Marinha Grande, 18 de janeiro de 1934 |
"Decorria o ano de 1934, quando o levantamento operário fez tremer Salazar e o perturbou seriamente.
Os acontecimentos tiveram o palco principal na vila vidreira. Em menor escala, atos semelhantes sucederam-se em diversos locais de país.
De 17 para 18 e durante todo o dia 18 de janeiro, aconteceram pelo país ações de desespero, tendo havido cortes de linhas telefónicas e telegráficas, descarrilamento de comboios, explosões, assaltos a postos policiais, etc., etc..
Contudo foi na Marinha Grande onde o movimento operário teve expressão, devido ao facto de maior coesão de trabalhadores.
Desde 1922 que o fascismo se instalou na Itália sob a bitola de Mussolini, e, internacionalmente, na Alemanha de Hitler, em 1933.
Em julho de 1932, Salazar toma conta da chefia do governo e mantém o poder durante muitas décadas, fascizando o país e impondo ao seu maior inimigo - o movimento operário - a grilheta e o silêncio, a privação e a fome.
Promulga a 23 de setembro de 1933, o Estatuto do Trabalho Nacional e com ele, os Sindicatos Nacionais, os Grémios e as Corporações. Os Sindicatos Livres foram encerrados e em 31 de dezembro de 1933, impedida a liberdade sindical.
Com a grande crise económica de 1929, crise mundial, suprimem-se as mais elementares liberdades individuais e aumenta-se a repressão e exploração sobre os trabalhadores. O desemprego e a coação sobre as massas operárias era tão evidente e tão anormal que o 18 de janeiro surgiu, como promissor e desejado salvador. Foi uma aventura arriscada, mas foram as aventuras que dignificaram os factos mais brilhantes da nossa história.
A classe operária, embora numericamente menor em relação à população ativa, sentia a necessidade de lutar contra a fascização dos sindicatos e contra o infeliz Estatuto do Trabalhador Nacional.
A proporção na luta era descomunal ... o desespero não tinha limites!
Edição do Diário de Notícias de 19 de janeiro de 1934 |
No entanto, é digno de assinalar, a lição que hoje não devemos esquecer. Não foi uma inglória luta. Ela foi bem evidente e apesar de tingida com sangue e lágrimas dos gloriosos intervenientes, que sofreram na carne as injustiças dos opressores, vincou indelével, o querer, a força e a legitimidade da razão.
O sacrifício e o sofrimento da gloriosa juventude de 1934, não foi destituída de significado. Constituíram grandes ações, junto com tantas outras, que acumuladas, minaram o terror fascista, causando-lhe o derrube.
E é ao recordar, hoje, passados cinquenta anos, que não olvidamos a lição dos operários que lutaram denodamente por melhores condições de vida.
Com gratidão, assinalamos a luta dos briosos trabalhadores. Foi um marco na história do operariado, uma estrela que há-de brilhar eternamente."
Edmundo Oliveira Órfão
In, O Pó Cheira a Flores
Sem comentários:
Enviar um comentário