janeiro 26, 2022

BOM DIA MINHA SENHORA, VIEMOS PARA INSTALAR O MEDO


"Oh, sim, minha senhora. A instalação do medo é uma coisa rápida. Antes que dê por isso, já ele está instalado e pronto a usar. Antigamente levava anos. Agora, com as novas tecnologias, é apenas uma questão de minutos". 



Tocam à campainha. A mulher esconde o filho na casa de banho e vai abrir a porta.
E se o medo fosse um serviço, a bem do país e do progresso, entregue ao domicílio?
Cumprindo o decreto-lei de instalarem o medo em todos os lares o mais rapidamente possível, dois técnicos entram.
Carlos, o bem-falante, e o Sousa, com mau ar e voz doce, dialogam sobre os mais diversos assuntos, desde o desemprego às doenças e pandemias, das convulsões de mercado e taxas de juro à violência e terrorismo, criando um clima de tensão crescente.
Num tom irreverente e mordaz, Rui Zink convoca em cada leitor a urgência da coragem - aquela que orienta o coração de uma mãe. 
 

Para assinalar os 35 anos de vida literária de Rui Zink, foi reeditado em 2021, no dia 16 de junho, data em que o autor completou 60 anos, o livro que estamos hoje a divulgar.
"Este livro de 2012 é reeditado em 2021. Como diria Cardoso Pires, confere. Teve alguma reescrita, rasuras, até um novo capítulo, pelo que é, com todas as letras, uma nova edição."

Instalação do Medo, 2016 com os atores
Nuno Janeiro e Margarida Moreira


A 18 de julho de 2021, a adaptação para teatro do romance A Instalação do Medo esteve em cena no Festival D'Avignon, em França, pela companhia Théâtre des Halles, com encenação de Alain Timár. 
Em 2017, foi atribuído à edição francesa da A Instalação do Medo o Prix Utopiales para melhor livro estrangeiro.
Esta obra já foi adaptada ao teatro pelo encenador Jorge Listopad e ao cinema, em 2016, pelo realizador Ricardo Leite, através de uma curta-metragem homónima, distinguida em 2017 com vários prémios em festivais, designadamente no Curtas-Metragens de Faro e no Fantasporto, no Porto.

"(...) uma obra notável que devia tornar-se obrigatória nas escolas, se as escolas fossem o oposto do que são - como um dia hão-de ser: 
lugares onde se aprende a desinstalar o medo"
Inês Pedrosa, 27 de novembro de 2013



Rui Zink, escritor e professor universitário nasceu em Lisboa a 16 de junho de 1961. 
É desde 1997 professor auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde se licenciou em Estudos Portugueses em 1984. 
Em 1990 esteve nos Estados Unidos da América onde foi leitor de Língua Portuguesa na Universidade de Michigan.
De regresso a Portugal, foi monitor de cursos de "Escrita Criativa", de que foi o introdutor no país e os quais ministrou durante cinco anos.
Foi em 1987 que se iniciou como ficcionista, com o seu romance Hotel Lusitano, que pode ser requisitado na Biblioteca Municipal.
Colaborou ainda em jornais e revistas, nomeadamente, no semanário O Independente em 1991 e na revista K em 1992.
Foi ainda tradutor das obras de Matt Groening, Saul Bellow e Richard Zenith.
Em 2005 Rui Zink recebeu o Prémio P.E.N Clube Português pelo seu romance Dádiva Divina e em 2009 recebeu o Prémio Ciranda pelo seu romance Destino Turístico.
Representou Portugal em eventos como a Bienal de São Paulo, a Feira do Livro de Tóquio e o Edimburgh Book. 
Os seus livros estão traduzidos em: alemão, bengali, croata, francês, hebraico, inglês, japonês, romeno, sérvio.

" - O medo toma formas maiúsculas. O medo é sábio. O medo sabe o que é melhor para nós. O medo preocupa-se. O medo nunca anda longe. Está sempre perto de nós. Mais perto do que julgamos, mesmo quando julgamos que está longe. O medo é certo. O medo é verdade. O medo ama-nos.  (...)
A mulher faz as contas. São capazes de ter razão. Oito. Oito mil milhões de humanos sobre a terra. Obviamente, algum tinha de acabar por comer um pangolim".

