abril 17, 2013

BIBLIOTECA - ESPAÇO DE DIFERENÇAS

A Biblioteca Municipal é, sem dúvida, um espaço de diferenças. Aqui se cruzam livremente diferentes nacionalidades, etnias, línguas, raças, origens. É, também, um espaço de cruzamento de diferentes gerações.
 
Porquê na Biblioteca?
Quais são os elementos de união nesta diferença?
 
 
Claro! Os livros e a leitura.

Temos, aqui, feito inúmeras referências  à presença de grupos de crianças, das escolas e jardins de infância do concelho, que nos visitam e frequentam as nossas sessões de leitura. Ontem, recebemos um grupo diferente, de outra geração, mas com o mesmo gosto pela leitura.

Recebemos um grupo constituído por 15 idosos, do Centro Social e Paroquial de Vieira de Leiria, com idades compreendidas entre os 65 e os 91 anos. Sim, 91 anos, não nos enganámos. São 91 anos ainda cheios de alegria e boa disposição. Ficaram a conhecer todos os espaços da Biblioteca, uma vez que nenhum deles a conhecia, terminando a visita com um momento de leitura realizado pela nossa antiga colega Albertina Couceiro, já aposentada há alguns anos, mas que continua a colaborar nas nossas atividades. Ora veja: 

 
Idosos Vieira Leiria - diaporamas


Se a Biblioteca é um
espaço de diferenças,
então é um espaço de LIBERDADE.




A liberdade quero,
a liberdade busco,
onde menos o espero,
a este lusco-fusco.
 
Recordo-me de ter,
em holocausto a ela,
sentido até prazer
no frio de uma cela.
 
A liberdade tento,
a liberdade fruo,
num igual movimento
de avanço e de recuo.
 
Armindo Rodrigues, in Quadrante Solar


 

abril 16, 2013

UM DIA SEM RIR, É UM DIA DESPERDIÇADO


"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.
 Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente,
antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos"
                                                                                                              Charles Chaplin
 



Charles Chaplin, realizador, ator e compositor inglês nasceu a 16 de abril de 1889, em Londres.
Filho de artistas do vaudeville, viveu uma infância humilde, marcada pelo abandono do lar por parte do pai alcoólico. Aos 5 anos já participava em espetáculos, cantando e dançando nas ruas de Londres com o seu irmão Sydney.

Depois de uma breve passagem por um orfanato, junta-se a uma companhia infantil de teatro. Mais tarde, por influência de seu irmão Sidney, é contratado pela Companhia Teatral de Fred Karno, onde permaneceu até 1912, alcançando algum prestígio a nível interno. Em 1912, durante uma digressão aos Estados Unidos, atuou ao lado de Stan Laurel e chamou a atenção do produtor cinematográfico Mack Sennett, patrão do Keystone Studios.
 

  
Em Mabel's Strange Predicament (A Estranha Aventura de Mabel, 1914), desempenhou pela primeira vez a personagem que o imortalizou:  Charlot, o vagabundo com o chapéu de coco, calças largas e bengala em constante movimento, que numa sucessão de gags cómicos procura libertar-s,e de forma pouco ortodoxa, de inúmeras situações desfavoráveis, ora pontapeando agentes da lei, ora cortejando belas mulheres. O facto de os espectadores se identificarem com as peripécias de Charlot ajudou ao enorme êxito da personagem.


"Gosto dos meus erros,
não quero prescindir da deliciosa liberdade de me enganar."
                                                                                                           Charles Chaplin

 

Após mais um sucesso com The Tramp ( Vagabundo, 1915), Chaplin recebeu um contrato milionário da First National Studios com uma cláusula irrecusável: a de manter o controlo absoluto da criação artística dos filmes que interpretava e dirigia. Dando asas a toda a sua imaginação e talento, somou êxitos em cadeia, dos quais se destacou o célebre The Kid (O Garoto de Charlot, 1921). No início dos loucos anos 20, era o comediante mais bem pago de Hollywood, facto que o levou a enveredar por uma nova aventura: juntamente com o realizador D.W.Griffith e os atores Douglas Fairbanks e Mary Pickford, fundou a United Artists, que em breve se tornou numa das produtoras de maior sucesso do Mundo. Nesta tripla faceta de ator-realizador-produtor, continuou a maravilhar os espectadores, imortalizando cenas clássicas como a de comer atacadores dos sapatos cozidos, em Gold Rush (A Quimera do Ouro, 1925).
 
