Jorge de Sena, poeta,
ficcionista, dramaturgo e ensaísta, a sua obra é marcada, sobretudo,
pela reflexão humanista acerca da liberdade do Homem.
É
hoje considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma
das figuras centrais da cultura do nosso século XX.
"Pensador que sente e sentidor que pensa"
Eugénio Lisboa
Nasceu
em Lisboa a 2 de Novembro
de 1919. Terminou em 1936 o seu curso de liceu. Mais tarde
licenciou-se em engenharia civil na Universidade do Porto.
Durante
os seus estudos universitários, publicou, sob o pseudónimo Teles de
Abreu, as suas primeiras composições poéticas na revista “Presença” e travou conhecimento com o grupo de poetas que viria
a reunir-se em torno de “Cadernos de Poesia”, convivendo, entre
outros, com José Blanc de Portugal, Ruy Cinatti, Alberto Serpa e
Casais Monteiro.
Trabalhou na Junta Autónoma de Estradas, de 1948 a 1959, ano em que se exilou no
Brasil, receando perseguições políticas resultantes de uma
falhada tentativa de golpe de estado, a 11 de Março desse ano e em
que esteve envolvido.
A
mudança para o Brasil permite-lhe uma reconversão profissional, que
vai ao encontro da sua vocação, dedicando-se ao ensino da
literatura, acabando por se doutorar em Letras na Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (São Paulo), em 1964,
obtendo também o diploma de Livre-Docência, para o que teve que
naturalizar-se brasileiro em 1963.
A sua intervenção cultural ganha novos horizontes com a sua atividade de docente e investigador universitário no Brasil, onde reforça também a sua ação cívica como opositor ao Estado Novo.
Fotografia de Eduardo Gageiro, 1970 |
Durante a sua permanência na UCSB, até ao final da
vida, ocupa os cargos de director do Departamento de Espanhol e
Português e do Programa (interdepartamental) de Literatura
Comparada.
Foi ainda membro da Hispanic Society of America, da Modern
Languages Association of America e da Renaissance Society of America.
Nos
Estados Unidos, a sua atividade cultural fica restringida aos
círculos académicos e da emigração (no período californiano,
desempenha um importante papel no esclarecimento das comunidades
portuguesas sobre o 25 de Abril de 1974).
Recebeu
o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua
obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique,
por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu,
postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago.
Em 1980, foi
inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na
Universidade da Califórnia em Santa Barbara.
Em Creta, com o Minotauro
Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Colecionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo, a minha pátria. a pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha
(...)
Jorge de Sena, in Poesia-III
A
obra de Jorge de Sena é vasta em volume e em variedade (poesia,
ficção, teatro, crítica, ensaio, história, história literária,
organização de antologias, tradução).
Sena imprimiu a tudo o que escreveu um vigor, uma ironia
corrosiva, uma energia ácida, um ousar quase, por vezes, à beira da
loucura, um gosto (e uma capacidade) de subversão, um poder
intelectual e espiritual, um apetite omnívoro de outras e diversas
fontes culturais capazes de o alimentarem e excitarem, que dão ao
corpus da sua obra uma força e uma monumentalidade quase
monstruosas.
António
Ramos Rosa, Eduardo Lourenço e Eugénio Lisboa contam-se entre os
ensaístas que mais atentamente se dedicaram ao estudo e análise da
obra de Jorge Sena.
O seu romance “Sinais
de Fogo” foi adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha.
"Tendo mudado de pele, de continente, de vida, de nacionalidade, de tudo menos de mim mesmo, durante anos e anos".
Jorge de Sena
Quando
se deu o 25 de Abril, Jorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar
definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a
construção da democracia. Visitou Portugal, mas nenhuma
universidade ou instituição cultural portuguesa o convidou
para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu
e amargurou, decidindo então continuar a viver nos Estados Unidos, onde
tinha a sua carreira estabelecida.
Jorge
de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro, quando se preparava a sua candidatura ao Prémio Nobel da Literatura.
No ano seguinte a Associação Portuguesa de Escritores instituiu o Prémio de Ensaio Jorge de Sena, ganho por Alexandre PinheiroTorres.
A 11
de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de
Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério dos Prazeres em Lisboa,
depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a
presença de familiares, amigos e entidades oficiais
O leitor encontrará a obra de
Jorge de Sena na sua Biblioteca
Só tem de nos visitar
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Quem
a tem…
Não
hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
Desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
Desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
E
sempre a verdade vença,
Qual será ser livre aqui,
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.
Qual será ser livre aqui,
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.
Mas
embora escondam tudo
E me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
E me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena, in Poesia-II