julho 05, 2011

"QUEM SALVA UMA VIDA HUMANA É COMO SE SALVASSE UM MUNDO INTEIRO"

Os homens são do tamanho dos valores que defendem.


Aristides de Sousa Mendes foi, talvez por isso, um dos poucos heróis nacionais do século XX e o maior símbolo português saído da II Guerra Mundial. Em 1940, quando era cônsul em Bordéus, protagonizou a "desobediência justa". Não acatou a proibição de Salazar de se passarem vistos a refugiados: transgrediu e passou 30 mil, sobretudo a judeus. Foi demitido compulsivamente. A sua vida estilhaçou-se por completo. Segundo o jornalista Ferreira Fernandes "É o herói vulgar. Não estava preso a causas. Estava preso a uma questão fundamental: a sua consciência".

Para assinalar os 126 anos do seu nascimento, 19 de julho de 1885, irá estar patente no átrio da Biblioteca Municipal, durante o mês de julho,  uma exposição de cartazes sobre a sua vida e o seu contributo na defesa dos Direitos Humanos.

A exposição está acompanhada de uma mostra bibliográfica, a partir da qual extraímos algumas sugestões de leitura:
  • "Injustiça: O caso Sousa Mendes" e "Um homem bom: Aristides Sousa Mendes o Wallenberg português", de Rui Afonso
  • "O rapaz do pijama às riscas", de John Boyne
  • "O leitor", de Bernard Schlink
  • "O diário de Anne Frank"
  • "A rapariga que roubava livros", de Markus Zusak


BOAS LEITURAS 

julho 04, 2011

ESTATÍSTICA

O mês de Junho continua a ser o reflexo do trabalho de divulgação e de incentivo à leitura que temos vindo a desenvolver na Biblioteca Municipal. Os números continuam a revelar uma tendência de subida na quantidade de livros requisitados.
Como podemos verificar através do gráfico apresentado, em Junho de 2010 registámos o empréstimo de 625 livros. No mesmo mês de 2011 aumentámos esse número para 673.



Assim, fazendo uma análise comparativa ao 1º semestre de cada ano, podemos verificar pelo gráfico a seguir apresentado, que os números apontam para um aumento no volume de livros emprestados em 2011, por consequência, verificamos um aumento dos níveis de leitura da população.



Estes resultados deixam-nos naturalmente satisfeitos, esperando que esta tendência se mantenha para os próximos meses e que a redução significativa do nosso horário de funcionamento ao público, verificada no final do mês de Junho, não venha a reflectir-se negativamente nos resultados.


VENHA À BIBLIOTECA. NÃO CUSTA NADA.

julho 01, 2011

"COMO PODERIA EU SER UM MITO SE FUI CRIADA EM ALCÂNTARA?"


No dia em que faria 91 anos, relembramos Amália Rodrigues.
A data do seu aniversário é complexa. Os documentos oficiais indicam 23 de julho de 1920, mas Amália sempre considerou ter nascido no primeiro dia do mês, ou como dizia, no tempo das cerejas.

A sua história artística começa em 1935, na marcha de Alcântara, depois de os responsáveis da festa a ouvirem cantar na rua. Nesse mesmo ano, canta pela primeira vez em público, acompanhada à guitarra por João Rebordão. Em 1938 concorre ao concurso "Rainha do Fado dos Bairros", mas não participa, pois as outras concorrentes ameaçam desistir caso ela participe.
Estreia-se no "Retiro da Severa" como fadista profissional em 1939. O êxito no Retiro, como artista exclusiva, é um sucesso e espalha-se por toda a Lisboa, pela boca do público. Imediatamente passa a cabeça de cartaz.
Inventa a fadista vestida de negro com xaile preto.
Revolucionou o fado tradicional com Frederico Valério.
Aliou grandes poetas à sua voz e à sua música, de Camões a José Régio, de David Mourão-Ferreira a Manuel Alegre, com Alain Oulman, o grande compositor do seu período de maturidade.