Em 1928, ainda a Academia dava os seus primeiros passos, já Chaplin recebia nomeações para 2 Oscares como ator e realizador em The Circus (O Circo, 1928). O seu último filme mudo foi o inesquecível Modern Times (Tempos Modernos, 1936) onde caricaturizou, de forma genial, o sistema industrial. No seu filme seguinte, fez uma brilhante sátira a Adolf Hitler e ao regime nazi em The Great Dictator (O Grande Ditador, 1940),
 
 
 
 
 
A sua interpretação de Adenoid Hinkel, Ditador da Tomânia, permitiu a Chaplin ser nomeado para o Oscar de Melhor Ator. A partir daí, a carreira de Chaplin começou a ressentir-se duma constante publicidade negativa, devido a divórcios litigiosos, acusações de adultério e vários processos de paternidade.
 
Em 1952, o senador McCarthy acusou-o de simpatias comunistas e recusou-lhe o visto de entrada nos EUA, obrigando Chaplin a refugiar-se na Suíça. Foi na Europa que Chaplin promoveu o seu seguinte filme, o brilhante drama Limelight (Luzes da Ribalta, 1952) sobre um palhaço decadente que se apaixona por uma jovem bailarina. Neste filme, salientou-se a magistral banda sonora da autoria do próprio Chaplin, que lhe valeu um Oscar em 1972, ano em que o filme foi lançado comercialmente em Hollywood.

Recebeu finalmente autorização para entrar nos Estados Unidos em 1972, aos 83 anos,  e foi aplaudido entusiasticamente de pé, durante dez minutos, por uma plateia em êxtase ,quando recebeu um Oscar Honorário pelo seu contributo à arte cinematográfica
No dia de natal de 1977, em Vevey, na Suíça, faleceu aos 88 anos de idade.
 
Pela sua inigualável contribuição ao desenvolvimento da sétima arte, Chaplin é o mais homenageado cineasta de todos os tempos, sendo ainda em vida condecorado pelos governos britânico (Cavaleiro do Império Britânico) e francês (Légion d 'Honneur), pela Universidade de Oxford (Doutor Honoris Causa) e pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos (Oscar especial pelo conjunto da sua obra, em 1972).
 
"Não devemos ter medo dos confrontos.
Até os planetas chocam e do caos nascem estrelas."
                                                                                                      Charles Chaplin
 
 
 
Para saber mais sobre cinema e sobre a vida e obra de Charles Chaplin, 
o leitor só tem que nos visitar.

 
Esperamos por si

 
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Abandono ou Fado de Peniche


"Por teu livre pensamento
foram-te longe encerrar.
Tão longe que o meu lamento
não te consegue alcançar.
E apenas ouves o vento.
E apenas ouves o mar.
 
"Levaram-te, era já noite:
a treva tudo cobria.
Foi de noite, numa noite
de todas a mais sombria.
Foi de noite, foi de noite,
e nunca mais se fez dia.
 
"Ai dessa noite o veneno
persiste em me envenenar.
Ouço apenas o silêncio
que ficou em teu lugar.
Ao menos ouves o vento!
Ao menos ouves o mar!"


                                                                     David Mourão-Ferreira, in Obra Poética vol I






 

abril 14, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS



não quero, não

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Quero um cavalo só meu,
seja baio ou alazão,
sentir o vento na cara,
sentir a rédea na mão.

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Não quero muito do mundo:
quero saber-lhe a razão,
sentir-me dono de mim,
ao resto dizer que não.

Não quero, não quero, não,
ser soldade nem capitão.

Eugénio de Andrade,
in Aquela nuvem e outras
Edições Quasi
  
 


Eugénio de Andrade [1923 - 2005]
"Por mais impessoal que seja a minha poesia, nunca o foi tanto como a que fui escrevendo  à medida que o Miguel ia crescendo diante dos meus olhos, e me ia pedindo uma história ou um poema. [...] Quis misturar a minha voz às vozes anónimas da infância - oxalá ela venha a tornar-se anónima também."
 
Eugénio de Andrade

 
 
 

abril 13, 2013

 
 
 


AMOR COMBATE


Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços são a flor do aloendro.
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.

Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:

O nosso amor é sangue. É seiva. É sol. É primavera
Amor intenso. Amor imenso. Amor instante.
O nosso amor é uma arma. É uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.

O nosso amor é um pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa.
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.

Deixa-me soltar estas palavras amarradas
para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.
Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade.