Pangolim, mamífero que vive em zonas tropicais da Asia e África





janeiro 19, 2022

OS DADOS DE 2021

Como é habitual, vamos divulgar os números que resultam da atividade desenvolvida pela Biblioteca Municipal ao longo de 2021, tentando sempre estabelecer a comparação com os dados de anos anteriores. 
Como enquadramento, convém recordar que o início de 2021 ficou marcado pelo agravamento das restrições decorrentes do contexto pandémico, que obrigaram ao encerramento do atendimento presencial na Biblioteca Municipal, apenas sendo assegurado o serviço de empréstimo na modalidade takeaway, com prévia reserva e seleção on-line de documentos. 


Apesar das circunstâncias impostas pela pandemia e do facto de continuarmos a funcionar em instalações provisórias, podemos verificar um aumento significativo do número de livros emprestados mensalmente face ao verificado em 2020. 

Mas não podemos ser indiferentes aos efeitos da pandemia no uso das Bibliotecas e na promoção da leitura. O esforço acumulado ao longo dos anos para a Biblioteca Municipal ser um serviço público com impacto na comunidade, de ser uma referência local no acesso gratuito à informação, promovendo o seu uso regular e presencial, tentando elevar os níveis de literacia, consciencializando para a importância da leitura na formação dos mais jovens, esta trajetória foi interrompida, embora 2021 já apresente uma franca recuperação.


Registamos, também, a continuidade da tendência de anos anteriores, que revelam que o género feminino requisita muito mais livros do que o género masculino, sendo a diferença bastante significativa, dado que 71% dos livros emprestados, ao longo de 2021, foram a leitores do género feminino e o género masculino representa apenas 29% do universo de leitores que requisitaram livros.



Outro dado que extraímos dos números de 2021 é a reduzida percentagem de leitores que requisitam livros na faixa etária entre os 13 e os 17 anos. A faixa etária até aos 12 anos também não é muito elevada, mas aqui convém referir, que muitos dos livros destinados a esta faixa etária são requisitados pelos pais ou encarregados de educação, acabando por ser contabilizados pelo sistema informático como empréstimos na faixa acima dos 18 anos. 


Neste momento a Biblioteca Municipal conta com 2936 leitores inscritos e ativos, ou seja, são leitores que fizeram pelo menos uma requisição no último ano. Também ao nível das inscrições de novos leitores é notório o efeito das restrições decorrentes do contexto pandémico. Consideramos que a suspensão das atividades educativas com as escolas e os constrangimentos associados ao perigo de contágio são, eventualmente, a principal justificação para o reduzido número de novas inscrições nos últimos 2 anos. Também a este nível não é alheio o facto de estarmos a funcionar em instalações temporárias, de reduzida dimensão, que não nos permite ter todo o nosso acervo bibliográfico disponível para consulta e empréstimo.


Dos 108 novos leitores inscritos ao longo de 2021, verificamos a mesma situação que já referimos relativamente ao número de livros requisitados, dado que volta a ser a faixa etária dos 13 aos 17 anos a que regista menor número de novos leitores inscritos, representando apenas 9%. É uma tendência para a qual poderemos encontrar inúmeras explicações, mas que gostaríamos de inverter, nomeadamente, através do aumento de estratégias, em parceria com as escolas, para melhor incentivar a leitura nesta faixa etária.

















janeiro 14, 2022

ENTÃO, ABRIMOS NOVAMENTE O CAPITÃO?

"Passou mais de um mês e O Capitão continuava sem levantar a cabeça. Inicialmente, houve algum movimento, quando ainda aparecia gente a apresentar as condolências, a encher-lhes uma mesa para lhes fazer um favor ou simplesmente para ver como iam aquelas raparigas que tão altaneiras e distantes pareciam e que, por causa da má sorte, se tinham depois visto obrigadas a claudicar e a arregaçar as mangas."