Não sei, não sabe ninguém
Por que canto o fado
Neste tom magoado
De dor e de pranto
(...)

Foi deus
Que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar foi deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
Fez poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu as flores à primavera
Ai!, e deu-me esta voz a mim.


in, Foi Deus

Ao longo da sua vida, Amália recebeu inúmeros prémios, que nenhum artista português tinha alcançado, gravou em várias línguas, mas foi em português que se tornou famosa no Mundo.
Morreu em 1999, permanecendo viva como uma das mais fortes identidades de Portugal.

A única mulher sepultada no Panteão Nacional foi fadista e chama-se Amália.

Para ficar a conhecer melhor a sua vida e obra pode requisitar na
Biblioteca Municipal o livro de Vítor Pavão dos Santos
 "Amália: uma biografia"
É esta a nossa sugestão de leitura de fim de semana


Para ouvir os seus fados só necessita de se deslocar à Sala Audio-Video e recordar Amália.

BOM FIM DE SEMANA E BOAS LEITURAS

junho 30, 2011


O livro que hoje divulgamos - "As velas ardem até ao fim" - é, na opinião de Inês Pedrosa "um portentoso tratado sobre a Amizade em forma de romance, uma obra-prima".

"(...) A vida torna-se quase interessante, quando já aprendeste as mentiras das pessoas, e começas a desfrutar e a notar que dizem sempre uma coisa diferente daquilo que pensam e querem realmente...". pág. 142

"Um pequeno castelo de caça na Hungria, onde outrora se celebravam elegantes saraus  e cujos salões decorados ao estilo francês se enchiam da música de Chopin, mudou radicalmente de aspecto. O esplendor de então já não existe, tudo anuncia o final de uma época. Dois homens, amigos inseparáveis na juventude, sentam-se a jantar depois de quarenta anos sem se verem. Um, passou muito tempo no Extremo Oriente, o outro, ao contrário, permaneceu na sua propriedade. Mas ambos viveram à espera deste momento, pois entre eles interpõe-se um segredo de uma força singular...".

"(...) O importante é que não faço acordos com o mundo que conheci e exclui da minha vida. No entanto, mesmo sem os meios modernos sabia que estavas vivo e um dia voltarias a mim.Não apressei a chegada desse momento. Queria esperá-lo, como uma pessoa espera a ordem e o tempo de cada coisa. Agora estás aqui." - pág. 79

Agora que já despertámos a sua curiosidade, só falta revelar o autor deste livro, cuja leitura aconselhamos. Já ouviu falar de Sándor Márai ?

Sándor Márai nasceu em 1900, em Kassa, uma
pequena cidade húngara, que hoje pertence à Eslováquia. Passou um período de exílio voluntário na Alemanha e na França durante o regime de Horthy, nos anos 20, até que abandonou definitivamente o seu país em 1948, com a chegada do regime comunista, tendo emigrado para os Estados Unidos. A subsequente proibição da sua obra na Hungria fê-lo cair no esquecimento, ele que, nesse momento, era considerado um dos escritores mais importantes da literatura centro-europeia. Foi preciso esperar várias décadas, até à queda do regime comunista, para que fosse redescoberto no seu país e no mundo inteiro.
Sándor Márai suicidou-se em 1989, em San Diego, na Califórnia, poucos meses antes da queda do muro de Berlim.


 A Biblioteca Municipal dispõe para empréstimo domiciliário outro livro do mesmo autor - "Rebeldes"

Visite-nos!
Nas férias, aceite as nossas sugestões de leitura! 

junho 29, 2011

"TODAS AS GRANDES PERSONAGENS COMEÇARAM POR SER CRIANÇAS, MAS POUCAS SE RECORDAM DISSO"


Antoine de Saint-Exupéry, escritor, ilustrador e piloto da Segunda Guerra Mundial, nasceu a 29 de junho de 1900. Órfão desde os 4 anos, Saint-Exupéry cedo mostra apetência pelos aviões e fez o seu batismo de voo aos 12 anos.

