janeiro 25, 2023

A TERRA PLANA

 

"Parece incrível, mas em pleno século XXI há pessoas que acreditam que a Terra, o nosso planeta, é afinal plana e que todas as teorias que sustentam o contrário não passam de um tremendo embuste.
Os crentes da teoria da Terra plana acreditam, basicamente, que há uma conspiração mundial envolvendo cientistas e agências espaciais para que todos acreditem que a terra é esférica. Para esta gente o nosso planeta é um gigantesco disco e não um globo, com o Polo Norte no meio e a Antártida delimitando todo o espaço envolvente através de um muro de gelo de 45 metros de altura. (...)
Mas Samuel Shenton não descansou e em 1956 fundou a International Flat Earth Reseatch Society - IFERS ( ou Sociedade de Pesquisa da Terra Plana, em português), da qual era presidente e conta com milhares de seguidores nos quatro cantos do mundo ... literalmente, entre os quais Mohammed Yusuf, fundador do grupo extremista Boko Haram e morto em 2009, o rapper norte-americano B.o.B e a atriz de filmes porno Tila Tequila.
As suas ideias doutrinam-se nas redes sociais em grupos do Facebook, posts no Twitter, vídeos no You Tube, forúns... e sites oficiais, meios por excelência para espalharem a "palavra". (...)


Para os defensores desta teoria, a Lua e o Sol também estão muito mais próximos do que aprendemos na escola, e medem apenas cerca de 51 quilómetros de diâmetro cada um, flutuando sobre o disco da Terra a uma distância de aproximadamente 4,8 mil quilómetros e 4,1 mil quilómetros, respetivamente. Em suma, o astro-rei e a sua companheira celestial não passam de dois penduricalhos daqueles que ficam sobre os berços das crianças, fazendo movimentos circulares que nos dão o dia e a noite. (...)
Tudo tem uma explicação mais racional, desde o nascer do sol, passando pelas marés, tudo é justificável, até a própria lei da gravidade, "justificada" com aquilo a que chamam de "aceleração universal", que consiste num movimento constante para cima, o que explica o facto de que quando pulamos não é o nosso corpo que volta à Terra, mas sim a Terra que vai em direção aos nossos pés.
Há de tudo um pouco. Para os seguidores desta linha de raciocínio, a sociedade e a teoria são como um tipo de exercício epistemológico, seja como crítica ao método científico, ou um tipo de "solipsismo para iniciantes", mas há também os que apenas acham que a certidão de sócio (disponível no site da sociedade) fica engraçada na sala de estar."



TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
de Fernando Neves
Oficina do Livro

Neste livro vamos tentar encontrar explicações sobre o que são, 
quem são os seus protagonistas e, sobretudo, 
como se propagam estas teorias da conspiração
feitas de histórias, mais ou menos fantasiosas, que são passadas de boca em boca 
e que têm atravessado gerações, marcando a nossa forma de ver mundo: O homem não foi à lua, Elvis não morreu, O Titanic não se afundou, Os Illuminati, Pizzagate, ... 




"Há até quem ache que a Terra é afinal ... plana, 
o que de certa forma justifica a expressão "quatro cantos do Mundo", 
e por outro lado há quem jure que a Terra é afinal esférica e ... oca 
e que no seu interior existe ... uma outra Terra!


FERNANDO NEVES, é mestre em Ciências da Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo ISCTE, em Lisboa, onde se encontra a terminar o doutoramento em Ciências da Comunicação. Aos 20 anos estagiou na Rádio Renascença, experiência que lhe permitiu ingressar na Rádio Comercial e mais tarde na Antena 1, de onde saiu para fazer parte da equipa que fundou a TSF Rádio Jornal. Em 2008 regressou à Antena 1 para realizar "A sessão da noite", um projeto de autor que viria a inspirá-lo em anos futuros.
Das experiências da rádio nasceu o seu gosto pelas "Teorias da Conspiração", ou pelas histórias que lhe dão corpo. Ao longo de seis meses foi esse o tema dos 120 episódios transmitidos na Antena 1, constituindo um mundo repleto de mitos populares, lendas urbanas, fábulas místicas e superstições mais ou menos criativas. Chegou ao primeiro lugar dos podcasts mais ouvidos na plataforma digital Spotify e foi um dos programas mais ouvidos na RTP Play durante meses.









