agosto 21, 2012

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM


Há palavras que nos beijam
Alexandre O'Neill escreveu
Cristina Branco canta


Caricatura de André Carrilho
21 de agosto de 1986, faz hoje 26 anos que morreu Alexandre O'Neill, vítima de um acidente vascular cerebral, depois de ter passado vários anos doente. 
A sua vida mistura-se com a das personalidades mais conhecidas das artes e das letras em Portugal na segunda metade de século XX.
Alexandre O'Neill foi poeta, publicitário, escreveu para teatro, cinema, televisão, letras para fados,(escreveu a letra do fado "Gaivota" destinado à voz de Amália Rodrigues, com música de Alain Oulman)  cronista, tradutor e organizador de antologias e ainda um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa.
As suas primeiras influências surrealistas surgem em 1947, quando contacta com Mário Cesariny.
Em 1948, fundam o Grupo Surrealista de Lisboa, juntamente com José Augusto-França, António Pedro e Vespeira. Este grupo depressa se divide em dois e dá origem ao Grupo Surrealista Dissidente, com personalidades como António Maria Lisboa e Pedro Oom.



Discurso

no dize-tu-direi-eu
havia um que dizia
quer dizer é como quem diz
que o mesmo é não dizer nada
tenho dito



Em 1943, com dezassete anos, publicou os primeiros versos num jornal de Amarante, o "Flor do Tâmega". A partir de 1957, começou a escrever para os jornais, assinando colunas regulares do Diário de Lisboa, A Capital e Jornal de Letras. Com a edição, em 1958 de "No Reino da Dinamarca", O'Neill viu-se reconhecido como poeta. Em 1959 iniciou-se como redator de publicidade e ficaram famosos alguns slogans publicitários da sua autoria.
Quem é que nunca ouviu "Há mar e mar, há ir e voltar"?

Em 1953, esteve preso vinte e um dias no Estabelecimento Prisional de Caxias, por ter ido esperar Maria Lamas, regressada do Congresso Mundial da Paz em Viena.  A partir dessa data, passou a ser vigiado pela PIDE, chegando mesmo a ter o passaporte confiscado.


O Amor é o Amor

O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos - somo um? somos dois?
espírito e calor!

O amor é o amor



Recebeu em 1982, o Prémio da Associação de Críticos Literários.
Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses.

Idiota e Felicidade
"(...) Os idiotas, de um modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia, podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima com poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa".
Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"


Os Convencidos da Vida
(...) Todos os dias os encontro. Evito-os. Ás vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrange. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vença, lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim".


Quem for viajar, encontrará, desde o passado dia 17 de julho,  Alexandre O'Neill, numa caricatura do cartonista António nas paredes da extensão do metro do aeroporto de Lisboa. 


Descendente de irlandeses, Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill, ou simplesmente Alexandre O'Neill, nasceu em Lisboa a 19 de dezembro de 1924.






Venha à Biblioteca Municipal
Aqui encontrará mais informação sobre O'Neill e 
Aqui a sua poesia, que poderá levar consigo.




agosto 17, 2012

FELIZ ANIVERSÁRIO HERTA MÜLLER



Herta Müller nasceu a 17 de agosto de 1953 na Roménia, numa região de minoria de língua alemã. Poeta, romancista e ensaísta, a sua obra é marcada pelas duras condições de vida na Roménia sob o regime de Ceausescu.
Estreou-se na literatura em 1982, com uma coletânea de contos "Niederungen", que foi censurada. Em 1984, este livro foi editado na Alemanha e alcançou um grande sucesso.
Proibida de publicar na Roménia por ter criticado publicamente o governo, a escritora emigrou em 1987 para a Alemanha, com o marido, o poeta Richard Wagner, também nascido naquela região romena.
Antes de ir para a Alemanha, Herta Müller esteve exposta  continuamente aos interrogatórios, registo domiciliários e ameças da Securitate, o serviço secreto romeno.

De entre os recentes prémios que recebeu encontram-se o Impac  Dublin Literary Award, em 1998, o de Literatura de Berlim 2005, o Würth de Literatura Europeia 2005, o de Literatura de Walter Hasenclever 2006, o Franz Werfel de Direitos Humanos 2009, o Prémio Nobel da Literatura 2009 e o Hoffmann von Fallersberg 2010.