Numa época em que a aviação postal dava os seus primeiros passos como séria concorrente às expedições por via marítima e férrea, Saint-Exupéry passou a pertencer, com a assinatura de um contrato com a Aéropostale, ao grupo de pioneiros cuja coragem desafiava os limites da razão e da segurança, batendo recordes de velocidade, para entregar o que o escritor gostava de considerar como cartas de amor.
A sua morte, aos 44 anos, num acidente de aviação, ainda hoje permanece um mistério e adensou o mito à sua volta.


Descolando da ilha da Sardenha a 31 de julho de 1944, em missão de reconhecimento, Saint-Exupéry nunca chegaria ao destino no sul da França. Restam dúvidas quanto às possibilidades de ter sido abatido, ter tido uma falha técnica ou cometido suicídio. Deixou em terra o manuscrito inacabado de "La Citadelle" em que reflectia o seu crescente interesse pela política.
Em 2004 os destroços do avião que pilotava foram encontrados a poucos quilómetros da costa de Marselha. O seu corpo nunca foi encontrado.

As suas obras foram caracterizadas por alguns elementos em comum, como a aviação e a guerra:
  • O aviador, 1926
  • Correio do sul, 1928
  • Voo nocturno, 1931
  • Terra de homens, 1939
  • Piloto de guerra, 1942
  • O principezinho, 1943
  • Cidadela, 1946

A sua obra mais conhecida é sem dúvida Le Petit Prince (O Principezinho), o livro mais traduzido em todo o mundo, a par da Bíblia e de "O capital" de Karl Marx.
Fábula infantil para adultos, em que o narrador é um piloto que é forçado a aterrar de emergência no deserto, onde encontra um rapazinho, que se revela ser um príncipe de outro planeta.
O principezinho conta-lhe as suas aventuras na Terra e fala-lhe da preciosa rosa que possui o seu astro natal. Acaba no entanto por ficar desiludido ao saber que as rosas são bastante comuns na Terra e é aconselhado, por uma raposa do deserto, a continuar a amar a sua rosa rara. O principezinho regressa ao seu próprio planeta, tendo contudo, encontrado um sentido para a sua vida.

"As geografias - disse o geógrafo - são os livros mais preciosos que há. Nunca passam de moda. É raríssimo que uma montanha mude de lugar. É raríssimo que um oceano se esvazie. Nós só escrevemos coisas eternas".


Saint-Exupéry mudou-se para a América do Sul, onde foi nomeado director da companhia Aerpostale Argentina. Pilotando aviões de correio, voou através dos Andes, amealhando experiências que lhe serviram como material para o seu segundo romance, Vol de Nuit (Voo Nocturno), que logo se tornou um sucesso de vendas internacional, tendo ganho o Prémio Literário Femina e sido adaptado ao cinema em 1933, com Clark Gable e Lionel Barrymore no elenco.

"A grandeza de uma profissão é talvez, antes de tudo, unir os homens: não há senão um verdadeiro luxo e esse é o das relações humanas".



Estes são talvez os dois livros mais conhecidos de Antoine de Saint-Exupéry.

Pode requisitá-los na  Biblioteca Municipal, todos os dias úteis das
 09.00 - 12.30 e das 13.30 - 17.00

Esperamos Por Si

junho 28, 2011

PARABÉNS GONÇALO M. TAVARES

"Relativamente aos livros publicados em 2010, o Grande Prémio de Romance e Novela  APE/MC, atribuído desde 1982, em vinte e nove anos consecutivos, acaba de galardoar a obra "Uma Viagem à Índia", de Gonçalo M. Tavares (Ed. Caminho)"
Comunicado da Associação Portuguesa de Escritores (APE)

"Uma Viagem à Índia é um livro que vai marcar com certeza, não apenas a História da Literatura Portuguesa mas provavelmente a cultura europeia".
 Vasco Graça Moura, na apresentação da obras, CCB, 13/11/2010

 

"É um livro cheio de fantasmas, fantasmas dos Lusíadas, fantasmas do homem contemporâneo, uma viagem, uma antiepopeia, e é um livro extraordinário. Estou convencido de que dentro de cem anos ainda haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos".
Vasco Graça Moura, "A torto e a Direito", TVI24, 6/11/2010



Para o autor, "Uma Viagem à Índia" é "um livro que de certa maneira pertence a um género a que chamaria texto".

