abril 10, 2013

QUE PORTUGAL SE ESPERA EM PORTUGAL? QUE GENTE AINDA HÁ-DE ERGUER-SE DESTA GENTE?


Jorge de Sena, poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta, a sua obra é marcada, sobretudo, pela reflexão humanista acerca da liberdade do Homem.
É hoje considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura do nosso século XX.


"Pensador que sente e sentidor que pensa"
                                                                                                                            Eugénio Lisboa


Nasceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1919. Terminou em 1936 o seu curso de liceu. Mais tarde licenciou-se em engenharia civil na Universidade do Porto.
Durante os seus estudos universitários, publicou, sob o pseudónimo Teles de Abreu, as suas primeiras composições poéticas na revista “Presença” e travou conhecimento com o grupo de poetas que viria a reunir-se em torno de “Cadernos de Poesia”, convivendo, entre outros, com José Blanc de Portugal, Ruy Cinatti, Alberto Serpa e Casais Monteiro.


Trabalhou na Junta Autónoma de Estradas, de 1948 a 1959, ano em que se exilou no Brasil, receando perseguições políticas resultantes de uma falhada tentativa de golpe de estado, a 11 de Março desse ano e em que esteve envolvido.
 

 
A mudança para o Brasil permite-lhe uma reconversão profissional, que vai ao encontro da sua vocação, dedicando-se ao ensino da literatura, acabando por se doutorar em Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (São Paulo), em 1964, obtendo também o diploma de Livre-Docência, para o que teve que naturalizar-se brasileiro em 1963.
A sua intervenção cultural ganha novos horizontes com a sua atividade de docente e investigador universitário no Brasil, onde reforça também a sua ação cívica como opositor ao Estado Novo.
Fotografia de Eduardo Gageiro, 1970
A alteração da situação democrática no Brasil, com o golpe militar de 1964, faz temer um regresso ao passado, quer em termos políticos quer em termos de dificuldades económicas. Em 1965 foi viver para os Estados Unidos da América com a sua mulher, Mécia de Sena, com quem teve nove filhos. Em Outubro desse ano passa a integrar o corpo docente da University of Wisconsin, Madison, onde é nomeado professor catedrático efectivo (1967), transitando, em 1970, para a University of California, Santa Barbara (UCSB).


Durante a sua permanência na UCSB, até ao final da vida, ocupa os cargos de director do Departamento de Espanhol e Português e do Programa (interdepartamental) de Literatura Comparada.
Foi ainda membro da Hispanic Society of America, da Modern Languages Association of America e da Renaissance Society of America.
Nos Estados Unidos, a sua atividade cultural fica restringida aos círculos académicos e da emigração (no período californiano, desempenha um importante papel no esclarecimento das comunidades portuguesas sobre o 25 de Abril de 1974).
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago.
Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia em Santa Barbara.
 

Em Creta, com o Minotauro
 
Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Colecionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo, a minha pátria. a pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria  que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me  esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha
(...)
                                                                                              Jorge de Sena, in Poesia-III
 
 
A obra de Jorge de Sena é vasta em volume e em variedade (poesia, ficção, teatro, crítica, ensaio, história, história literária, organização de antologias, tradução).
Sena imprimiu a tudo o que escreveu um vigor, uma ironia corrosiva, uma energia ácida, um ousar quase, por vezes, à beira da loucura, um gosto (e uma capacidade) de subversão, um poder intelectual e espiritual, um apetite omnívoro de outras e diversas fontes culturais capazes de o alimentarem e excitarem, que dão ao corpus da sua obra uma força e uma monumentalidade quase monstruosas.
António Ramos Rosa, Eduardo Lourenço e Eugénio Lisboa contam-se entre os ensaístas que mais atentamente se dedicaram ao estudo e análise da obra de Jorge Sena.
O seu romance “Sinais de Fogo” foi adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha.
 
"Tendo mudado de pele, de continente, de vida, de nacionalidade, de tudo menos de mim mesmo, durante anos e anos".
                                                                                                                 Jorge de Sena
 
 
 
Quando se deu o 25 de AbrilJorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Visitou Portugal, mas  nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa o convidou para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo então continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.
 
Jorge de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro, quando se preparava a sua candidatura ao Prémio Nobel da Literatura.
No ano seguinte a Associação Portuguesa de Escritores instituiu o Prémio de Ensaio Jorge de Sena, ganho por Alexandre PinheiroTorres. 
A 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério dos Prazeres em Lisboa, depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais
 
O leitor encontrará a obra de
Jorge de Sena na sua Biblioteca
 
Só tem de nos visitar
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Quem a tem…
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
Desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
E sempre a verdade vença,
Qual será ser livre aqui,
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.
Mas embora escondam tudo
E me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade
.

                                           Jorge de Sena, in Poesia-II




 

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