janeiro 18, 2023

18 DE JANEIRO DE 1934

 
Marinha Grande, 18 de janeiro de 1934


"Decorria o ano de 1934, quando o levantamento operário fez tremer Salazar e o perturbou seriamente.
Os acontecimentos tiveram o palco principal na vila vidreira. Em menor escala, atos semelhantes sucederam-se em diversos locais de país.
De 17 para 18 e durante todo o dia 18 de janeiro, aconteceram pelo país ações de desespero, tendo havido cortes de linhas telefónicas e telegráficas, descarrilamento de comboios, explosões, assaltos a postos policiais, etc., etc..
Contudo foi na Marinha Grande onde o movimento operário teve expressão, devido ao facto de maior coesão de trabalhadores. 
Desde 1922 que o fascismo se instalou na Itália sob a bitola de Mussolini, e, internacionalmente, na Alemanha de Hitler, em 1933.
Em julho de 1932, Salazar toma conta da chefia do governo e mantém o poder durante muitas décadas, fascizando o país e impondo ao seu maior inimigo - o movimento operário - a grilheta e o silêncio, a privação e a fome.
Promulga a 23 de setembro de 1933, o Estatuto do Trabalho Nacional e com ele, os Sindicatos Nacionais, os Grémios e as Corporações. Os Sindicatos Livres  foram encerrados e em 31 de dezembro de 1933, impedida a liberdade sindical.
Com a grande crise económica de 1929, crise mundial, suprimem-se as mais elementares liberdades individuais e aumenta-se a repressão e exploração sobre os trabalhadores. O desemprego e a coação sobre as massas operárias era tão evidente e tão anormal que o 18 de janeiro surgiu, como promissor e desejado salvador. Foi uma aventura arriscada, mas foram as aventuras que dignificaram os factos mais brilhantes da nossa história.
A classe operária, embora numericamente menor em relação à população ativa, sentia a necessidade de lutar contra a fascização dos sindicatos e contra o infeliz Estatuto do Trabalhador Nacional.
A proporção na luta era descomunal ... o desespero não tinha limites!


Edição do Diário de Notícias de 19 de janeiro de 1934

À data do movimento não existia, infelizmente, uma completa identificação de pontos de vista entre os trabalhadores nacionais, razão pelo fracasso do golpe.
No entanto, é digno de assinalar, a lição que hoje não devemos esquecer. Não foi uma inglória luta. Ela foi bem evidente e apesar de tingida com sangue e lágrimas dos gloriosos intervenientes, que sofreram na carne as injustiças dos opressores, vincou indelével, o querer, a força e a legitimidade da razão.
O sacrifício e o sofrimento da gloriosa juventude de 1934, não foi destituída de significado. Constituíram grandes ações, junto com tantas outras, que acumuladas, minaram o terror fascista, causando-lhe o derrube. 
E é ao recordar, hoje, passados cinquenta anos, que não olvidamos a lição dos operários que lutaram denodamente por melhores condições de vida.
Com gratidão, assinalamos a luta dos briosos trabalhadores. Foi um marco na história do operariado, uma estrela que há-de brilhar eternamente."

                                                                                                                   Edmundo Oliveira Órfão
                                                                                                                   In, O Pó Cheira a Flores








janeiro 11, 2023

OS NÚMEROS DE 2022

Como é habitual, vamos divulgar os números que resultam da atividade desenvolvida pela Biblioteca Municipal ao longo de 2022, tentando sempre estabelecer a comparação com os dados de anos anteriores. 
Como enquadramento, convém recordar que o início de 2022 foram meses conturbados na atividade da Biblioteca, marcados ainda por algumas restrições decorrentes do contexto pandémico e pelo processo de transferência das instalações provisórias para o nosso edifício sede, que obrigaram ao encerramento dos serviços entre o final do mês de março até ao dia 23 de abril, com reflexos inevitáveis na própria dinâmica da Biblioteca. Apesar destes constrangimentos, o número de livros emprestados ao longo do ano acabou por superar o dos anos anteriores, recuperando os níveis dos anos anteriores à pandemia covid-19.

O trabalho que a Biblioteca Municipal tem vindo a desenvolver ao longo dos anos, no sentido de ser um serviço público com impacto na comunidade, procurando ir ao encontro das necessidades manifestadas pelos utilizadores, de ser uma referência local no acesso gratuito à informação, promovendo o seu uso regular e presencial, tentando elevar os níveis de literacia, consciencializando para a importância da leitura na formação dos mais jovens, esta trajetória, apesar de ter sido interrompida nos anos mais atingidos pelas restrições impostas pela covid-19, já apresenta uma franca recuperação.

