maio 25, 2016

É QUE EU SEMPRE USEI LIVRO PRA TUDO...


É que eu sempre usei livro pra tudo...
Pra saber ler,
Pra altear pé de mesa,
Pra aprender a usar a imaginação,
Pra enfeitar sala, quarto, a casa toda,
Pra ter companhia dia e noite,
Pra aprender a escrever,
Pra sentar em cima,
Pra rir, pra gostar de pensar,
Pra ter apoio num papo,
Pra matar pernilongo,
Pra travesseiro,
Pra chorar de emoção,
Pra firmar prateleiras,
Pra jogar na cabeça do outro na hora da raiva,
Pra me-abraçar-com, pra banquinho pro pé.

Eu sempre usei livro pra tanta coisa, que a coisa que mais me espanta é
ver gente vivendo sem livro.
                                                         Lygia Bojunga


Ilustração de Karin Jurick
Foi talvez por uma ou por todas estas razões que, em 1959, Florence Green, uma mulher de meia-idade, solitária, pequena, decide contra a implacável oposição local, abrir a primeira e única livraria em Hardborough.
Florence compra um edifício abandonado há anos, gasto pela humidade e com o seu próprio fantasma. 
Como se não bastasse o mau estado da casa, ela terá de enfrentar as pessoas da vila que, de um modo cortês mas inabalável, lhe demonstram a sua insatisfação com a existência da primeira livraria local. Só a sua ajudante, uma menina de dez anos, não deseja sabotar o seu negócio. 
Quando alguém sugere que coloque à venda a primeira edição de Lolita, de Nabokov [que o leitor também pode requisitar], a vila sofre um "terramoto" subtil, mas devastador. 
E, finalmente, Florence começa a suspeitar da verdade: uma terra sem uma livraria é, muito possivelmente, uma terra que não merece qualquer livraria.



Escrito por Penelope Fitzgerald
A LIVRARIA
Editado pelo Clube de Autores



"A leitura deste livro é um verdadeiro prazer"
                                                                                              Financial Times


Penelope Fitzgeral, nasceu a 17 de dezembro de 1916 em Lincoln, Inglaterra e é uma das mais notáveis vozes da ficção britânica. Depois de se licenciar em Somerville College, oxford, trabalhou na BBC e durante a guerra foi editora de um jornal literário, geriu uma livraria e ensinou em várias escolas, incluindo uma de teatro.
Autora tardia, começou aos 61 anos, publicou nove romances, poesia, contos e ensaio. Em vinte anos de escrita, os últimos da sua vida, foi quatro vezes finalista do Booker Prize (um deles foi precisamente com o romance que estamos a divulgar, A Livraria) e foi finalmente distinguida em 1979 com Offshore.
O seu último romance, A Flor Azul, de 1995, foi repetidamente eleito pela imprensa internacional como "Livro do Ano". A autora ganhou ainda o Circle Award, atribuído pela America's National Book Critics, contribuindo para que se tornasse conhecida de um público mais vasto.
É considerada  uma das grandes escritoras de língua inglesa do século XX apesar de nunca ter sido popular.  Penelope Fitzgerald faleceu em Londres, aos 83 anos, a 28 de abril de 2000.



É que eu sempre usei livro pra tudo...




maio 20, 2016

ERA TANTA A CONFUSÃO NAQUELA CASA . . .


Ilustração de Denis Zilber
"Era tanta a confusão naquela casa que, a princípio, vi-me à rasca para saber quem lá vivia. 
O Pai, era fácil: tinha olhos azuis, rabo-de-cavalo e dentes a mais. Trabalhava nas finanças. (...)
A Mãe era um hino. Aquilo era uma assoalhada única, mas o que ela arranjava para fazer todo o dia tu não acreditas. Lavava o cimento com lixívia, dava óleo nos móveis, desencardia os colarinhos, fazia o almoço assim que se levantava e o jantar quando a malta almoçava. (...)
Ninguém encorajava os rasgos da Anã e, logo que ela se manifestou como adiantada mental, o Pai reuniu a Família no Quintal e conspirou em voz baixa:
- Não é ela que é um prodígio, percebem? Nós é que somos broncos!"
                                                                                                           In Os Filhos da Mãe

É um romance absolutamente desconcertante,  
que o vai fazer rir da primeira à última página. 
 É a nossa sugestão para leitura de fim de semana. 


