dezembro 09, 2011

Trago no olhar visões extraordinárias, De coisas que abracei de olhos fechados...

  
Florbela Espanca por Carlos Botelho, 2008
Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do reino de Áquem e de Além Dor!

É ter mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

                    Florbela Espanca


A 8 de dezembro de 1894, nasceu em Vila Viçosa Florbela Espanca.  Filha de Antónia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que não a reconheceu como filha. Porém, com a morte de Antónia em 1908, João e a sua mulher Maria Espanca criaram Florbela. O pai só reconheceria a paternidade muitos anos após a morte de Florbela.
Em 1903 Florbela Espanca escreveu o primeiro poema "A Vida e a Morte". Casou-se no dia do seu aniversário em 1913, com Alberto Moutinho. Concluiu um curso de Letras em 1917, inscrevendo-se de seguida no curso de Direito, sendo a primeira mulher a frequentar este curso na Universidade de Lisboa. Em 1919, ano em que publicou o "Livro de Mágoas", sofreu um aborto espontâneo. É também nessa época que Florbela começa a apresentar sintomas mais sérios de desequilíbrio mental.  Em 1921 separou-se, passando a encarar o preconceito social decorrente desse facto. No ano seguinte casou-se pela segunda vez, com António Guimarães. "O Livro de Soror Saudade" foi publicado em 1923. Em 1925 casou-se pela terceira vez, com Mário Lage.

A morte do irmão num acidente de avião abala-a gravemente e inspira-a para a escrita de "As Máscaras do Destino". Tentou o suicídio por duas vezes em outubro e novembro de 1930, nas vésperas da publicação do livro "Charneca em Flor", por muitos considerada a sua obra-prima. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, suicida-se no dia do seu aniversário, a 8 de dezembro de 1930, com 36 anos de idade. "Charneca em Flor" viria a ser publicado em janeiro de 1931.
Precursora do movimento feminista em Portugal, Florbela teve uma vida tumultuada, inquieta, transformando os seus sofrimentos íntimos em poesia, carregada de erotismo e feminilidade.



"A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos.
O quadro é único, a moldura é que é diferente"


 A Biblioteca Municipal sugere-lhe para leitura de fim de semana, o livro de contos "O dominó preto" de Florbela Espanca.

"(...) A sua vida é feita de insatisfações e revolta, a revolta que a levará à morte, a trágica negação do seu desejo. A sua vida é feita das contradições da vida de uma mulher que se sabe (e se quer) diferente. De uma mulher disposta ao sacrifício que toda a obra, literária ou outra, impõe. (...) Mas é assim ser poeta: ser mendigo e ser rei. arriscar, viver da contigência".
                                                                     Y. K .Centeno, 1982


Sei lá quem sou?! Sei lá! cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

Tenha um Bom Fim de Semana

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