Herta Müller estará em Lisboa de 10 a 14 setembro a convite da Dom Quixote e do Goethe-Institut para apresentar o seu livro "Já Então a Raposa Era o Caçador". A sessão de apresentação da obra está marcada para o dia 13 de setembro, às 18h30, no Goethe-Institut, e será seguida por uma conversa com a escritora Lídia Jorge, moderada por João Barrento.

E enquanto não chega o novo livro de Herta Müller,
sugerimos para leitura de fim de semana

Tudo o que eu tenho trago comigo
Editora: Dom Quixote

Este livro resulta de várias conversas que Herta Müller teve com Oskar Pastior, um sobrevivente dos campos soviéticos após a II Guerra Mundial.
No posfácio deste romance sobre a deportação de seres humanos no pós-guerra, ficamos a saber que a mãe da autora estava entre os alemães residentes na Roménia, deportados por Estaline para prestarem trabalho forçado em campos soviéticos.

"[Este romance] tornou-se a peça mais valiosa na obra da autora para a legitimação do Prémio Nobel da Literatura. A já exausta "literatura dos campos" encontra neste romance um exemplo maior, que a transcende".
António Guerreiro, Expresso





Tenha um Bom Fim de Semana
 com Boas Leituras

agosto 16, 2012

NÃO DEVEMOS RESISTIR ÀS TENTAÇÕES: ELAS PODEM NÃO VOLTAR


Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito
                                                                                                                Millôr Fernandes 


Millôr Fernandes, escritor, dramaturgo, cartonista e humorista que marcou a cultura brasileira,  nasceu a 16 de agosto de 1923 no Méier, subúrbio do Rio de Janeiro.
Nasceu Milton Viola Fernandes, mas graças a uma má caligrafia, ficou registado Millôr, facto que só veio a saber já adolescente.
Vendeu o seu primeiro desenho para o Jornal do Rio de Janeiro aos dez anos de idade. 
Em 1938 começou a trabalhar como repaginador e contínuo no semanário O Cruzeiro. Nesse mesmo ano, sob o pseudónimo de "Notlim", ganhou um concurso de contos na revista A Cigarra. 


Em 1956 dividiu o primeiro lugar na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires com o desenhador norte-americano Saul Steinberg. No ano seguinte teve direito a uma exposição individual das suas obras no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.


Passou a assinar Millôr os seus textos publicados na revista O Cruzeiro, em 1962. Mas deixou a revista no ano seguinte, por causa de uma polémica causada com a publicação de A Verdadeira História do Paraíso, considerada ofensiva pela Igreja Católica.
Colaborou, a partir de 1964, com o jornal português Diário Popular e obteve o segundo Prémio do Salão Canadiano de Humor.
Em 1968 começou a trabalhar na revista Veja. 
Nos anos seguintes escreveu peças de teatro, textos de humor e poesia, além de volar a expor no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, mas dizia que não tinha obra. Isso " É coisa de pedreiro".
Traduziu, do inglês e do francês, várias obras, principalmente peças de teatro, entre elas os clássicos de Sófocles, Shakespeare, Moliére, Brecht e Tennessee Williams.
Millôr leu o Memorial de Convento, de José Saramago e fez referência na sua coluna do Jornal do Brasil, onde a sua opinião conta. Saramago, escritor quase anónimo, tornou-se um sucesso imediato dos leitores brasileiros.



Deixou uma marca de humor inteligente e ácido, que produziu frases como:
  • Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
  • A justiça pode se cega: mas que olfato!
  • Os nossos amigos podem não saber muitas coisas, mas sabem sempre o que fariam no nosso lugar.
  • O cara só é verdadeiramente ateu quando está bem de saúde.
  • Errar é humano. Ser apanhado em flagrante é burrice.
  • O dinheiro não só fala, como faz muita gente calar a boca
Foi um dos criadores do "O Pif-Paf". Só durou oito edições, mas o jornal foi considerado um dos iniciadores da imprensa alternativa no Brasil. Foi ainda um dos colaboradores de "O Pasquim", reconhecido no seu papel de oposição à ditadura militar.
Foi uma das primeiras personalidades brasileiras a ter espaço de destaque na internet, inaugurando o seu site no ano 2000. Tinha mais de 368 mil seguidores no Twitter.