OS FILHOS DA MÃE
 de Rita Ferro
 Dom Quixote

História hilariante de uma família numerosa, disfuncional, de um pai lunático à doméstica achinelada, do marialva ao filho homossexual, da fedelha sobredotada à parelha de gémeos tão bonitos como estúpidos, que partilham um espaço exíguo e que para além de um hóspede, ainda aceita a filha de uma relação anterior de pai: uma cubana de 30 anos e quatro filhos pequenos, que erotiza os homens da casa e engravida a seguir.



Rita Ferro nasceu em Lisboa a 26 de fevereiro de 1955. É filha do escritor e filósofo António Quadros e de Paulina Roquette Ferro, neta paterna de Fernanda de Castro e António Ferro. É especialista de Marketing, tendo feito estágios profissionais nos EUA, Reino Unido e Brasil. Trabalhou como copywriter e depois como promotion manager nas Selecções do Reader's Digest, durante 11 anos. Foi professora no antigo IADE  e colabora regularmente na imprensa, na rádio e na TV. 
Foi apresentadora de televisão e cronista na rádio, jurada literária e de festivais de cinema. 
Em 1994 apresentou, conjuntamente com Mário Zambujal, o programa "Quem conta um conto" na RTP 2. Iniciou a sua carreira literária em 1990, com a publicação do romance O Nó na Garganta. Seguiram-se nos anos seguintes os romances O Vestido de Lantejoulas e o Vento e a Lua.
Escreveu 22 livros em 22 anos, entre romances, cartas, biografias, crónicas, literatura infantil e uma peça de teatro. Ao seu romance autobiográfico A Menina É Filha de Quem?, publicado em 2011, foi atribuído o Prémio PEN Clube Português de Narrativa 2012.
Rita Ferro criou um estilo e um novo género literário que se distingue por uma técnica de narração mordaz e cativante, de grande versatilidade. Os seus livros estão editados em Espanha, Brasil e Croácia. Participou no programa da Antena 1 A Páginas Tantas,  conjuntamente com Inês Pedrosa, Patrícia Reis e Ana Daniela Soares. É membro do Conselho Executivo da Fundação António Quadros, que reúne o espólio do seu pai e avós.
Em setembro de 2011, a sua obra foi objeto de tese de licenciatura orientada pela professora doutora Helena Barbas: " Estratégias de representação do "eu" e do sentir feminino em narrativas de Stefan Zweig, Simone de Beauvoir e Rita Ferro", por Donzília Alagoinha Felipe.
Atualmente é convidada habitual no programa Conversa de Raparigas na Antena 3.



"- Deixas uma moça que é minha filha vir viver connooooosco?
A Venância, que não podia de maneira nenhuma largar o refogado, respondeu no mesmo tom desbragado: 
 - Como é que sabes que é tua? Cortaste-lhe o umbiiiiiiigo?
E cheirando a colher de pau:
- Pergunta-lhe ao menos tem saúde?"
                                                                                                           In Os Filhos da Mãe










maio 13, 2016

TU FALASTE COM A NOSSA SENHORA?


Fátima, 1917

"Nessa manhã, com bigode de café, Lúcia explicou aos primos, que iam levar os rebanhos a pastar mais perto, havia muita erva e pouco tempo. Os primos compreenderam bem. Tinha chegado o dia. Por fim, tinha chegado o dia."
In, 
Em Teu Ventre

13 de maio de 1917
As Aparições de Fátima são o tema do mais recente livro de José Luís Peixoto. 
Mais do que o milagre e sem tomar partido nem extremar posições, ao autor, interessa-lhe a realidade dessa época, abrir novas possibilidades de interpretação, romper com discursos simplificados e entrar dentro do tabu. De maio a outubro de 1917, vai descrever um dos acontecimentos mais marcantes da nossa história recente e que o Leitor vai poder testemunhar na nossa 
sugestão de leitura de fim de semana.