Maria Dueñas é uma escritora espanhola, nascida em 1964, Puertollano, Ciudad Real.
É doutorada em Filologia Inglesa e é professora titular na Faculdade de Letras da Universidade de Múrcia.
Em 2009 ficou famosa com o seu romance O Tempo entre Costuras (que neste momento está requisitado por um leitor da Biblioteca), que foi adaptado, em Espanha, a uma minissérie de 1 temporada com 17 episódios, e foi um enorme sucesso de audiências e reconhecida com vários galardões.
O romance que hoje sugerimos para leitura no seu fim de semanaAs Filhas do Capitão, é baseado numa história real e é um tributo a todas as mulheres que vivem a aventura da emigração. O livro irá, também, ser adaptado à televisão com a autora a participar na sua produção executiva.
Maria Dueñas está traduzida em mais de 35 línguas com milhões de exemplares vendidos e é uma das escritoras de língua espanhola mais estimadas no mundo.


Nova Iorque, 1936.
O pequeno restaurante O Capitão abre as portas na rua 14, um dos enclaves da colónia espanhola que sobrevive na grande cidade americana.
A morte acidental do seu dono, o libertino Emilio Arenas, obriga a que as suas filhas indomáveis assumam as rédeas do negócio, enquanto nos tribunais se resolve a herança. Abatidas pela súbita necessidade de sobreviver, as temperamentais Victoria, Mona e Luz Arenas abrirão caminho através das adversidades, decididas a transformar um sonho em realidade.
As Filhas do Capitão conta-nos a história de três jovens espanholas que se veem obrigadas a cruzar um oceano, instalando-se numa cidade deslumbrante, e a lutar com bravura para encontrar um caminho.

As três irmãs, 1917
Henri Matisse (1869-1954)


"Ucranianos, franceses, polacos, cubanos, ingleses, albaneses, gregos, alemães, noruegueses, italianos, irlandeses, argentinos, salvadorenhos, suecos, portugueses, porto-riquenhos, romenos, espanhóis... Todos haviam tido lugar e, com o seu esforço diário, todos tinham contribuído com um grão de areia para que a cidade continuasse a funcionar bem oleada."
As Filhas do Capitão







janeiro 05, 2022

2 DIAS DE DIETA 5 DIAS DE LIBERDADE

 
Chegou aquele momento em que todos fazemos planos
para o ano que acabou de chegar.
E perder peso 
é com certeza um dos objetivos mais ouvidos por estes dias 



A dieta dos 2 dias é um programa modificado, 
que permite o consumo de 500 calorias (no caso das mulheres)
 e 600 calorias ( para os homens) em qualquer dia de jejum, 
o que torna a dieta relativamente confortável e, acima de tudo, sustentável a longo prazo.



Durante os dois dias de jejum só pode fazer duas refeições: o pequeno almoço e o jantar.
São 12 horas sem comer e durante esse tempo só pode beber água, chá e café.
O autor garante que os intervalos entre as refeições vão permitir o descanso do organismo



" A razão para fazer jejum periódico - isto é, restringir de forma breve mas drástica a quantidade de calorias consumidas - é porque com isso esperamos "enganar" o nosso corpo, levando-o a pensar que está numa potencial situação de fome e que precisa de passar de um modo energético para um modo de manutenção"
Michael Mosley


CONVENCIDOS?


dezembro 30, 2021

FELIZ 2022

 



"Esta é a hora em que podemos, de facto, reaprender tantas coisas! 
Podemos reaprender a estar nas nossas casas, mas também a sentir que depende de nós o nosso prédio, a nossa rua, o nosso bairro, a nossa cidade, o nosso país, dando substância efetiva a palavras, tantas vezes destituídas dela, como são as palavras "proximidade", "vizinhança", "humanidade", "povo", e "cidadania". (...) 
Sem nos tocarmos, podemos reaprender o valor da saudação, o estímulo de um cumprimento, a incrível força que recebemos de um sorriso ou de um olhar.
Sem que os nossos braços se estendam na direção uns dos outros, podemos abraçar-nos afetuosamente, como já o fazíamos ou de um modo mais intenso ainda, transmitindo nesses abraços reinventados o encorajamento, a hospitalidade, a certeza de que ninguém será deixado só. (...)"
José Tolentino Mendonça, 
In O que é amar um país



Feliz 2022


dezembro 23, 2021

FELIZ NATAL

Na sequência do despacho do Sr. Presidente da Câmara Municipal a conceder tolerância de ponto a todos os funcionários da autarquia, informamos que iremos estar encerrados nos dias 24 e 31 de dezembro.







dezembro 15, 2021

UM NATAL PERFEITO

Quando o viu na repartição de Finanças pensou que se tinha enganado. Mas logo ele lhe acenara, sorrindo, não havia engano. 