Quando, numa entrevista, lhe perguntaram se era um homem feliz depois dos 80 anos, respondeu:
"E porque não seria? Tenho o controlo absoluto em tudo o que faço, menos em comprar roupa, atividade sobre a qual confesso toda a minha ignorância. (...) Ser feliz não é andar de sorriso rasgado pelas ruas, mas sentir-se bem consigo mesmo. Nesse sentido cheguei ao limite da felicidade". 

A 27 de março deste ano, aos 88 anos de idade, faleceu no Rio de Janeiro.

A atriz Fernanda Montenegro, vai sugerir ao perfeito do Rio de Janeiro, que seja cumprida a última vontade de Millôr: "A única homenagem que eu quero é um banquinho no Arpoador, para o pessoal poder olhar o pôr do sol".

Tenha um bom dia  e como dizia Millôr Fernandes

"Não há problema algum que não caiba no dia seguinte"




agosto 14, 2012

DE NENHUM FRUTO QUEIRAS SÓ METADE




Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu em S. Martinho de Anta, a 12 de agosto de 1907 e faleceu em Coimbra a 17 de janeiro de 1995, foi um dos mais importantes escritores portugueses de século XX.
Em 1918, foi para o seminário de Lamego. Estudou português, geografia e história, aprendeu latim e familiarizou-se com os textos sagrados. Pouco tempo depois comunicou ao pai que não queria ser padre. 
Emigrou para o Brasil em 1920, com doze anos de idade, para trabalhar na fazenda de café do tio. Ao fim de quatro anos, o tio apercebe-se da sua inteligência e paga-lhe os estudos liceais em Leopoldina, onde se distingue como aluno. Convicto que o sobrinho viria a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-lhe pagar os estudos o que o levou a regressar a Portugal para concluir o liceu.


Em 1928, entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publicou o seu primeiro livro de poesia, Ansiedade.
No ano seguinte, com 22 anos, começou a colaborar na revista Presença, mas rompeu definitivamente com a revista em 1930, assumindo uma posição independente. Foi em 1934 que criou o pseudónimo "Miguel" e "Torga". 
Miguel em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. 
Torga é uma planta transmontana, com raízes agarradas e duras "assim como eu sou duro"



Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

A intervenção cívica de Miguel Torga na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos crimes da guerra civil de Espanha e de Franco, valeu-lhe a apreensão de algumas das sua sobras pela censura.
Foi preso pela PIDE e teve algumas vezes vontade de sair do país: "Mas abandonar a Pátria com um saco às costas? Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, o Mondego, a luz de Coimbra, a biblioteca e as vogais da língua. Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles seria um cadáver a respirar".


Desenho de Carlos Botelho
Começou a exercer clínica geral na sua aldeia natal, mas a experiência foi negativa. Seguiu-se Leiria, uma cidade que gostava, mas por causa do mau trabalho das tipografias (por causa de uma vírgula era capaz de passar uma noite sem dormir), fixou-se definitivamente em Coimbra, em 1941, como otorrinolaringologista.
Em 1940 casou com a professora universitária, a belga Andrée Crabbé: "Vou tentar ser um bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso. (Criação do Mundo V)


Fotografia de Eduardo Gageiro
"De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e  da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo"
Diário, Coimbra, 9 de dezembro de 1993

Os seu livros estão traduzidos em várias línguas, entre elas o espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.

Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram-lhe atribuídos:

  • 1969 - Prémio Diário de Notícias
  • 1976 - Prémio Internacional de Poesia das Bienais de Knokke-Heist
  • 1980 - Prémio Morgado de Mateus
  • 1981 - Prémio Montaigne
  • 1982 - Prémio Écureuil de Literatura
  • 1989 - Prémio Camões
  • 1991 - Prémio Personalidade do Ano
  • 1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores
  • 1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra.
  • Foi ainda proposto para o  Prémio Nobel da Literatura.