Em teu Ventre
José Luís Peixoto 
Editado pela Quetzal


"Ai, Lúcia, que eu não mereço metade das arrelias que me dás. Parece que não bastam as tantas que já tenho, a deitarem-me abaixo todos os dias, e ainda te vais lembrar de mais moléstias. Para  que é isso, filha? Não te falta pão, não te falta descanso, não te falta brincadeira. Ganha consciência. Tu não vês que isso não está bem-feito? A própria Nossa Senhora se apoquenta com estas coisas, nem é bom pensar."
In, 
Em Teu Ventre

A partir de um ponto de vista inteiramente novo, Em Teu Ventre retrata um dos episódios mais marcantes do século XX português: as aparições de Nossa Senhora a três crianças, entre maio e outubro de 1917.

"As aparições de Nossa Senhora têm uma ligação clara à maternidade, tal como o culto mariano. No livro, essa componente é dada por três figuras. A da mãe de Lúcia, que disputa com a filha o protagonismo do livro; a da mãe idealizada, que surge nos textos em versículos; e a de que parece ser a do narrador ou autor. É uma reflexão sobre a mãe que cada um carrega dentro de si e a sua importância formadora"
José Luís Peixoto, 
In Jornal de Letras



"Belíssimo romance, um dos melhores de José Luís Peixoto. 
Acabámo-lo de ler e não queríamos que tivesse acabado. 
É o melhor elogio que se pode fazer a um livro e a um autor". 
                                                                                                      Miguel Real



José Luís Peixoto nasceu a 4 de setembro de 1974, em Galveias, concelho de Ponte de Sôr. 
É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (inglês e alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. Antes de se dedicar profissionalmente à escrita em 2000, foi professor. 
É um dos autores de maior destaque da literatura portuguesa contemporânea. A sua obra ficcional e poética está representada em diversas antologias, traduzida em mais de 20 idiomas e é estudada em várias universidades nacionais e estrangeiras.
Recebeu o Prémio Jovens Criadores na área da literatura, no as anos de 1997, 1998 e 2000.
Em 2001, o seu romance Nenhum Olhar recebeu o Prémio Literário José Saramago. Esse mesmo livro, publicado no Reino Unido sob o Título "Blank Gaze" fez parte da lista do Financial Times dos melhores livros publicados em Inglaterra em 2007.
 Em 2007, em Saragoça, Cemitério de Pianos recebeu o Prémio Cálamo Otra Mirada, destinado ao melhor romance estrangeiro publicado em Espanha. 
Com Livro, venceu o Prémio Libro d'Europa, atribuído em Itália ao melhor romance europeu publicado no ano anterior.
As suas obras foram ainda finalistas de prémios internacionais como o Femina (França), o Impac Dublin (Irlanda) ou o Portugal Telecom (Brasil).
Na poesia, o livro Gaveta de Papéis recebeu o Prémio Daniel Faria e A Criança em Ruínas recebeu o Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores.
Em 2005, escreveu as peças de teatro Anathema, estreada no Theatre de la Bastille, em Paris, e À Manhã, que estreou em Lisboa no Teatro São Luiz.
Em 2012, publicou Dentro do Segredo, Uma viagem na Coreia do Norte, a sua primeira incursão na literatura de viagens. Galveias, o seu mais recente romance, foi publicado em 2014.
Morreste-me, Gaveta de Papeis e Nenhum Olhar estão publicados em braille.
município de Ponte de Sôr criou, em 2007,  um prémio literário com o nome de José Luís Peixoto para  jovens autores.