"Que sítio tão pouco poético", pensou. Durante estes anos todos sempre tivera a certeza de o voltar a encontrar um dia, mas nos sonhos o reencontro era sempre no Guincho e ao pôr do Sol.
"Aos anos que a gente não se via!", exclamaram ambos, e riram (...)
Virou-se para ela e disse-lhe que estava cheio de pressa, viera apenas requisitar os novos modelos de recibos verdes, mas um dia destes havia de lhe telefonar para combinarem um encontro com mais tempo. Ela estremeceu e pensou que se calhar iam estar outros 40 anos sem se verem e, num impulso arrisca, "porque não vais passar o Natal lá a casa?". Logo se arrepende, que disparate, ele há-de ter família, mulher e filhos, netos, quem sabe, e vai já desculpar-se quando o vê tirar rapidamente a agenda do bolso, e perguntar-lhe a morada. (...)



Durante toda essa semana ela só pensou no jantar de Natal. O jantar de reencontro, 40 anos depois. Um clássico. Todas as revistas femininas tinham, para ele, receitas infalíveis. Folheou-as vezes sem conta. Hesitou entre um peru assado com champanhe e um peru assado com castanhas, mas acabaria por se decidir por uma velha receita que lhe ensinara a avó que vivia nos Açores, que aproveitava os miúdos do bicho e os refogava com miolo de pão. Comprou toalha nova, naqueles tons de vermelho e verde que as revistas exibiam, com muitos ramos de azevinho no centro, e levou o requinte ao ponto de entrar numa loja resplandecente de cristais e porcelanas e comprar duas flûtes para o brinde com champanhe francês, e duas chávenas da Vista Alegre para o café. Nada poderia falhar.

Ele chegou tarde e a barafustar, "que chatice, nem nestes dias  aqueles gajos me dão sossego! Só sabem é pensar em aumentos de ordenado, em subsídios de Natal, mas quando toca a trabalhar, tá quieto ó mau!" (...) e, franzindo o sobrolho, pergunta-lhe "que perfume puseste?", mas antes que ela tenha tempo de responder já ele continua "é que a minha rinite dá logo sinal, daqui a pouco começo a espirrar que nunca mais paro!". Ela quer então abrir um pouco a janela, mas ele grita "nem pensar!", com o frio que vai lá por fora então é que a garganta lhe ficava apanhada de todo.

É preciso começar a conversar, o jantar de Natal tem de ser perfeito, e ela pergunta-lhe se tem ido ao cinema, mas logo ele a desilude, há anos que não sabe o que é um filme, agora é só o trabalho, "o trabalho e as chatices da vida, um colesterol altíssimo, só posso comer cozidos e grelhados e nada de carnes, álcool nem uma gota, café nem cheirá-lo, e descafeinado ainda é veneno pior para o meu fígado", diz. Ela tenta sorrir (o peru no forno, o champanhe no frigorífico, o lote de café escolhido a rigor) e avança, timidamente, que o Natal é diferente, no Natal toda a gente pode infringir as dietas, mas ele dá uma gargalhada, o que é que tem ser Natal?, para ele é um dia como os outros, há anos que não dá nem recebe prendas, isso é bom para o pessoal mais novo, por isso nem agora dá tréguas à dieta, "até porque a minha saúde não admite brincadeiras!".


Ela não diz nada, sorri apenas, sorri para as flûtes de cristal, para as chávenas de Vista Alegre, para o perfume, para o azevinho da toalha, para os conselhos das revistas. Irá, num instante, grelhar umas  postas de pescada que há-de descongelar no micro-ondas, beberão água mineral em copos de vidro grosseiro - e, de repente, fica com a estúpida sensação de estar, com ele, a festejar mais um Natal em 40 anos de um casamento perfeito.



Saboreie uma bica escaldada,
 e leia esta e outras crónicas de costumes da sociedade portuguesa, escritas pela Alice Vieira.