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado, 
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
                                                                                                  Miguel Torga, Diário XIII

A Biblioteca Municipal dispõe bibliografia do autor para empréstimo domiciliário.
Veja AQUI



BOM FERIADO

agosto 10, 2012

LEITURA DE FIM DE SEMANA



Ilustração de Denis Zilber

- Que bem que se está na piscina.
- Pois está, mas agora vou-me  secar, pôr protetor solar e deitar-me a ler o livro que trouxe da Biblioteca Municipal. Estou entusiasmadíssima com a leitura, quero saber o que vai acontecer ao Peter e à Rebecca agora que apareceu lá em casa o Ethan !!!



Quer saber qual o livro
 que está a entusiasmar a nossa leitora?

É o novo livro do Michael Cunningham:
"Ao cair da noite", da editora Gradiva  e que sugerimos como
leitura de fim de semana.


Peter e Rebecca Harris, na casa dos quarenta e a viver em Manhattan, aproximam-se do apogeu das suas carreiras em arte: ele, negociante; ela, editora numa boa revista da especialidade. Com um moderno e espaçoso apartamento, uma filha adulta a estudar na universidade em Boston e amigos inteligentes e animados, levam um invejável estilo de vida urbano contemporâneo e parecem ter todas as razões para serem felizes. Mas é então que o irmão de Rebecca surge em cena. Extremamente parecido com ela, mas muito mais novo, Ethan (conhecido na família como Mizzy, "O Erro") resolve visitá-los. Na sua presença, Peter começa a pôr em causa os artistas, o trabalho destes, a sua carreira - todo o mundo que construíra com tanto cuidado.



Este novo livro de Cunningham constitui uma visão dolorosa do modo como vivemos hoje em dia. Plena de peripécias inesperadas, faz-nos pensar (e sentir) com profundidade nas utilizações e no significado da beleza e no papel do amor nas nossas vidas.




Michael Cunningham nasceu a 6 de novembro de 1962 na cidade de Nova Iorque. 
Cresceu e estudou em Cincinnati, no estado do Ohio onde, com apenas quinze anos de idade, tomou a decisão de se tornar escritor, ao ler Mrs. Dalloway de Virginia Woolf. 
Estudou na Universidade de Stanfor Literatura Inglesa e fez um mestrado em Belas Artes na Universidade de Iowa.
Em 1989 o seu conto "White Angel" foi escolhido para fazer parte de uma antologia que reunia as melhores obras desse género literário, o Best American Short Stories 1989.
No ano seguinte publicou o seu primeiro romance "A Home At The End Of The Woorld" que teve o aplauso da crítica.  Como resultado desse sucesso, ganhou uma bolsa atribuída pela Fundação Guggenheim em 1993. 
Publicou "The Hours" em 1998, obra em que prestou homenagem ao romance que inspirou a sua carreira, Mrs. Dalloway.  "As Horas" foi adaptado ao cinema em 2002, com nomes como Nicole Kidman (que ganhou o Oscar em 2003 para melhor atriz), Merly Streep e Julianne Moore no elenco.

Veja Aqui outras obras do autor que a Biblioteca Municipal dispõe para empréstimo domiciliário.



Tenha um Bom Fim de Semana
 e não se esqueça do protetor solar

agosto 08, 2012

FAÇAM O FAVOR DE SER FELIZES



Raul Augusto Almeida Solnado, humorista, apresentador de televisão e ator, nasceu em Lisboa a 19 de outubro de 1929. 

"Lisboeta militante ortodoxo, um dia perguntaram-lhe:
- De onde é que você é?
- De Lisboa.
- Mas de que sítio?
Ele abriu os braços como se explicasse o mundo:
- De toda."

Iniciou a sua carreira artística aos 17 anos como ator amador na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, onde foi colega de José Viana, Varela Silva e Jacinto Ramos.
O gosto pelo teatro levou-o a inscrever-se, em 1951, num curso noturno do Conservatório Nacional.
Em 1952 estreou-se "profissionalmente" num show no Maxime e a partir daí não mais parou fazendo opereta, revista, teatro clássico, cinema e televisão, fazendo rir e pensar.
Enfrentou os seus primeiros problemas com a censura em 1961. Solnado e Camilo de Oliveira são julgados por ofensas contra a Comissão de Exame e Classificação dos Espetáculos por terem representado falas que tinham sido previamente censuradas.