"Quero que o livro exista para lá das minhas convicções. 
Não gostaria que as minhas crenças moldassem a leitura de ninguém"
                                                             José Luís Peixoto,
                                                                  In Jornal de Letras




Bom Fim de Semana


abril 29, 2016

A LIBERDADE É COMO O SOL. É O BEM MAIOR DO MUNDO

A nossa Sugestão de Leitura para este Fim de Semana
foi retirada da nossa mostra bibliográfica, patente no átrio de entrada da Biblioteca Municipal, até ao dia 30 deste mês, e intitulada "Pela Liberdade"
De acordo com Jorge Amado , no seu livro "Capitães de Areia": 

"A Liberdade é como o sol. 
É o bem maior do mundo".



Tudo Passa
De Vassili Grossman
Editado pela Dom Quixote

Ivan Grigórievitch tem vivido num Gulag na Sibéria  nos últimos trinta anos. Posto em liberdade após a morte de Stálin, "por ausência de corpo de delito", descobre que os anos de terror impuseram uma escravidão moral e coletiva e descobre que tudo mudou para ficar na mesma. Ivan terá então de esforçar-se por encontrar o seu lugar num mundo que lhe é estranho. Mas, num romance que procura abordar acontecimentos trágicos da União Soviética, a história de Ivan é apenas uma entre muitas. Assim, conhecemos também o seu primos, Nikolai, um cientista que nunca deixou a sua consciência interferir na sua carreira, Pinéguin, o informador que levou a que Ivan fosse enviado para o campo de trabalhos forçados e ainda uma série de outros informadores, cada qual com uma desculpa para os seus indesculpáveis feitos. E, no centro do romance, encontramos a história de Anna Serguéevna, amante de Ivan, que nos conta o seu envolvimento como ativista no terror que foi a Grande Fome da Ucrânia - uma ação deliberada de extermínio, desencadeada pelo regime  soviético, que levou à morte de milhões de camponeses.

"Como tudo o que ocorria no país, também esta indignação espontânea contra os crimes sangrentos dos judeus foi idealizada e planeada de antemão, da mesma maneira que Stálin planeava as eleições para o Soviete Supremo - eram preparadas com antecedência as características e a nomeação dos deputados, e depois, de forma planificada, os candidatos eram espontaneamente promovidos, fazia-se a sua campanha eleitoral e, finalmente, as eleições nacionais realizavam-se.(...)
Mas, de repente, a 5 de março, Stálin morreu. Esta morte rompeu o gigantesco sistema do entusiasmo mecanizado, da ira popular e do amor popular estabelecidos por ordem do comité do partido. (...)
Stálin morreu! Nesta morte havia um imprevisto elemento livre, infinitamente alheio à natureza do Estado stalinista."
                                                                              Vassili Grossman
In, Tudo Passa

"Os Manuscritos Não Ardem"
                                                                 Mikhaíl Bulgákov


Vassili Grossman nasceu a 12 de dezembro de 1905, em Berdychiv, Ucrânia, numa família judaica que se identificava mais com a cultura russa do que com a judaica. Fez o curso de química na Universidade Estatal de Moscovo, mas abandonou a carreira de engenheiro para se dedicar exclusivamente à escrita, tendo sido, na sua juventude, protegido de Maximo Gorki. Foi nomeado para o Prémio Stálin, a maior distinção do regime literário soviético, mas excluído da lista de candidatos pelo próprio Stálin.
Em 1941 foi correspondente de Estrela Vermelha, jornal de Exército Vermelho, fazendo reportagens sobre a defesa de Stalinegrado, a queda de Berlim e as consequências do Holocausto. As suas descrições sobre o que encontrou em Treblinka e Majdanek foram usados como testemunhos de acusação no Tribunal de Nuremberg, quando os criminosos de guerra foram a julgamento.
Em 1945, em coautoria com Iliá Erenburg, escreveu "O Livro Negro", coletânea de documentos e testemunhos sobre os crimes contra os judeus no território da URSS e da Polónia nos anos da 2ª Guerra Mundial, editado em Israel e nos Estados Unidos, mas não autorizada na União Soviética. De 1946 a 1959, trabalhou nos romances "Por uma Causa Justa" e "Vida e Destino".
Quando, em 1961, durante a busca a sua casa, os oficiais do KGB confiscaram o manuscrito do seu romance "Vida e Destino", levaram também o romance não acabado "Tudo Passa", a sua última obra em que trabalhava desde 1955. E os seus últimos dias foram passados no hospital, em Moscovo a reescrever e a completar este romance, tendo-o acabado em 1963, pouco antes da sua morte. Com este livro, concluiu a sua grande obra épica sobre o destino humano em condições de regime totalitário. Morreu a 14 de setembro de 1964. 



