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abril 25, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS

 
Hoje chega ao fim a nossa iniciativa
25 DIAS, 25 POEMAS
com aquele que é o poema mais
emblemático do
25 de ABRIL de 1974
 



GRÂNDOLA, VILA MORENA 

Grândola vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade
 
Dentro de ti ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola vila morena
 
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola vila morena
Terra da fraternidade
 
Terra da fraternidade
Grândola vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
 
À sombra de uma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
 
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra de uma azinheira
Que já não sabia a idade.
 
Zeca Afonso
 
 
 
 

abril 23, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS DE LIBERDADE




O QUE AQUELA NOITE ME QUIS DAR

 
Eu não estava em casa nessa noite, filho,
nem podia estar. Estava nas ruas com os soldados
que rumavam às rádios e aos quarteis, engalanados
de sombra e de júbilo, a ver o que aquela noite
ia dar, o que a nossa liberdade prometia ser.
E tu, filho, tinhas a idade rumorejante
desse Abril embalado por uma canção do Zeca.
Como posso eu explicar-te tudo aquilo
que tu nasceste para aprender, para viver?
Eu estava aquartelado no meu silêncio
de pétalas, sílabas e marés, no dédalo
de vozes embriagadas pelo vento,
na coragem errante das pelejas da infância
e pouco ou nada sabia do mistério desse mês
capaz de transformar em assombro as nossas vidas.
Sim, sou eu neste retrato antigo,
a receber em festa os exilados, os que chegavam
com grinaldas de cantigas e a flor de uma ilusão
bordada a sangue e espuma no capote das nocturnas caminhadas.
Sim, sou eu a escrever a primeira reportagem
do primeiro de muitos dias em que o tempo
deixou de contar, em que os relógios
se tornaram corolas de paixão e riso
na lapela larga da alegria desta pátria.
 
Eu não estava em casa nessa noite, filho,
estava a afinar o coração pelo tom
das mais belas melodias que alguém pode aprender
para dar a quem ama a paz de um sono
sem tormento.
 
                                         José Jorge Letria,
in Abril 30 Anos Trinta Poemas
 
 
 
 


abril 21, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS



10.º POEMA DE ABRIL


acolher maio com punhos
de metal

repartir orvalhadas rosas
bagos de coral

agitar bandeiras espigas
ruivas
na luz fria

alagar as ruas do límpido cantar
como semeando faias na penumbra
da alegria

dizer íris com verdes asas
povo com mica dum clamor
fabril

gritar este dia com agulhas
de cristal
e fecundar Abril

José Manuel Mendes,
in Abril 30 anos




Escritor português, José Manuel Mendes nasceu em setembro de 1948, em Luanda. Elegeu a cidade de Braga para viver, onde, desde a adolescência, se destacou como um lutador contra o poder ditatorial instituído pelo Estado Novo, no seio dos movimentos estudantis, associativos e políticos. Fez o ensino superior em Coimbra, licenciando-se em Direito.
Escritor prestigiado no meio intelectual, com cerca de 30 títulos publicados, desde a poesia ao ensaio, o autor manifestou, desde muito jovem, o seu pendor criativo, tendo publicado o seu primeiro livro de poesia aos 15 anos. Caracterizados por um grande rigor estético e formal, os seus textos deixam transpirar as profundas preocupações sociais.
O reconhecimento da sua obra saltou as fronteiras do nosso país e muitos dos seus livros foram traduzidos em várias línguas e incluídos em antologias de literatura portuguesa, publicadas na Bulgária, República Checa, Alemanha e Bélgica.
Em 1995 foi condecorado pelo Presidente da República Mário Soares como Grande Oficial da Ordem do Mérito.

abril 19, 2013

LEITURA DE FIM DE SEMANA


 "Portugal é meu porque o herdei,
 porque o paguei e porque o conquistei."
 

Sabe o leitor de quem é esta frase?
Será da Troika?, do FMI?, do Deutsche Bundesbank?
 
 
"Uma nação que não merece
usufruir pátria tão deliciosa."
 
O autor desta frase vai mais longe ao dizer que "Portugal é um dos mais belos, dos melhores e mais agradáveis países do mundo, habitado, porém, por uma nação que não merece usufruir pátria tão deliciosa".

 
Sabe o leitor quando e por quem foi dita aquela frase?
 
 
"As moscam mudam mas a merda é a mesma."

 
Sabe quem inventou a mais repetida frase da política portuguesa?
 
Frase "(...) que caiu no goto do espírito dos portugueses, sempre desconfiados do arranjinho que "eles", os de cima, combinaram contra os de baixo".
 
 
 
 
 
"O povo unido jamais será vencido"
 
O leitor sabe que este slogan foi importado do Chile?
 
