeiro rascunho à minha editora, em março de 2020, a COVID-19 veio mudar o mundo".

" A Dança das Estrelas é uma obra de ficção interligada com factos reais. (...) 
Todas as personagens, incluindo Bridie e Julia Powers, são inventadas, à exceção da Dra. Kathleen Lynn (1874-1955).

Dra. Kathleen Lynn, 1874-1955

"No outono de 1918, Lynn era vice-presidente do comité executivo do Sinn Féin, bem como, diretora do seu ramo de saúde pública. Quando foi presa, o Presidente da Câmara de Dublin interveio, na tentativa de a libertarem para que pudesse continuar o seu combate à pandemia na clínica gratuita que abrira no nº 37 da Charlemont Street."

A Dança das Estrelas, pag 113



A chamada "gripe espanhola" não começou em Espanha. Ficou assim mundialmente conhecida porque a Espanha, país neutro durante a Primeira Guerra Mundial, e ao contrário dos países beligerantes, não ocultava a informação sobre os mortos com essa enfermidade.
Para tentar combater a sua propagação, o governo emitia, todos os dias, comunicados alertando para o distanciamento, o confinamento e o uso de máscaras por parte da população em geral.


Numa Irlanda duplamente devastada pela guerra e doenças, a enfermeira Julia Power trabalha num hospital sobrelotado e com falta de pessoal, onde grávidas que contraíram uma gripe desconhecida são colocadas em quarentena. Neste contexto já bastante difícil de gerir, Julia terá ainda de lidar com duas mulheres enigmáticas: a Dra. Kathleen Lynn, procurada pela polícia por ser uma líder revolucionária do Sinn Féin, e uma jovem ajudante voluntária sem experiência de enfermagem, Bridie Sweeney.
É numa enfermaria minúscula, escura e sem condições que estas mulheres vão lutar contra uma pandemia desconhecida, perder pacientes, mas também trazer novas vidas ao mundo. No meio da devastação, histórias de amor e humanidade, no dia a dia de mães e cuidadoras que, de várias formas, acabam por cumprir missões quase impossíveis.

Das novidades recebidas na Biblioteca Municipal, 
damos destaque ao mais recente livro de
 Emma Donoghue, 
onde a mortífera gripe espanhola, é o centro deste romance.


Hoje os nossos recursos e medicamentos são infinitamente melhores,
 mas, a qualquer momento, podemos ficar reféns de um vírus.

A Dança das Estrelas, pag. 176






setembro 03, 2021

O PIOR CHEIRO QUE HÁ, A POLÍTICA!

 
Marinha Grande, Praça Stephens, 18 de janeiro de 1934

"(...) Uma das cartas recebidas, das que mereceram mais credibilidade, dava conta de que poderia tratar-se de um tal Miguel Domingos, natural da Marinha Grande, onde tinha irmãos que poderiam ajudar a esclarecer o mistério. Alertava também para o facto de Miguel ter estado envolvido, com papel relevante, na revolta operária ocorrida a 18 de janeiro de 1934, não tendo sido preso como a muitos sucedeu. (...)
- Viu, Guimarães? Fala do dezoito de janeiro e diz que foi um dos cabecilhas... Isto cheira-me muito mal... o pior cheiro que há, a política! - disse Sousa, pesaroso, deixando cair lentamente o olhar no tampo da secretária, talvez para demonstrar o desalento, antevendo as dificuldades que se deparariam à investigação."

Baseado em factos reais, o romance que sugerimos como leitura para o seu fim de semana, reconstrói de uma forma muito fiel, não só a investigação feita pela PIDE, mas também a sociedade portuguesa do pós-guerra, o combate travado na clandestinidade contra um regime ditatorial.




Ativo militante comunista, o jovem Miguel Domingos era um operário vidreiro revoltado pela miséria que o rodeava. Depois de participar na revolta de 18 de janeiro de 1934, na Marinha Grande, fugiu para a União Soviética onde recebeu formação na Escola Leninista. No regresso, combateu as hostes franquistas em Espanha, foi preso e enviado para um campo de concentração.
No final de 1944 regressou a Portugal e passou a integrar a direção comunista, na qual se manteve até ser afastado em 1949, com problemas de saúde e a suspeita de ter denunciado as casas clandestinas mais importantes do partido, levando à prisão de alguns dos mais célebres dirigentes comunistas. 
Em 1951, num pinhal dos arredores de Lisboa, o seu corpo seria encontrado sem vida.
A quem interessava a sua morte? À família? À PIDE? Ao partido?