"Uma Viagem à Índia", nas palavras de Gonçalo M. Tavares, "conta a história de Bloom e da sua viagem ao Oriente para encontrar um sábio indiano que o encaminhe espiritualmente. É a história dessa viagem mental, uma espécie de epopeia que segue o percurso físico e acima de tudo o itinerário mental de Bloom".

"Uma Viagem à Índia" já tinha sido distinguido com o Prémio Melhor Narrativa Ficcional 2010 da Sociedade Portuguesa de Autores e com o Prémio Especial de Imprensa Melhor Livro 2010 LER/Booktailors.


Gonçalo M. Tavares nasceu em Angola em 1970 e já recebeu vários prémios, entre os quais alguns dos mais importantes para a literatura em língua portuguesa, nomeadamente o Prémio José Saramago 2005 e o Prémio LER/Millennium BCP2004, ambos para o romance "Jerusalém". Recebeu também o Grande Prémio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores Camilo Castelo Branco 2007, para a obra "Água, cão, cavalo, cabeça".


Foi ainda distinguido internacionalmente com: 

Não são razões, mais que suficientes, para querer conhecer melhor este autor?

Veja AQUI os livros do autor, 
que a Biblioteca Municipal tem à sua disposição para empréstimo domiciliário.

junho 27, 2011

"VIAJAR É USUFRUIR. É SENTIR O MOMENTO E OS LOCAIS POR ONDE SE PASSA"


Gosta de literatura de viagens?

O autor que hoje divulgamos, Gonçalo Cadilhe, faz da sua vida uma constante viagem. É um escritor viajante de profissão.

Gonçalo Cadilhe nasceu na Figueira da Foz em 1968. Licenciou-se em Gestão de Empresas na Universidade Católica do Porto, em 1992, e ao mesmo tempo frequentava a Escola de Jazz  do Porto.
Iniciou a actividade de jornalista independente na "Grande Reportagem" e actualmente colabora com o "Expresso". Para além da sua colaboração em jornais e revistas, exerceu também várias actividades profissionais temporárias para financiar as próprias viagens. Entre outras experiências foi músico da banda de Claudia Pastorino; vindimador no Médoc; empregado de mesa no famoso restaurante "Puny" em Portofino.
Desde 2005 publica regularmente livros de viagens, relatando os seus diversos périplos pelo mundo. Em 2007 estreou-se na televisão, tendo realizado vários documentários históricos e de viagens para a RTP: "Nos passos de Magalhães", "Infante D. Henrique", "Geografia das Amizades" e "Nos passos de Fernão Mendes Pinto".

Gonçalo Cadilhe vive e viaja com o dinheiro que recebe das reportagens que publica nos jornais, dos direitos de autor dos livros que escreveu, das conferências que dá em Portugal e dos projectos e ideias que vende à televisão.

"Vive de vender as viagens sob diferentes formas"


"Pela Patagónia abaixo, pela Indonésia acima, pelas ilhas do Pacífico e do Índico, pelos mares da Tasmânia ou das Caraíbas, pelas cidades dos Andes, da Europa e de África, o olhar maravilhado do viajante percorre a Terra com uma certeza: a Lua pode esperar...
"Só te falta ir à Lua", dizem-lhe. "À Lua para quê?, responde. "Tudo o que me interessa está aqui, na Terra".