"Estou sempre a escrever a minha vida"





Alice Vieira nasceu a 20 de março de 1943 em Lisboa. É licenciada em Germânicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Iniciou a sua colaboração no suplemento juvenil do Diário de Lisboa com 13 anos e, a partir de 1969, dedicou-se ao jornalismo.
É uma das mais importantes escritoras de literatura juvenil tendo publicado cerca de 40 livros infantis e vendido cerca de um milhão de exemplares.
Em 1979 recebeu o Prémio de Literatura Infantil Ano Internacional da Criança, com o livro Rosa, Minha Irmã Rosa. Em 1983, ganha o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil pelo seu livro Este Rei que Eu Escolhi e, em 1994, o Grande Prémio Gulbenkian pelo conjunto da sua obra. Mais recentemente foi a candidata portuguesa ao Prémio Hans Christian Andersen.
Ultimamente tem-se dedicado à literatura para adultos, com o livro que hoje sugerimos, com Pezinhos de Coentrada, e com o livro de poesia Dois Corpos Tombando na Água, também disponíveis na Biblioteca Municipal.
Orienta regularmente oficinas de escrita criativa.
É membro da direção da Sociedade Portuguesa de Autores.






BOAS FESTAS





dezembro 10, 2021

OS ANÉIS DO MEU CABELO: A história de Mariza


Se passares pelo adro
No dia do meu enterro
Diz à terra que não coma 
Os anéis do meu cabelo
de, Anéis do meu cabelo, canção de Mariza

Mariza teve a ousadia de mexer nos santos do altar, um pecado que os espíritos mais conservadores nunca lhe perdoaram. Nuno Galopim, jornalista e crítico de música, justifica assim a distância que existe entre Mariza e o mundo do fado. "A forma como vestiu o fado, a cor, o cabelo, a atitude, tudo isso chocou de frente com essa ideia do fado higienizado que muitos consideravam ser o autêntico." Mariza recuperou o lado festivo que Amália também interpretava em palco e fê-lo viajando pelo flamengo e pelo mundo da música brasileira. "Apesar de Ó Gente da Minha Terra ser o seu tema emblemático, também sabe cantar a terra dos outros que, no fundo, acaba por ser a sua nesta sociedade global em que vivemos. Tudo aquilo faz sentido."

Para os mais tradicionalistas, Mariza continua a ser uma figura suspeita. "Não é unânime e ainda bem porque dos unânimes não reza a história."
O musicólogo Rui Vieira Nery identificou, logo à partida, uma série de condições muito hostis ao sucesso que se adivinhava desde a primeira hora. "Mariza sempre fez questão de cultivar a diferença, de criar uma certa distância que lhe foi devolvida pelo meio do fado. Ela nunca quis ficar no circuito tradicional da casa típica, do disco ocasional, do espetáculo de fado à antiga. Tinha uma confiança muito forte no seu talento, tinha outras ambições e nunca as escondeu."

Quando canta uma canção, é uma cantora. O que acontece é que ela foi entrando no mundo do fado por um caminho que é o dela. Quando canta fado, canta com aquele poder muito forte que vem de dentro, um poder africano.
Carlos do Carmo

Mariza dos Reis Nunes cresceu entre dois continentes. Dentro de casa estava em Moçambique, a terra onde nasceu, com a sua cultura, a sua música, a sua culinária. Mal saía à rua, mergulhava nas ruelas da Mouraria, na Lisboa antiga, no mundo do fado.
A convivência com dois universos tão diferentes moldou de forma indelével a sua personalidade como mulher e como artista. E o seu amor pela música, aliado ao dom de interpretar todos os géneros com a mesma alma, fizeram de Mariza uma cantora e fadista com tal arrojo e originalidade que, duas décadas depois de ter iniciado a carreira, continua a ser recebida em êxtase nas grandes salas de espetáculo de todo o mundo.

"Gostava de ser recordada como alguém que tentou, com o maior orgulho, 
pôr Portugal na história da música do mundo."
Mariza
Mariza, os amigos, a família e os músicos revelam-nos neste livro a mulher fora do palco, sem saltos altos nem vestidos de renda, com a mão que costumamos ver a agarrar o microfone segurando com força a do seu filho.


E esse livro, uma biografia de Mariza escrita por Dina Soares e editado pela Oficina do Livro,
pode ser requisitado na Biblioteca Municipal. 




Dina Soares, é jornalista desde 1987. Licenciada em Comunicação Social pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalhou em diversos meios de comunicação social, entre os quais os jornais Expresso, Diário de Lisboa e Semanário, na TVI, onde fez parte da equipa fundadora, e na Rádio Renascença. Foi por culpa de um curso sobre como escrever uma biografia, no Cenjor, e também devido ao gosto por contar histórias, que chegou até este livro, que é a sua primeira biografia.