Manuel Domingues, 1950

"A razão de ser deste romance é ressuscitar Manuel Domingues, um membro do comité central do PCP entre 1945 e 1949, cujo cadáver apareceu num pinhal em 1951".
"Este homem deixou um filho. O filho tem uma filha. As pessoas gostariam muito de ver o nome do familiar recuperado. Manuel Domingues foi um dos fundadores do PCP na Marinha Grande. Foi um dos organizadores do 18 de janeiro na Marinha Grande. E o nome dele não consta em parte alguma. É contra isso que me bato E não estou sozinho. Há muita gente a pensar como eu. Gostaria que houvesse muito mais. Mas para isso é preciso que saibam que existiu o Manuel Domingues." 
                                                                                                                                 Carlos Ademar


Foto de José Fiães

Carlos Ademar nasceu em Vinhais, em 1960. É Mestre em História Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa.  
Professor da Escola da Polícia Judiciária, trabalhou na investigação de alguns dos crimes que mais marcaram a sociedade portuguesa e colaborou na formação de órgãos de investigação da Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, Angola e Timor. É fundador da Revista de Investigação Criminal.


"(...) - Ele já estava em conflito com a direção do partido?
- Não sei nada de conflitos entre ele e o partido, que era a sua verdadeira casa. Foi um dos fundadores do partido na Marinha Grande quando tinha vinte e um ou vinte e dois anos. (...)
- Senhor agente, ninguém tem mais vontade de ver os assassinos do Miguel presos do que eu. Ninguém. E se não ajudo mais é porque não sei como fazer. Se entretanto me chegar alguma coisa, entro em contacto imediato com o senhor."








agosto 25, 2021

AS RAPARIGAS NÃO JOGAM XADREZ

"- O Gambito de Dama.
Ela sentiu-se melhor. Tinha aprendido mais uma coisa com ele.
Decidiu não capturar o peão oferecido, deixando a tensão permanecer no tabuleiro. Gostava disso. Gostava do poder das peças, exercido ao longo das colunas e das diagonais. A meio de uma partida, quando as peças estavam espalhadas pelo tabuleiro, as forças que o cruzavam deixavam-na entusiasmada. Fez avançar o cavalo do rei, sentido a emanação do seu poder".


Este romance, escrito em 1983, deu origem à serie mais vista da história
 da Netflix e pode ser agora requisitado pelo Leitor


Venceu os Globos de Ouro de Melhor Mini-série 
e de Melhor Atriz (Anya Taylor-Joy)

Na altura em que a série estreou houve um aumento significativo 
de novos jogadores no Chess.com

As pesquisas "como jogar xadrez" atingiram o pico no motor de busca GOOGLE

E o romance homónimo, na altura da transmissão da série,
esteve no Top de vendas do The New York Times


"Apaixonante. Uma leitura viciante."
                                                                         Financial Times


Quando a mãe de Beth Harmon, de oito anos, morre num acidente de viação, a menina é enviada para um orfanato em Mount Sterling, Kentuchy. Simples, taciturna e tímida, ao que tudo indica, Beth não se destaca... até jogar a primeira partida de xadrez. Os seus sentidos ficam mais aguçados, o pensamento mais claro e, pela primeira vez na vida, ela sente-se totalmente no controlo.


Sem dinheiro nenhum, Beth está desesperada para aprender mais sobre esse jogo que se tornou a sua vida - rouba uma revista de xadrez, dinheiro suficiente para entrar num torneio e também alguns tranquilizantes da mãe adotiva, nos quais está viciada.


Aos treze anos, vence um torneio de xadrez; aos dezasseis, compete no US Open Championship; aos dezoito, é campeã dos Estados Unidos - e a Rússia espera por ela... mas, à medida que Beth aprimora as suas habilidades no circuito profissional, as apostas sobem, o seu isolamento fica mais assustador, as suas incontroláveis adições e a ideia de escapar tornam-se ainda mais tentadoras.



Walter Tevis nasceu a 28 de fevereiro de 1928, em São Francisco.  
Foi professor de Literatura Inglesa na Universidade de Ohio. É autor de sete romances, incluíndo três que deram origem a filmes de grande sucesso:
O romance que hoje apresentamos, Gambito de Dama,  surgiu do seu gosto pelo xadrez e da admiração pelos grandes mestres como Robert Fischer, Boris Spassky ou Anatoly Karpov, que no livro surgem em segundo plano relativamente a Beth Harmon, que desde as primeiras páginas vai contrariar o seu "professor" de xadrez quando este lhe disse " - As raparigas não jogam xadrez".    