Raul Solnado, 1966, 2 dias antes da inauguração da Ponte 25 de Abril.
Fotografia de Eduardo Gageiro, capa do Século Ilustrado
Em 1960, juntamente com Humberto Madeira e Carlos Coelho, tornou-se sócio da Companhia Teatral do Capitólio. Pelo seu desempenho secundário de sacristão no filme "As Pupilas do Senhor Reitor" (1961) de Perdigão Queiroga, foi agraciado com o Prémio SNI para Melhor Interpretação Masculina.
Marcou presença num dos momentos mais emblemáticos do Cinema Novo português como protagonista, em 1962, do filme "Dom Roberto" de José Ernesto de Sousa. O seu registo dramático foi elogiado em todos os jornais. "Dom Roberto" foi o primeiro filme português a ser distinguido no Festival de Cannes com o Prémio da Jovem Crítica.

Em 1961, Solnado atingiu o auge da sua popularidade com a rábula "A História da Minha Ida à Guerra de 1908", representada pela primeira vez na Revista Bate o Pé. Conseguiu pôr Portugal a rir de uma guerra sem sentido, numa altura em que a guerra colonial era um assunto tabu. A rábula foi editada em disco, tornando-se um fenómeno de vendas pouco usual para a época e, superou inclusivamente as vendas dos discos da Amália Rodrigues.


Foi com Carlos Cruz e Fialho Gouveia que em 1969, Raul Solnado apresentou na RTP um programa inovador e que se tornou um marco na programação televisiva: o Zip-ZipUma mistura de talk-show com números cómicos e musicais que alcançou grande sucesso.
Solnado viria a estar presente noutro êxito televisivo, em 1977: A Visita da Cornélia. 

Voltou ao cinema, em 1987,  pela mão do realizador José Fonseca e Costa, num impressionante papel dramático como inspetor Elias Santana em "A Balada da Praia dos Cães".

Na televisão protagonizou, com Armando Cortez e Margarida Carpinteiro, a sitcom "Lá em Casa Tudo Bem" em 1987. Participou nas telenovelas "A Banqueira do Povo" em 1993 e em 2000 em "Ajuste de Contas". Ainda em 2000, participou no telefilme da SIC "Facas e Anjos", onde pôde realizar o velho sonho de vestir a pele de um palhaço.



Editou, em 1991, a sua biografia "A Vida Não se Perdeu", que a Biblioteca Municipal  dispõe para empréstimo domiciliário.
Foi sua a ideia de criar a Casa do Artista, concretizada depois por Armando Cortez, Manuela Maria e Carmem Dolores e, inaugurada oficialmente em setembro de 1999.

Voltou aos palcos em 2001 com a peça "O Magnifico Reitor" de Freitas do Amaral. Recebe o Prémio Carreira Luís Vaz de Camões.

Foi homenageado em 2002 com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e recebeu, a 10 de junho de 2004, do Presidente Jorge Sampaio a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Grava o seu último trabalho televisivo em 2009, " As Divinas Comédias", uma série de quatro programas produzidas pelas Produções Fictícias, para a RTP1, apresentadas por Bruno Nogueira e pelo próprio Raul Solnado, numa conjugação de duas gerações de humoristas portugueses.


A sua carreira de cinco décadas  de sucessos fizeram de Solnado uma das maiores vedetas populares do nosso meio artístico.

Aos 79 anos de idade, a 8 de agosto de 2009, faleceu vítima de uma doença cardiovascular.


A infância está perdida
A mocidade está perdida
Mas a vida não se perdeu
                                                                                         Carlos Drummond de Andrade



agosto 06, 2012

ERAM 8H 15M QUANDO...


A 6 de agosto de 1945, o Presidente dos Estados Unidos, ordenou o lançamento da primeira bomba atómica sobre Hiroshima.


O bombardeiro B29 Enola Gay, da Força Aérea Norte Americana, sob o comando do coronel Paul Tibbets, lançava sobre a cidade de Hiroshima a "Litle Boy", uma bomba atómica de urânio-235 com uma potencia equivalente a 13 Kilo-toneladas de TNT.