"O slogan de apoio aos militares insurretos gritado no 25 de Abril. Tornou-se o grito "oficial" de então em diante em todas as manifestações de apoio ao Movimento das Forças Armadas (MFA) e ao novo regime democrátito. Foi inspirado na palavra de ordem da Frente Popular que apoiou a eleição do socialista Salvador Allende para Presidente do Chile, em 1970, e gritada por toda a Europa nas manifestações contra o golpe do general Augusto Pinochet. Como o "no pasarán", dos derrotados republicanos espanhóis, gritado enquanto os franquistas passavam a caminho de Madrid, o novo grito também não era de bom augúrio: Allende fora assassinado há menos de um ano, em setembro de 1973, e a democracia chilena afogada em sangue. (...). 
 
 *****
 
Numa altura que estamos a caminhar para as comemorações de uma data tão importante para o nosso país, estas e outras frases emblemáticas da nossa história  e que fizeram história, fazem parte do livro que hoje vos sugerimos para leitura de fim de semana.
 
 
 
Frases que fizeram a
História de Portugal
De Ferreira Fernandes e João Ferreira
da Editora A Esfera dos Livros
 
Obra inédita e surpreendente que tráz à luz do dia esta espécie de senhas e contra-senhas da nossa identidade, lhes atribui um autor, quando possível, uma data e o contexto em que foram ditas. A matéria-prima é inesgotável.
Um livro indispensável pra melhor ficar a conhecer a História de Portugal.
É um livro para todos, desde os curiosos da História, iniciados ou leigos, até aos simplesmente interessados... em coisas interessantes. Livro escrito a pensar nos leitores.
 
 

 
"Um livro fantástico de leitura empolgante"
Francisco José Viegas

 
 
Ferreira Fernandes é jornalista do Diário de Notícias.
Recebeu diversos prémios de reportagem, dos quais destacamos o Prémio Fernando Pessoa de Jornalismo, o Prémio de Reportagem da Fundação Luso-Americana, o Prémio Bordalo - Jornalista do Ano, do Clube de Jornalistas do Porto.
É autor de coletâneas de reportagens e dos livros Os Primos da América, Sampaio- Retratos de uma Vitória, Lembro-me que..., e Madeirenses Errantes.
 
 
 


João Ferreira é jornalista e diretor da NS, revista do Diário de Notícias.
Mestre em História Cultural e Política, é investigador do Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa e professor convidadoda European University.
Colaborou no Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses.
 
 
 
 
 

 
 
BOM FIM DE SEMANA
 COM MUITA HISTÓRIA
 
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SONETO IMPERFEITO DA CAMINHADA PERFEITA
 
 
Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
em que os poetas são os próprios versos dos poemas
e onde cada poema é uma bandeira desfraldada.
 
Ninguém fala em parar ou regressar.
Ninguém teme as mordaças ou algemas.
- O braço que bater há-de cansar
e os poetas são os próprios versos dos poemas.
 
Versos brandos... Ninguém mos peça agora.
Eu já não me pertenço: Sou da hora.
E não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
onde cada poema é uma bandeira desfraldada
e os poetas são os próprios versos dos poemas.
 
                                                                      Sidónio Muralha, in Poemas de Abril
 
 
 



abril 17, 2013

BIBLIOTECA - ESPAÇO DE DIFERENÇAS

A Biblioteca Municipal é, sem dúvida, um espaço de diferenças. Aqui se cruzam livremente diferentes nacionalidades, etnias, línguas, raças, origens. É, também, um espaço de cruzamento de diferentes gerações.
 
Porquê na Biblioteca?
Quais são os elementos de união nesta diferença?
 
 
Claro! Os livros e a leitura.

Temos, aqui, feito inúmeras referências  à presença de grupos de crianças, das escolas e jardins de infância do concelho, que nos visitam e frequentam as nossas sessões de leitura. Ontem, recebemos um grupo diferente, de outra geração, mas com o mesmo gosto pela leitura.

Recebemos um grupo constituído por 15 idosos, do Centro Social e Paroquial de Vieira de Leiria, com idades compreendidas entre os 65 e os 91 anos. Sim, 91 anos, não nos enganámos. São 91 anos ainda cheios de alegria e boa disposição. Ficaram a conhecer todos os espaços da Biblioteca, uma vez que nenhum deles a conhecia, terminando a visita com um momento de leitura realizado pela nossa antiga colega Albertina Couceiro, já aposentada há alguns anos, mas que continua a colaborar nas nossas atividades. Ora veja: 

 
Idosos Vieira Leiria - diaporamas


Se a Biblioteca é um
espaço de diferenças,
então é um espaço de LIBERDADE.




A liberdade quero,
a liberdade busco,
onde menos o espero,
a este lusco-fusco.
 
Recordo-me de ter,
em holocausto a ela,
sentido até prazer
no frio de uma cela.
 
A liberdade tento,
a liberdade fruo,
num igual movimento
de avanço e de recuo.
 
Armindo Rodrigues, in Quadrante Solar


 

abril 14, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS



não quero, não

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Quero um cavalo só meu,
seja baio ou alazão,
sentir o vento na cara,
sentir a rédea na mão.

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Não quero muito do mundo:
quero saber-lhe a razão,
sentir-me dono de mim,
ao resto dizer que não.

Não quero, não quero, não,
ser soldade nem capitão.