Bom Fim De Semana




abril 20, 2016

COM A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS CHEGOU A DEMOCRACIA

"Mas se durante a guerra os partidos desavindos tinham governado em sagrada união, obtida a paz, a direita em Portugal desencadeou uma revolução. No final de 1917, Sidónio Pais impôs uma ditadura. Foi assassinado no final de 1918. Depois, entre uma república nova, uma monarquia do Norte e uma monarquia velha, as coisas foram-se complicando, e nem faltou uma Noite Sangrenta: na noite de 19 de outubro de 1921, são assassinados alguns políticos de grande destaque como António Granjo, Machado Santos e José Carlos da Maia. Na jovem República ninguém parecia entender-se e os governos sucediam-se uns a seguir aos outros. Com a crise política agravou-se a crise económica, financeira e social. Instalou-se um denso nevoeiro e adivinhava-se que o encoberto andava por ali.

Terceiro Batalhão da GNR em Alcântara a 19 de outubro de 1921

Em 28 de maio de 1926 o exército, liderado por Gomes da Costa, impõe uma ditadura ao país.  E rapidamente se desvendou o encoberto: a pasta dele era a das Finanças e calçava botas. 


Em 1932, António de Oliveira Salazar saltou das Finanças para a chefia do governo, de onde apenas sairia em 3 de agosto de 1968, quando caiu de uma cadeira no Forte de Santo António.
Dizem que Salazar equilibrou as finanças e salvou Portugal da Segunda Guerra Mundial, mas praticando uma política protecionista e isolacionista, foi incapaz de conduzir uma política colonial capaz de evitar as diferentes guerras de independência que, depois de se terem iniciado no norte de Angola, em 4 de fevereiro de 1961, rapidamente alastraram às diferentes colónias portuguesas. 


À triologia "Deus, Pátria, Família", acrescentou a "Autoridade": um só partido, uma censura prévia e uma polícia política. As prisões do Aljube, da Praça-forte de Peniche, do Forte de São Bruno de Caxias e da Colónia Penal do Tarrafal, em Cabo Verde, eram o destino mais provável de quem se opunha ao regime.
Deposto por uma cadeira, sentou-se no seu lugar Marcelo Caetano. Marcelo continuou a velha política do Estado Novo, mas aumentavam os ventos que iam desgastando os alicerces do regime. 

Fotografia de Alfredo Cunha

No dia 25 de Abril de 1974, o exército acabou com a ditadura que ele mesmo começara. Era um exército cansado de uma guerra que não considerava sua. O poder foi entregue a uma Junta de Salvação Nacional. Ironia das ironias: um dos generais que a compunha respondia pelo nome de Costa Gomes, de facto, tratava-se de uma inversão.


Mas contrariando a vontade dos militares, o povo saiu à rua, porque era tempo de o povo ordenar e não havia tempo a perder. Afinal, o encoberto era o povo e descobria-se: com a Revolução dos Cravos a democracia chegava a Portugal e chegou ao fim a guerra colonial."
                                                                                               
Dietrich Schwanitz, 
                                                                                In Cultura







abril 13, 2016

LIQUIDEMOS OS PROBLEMAS, OU MELHOR AINDA, LANCEMO-LOS NO INCINERADOR.

