dezembro 14, 2022

ÁRABE SIGNIFICA TER A MERCEARIA ABERTA À NOITE E AO DOMINGO

 Duas gerações diferentes
Duas religiões distintas
Uma amizade única
Omar Sharif e Pierre Boulanger

"O senhor Ibrahim sempre fora velho. Os habitantes da Rua Bleue e da Rua do Faubourg-Poissonnière sempre tinham visto o senhor Ibrahim na sua mercearia, desde as oito da manhã até noite cerrada, curvado entre a caixa e os produtos de limpeza, uma perna cá fora e outra debaixo das caixas de fósforos, um casaco cinzento por cima de uma camisa branca, dentes cor de marfim escondidos sob um bigode farto, olhos cor de pistácio, verdes e castanhos, mais claros do que a sua pele morena, marcada pela sabedoria que a vida lhe trouxera.


Omar Sharif, Cesar 2004 melhor ator

Era opinião generalizada que o senhor Ibrahim era sábio. Provavelmente por ser, há cerca de quarenta anos, o único árabe numa rua de judeus. Sem dúvida também porque sorria muito e falava pouco. (...)
- Eu não sou árabe, Momo, eu sou do Crescente Dourado. (...)
- Eu não sou árabe, Momo, sou muçulmano.
- Então porque dizem que o senhor é o árabe da rua se nem sequer é árabe?
- Árabe, Momo, quer dizer mercearia "aberta das oito da manhã à meia-noite, mesmo ao domingo." 




Momo é um rapazinho que se aborrece na escola e em casa, junto do seu pai, um advogado infeliz. Porém, na Rua Bleue onde mora, há mulheres pouco recomendáveis que o tratam muito bem e, acima de tudo, há o senhor Ibrahim, o merceeiro árabe do bairro, que parece conhecer os segredos da felicidade e dos verdadeiros sorrisos, dos quais Momo depressa aprende a tirar partido.
Depois de o seu pai se atirar para debaixo de um comboio, Momo é acolhido pelo senhor Ibrahim. Juntos, vão encerrar a loja, comprar um automóvel e partir para o país natal do velho homem, o país dos dervixes rodopiantes, sábios da contemplação, do Alcorão, das suas flores e da poesia do mundo.


Um livro para ler e reler, uma lição de sabedoria, 
de tolerância, de fatalismo e de bondade.



Éric-Emmanuel Schmitt nasceu a 28 de março de 1960 em Sainte-Foy-lès-Lyon, França.
É um dos mais populares escritores e dramaturgos franceses. As suas obras foram traduzidas e encenadas em mais de 40 países. É considerado um dos 10 autores de língua francesa mais lidos.
Entre os seus prémios contam-se o prestigiado Prémio Goncourt de Romance e ainda o Grande Prémio de Teatro da Academia Francesa.
Em 1999, quando escreveu a peça "O Senhor Ibraim e as Flores do Alcorão", que mais tarde adaptou em formato de novela e que hoje divulgamos, vivia na rue Bleue, onde a parte principal da ação se desenrola. Era um bairro judeu, onde um árabe mantinha a sua loja aberta das 8 da manhã à meia-noite.

O Senhor Ibrahim e as flores do Alcorão foi adaptado ao cinema em 2003, realizado por François Dupeyron, com argumento do próprio autor e do realizador, tendo nos papeis principais Omar Sharif, que venceu em 2004 o Cesar de melhor ator no papel do Senhor Ibrahim, Pierre Boulager e Isabelle Adjani.
Em Portugal, a encenação desta peça por Miguel Seabra em 2012 valeu ao Teatro Meridional o Prémio do Público no Festival Internacional de Teatro de Almada.
Em 2022, para celebrar os 25 anos de existência daquela companhia de teatro, esteve novamente em cena de 6 a 23 de junho.

"Um hino à vida"
                                                 Le Pariscope



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