Os seus romances foram traduzidos para 18 idiomas. A 9 de agosto de 1984, faleceu em Nova Iorque.








agosto 20, 2021

PARA QUE NINGUÉM ESQUEÇA



O Afeganistão acordou com uma nova realidade depois dos talibãs terem conquistado a capital, Cabul. No aeroporto multidões de afegãos concentram-se em desespero a tentar fugir do país.
A comunidade internacional (União Europeia e Estados Unidos da América) está "profundamente preocupada" com a situação das mulheres, com a possível perda de direitos: Direito à Educação, ao Trabalho, à Liberdade de Circulação.

Fotografia de Boushra Almutzwakel, 2010



O valor e testemunho de uma jovem podem mudar o mundo.
Para que ninguém esqueça porque quer ser a última a vivê-la,
Nádia conta a sua história





A 15 de agosto de 2014, a vida de Nadia Murad mudou para sempre. As tropas do Estado Islâmico invadiram a sua pequena aldeia, no norte do Iraque, onde a minoria yazidi levava uma vida tranquila, e perpetraram um massacre. Executaram homens e mulheres, entre eles a mãe e seis irmãos de Nadia, e amontoaram os corpos em valas comuns. Nadia, então com 21 anos, foi sequestrada, tal como milhares de jovens e meninas, e vendida como escrava sexual. Os soldados torturaram-na e violaram-na repetidamente, meses a fio, até que, certa noite, como por milagre, conseguiu fugir pelas ruas de Mossul. Assim começou a sua longa e perigosa viagem pela liberdade.




Nadia Murad nasceu em 1993, em Kocho uma aldeia na região do Monte Sinjar no norte do Iraque.
Nunca estivera em Bagdad nem tão-pouco tinha visto um avião. Hoje a sua história instiga o mundo a prestar atenção ao genocídio do seu povo. Hoje é uma ativista dos direitos humanos yazidi.
A 5 de janeiro de 2016 o governo iraquiano, pelo seu ativismo, propõe o seu nome para o Prémio Nobel da Paz.
A 16 de setembro de 2016 é nomeada a Primeira Embaixadora da Boa Vontade para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano das Nações Unidas

Nadia Murad embaixadora da Boa Vontade na ONU
foto ONU/Mark Garten

A 10 de outubro de 2016 vence o Prémio de Direitos Humanos Vaclav Havel do Conselho da Europa
A 27 de outubro de 2016 vence o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento (com Lamiya Aji Bashar)
A 5 de outubro de 2018, em conjunto com o cirurgião congolês Denis Mukwege, é laureada com o Prémio Nobel da Paz.
Está atualmente a trabalhar para levar o Estado Islâmico ao Tribunal Penal Internacional por genocídio e crimes contra a Humanidade.
É também a fundadora de Nadia's Initiative, um programa dedicado a ajudar os sobreviventes do genocídio e do tráfico humano a curar e a reconstruir as suas comunidades.


"(...) Mas, ao contrário de Sinjar, Mossul estava cheia de militantes do estado Islâmico. Estavam nos postos de controlo, a patrulhar as ruas, enfiados nas traseiras de camiões ou apenas a viver as suas vidas na cidade modificada, a comprar legumes e a conversar com vizinhos. Todas as mulheres estavam completamente cobertas com abayas e niqabs pretos; o ISIS proibira qualquer mulher de sair de casa descoberta ou sozinha, elas flutuavam pelas ruas, quase invisíveis."




"No quadro da lei islâmica e no respeito pelos valores nacionais afegãos, estamos prontos a preparar as condições para o regresso das mulheres aos estudos, ao trabalho e a todas as atividades humanas."
Enamullah Samangani
Membro da Comissão Cultural dos Talibãs


agosto 11, 2021

OLIVE KITTERIDGE


"O prazer de ler Olive Kitteridge nasce de uma intensa identificação 
com as personagens, complicadas e nem sempre exemplares.
Neste livro somos levados a admitir que precisamos de tentar compreender
 as pessoas, mesmo que não as suportemos"
                                                                                                               The New York Times 




Em Crosby, uma pacata povoação costeira no Maine, todos conhecem Olive Kitteridge, a temível professora de Matemática do liceu, agora reformada, e Henry, o seu marido, farmacêutico gentil.
E talvez não haja ninguém que conheça tão bem quanto Olive os segredos e os dramas dos habitantes da vila: o desespero de um ex-aluno que perdeu a vontade de viver; uma pianista alcoólica vítima de uma mãe castradora; uma mãe destroçada pelo crime hediondo do filho; um homem que descobre a ferocidade e as consequências do amor; e a solidão da própria família de Olive, à mercê dos seus caprichos.
Lamentando os ventos de mudança que varrem a sua vila e o mundo, sempre pronta a apontar um dedo crítico, Olive nem sempre dedica aos que a rodeiam a sensibilidade ou tolerância que mereciam. Mas, à medida que todas estas vidas se vão entrelaçando, Olive começa a conhecer-se melhor, e a compaixão - pelos outros e por si própria - ganha terreno ao preconceito.