  
A Queima de Livros 

Quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente
Os livros que continham saber pernicioso, e em toda a parte
Fizeram bois arrastarem carros de livros
Para as pilhas em fogo, um poeta perseguido
Um dos melhores, estudando a lista dos livros queimados
Descobriu, horrorizado, que os seus 
Haviam sido esquecidos. A cólera o fez correr
Célere até sua mesa, e escrever uma carta aos donos do poder.
Queimem-me! Escreveu com pena veloz. Queimem-me!
Não me façam uma coisa dessas! Não me deixem de lado! Eu não 
Relatei sempre a verdade nos meus livros? E agora tratam-me
Como um mentiroso! Eu lhes ordeno:
Queimem-me!
                                                                                                Bertolt Brecht



Fahrenheit 451 - a temperatura a que um livro se inflama e consome

Numa indeterminada e super-tecnológica civilização do futuro, um regime totalitário determinado a garantir a "felicidade" dos seus súbditos proíbe severamente a posse  e a leitura de livros; quem quer que seja apanhado na sua posse é preso e os livros e a sua casa queimados pela Vigília do Fogo, que, mais do que apagar, ateia incêndios. O protagonista Montag, anteriormente um zeloso executor, começa gradualmente a nutrir dúvidas sobre o seu trabalho, também porque uma jovem, conhecida por acaso e aparentemente "louca", abala profundamente as suas convicções.
O cenário desenhado por Fahrenheit 451 é um dos mais inquietantes, jamais concebidos pela ficção científica: sem alienígenas ou naves espaciais, sem artefactos engenhosos ou armas mirabolantes (os incendiários usam querosene), aquele mundo lívido e opressivo que deveria garantir o bem-estar universal assalta-nos como se pudesse, um dia destes, olhar novamente para nós e envolver-nos numa espiral de uma perseguição da inteligência, da qual não podemos deixar de nos sentir ameaçados. À morte da cultura corresponde no romance o triunfo da destruição, primeiro das mentes e depois dos corpos, até ao apocalipse de uma guerra insensata e incompreensível que apaga todas as ações humanas. A denúncia dura de um perigo mortal que paira sobre a civilização ocidental ganha, de tal modo, contornos de uma profecia aterrorizante, que a sua tristeza é apenas mitigada pelo alento da esperança regenerativa que irrompe, muito ao de leve, no final.

"- Quero também apresentar-lhe Jonathan Swift, autor dessa perniciosa obra política: As Viagens de Gulliver. E este é Charles Darwin, aquele Schopenhauer e aquele Einstein; este aqui ao meu lado é o senhor Albert Schweitzer, na verdade um simpático filósofo. Aqui estamos todos reunidos, Montag. Aristófanes, o Mahatma Gandhi e Gautama Buda, Confucius, Thomas Love Peacock, Thomas Jefferson, Karl Marx e o senhor Lincoln. Somos igualmente Mateus, Marcos, Lucas e João."


Fahrenheit 451, do escritor norte-americano Ray Bradbury, publicado inicialmente em 1953, é um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o Ensino Secundário como sugestão de leitura, encontra-se disponível para empréstimo domiciliário e faz parte da mostra bibliográfica patente ao público no Átrio da Biblioteca Municipal intitulada - Pela Liberdade.