                                 Joaquim Pessoa, in Amor Combate



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Joaquim Pessoa nasceu no Barreiro a 22 de fevereiro de 1948.
Iniciou a sua carreira no Suplemento Literário Juvenil do Diário de Lisboa.
O primeiro livro de Joaquim Pessoa foi editado em 1975 e, até hoje, publicou mais de vinte obras incluindo duas antologias. Foram-lhe atribuídos os prémios literários da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura (Prémio de Poesia de 1981), o Prémio de Literatura António Nobre e o Prémio Cidade de Almada.
Desempenhou durante seis anos (1988-1994) o cargo de director da Sociedade Portuguesa de Autores.  









abril 12, 2013

LEITURA DE FIM DE SEMANA


Foi logo na montra da livraria que descobriste a capa com o título que procuravas. Atrás desta pista visual, lá foste abrindo caminho pela loja dentro através da barreira cerrada dos Livros Que Não Leste, que de cenho franzido te olhavam das mesas e das estantes procurando intimidar-te. Mas tu sabes que não te deves deixar assustar, que no meio deles se estendem por hectares e hectares os Livros Que Podes Passar Sem Ler, os Livros Feitos Para Outros Usos Para Além Da Leitura, os Livros Já Lidos Sem Ser Preciso Sequer Abri-los Por Pertencerem À Categoria Do Já Lido Ainda Antes De Ser Escrito. E assim transpões a primeira muralha de baluartes e cai-te em cima a infantaria dos Livros Que Se Tivesses Mais Vidas Para Viver Certamente Lerias Também De Bom Grado Mas Infelizmente Os Dias Que Tens Para Viver São Os Que Tens Contados. Com um movimento rápido passas por cima deles e vais parar ao meio das falanges dos Livros Que Tens Intenção De Ler Mas Antes Deverias Ler Outros, dos Livros Demasiado Caros Que Podes Esperar Comprar Quando Forem Vendidos Em Saldo, dos Livros Idem Idem Aspas Aspas Quando Forem Reeditados Em Formato De Bolso, dos Livros Que Podes Pedir A Alguém Que Te Empreste e dos Livros Que Todos Leram E Portanto É Quase Como Se Também Os Tivesses Lido. Escapando a estes assaltos diante das torres de reduto, onde se te opõem resistência

 
os Livros Que Há Muito Programaste Ler,
os Livros Que Há Anos Procuravas Sem Os Encontrares,
os Livros Que Tratam De Alguma Coisa De Que Te Ocupas Neste Momento,
os Livros Que Queres Ter Para Estarem À Mão Em Qualquer Circunstância,
os Livros Que Poderias Pôr De Lado Para Leres Se Calhar Este Verão,
os Livros Que Te Faltam Para Pores Ao Lado De Outros Livros Na Tua Estante,
os Livros Que Te Inspiram Uma Curiosidade Repentina, Frenética E Não Claramente Justificada.
E lá conseguiste reduzir o número ilimitado das forças em campo a um conjunto sem dúvida ainda muito grande mas já calculável num número finito, mesmo que este relativo alívio seja atacado pelas emboscadas dos Livros Lidos Há Tanto Tempo Que Já Seria Altura De Voltar A Lê-los e dos Livros Que Dizes Que Leste e Seria Altura De Te Decidires A Lê-los Mesmo."
I                                                   Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno Um Viajante
 
 
"Estou a ler! Não quero que me incomodem!"
(...) Estou a começar a ler o novo romance
de Italo Calvino!"
 
 


É o que o leitor vai dizer lá em casa depois de vir à Biblioteca Municipal e requisitar o livro  que hoje sugerimos para leitura de fim de semana

 
Se Numa Noite de Inverno um Viajante
Italo Calvino
Editora: Teorema 
 
 
Segundo o autor, é um romance sobre o prazer de ler romances.
"Acudiu-me  a ideia de escrever um romance feito apenas de inícios de romance. O protagonista podia ser o Leitor que é continuamente interrompido. O Leitor arranja o novo romance A que é do autor Z. Mas é um exemplar defeituoso, e não consegue andar para além do início..."
                                                             Italo Calvino


 
 
 

Jornalista, contista e romancista italiano, considerado um dos maiores escritores europeus do século XX, Italo Calvino nasceu a 15 de Outubro de 1923 em Santiago de Las Vegas, na ilha de Cuba. Ainda criança acompanhou os pais na sua mudança para São Remo, em Itália.
Em 1940, e em consequência da deflagração da Segunda Guerra Mundial, Calvino foi recrutado para a Mocidade Fascista, mas desertou pouco tempo depois, refugiando-se nas montanhas da Ligúria, onde se juntou à Resistência Comunista.
Desfiliou-se do Partido Comunista Italiano em 1957 ( a sua carta de renúncia ficou famosa) após os acontecimetos da Primavera de Praga.
Obtém a sua licenciatura em Letras com uma tese sobre Joseph Conrad em 1947.
Em 1959 viajou pelos Estados Unidos da América, fazendo um contraste com a sua visita à União Soviética em 1952.
É admitido na Einaudi como redator em 1950, cargo que desempenhará durante muito tempo. Colaborador do Corriere della Sera e, posteriormente, do Repubblica, desde a sua fundação, faleceu inesperadamente a 19 de setembro de 1985, vítima de um acidente vascular cerebral.
 