Este é só um dos livros que a Biblioteca Municipal tem à sua disposição para empréstimo domiciliário. Veja Aqui toda a sua bibligrafia.

Venha viajar com o nosso autor de hoje.

junho 24, 2011

"LER PODE TORNAR O HOMEM PERIGOSAMENTE HUMANO"


Hoje a nossa sugestão de leitura de fim de semana não vai ser um livro, mas antes um texto de Guiomar de Grammon sobre a leitura e os seus perigos.

"Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame  Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tornou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: O conhecer. Mas para quê conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.


Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verosimilhança.
Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem as suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos da conquista da sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projectos, manuais, etc. (...).

Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco.
O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna colectivo o individual e público, o secreto, o próprio.

A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano."

Não ficou com vontade de ler?
Quem sabe na Biblioteca Municipal não encontra "aquele livro" que procura há tanto tempo, não encontra o seu autor preferido...

Visite-nos, peça-nos sugestões,
de certeza que temos o livro indicado para si 

Boas Leituras e Bom Fim de Semana

junho 22, 2011

"ESTOU VIVO e ESCREVO SOL"

Para um amigo tenho sempre

Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo da algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"


Do autor que hoje divulgamos,  Eduardo Lourenço diz: 
 "Onde Pessoa acaba, Começa Ramos Rosa".


António Ramos Rosa nasceu em
Faro a 17 de outubro de 1924, e aí viveu durante a sua juventude, até se mudar definitivamente para Lisboa, em 1962. Dele pode dizer-se, que a sua vida se confunde com a poesia, tendo a sua casa sido sempre um espaço informal de acolhimento e intercâmbio com outros poetas e leitores de poesia, tanto portugueses como estrangeiros. A sua bibliografia é vastíssima. Entre poesia individual e em parceria com outros autores, contam-se também traduções, críticas e ensaios. Mas a sua obra é muito mais vasta e variada, porque também se dedica à pintura e às artes visuais, não só como ilustrador, mas expondo em galerias de arte.



"Eu faço uns desenhos que são rostos e faço-os com uma grande espontaneidade: são automáticos e confluentes, quer dizer, não estou a pensar se faço uma linha, que vou fazer aquela linha: depois é que sai o meu trabalho - e por isso é que eu faço em segundos um desenho".

"Escrever é, sempre, a necessidade de respirar as palavras e de às palavras fornecer o frémito do ser, os pulmões do sonho, e, com elas criar a dádiva do poeta"    


 
Não posso adiar o Amor

Não posso adiar o amor para outro século 
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
Não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração

António Ramos Rosa in "Viagem Através de uma Nebulosa" 


Pelo mérito da sua obra e pelo seu perfil humano, António  Ramos Rosa foi já objecto de importantíssimos prémios literários, nacionais e internacionais:
  • Prémio de Tradução da Fondation de Hautvilliers em 1976,
  • Prémio do Centro Português da Associação de Críticos Literários e Prémio PEN Club de Poesia em 1980,
  • Prémio Pessoa em 1988,
  • Grande prémio da Associação Portuguesa de Escritores em 1991,
  • Prémio da Bienal de Poesia de Liége em 1991,
  • Prémio de Poeta Europeu da Década em 1991,
  • Prémio Jean Malrieu em 1992
  • Doutor Honoris Causa pela Universidade do Algarve em 2003,
  • Prémio Pen Club Português e o Grande Prémio de Poesia Associação Portuguesa de Escritores /CTT - Correios de Portugal em 2006,
  • Prémio Luís Miguel Nava em 2006 pelas obras de poesia publicadas no ano anterior: "Génese" e "Constelações".

Tal como diz Inês Pedrosa "O amor à poesia não se aprende, mas pode contagiar-se", esperamos que com estes dois poemas do nosso autor de hoje, consigamos despertar em si o gosto pela poesia.


Para o ficar a conhecer melhor VEJA AQUI a bibliografia
que a Biblioteca Municipal tem para empréstimo domiciliário.


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