Também ao nível das inscrições de novos leitores é notória a recuperação face a anos pré-covid, sendo reflexo do regresso dos serviços ao edifício sede, com a possibilidade de termos todo o acervo bibliográfico disponível para consulta e empréstimo, a manutenção da gratuitidade dos serviços prestados e a retoma das atividades educativas em grupo, sem restrições, são fatores que motivam a comunidade local  a utilizarem os recursos da Biblioteca Municipal. Um dos fatores com forte impacto no aumento do número de novas inscrições está relacionado com o aumento da população imigrante, que escolheu a Marinha Grande para residir e trabalhar, em especial, a de língua portuguesa, que veem na Biblioteca um espaço que os acolhe sem qualquer tipo de limitações ou constrangimentos.





Registamos a continuidade da tendência de anos anteriores, que revelam que o género feminino requisita muito mais livros do que o género masculino, sendo a diferença bastante significativa, dado que 74% dos livros emprestados, ao longo de 2022, foram a leitores do género feminino e o género masculino representa apenas 26% do universo de leitores que requisitaram livros.




Outro dado que extraímos dos números de 2022, e que é uma tendência que se mantem já há alguns anos, é a reduzida percentagem de leitores que requisitam livros na faixa etária entre os 13 e os 17 anos. A faixa etária até aos 12 anos também não é muito elevada, mas aqui convém referir, que muitos dos livros destinados a esta faixa etária são requisitados pelos pais ou encarregados de educação, acabando por ser contabilizados pelo sistema informático como empréstimos na faixa acima dos 18 anos. 



Os livros mais requisitados em 2022





















janeiro 03, 2023

EXPOSIÇÃO

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de res­tolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um ban­quete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira — sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.(...)

Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que assen­tam em coisa nenhuma. Vives. (...)

José Saramago, 
excertos da crónica "Carta para Josefa, minha avó",
in, Deste Mundo e do Outro: Crónicas 


Até ao dia 31 de Janeiro irão estar expostos, no átrio da entrada da Biblioteca Municipal, um conjunto de trabalhos realizados pelos alunos dos 2.º e 3.º CEB dos Agrupamentos de Escolas da Marinha Grande, inspirados na crónica "Carta para Josefa, minha avó", extraída do livro "Deste Mundo e do Outro: Crónicas", da autoria de José Saramago. A iniciativa insere-se no âmbito das comemorações do Centenário do Nascimento de José Saramago, que se assinalou ao longo do ano 2022, e resultou do trabalho de parceria entre a Biblioteca Municipal e as Bibliotecas Escolares, através dos seus Professores Bibliotecários. 

Partindo da carta escrita por Saramago, dedicada à sua avó Josefa, e dado que os conteúdos programáticos da disciplina de Português contemplam a abordagem de várias tipologias textuais, sendo a "carta" uma delas, os alunos foram desafiados a escrever eles próprios uma carta, dedicada aos avós ou a alguém que seja muito especial para eles. Este desafio resultou em dezenas de cartas, na sua maioria dedicadas aos avós, onde os alunos puderam expressar sentimentos de afeto, carinho, admiração e ternura.






Até 31 de Janeiro, 
passe pela Biblioteca Municipal e partilhe destas emoções, 
quem sabe se não vai encontrar uma carta que foi escrita a pensar em si.




dezembro 29, 2022

FELIZ 2023

 






Temos de Ser Mais Humanos


Abram os olhos. Somos umas bestas. 
No mau sentido. Somos primitivos. Somos primários.
Por nossa causa corre um oceano de sangue todos os dias. 
Não é auscultando todos os nossos instintos ou encorajando a nossa natureza biológica a manifestar-se que conseguiremos afastar-nos da crueza da nossa condição. É lendo Platão. E construindo pontes suspensas. É tendo insónias. É desenvolvendo paranoias, conceitos filosóficos, poemas, desequilíbrios neuroquímicos insanáveis, frisos de portas, birras de amor, grafismos, sistemas políticos, receitas de bacalhau, pormenores.

É engraçado como cada época se foi considerando "de charneira" ao longo da história.
A pretensão de se ser definitivo, a arrogância de ser "o último", a vaidade de se ser futuro é, há milénios, a mesmíssima cantiga.

Temos de ser mais humanos. Reconhecer que somos as bestas que somos e arrependermo-nos disso. Temos de nos reduzir à nossa miserável insensibilidade, à pobreza dos nossos meios de entendimento e explicação, à brutalidade imperdoável dos nossos atos. O nosso pé foge-nos para o chinelo porque ainda não se acostumou a prender-se aos troncos das árvores, quanto mais habituar-se a usar sapato.