Eugénio de Andrade,
in Aquela nuvem e outras
Edições Quasi
  
 


Eugénio de Andrade [1923 - 2005]
"Por mais impessoal que seja a minha poesia, nunca o foi tanto como a que fui escrevendo  à medida que o Miguel ia crescendo diante dos meus olhos, e me ia pedindo uma história ou um poema. [...] Quis misturar a minha voz às vozes anónimas da infância - oxalá ela venha a tornar-se anónima também."
 
Eugénio de Andrade

 
 
 

abril 13, 2013

 
 
 


AMOR COMBATE


Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços são a flor do aloendro.
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.

Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:

O nosso amor é sangue. É seiva. É sol. É primavera
Amor intenso. Amor imenso. Amor instante.
O nosso amor é uma arma. É uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.

O nosso amor é um pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa.
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.

Deixa-me soltar estas palavras amarradas
para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.
Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade.

                                 Joaquim Pessoa, in Amor Combate



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Joaquim Pessoa nasceu no Barreiro a 22 de fevereiro de 1948.
Iniciou a sua carreira no Suplemento Literário Juvenil do Diário de Lisboa.
O primeiro livro de Joaquim Pessoa foi editado em 1975 e, até hoje, publicou mais de vinte obras incluindo duas antologias. Foram-lhe atribuídos os prémios literários da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura (Prémio de Poesia de 1981), o Prémio de Literatura António Nobre e o Prémio Cidade de Almada.
Desempenhou durante seis anos (1988-1994) o cargo de director da Sociedade Portuguesa de Autores.  









abril 11, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS

Hoje vamos apenas deixar-vos mais um poema alusivo à LIBERDADE. Hoje será um poema de MARIA TERESA HORTA, intitulado MULHERES DO MEU PAÍS.
 


MULHERES DO MEU PAÍS

Deu-nos Abril
o gesto e a palavra

fala de nós
por dentro da raiz

Mulheres
quebrámos as grandes barricadas
dizendo: igualdade
a quem ouvir nos quis

E assim continuamos
de mãos dadas

O povo somos:
mulheres do meu país

Maria Teresa Horta, in Mulheres de Abril
Editorial Caminho



Se quiser conhecer melhor MARIA TERESA HORTA
 
 
 
 

abril 09, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS




O tirano honesto

Dele dizem hoje: governou mas não roubou.
Pois não. Ou muito pouco. Tão só a liberdade
do povo dele e de tantos outros que assim
honestamente sempre oprimiu. Que os tiranos
honestos são os mais temíveis: só os move
a honesta perversão do poder total.

Luiz-Manuel,
in Um Pirilampo no Inverno
Folheto Edições & Design
 
 
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Luiz-Manuel [1935-2011] escritor e tradutor bilingue (português e francês), natural da Marinha Grande. Radicado na Suíça desde dezembro de 1962, viveu na cidade de Renens, perto de Lausana. Publicou treze volumes de poesia, em português, francês e bilingues. Traduzido em grego, russo, italiano e romeno.
Traduziu para francês numerosos poetas portugueses: Manuel Alegre, José Bento, António Luís Moita, José Gomes Ferreira, etc. Traduziu e apresentou em português, no semanário marinhense "O Correio", hoje desaparecido, vinte e três poetas suíços, dos quais vinte e três de expressão francesa (Suíça Romanda) e dois de expressão italiana (Ticino).
Um Pirilampo no Inverno foi o seu quinto volume de poesia em português.





 


abril 07, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS


Dando continuidade à iniciativa "25 dias, 25 poemas"vamos hoje publicar um poema da autoria de Natália Correia, alusivo à liberdade.

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JÁ AS PRIMEIRAS COUSAS SÃO CHEGADAS / I

Tanta foice isto é coice desconfio...
Tanto de marx martelar já cansa.
Adrede é labirinto não me fio
no fio que o comício ao coro lança.

De tanto ruminar tanto Rossio
numa canga aguilhando tanta esperança.
Tanto poder ao povo com feitio
de espezinhá-lo depois da governança.

Tanta denúncia. É a pedagogia
da Revolução que o excremento avia
e não chegámos ao último terceto.

Recém-nascida apenas deste em cabra
Ó Liberdade! Não sei como isto acaba,
não sei como acabar este soneto.

Natália Correia
in Epístola aos lamitas


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Natália Correia viveu entre 1923 e 1993 e deixou-nos uma vasta obra publicada.
Foi uma escritora multifacetada, desenvolvendo a sua atividade na área da poesia, do romance, do teatro e do ensaio, sendo, porém, a poesia o seu género literário predominante.
Paralelamente à sua obra, e através dela, foi uma mulher que se bateu por grandes causas, onde se inscrevem a defesa dos direitos humanos e os direitos das mulheres. 
Com uma personalidade muito forte, carismática e, muitas vezes, polémica, evidenciou ao longo da sua vida uma forte intervenção política, cultural e cívica, chegando a ser deputada na Assembleia da República. A sua obra foi sempre o reflexo do seu carácter fortemente ideológico.





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