"Era assim: não suportava ninguém. Ia aos correios de tantos em tantos dias e também não suportava fazê-lo. "Como tem passado?", perguntava-lhe Emily Buck, de todas as vezes, o que irritava Olive. "Vou passando", respondia Olive, mas detestava receber os envelopes, quase todos em nome de Henry. E as contas! Não sabia o que fazer com elas, nem sequer compreendia algumas delas ... e tanta publicidade!" 




Elizabeth Strout, nasceu a 6 de janeiro de 1956 em Portland, nos Estados Unidos da América, é uma das romancistas americanas mais aclamadas da atualidade.
O seu livro que hoje apresentamos venceu o Prémio Pulitzer de Ficção de 2009 , foi considerado o melhor livro do ano por diversas publicações, entre elas The Wall Street Journal, Chicago Tribune e The Washington Post Book World, e foi ainda finalista do National Book Critics Award.
Pelas mãos de Elizabeth Strout - autora elogiada pelo olhar clínico sobre a condição humana - , a sonolenta vila esquecida na margem do Atlântico torna-se o mundo inteiro, e os seus habitantes somos todos nós, enredados no drama e no milagre diários da vida, com os seus conflitos, tragédias, alegrias - e a coragem que viver sempre exige.




Não deixe de ver Olive Kitteridgeuma minissérie, distribuída pela HBO, vencedora de um Emmy. Realizada por Lisa Cholodenko, com argumento de Jane Anderson, baseada no romance homónimo de Elizabeth Strout. 
Do seu elenco fazem parte Frances McDormand, Richard Jenkins, Zoe Kazan e Bill Murray. 











 


agosto 03, 2021

GOSTARIA AINDA DE SABER PORQUE GABRIEL GARCÍA MARQUEZ LHE ESCREVERA ESTRANHA DEDICATÓRIA


"- Iremos para Buenos Aires, Marcela! É o melhor. Já me inteirei do custo das passagens e onde poderemos embarcar.
- Vamos para qualquer lado, desde que nos livremos desta gente que nos quer mal. Mas não te esqueças de que passaremos a lua de mel em Portugal. Gostava de conhecer o Porto. Há muitos galegos que vivem lá e dizem que é uma cidade agradável e acolhedora. Quem sabe, ainda ficamos por lá."

Marcela e Elisa em 1901, depois do seu casamento

Elisa cortou o cabelo, trocou as saias por calças e criou uma infância em Londres, o suficiente para se fazer passar por Mário e se casar com Marcela. 
Mas os dias felizes estavam contados com a descoberta e a repercussão social do "casamento sem homem", e o casal depressa se viu obrigado a exilar-se. Tudo se adensou quando, já casadas, Marcela deu à luz uma filha, um mistério que carrega de drama e emotividade esta história de amor, cujos ecos ultrapassam as contingências do tempo.



Amantes de Buenos Aires recria a história verdadeira de duas professoras que se casaram em 1901. 
Partindo deste caso verídico, o autor cria uma fascinante saga familiar na qual cruzam várias gerações de mulheres de forte personalidade, que lutam pela verdade do passado que as une.
Numa viagem de cem anos, o leitor assiste ao nascimento do tango nos prostíbulos de Buenos Aires e emociona-se com as gentes do Porto, a cidade que se uniu para acolher a coragem e a grandeza de um amor clandestino. 

"Como acontece muitas vezes, a história surgiu por acaso numa conversa com amigos. Um deles falou de duas professoras que se tinham casado na Galiza, vieram para o Porto e acabaram por ir para Buenos Aires devido à grande confusão que o seu casamento provocou na época".
                                                                                                                              Alberto S. Santos


Alberto S. Santos nasceu a 6 de março de 1967 em Paço de Sousa, Penafiel. 
Licenciado em Direito, pela Universidade Católica Portuguesa, é escritor, advogado, conferencista e político. 
Exerce advocacia desde 1991, tendo interrompido a sua profissão entre 2002 e 2013, por ter sido eleito, durante três mandatos consecutivos, para Presidente da Câmara Municipal de Penafiel.  
Como escritor, afirmou-se no romance histórico.
Para além do romance que hoje apresentamos, publicou em 2008 A Escrava de Córdova, em 2010 A Profecia de Istambul, que o leitor pode requisitar na Biblioteca Municipal, seguiu-se em 2013 O Segredo de Compostela e em 2016 Para lá de Bagdad.
O autor está também ligado à criação e curadoria do Festival Literário "Escritaria" e à comissão científica da "Rota do Românico".

Ilustração de Virginie Morgand







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