A única atitude verdadeiramente civilizada é a fraqueza, a curiosidade, o desespero, a experiência, o amor desinteressado, a ansiedade artística, a sensação de vazio, a fé em Deus, o sentimento de impotência, o sentirmo-nos pequeninos, a confissão da ignorância, o susto da solidão, a esperança nos outros, o respeito pelo tempo e a bênção que é uma pessoa sentir-se perdida e poder andar às aranhas, à procura daquela ideia, daquela casa, daquela pessoa que já sabe de antemão que nunca há-de encontrar.

O progresso é uma parvoíce.
Pelo menos enquanto continuarmos a ser os animais que somos.
                                                                                                                   
                                                                                                                   Miguel Esteves Cardoso, 
                                                                                                                   In Explicações de Português









FELIZ 2023

dezembro 22, 2022

FELIZ NATAL

 


"Sei que o Natal não tem o mesmo significado para toda a gente. Mas é para quase todos nós uma festa de família. E isso é quanto basta para que, de algum modo, possamos sentir-nos unidos uns aos outros nesta data.
Por mim, recordo a ansiedade pelos presentes quando criança, o amor imenso dos meus avós pelos netos, a ternura dos meus pais e dos meus irmãos e a alegria dos meus filhos. Tudo isto vivido, às vezes, com alguma dificuldade para satisfazer os horários dos almoços e jantares da família de origem com os daqueles que, por escolhas pessoais, se haviam tornado também nossas. Lembro ainda os amigos e as amigas que por estarem sozinhos sempre agregámos aos nossos festejos. (...)




No último Natal estive rodeada dos meus, envolvida de carinhos do filho, da cunhada, do neto mais velho, do mano mais novo, dos sobrinhos e dos filhos destes.
A nossa família é assim. Gosta de afeto, de se anichar no colo mais próximo, de dar beijos e abraços, de rir e da bagunça das crianças.
Matei saudades de cada um, estive agarrada ao meu neto, que, apesar dos seus vinte anos, gosta das ternuras da avó, e senti, uma vez mais, que sem os meus jamais seria quem sou."

                                                                                               Helena Sacadura Cabral
                                                                                               In, Erros Meus, Má Fortuna, Amor Sempre?






FELIZ NATAL






dezembro 20, 2022

TOLERÂNCIAS DE PONTO

 Na sequência das tolerâncias de ponto concedidas pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal, 
informamos que iremos estar encerrados nos 
dias 23, 26 e 30 de dezembro.





dezembro 14, 2022

ÁRABE SIGNIFICA TER A MERCEARIA ABERTA À NOITE E AO DOMINGO

 Duas gerações diferentes
Duas religiões distintas
Uma amizade única
Omar Sharif e Pierre Boulanger

"O senhor Ibrahim sempre fora velho. Os habitantes da Rua Bleue e da Rua do Faubourg-Poissonnière sempre tinham visto o senhor Ibrahim na sua mercearia, desde as oito da manhã até noite cerrada, curvado entre a caixa e os produtos de limpeza, uma perna cá fora e outra debaixo das caixas de fósforos, um casaco cinzento por cima de uma camisa branca, dentes cor de marfim escondidos sob um bigode farto, olhos cor de pistácio, verdes e castanhos, mais claros do que a sua pele morena, marcada pela sabedoria que a vida lhe trouxera.


Omar Sharif, Cesar 2004 melhor ator

Era opinião generalizada que o senhor Ibrahim era sábio. Provavelmente por ser, há cerca de quarenta anos, o único árabe numa rua de judeus. Sem dúvida também porque sorria muito e falava pouco. (...)
- Eu não sou árabe, Momo, eu sou do Crescente Dourado. (...)
- Eu não sou árabe, Momo, sou muçulmano.
- Então porque dizem que o senhor é o árabe da rua se nem sequer é árabe?
- Árabe, Momo, quer dizer mercearia "aberta das oito da manhã à meia-noite, mesmo ao domingo." 




Momo é um rapazinho que se aborrece na escola e em casa, junto do seu pai, um advogado infeliz. Porém, na Rua Bleue onde mora, há mulheres pouco recomendáveis que o tratam muito bem e, acima de tudo, há o senhor Ibrahim, o merceeiro árabe do bairro, que parece conhecer os segredos da felicidade e dos verdadeiros sorrisos, dos quais Momo depressa aprende a tirar partido.
Depois de o seu pai se atirar para debaixo de um comboio, Momo é acolhido pelo senhor Ibrahim. Juntos, vão encerrar a loja, comprar um automóvel e partir para o país natal do velho homem, o país dos dervixes rodopiantes, sábios da contemplação, do Alcorão, das suas flores e da poesia do mundo.


Um livro para ler e reler, uma lição de sabedoria, 
de tolerância, de fatalismo e de bondade.



