setembro 25, 2012

O QUE É PRECISO É GENTE...



ESTA GENTE / ESSA GENTE

O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente 
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Essa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por gente

NENHUMA!

A gente 
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente.

                                                               Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"



Ana Hatherly, pseudónimo literário de Ana Maria de Lourdes Rocha Alves, nasceu na cidade do Porto em 1929. É professora, poetisa, romancista, ensaísta, investigadora, tradutora, realizadora e artista plástica.
Licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, diplomada em estudos cinematográficos na London Film School e doutorada em Literaturas Hispânicas na Universidade de Berkeley, foi professora no Ar.Co em 1975 e 1976, e na Escola Superior de Cinema do Conservatório de Lisboa, de 1976 a 1978.
É professora catedrática de Literatura Portuguesa na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desde 1984, e presidente do Instituto de Estudos Portugueses, por si fundado na mesma universidade.

Escuta o conto profano, tinta da china s/ papel, 1998

Inicia a sua carreira literária em 1958 e tem atualmente uma extensa obra poética que já foi traduzida nas principais línguas europeias e incluída em numerosas antologias internacionais. Paralelamente desenvolveu uma carreira como artística plástica, que iniciou em 1960, com um extenso número de exposições individuais e coletivas, quer em Portugal quer no estrangeiro e onde salientamos a Bienal de Veneza, a bienal de S. Paulo, o Museu do Chiado, a Fundação Calouste Gulbenkian ou da Fundação Casa de Serralves.


Labirinto de letras

Ana Hatherly foi membro da direção da Associação Portuguesa de Escritores e ajudou a fundar o P.E.N. Clube Português, o qual presidiu. 
Foi, ainda, nas décadas de 1960 e 1970, membro destacado do grupo de poesia experimental, além de se ter dedicado á investigação e divulgação da literatura portuguesa barroca, fundando as revistas Claro-Escuro e Incidências.
Como cineasta, trabalhou no London Film Institute, entre 1971 e 1974, realizando 4 filmes, três dos quais desenhando diretamente sobre a película.




Ana Hatherly foi distinguida com os seguinte prémios:

  • 1978 - Medalha de Mérito Linguístico e Filológico Oskar Nobiling da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura do Rio de Janeiro;
  • 2000 - Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores, pelo seu livro de 1997 O Ladrão Cristalino;
  • 2001 - Prémio de Poesia do PEN  Club, pela sua obra Rilkeana de 1999;
  • 2003 - Prémio Évelyne Encelot que distingue mulheres europeias pelas suas obras nas áreas das artes ou das ciências;
  • 2005 - Prémio da Crítica da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, pela sua obra O Pavão Negro, de 2003



O sexto Sentido

Estamos aqui
Em estado de liberdade
Condicionada pela enorme filáucia do próximo
Que um poeta desconhecido confirmou
Quando disse:
O sexo existe
Vem da palavra six
Igual a sexto sentido
Que é feminino

E acrescentou
A maçã
É para ser comida

                                                                              Ana Hatherly, in A Neo-Penélope


O leitor encontrará mais informação sobre a autora, que hoje divulgamos, AQUI

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