Ray Bradbury, nasceu a 22 de agosto de 1920, em Waukegan, Ilinois (EUA).  Em 1934, mudou-se com a família para Los Angeles, para onde o pai, operário eletricista, se tinha mudado em busca de trabalho.
Foi aí que, em 1939, fundou uma pequena revista de ficção científica, juntamente com outros apaixonados do género. Começou a escrever contos, enviando-os para revistas especializadas que, frequentemente, os publicavam. Em 1950, publicou o seu primeiro volume de contos, Crónicas Marcianas, que teve um grande sucesso, depois suplantado por Fahrenheit 451 (1953), disponíveis na nossa Biblioteca.
A partir dos anos sessenta, começa a trabalhar intensamente como encenador cinematográfico, não abandonando nunca, a literatura.
Em 2002, em sua homenagem foi colocada uma estrela no "Passeio da Fama" em Hollywood pelas suas contribuições na ficção científica na literatura, no cinema e na televisão.
Entre os inúmeros prémios que Ray Bradbury recebeu durante toda a sua carreira, destacamos os mais importantes prémios de ficção científica, os Prémios Nébula, que a partir de 1991 são conhecidos como o Prémio Bradbury. Em 2004 recebeu o Prémio Hugo, referente a 1954 e ao livro que hoje divulgamos.
A 5 de junho de 2012, Ray Bradbury morreu aos 92 anos de idade na sua casa de Los Angeles na companhia dos seus gatos.





Esperamos por si



abril 08, 2016

UMA TERRA CHAMADA LIBERDADE



O Óscar já escolheu a leitura para o fim de semana. 
E o Leitor? 
Não tem ideia do que ler?

Não se preocupe Caro Leitorsiga a nossa 
sugestão de leitura de fim de semana.

Editado pela primeira vez em 1995, reeditado no passado dia 3 de março pela Editorial Presença, e acabado de chegar à sua Biblioteca, sugerimos um autor muito do agrado dos nossos leitores. Falamos do autor britânico Ken Follett.



Condenado à nascença a uma vida de escravidão, Mack McAsh vê-se forçado a trabalhar nas minas de carvão da Escócia, no ano conturbado de 1766. Porém, Mack não perde a esperança de ser livre. Inesperadamente, encontra uma aliada. Lizzie Hallim é a bonita aristocrata rebelde e determinada que, apesar da sua condição, também se encontra aprisionada em intrigas e jogos de poder. Devido às ideias progressistas de Mack, Sir George, senhor das terras e dono da mina, dificulta-lhe a vida, obrigando-o a fugir. Num volte-face, é Lizzie quem o ajuda. Os dois jovens não sabem que em breve a paixão será tão avassaladora no velho mundo como no novo.
Das minas de carvão da Escócia às sujas ruas de Londres, passando pelas plantações de tabaco na Virgínia, os dois enamorados querem apenas conquistar algo para as suas vidas: a liberdade.



"- Mas é a vida de um homem! Pense na irmã dele, coitada, na dor que terá quando souber que ele foi enforcado.
- São mineiros, minha querida, não são como nós. Para eles, a vida pouco vale, não sentem a dor que nós sentimos. A irmã embebeda-se com genebra e depois volta para a mina. 
- A mãe não acredita nisso, que eu sei.
- Talvez esteja a exagerar, mas tenho a certeza absoluta de que não vale a pena preocuparmo-nos com essas coisas. 
- Não consigo evitar. Mack é um rapaz às direitas que só quis ser livre, e não suporto a ideia de ele acabar numa forca".
In Uma Terra Chamada Liberdade




Ken Follett é um dos mais notáveis autores contemporâneos. Dos seus trinta livros, publicados em mais de 80 países, já foram vendidos mais de 150 milhões de exemplares.
Kenneth Martin Follett, nasceu a 5 de junho de 1949 no País de Gales. É formado em Filosofia pela University College, de Londres e começou a sua carreira como jornalista. Dos pequenos contos que escrevia aos fins de semana, rapidamente passou a escrever romances encorajado pelos amigos e colegas jornalistas.
O seu primeiro best seller "O Buraco da Agulha" foi o vencedor de Edgar Award como melhor romance de 1978.
Desde o seu primeiro grande êxito literário, cada novo livro vem confirmar a sua capacidade para conquistar um público fiel.
Entre os seus maiores sucessos contam-se os Pilares da Terra, Um Mundo sem Fim.
Tem o Leitor boas razões para se deslocar à Biblioteca Municipal e requisitar a nossa sugestão de leitura, pois segundo o San Francisco Chronicle é "Um romance histórico cativante."





Bom Fim de Semana



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