Éric-Emmanuel Schmitt nasceu a 28 de março de 1960 em Sainte-Foy-lès-Lyon, França.
É um dos mais populares escritores e dramaturgos franceses. As suas obras foram traduzidas e encenadas em mais de 40 países. É considerado um dos 10 autores de língua francesa mais lidos.
Entre os seus prémios contam-se o prestigiado Prémio Goncourt de Romance e ainda o Grande Prémio de Teatro da Academia Francesa.
Em 1999, quando escreveu a peça "O Senhor Ibraim e as Flores do Alcorão", que mais tarde adaptou em formato de novela e que hoje divulgamos, vivia na rue Bleue, onde a parte principal da ação se desenrola. Era um bairro judeu, onde um árabe mantinha a sua loja aberta das 8 da manhã à meia-noite.

O Senhor Ibrahim e as flores do Alcorão foi adaptado ao cinema em 2003, realizado por François Dupeyron, com argumento do próprio autor e do realizador, tendo nos papeis principais Omar Sharif, que venceu em 2004 o Cesar de melhor ator no papel do Senhor Ibrahim, Pierre Boulager e Isabelle Adjani.
Em Portugal, a encenação desta peça por Miguel Seabra em 2012 valeu ao Teatro Meridional o Prémio do Público no Festival Internacional de Teatro de Almada.
Em 2022, para celebrar os 25 anos de existência daquela companhia de teatro, esteve novamente em cena de 6 a 23 de junho.

"Um hino à vida"
                                                 Le Pariscope



dezembro 09, 2022

SE SABE ESCREVER POEMAS, TAMBÉM SABE ESCREVER RECEITAS




"- Um livro de culinária!
Franzo a testa, confusa. O homem é ao mesmo tempo indelicado e obscuro. Quem é que ele pensa que sou? Posso ter trinta e seis anos e ser solteira, o meu vestido pode estar manchado de suor, mas não sou uma serviçal doméstica de avental. (...)
- Mas eu não ... não sei cozinhar - digo sem convicção, e dirijo-me à porta como uma sonâmbula. (...)
- Se sabe escrever poemas, também sabe escrever receitas. (...)
- Bonito e elegante, Miss Acton. Traga-me um livro de culinária tão bonito e elegante como os seus poemas."


O romance inspirado na história real de Eliza Acton,
 que inventou o conceito do livro de culinária moderno, 
é a nossa sugestão de leitura para o seu fim de semana.





Especiarias exóticas, vegetais aromáticos e frutos exuberantes... 
Em 1835, Londres está a transbordar de novos ingredientes que ninguém sabe usar. Tudo isso passa ao lado de Eliza, uma jovem de boas famílias que tenciona dedicar a vida a escrever poesia e a partilhá-la com o mundo. Um sonho grandioso que termina abruptamente quando o seu editor lhe sugere uma mudança de rumo. Se Eliza quer ser publicada, que escreva então algo aceitável para uma menina da sua posição. Como um livro de cozinha.


Para a aspirante a poetisa, que nunca sequer cozeu um ovo, qualquer ligação a um fogão é uma afronta... até ao dia em que a situação familiar a obriga a repensar tudo e a pôr, literalmente, as mãos na massa. Depressa vai descobrir não apenas um talento, mas uma verdadeira paixão. Com a ajuda da sua jovem assistente Ann Kirby, entre papel e tachos, lágrimas e gargalhadas, segredos e confissões, Eliza vai descobrir as maravilhas da gastronomia e o poder da amizade.
Mas quando Ann descobre um segredo do passado dela, tudo o que conquistaram se transforma numa ameaça.

Annabel Abbs nasceu no Reino Unido a 20 de outubro de 1964, é licenciada em Literatura Inglesa. Os seus contos e textos jornalísticos estão publicados no The Guardian, no The Telegraph, na Tatler e na Elle Magazine.
O seu livro, que hoje sugerimos para leitura de fim de semana, foi considerado pelo New York Times Books uma das melhores obras de ficção histórica de 2021, e está a ser traduzido para dezasseis idiomas.

"E começa a falar-me sobre combinações de pós de caril, os benefícios das especiarias frescas, os tamarindos que começou agora a importar ainda na casca. Estou tão absorta que me esqueço completamente da cozinha - e das minhas gafes tão pouco femininas. Ele descreve o sabor fumado dos cominhos, o amargor negro das sementes de fenacho, a opulência doce da polpa de coco fresco, a explosão feroz de raiz de gengibre."




"Tal como um poema, uma receita deve ser clara, precisa e ordenada"
                                                                                                                    Eliza Acton





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