 
 
 
Bom Fim de Semana com Boas Leituras
 

abril 11, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS

Hoje vamos apenas deixar-vos mais um poema alusivo à LIBERDADE. Hoje será um poema de MARIA TERESA HORTA, intitulado MULHERES DO MEU PAÍS.
 


MULHERES DO MEU PAÍS

Deu-nos Abril
o gesto e a palavra

fala de nós
por dentro da raiz

Mulheres
quebrámos as grandes barricadas
dizendo: igualdade
a quem ouvir nos quis

E assim continuamos
de mãos dadas

O povo somos:
mulheres do meu país

Maria Teresa Horta, in Mulheres de Abril
Editorial Caminho



Se quiser conhecer melhor MARIA TERESA HORTA
 
 
 
 

abril 10, 2013

QUE PORTUGAL SE ESPERA EM PORTUGAL? QUE GENTE AINDA HÁ-DE ERGUER-SE DESTA GENTE?


Jorge de Sena, poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta, a sua obra é marcada, sobretudo, pela reflexão humanista acerca da liberdade do Homem.
É hoje considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura do nosso século XX.


"Pensador que sente e sentidor que pensa"
                                                                                                                            Eugénio Lisboa


Nasceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1919. Terminou em 1936 o seu curso de liceu. Mais tarde licenciou-se em engenharia civil na Universidade do Porto.
Durante os seus estudos universitários, publicou, sob o pseudónimo Teles de Abreu, as suas primeiras composições poéticas na revista “Presença” e travou conhecimento com o grupo de poetas que viria a reunir-se em torno de “Cadernos de Poesia”, convivendo, entre outros, com José Blanc de Portugal, Ruy Cinatti, Alberto Serpa e Casais Monteiro.


Trabalhou na Junta Autónoma de Estradas, de 1948 a 1959, ano em que se exilou no Brasil, receando perseguições políticas resultantes de uma falhada tentativa de golpe de estado, a 11 de Março desse ano e em que esteve envolvido.
 

 
A mudança para o Brasil permite-lhe uma reconversão profissional, que vai ao encontro da sua vocação, dedicando-se ao ensino da literatura, acabando por se doutorar em Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (São Paulo), em 1964, obtendo também o diploma de Livre-Docência, para o que teve que naturalizar-se brasileiro em 1963.
A sua intervenção cultural ganha novos horizontes com a sua atividade de docente e investigador universitário no Brasil, onde reforça também a sua ação cívica como opositor ao Estado Novo.
Fotografia de Eduardo Gageiro, 1970
A alteração da situação democrática no Brasil, com o golpe militar de 1964, faz temer um regresso ao passado, quer em termos políticos quer em termos de dificuldades económicas. Em 1965 foi viver para os Estados Unidos da América com a sua mulher, Mécia de Sena, com quem teve nove filhos. Em Outubro desse ano passa a integrar o corpo docente da University of Wisconsin, Madison, onde é nomeado professor catedrático efectivo (1967), transitando, em 1970, para a University of California, Santa Barbara (UCSB).


Durante a sua permanência na UCSB, até ao final da vida, ocupa os cargos de director do Departamento de Espanhol e Português e do Programa (interdepartamental) de Literatura Comparada.
Foi ainda membro da Hispanic Society of America, da Modern Languages Association of America e da Renaissance Society of America.
Nos Estados Unidos, a sua atividade cultural fica restringida aos círculos académicos e da emigração (no período californiano, desempenha um importante papel no esclarecimento das comunidades portuguesas sobre o 25 de Abril de 1974).
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago.
Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia em Santa Barbara.
 