60 segundos depois 66 mil pessoas estavam mortas e 69 mil queimadas pela explosão atómica. O calor gerado atingiu dezenas de milhões de graus e a luz emitida foi dez vezes superior à do sol. A cidade ficou completamente destruída.
A área de vaporização total da explosão atómica media cerca de 800 metros quadrados. Num raio de 2 kilómetros, tudo o que era inflamável ardeu.

Hiroshima, 4 meses depois, fotografia de Alfred Eisenstaedt, 1945

Nas 67º comemorações em memória das vítimas da primeira bomba atómica em Hiroshima, o neto de Harry Truman participa neste 6 de agosto, nas cerimónias do Dia de Hiroshima.
Durante a sua visita, Clifton Truman Daniel de 55 anos,  vai encontrar-se com os presidentes de câmara das duas cidades bombardeadas (Hiroshima e Nagasaki) e com alguns sobreviventes dos bombardeamentos.

"O meu avô ficou horrorizado com a destruição causada por esses armas e dedicou o resto da sua presidência a garantir que isso não se repetiria de novo".

"Espero que eu consiga fazer o mesmo, 
trabalhar para livrar o mundo de armas nucleares".

Em memória das vítimas de Hiroshima, Vinícius de Moraes e Gerson Conrad criaram uma música. Chamaram-lhe Rosa de Hiroshima
A interpretação do grupo Secos e Molhados pela voz fabulosa de Ney Matogrosso tornou-a num ícone.

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada



Se quiser ficar a conhecer um pouco mais da história do século XX

Visite-nos


Tenha uma Boa Semana 



agosto 03, 2012

LEITURA DE FIM DE SEMANA



Ilustração de Chris Gall

Agosto, aquele mês em que as famílias veem  à Biblioteca escolher os livros para levar para férias, ou simplesmente para um merecido fim de semana. 
E um dos livros que vai acompanhar aquela família é o que hoje vos vamos sugerir:


O Leitor
de Bernhard Schlink
Editora Edições Asa

O Leitor, é desde O Perfume, o romance alemão mais aplaudido nacional e internacionalmente. 
O livro está traduzido em 39 idiomas.
Este romance foi galardoado em 1997 com os Prémios Grinzane Cavour, Hans Fallada e Laure Bataillon. Em 1999 venceu o Prémio de Literatura do Die Welt

A obra já foi adaptada ao cinema pelo realizador Stephen Daldry, em que os protagonistas foram Ralph Fiennes e Kate Winslet, que com a sua interpretação, foi a vencedora em 2009, do Oscar para  melhor atriz.




Michael Berg, um adolescente nos anos 60, é iniciado no amor por Hanna Schmitz, uma mulher madura, bela, sensual e autoritária. Ele tem 15 anos, ela 30. Os seus encontros decorrem como um ritual: primeiro banham-se, depois ele lê, ela escuta e finalmente fazem amor. Mas este período de felicidade incerta tem um fim abrupto quando Hanna desaparece subitamente.
Michael só a encontrará muitos anos mais tarde, envolvida num processo de acusação a ex-guardas dos campos de concentração nazis. Inicia-se então uma reflexão metódica e dolorosa sobre a legitimidade de uma geração, a braços com a vergonha, julgar a geração anterior, responsável por vários crimes.

Bernhard Schlink nasceu em 1944, em Biefeld, e é jurista de formação. Foi juiz do Tribunal Constitucional da Renânia Setentrional - Vestefália e professor de Direito Público e de Filosofia do Direito na Universidade Umboldt, em Berlim, desde 2006.
A sua obra como escritor começou com uma série de livros policiais. Uma dessas obras ganhou o Glauser Prize em 1989.
Em 1995 publica "Der Vorleser" (O Leitor), sendo a sua obra de ficção mais aclamada.

"O Leitor ultrapassa as fronteiras e fala diretamente ao coração"
                         The New York Times Book Review


No original, Der Vorleser, 
significa aquele que lê alto para outro.

Quer saber a importância deste pequeno pormenor?
Venha à Biblioteca Municipal e leve o Leitor consigo

Boas Férias
ou 
Bom Fim de Semana 




agosto 01, 2012

NEWSLETTER agosto



Para ficar a conhecer as atividades programadas
para o mês de agosto na
Biblioteca Municipal consulte a nossa




  

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