"Mariza não é uma fadista convencional, 
é uma cantora excecional, extraordinária."
João Braga

Na Warner Music Portugal é Paulo Miranda quem trata dos discos de Mariza. O poder conquistador da artista começou por o conquistar a ele. "Eu não gosto de fado, gosto de Mariza. Até a conhecer, achava que o fado era muito chato, uma coisa dos meus pais." Bem mais difícil de cativar do que ele próprio, conta Paulo Miranda, era Napoleão e Mariza foi bem-sucedida. "Havia uma reunião anual da EMI em Madrid onde estava sempre o chefe máximo da empresa para a Europa, um francês com um péssimo feitio que tinha a alcunha de Napoleão. Sempre que lhe apresentávamos músicas novas, ele ouvia uns segundos e ordenava logo que se passasse à seguinte. Nesse ano, os meus colegas levaram o fado Ó Gente da Minha Terra, na interpretação do Concerto de Lisboa, que tem seis minutos e vinte segundos. Estamos a falar de uma pessoa que consumia música de todo o mundo e que tinha muito pouco tempo. Quando a faixa acabou, ele ficou em silêncio e disse: "ponham outra vez".

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
de, Ó gente da minha terra, canção de Mariza







dezembro 03, 2021

PASSARAM AINDA ALÉM DA TAPROBANA




"D. Lourenço inspirou e sentiu o odor forte da maresia. Nunca vira uma praia de tamanha beleza. Sentiu-se embriagado com o som das aves e com a paisagem. Tinham desembarcado num lugar mítico, cheio de lendas e histórias que encantavam a corte de Lisboa. Havia séculos que se dizia que a Taprobana era o paraíso na Terra. Uma ilha misteriosa e afortunada, famosa pela canela e pelas pedras preciosas. Sabia que o pai, em Cochim, ficaria orgulhoso e, acima de tudo, que a boa nova agradaria a El-Rei D. Manuel!"



Eduardo Pires Coelho nasceu em Lisboa em 1974. Licenciado em Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa e trabalha em mercados financeiros desde 1997. 
Em 2008 foi considerado o melhor analista de ações português pela Deloitte IRG Awads e, em 2010, o mais certeiro pelo Diário Económico, acumulando vários outros prémios em Espanha e na África subsariana.
Viveu um ano nos Estados Unidos e sete na África do Sul, perto do Cabo da Boa Esperança, tendo já visitado 56 países em quatro continentes.
Em 2011, foi o vencedor do Prémio Literário Esfera das Letras, com o romance O Segredo da Flor do Mar.
Apaixonado pelo mar, pela escrita e pela História, lança agora o seu segundo romance, Taprobana.

"O meu gosto pela História foi determinante para me dedicar
 a romances e thrillers históricos.
 A História de Portugal é rica e guarda muitos segredos e mistérios, 
desde os confins do Brasil até às ilhas mais recônditas da Indonésia."



Ernest Fonseka - médico e cientista do Sri Lanka a trabalhar em Portugal - é encontrado morto no momento em que vários dos seus pacientes terminais melhoram subitamente. A coincidência leva um alto funcionário da instituição, Rui Fernandes, a realizar um inquérito e a concluir que, na verdade, Ernest estava a testar um medicamento desconhecido, misteriosamente ligado à floresta do Sri Lanka. No cerne do enigma está Mafalda de Castro, uma jovem mestiça que, em finais do século XVI, testemunhou os desencontros entre os vários reinos dessa ilha que se chamou Taprobana e assistiu à sua ocupação pelos Portugueses, para depois se apaixonar por um fidalgo.
A pesquisa dos documentos encontrados no apartamento de Ernest revelará factos surpreendentes; mas, no rasto desse segredo guardado há séculos, Rui não escapará a um turbilhão de acontecimentos e perseguições, nem ficará a salvo do perigo e das malhas do amor.



A nobre ilha da Taprobana,
Já pelo nome antigo tão famosa,
Quanto agora soberba e soberana
Pela cortiça cálida, cheirosa,
Dela dará tributo à Lusitana
                                                           Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, canto X



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