Em Creta, com o Minotauro
 
Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Colecionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo, a minha pátria. a pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria  que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me  esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha
(...)
                                                                                              Jorge de Sena, in Poesia-III
 
 
A obra de Jorge de Sena é vasta em volume e em variedade (poesia, ficção, teatro, crítica, ensaio, história, história literária, organização de antologias, tradução).
Sena imprimiu a tudo o que escreveu um vigor, uma ironia corrosiva, uma energia ácida, um ousar quase, por vezes, à beira da loucura, um gosto (e uma capacidade) de subversão, um poder intelectual e espiritual, um apetite omnívoro de outras e diversas fontes culturais capazes de o alimentarem e excitarem, que dão ao corpus da sua obra uma força e uma monumentalidade quase monstruosas.
António Ramos Rosa, Eduardo Lourenço e Eugénio Lisboa contam-se entre os ensaístas que mais atentamente se dedicaram ao estudo e análise da obra de Jorge Sena.
O seu romance “Sinais de Fogo” foi adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha.
 
"Tendo mudado de pele, de continente, de vida, de nacionalidade, de tudo menos de mim mesmo, durante anos e anos".
                                                                                                                 Jorge de Sena
 
 
 
Quando se deu o 25 de AbrilJorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Visitou Portugal, mas  nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa o convidou para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo então continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.
 
Jorge de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro, quando se preparava a sua candidatura ao Prémio Nobel da Literatura.
No ano seguinte a Associação Portuguesa de Escritores instituiu o Prémio de Ensaio Jorge de Sena, ganho por Alexandre PinheiroTorres. 
A 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério dos Prazeres em Lisboa, depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais
 
O leitor encontrará a obra de
Jorge de Sena na sua Biblioteca
 
Só tem de nos visitar
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Quem a tem…
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
Desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
E sempre a verdade vença,
Qual será ser livre aqui,
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.
Mas embora escondam tudo
E me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade
.

                                           Jorge de Sena, in Poesia-II




 

abril 09, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS




O tirano honesto

Dele dizem hoje: governou mas não roubou.
Pois não. Ou muito pouco. Tão só a liberdade
do povo dele e de tantos outros que assim
honestamente sempre oprimiu. Que os tiranos
honestos são os mais temíveis: só os move
a honesta perversão do poder total.

Luiz-Manuel,
in Um Pirilampo no Inverno
Folheto Edições & Design
 
 
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Luiz-Manuel [1935-2011] escritor e tradutor bilingue (português e francês), natural da Marinha Grande. Radicado na Suíça desde dezembro de 1962, viveu na cidade de Renens, perto de Lausana. Publicou treze volumes de poesia, em português, francês e bilingues. Traduzido em grego, russo, italiano e romeno.
Traduziu para francês numerosos poetas portugueses: Manuel Alegre, José Bento, António Luís Moita, José Gomes Ferreira, etc. Traduziu e apresentou em português, no semanário marinhense "O Correio", hoje desaparecido, vinte e três poetas suíços, dos quais vinte e três de expressão francesa (Suíça Romanda) e dois de expressão italiana (Ticino).
Um Pirilampo no Inverno foi o seu quinto volume de poesia em português.





 


abril 07, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS


Dando continuidade à iniciativa "25 dias, 25 poemas"vamos hoje publicar um poema da autoria de Natália Correia, alusivo à liberdade.

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JÁ AS PRIMEIRAS COUSAS SÃO CHEGADAS / I

Tanta foice isto é coice desconfio...
Tanto de marx martelar já cansa.
Adrede é labirinto não me fio
no fio que o comício ao coro lança.

De tanto ruminar tanto Rossio
numa canga aguilhando tanta esperança.
Tanto poder ao povo com feitio
de espezinhá-lo depois da governança.

Tanta denúncia. É a pedagogia
da Revolução que o excremento avia
e não chegámos ao último terceto.

Recém-nascida apenas deste em cabra
Ó Liberdade! Não sei como isto acaba,
não sei como acabar este soneto.

Natália Correia
in Epístola aos lamitas


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Natália Correia viveu entre 1923 e 1993 e deixou-nos uma vasta obra publicada.
Foi uma escritora multifacetada, desenvolvendo a sua atividade na área da poesia, do romance, do teatro e do ensaio, sendo, porém, a poesia o seu género literário predominante.
Paralelamente à sua obra, e através dela, foi uma mulher que se bateu por grandes causas, onde se inscrevem a defesa dos direitos humanos e os direitos das mulheres. 
Com uma personalidade muito forte, carismática e, muitas vezes, polémica, evidenciou ao longo da sua vida uma forte intervenção política, cultural e cívica, chegando a ser deputada na Assembleia da República. A sua obra foi sempre o reflexo do seu carácter fortemente ideológico.





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