Sonhos, filhós, rabanadas, bolo-rei e muitas outras
iguarias fazem parte da mesa de consoada.
Quem resiste?
Deixamos de lado as dietas,
pois Natal sem doces não é Natal e em 2013
começamos então, com a... dieta.
E livros de receitas sem açúcar, sem colestrol,
não faltam na Biblioteca Municipal.
Filhó Dourada
Douradas, muito douradinhas são elas todas, empilhadas na travessa, como um castelo por conquistar.
As últimas são as melhores. Têm mais açúcar, desfazem-se mal lhes tocamos... A gente pega delicadamente numa das que sobram, dá-lhe um impulso que a ponha a deslizar na travessa, para ensopar bem e, num gesto rápido, sem pingar a toalha, mete-a na boca. O estalar dela, de encontro aos nossos dentes, é música com açúcar.
Naquela ceia de Natal, todos tinham comido filhós.
- Estão uma delícia - comentavam.
E, porque estavam uma delícia, não tinha sobrado senão uma, no fundo da travessa.
Era uma ilha minúscula e redondinha, rodeada por um mar de açúcar. Todos os olhos fitavam a filhó, que estalava em reflexos de oiro. Uma tentação.
À roda da mesa, diziam para o avô:
- Só ficou uma filhó. Porque não a come?
O avô, então, vira-se para a avó e segredava-lhe:
- Come tu, anda lá.
A avó não queria.
- Comam vocês - dizia ela, apontando para a filhó e para os filhos.
- Eu já comi muitas - desculpava-se um.
- Também tenho a minha conta - dizia outro.
- Nem mais um bocadinho - declarava um terceiro.
Parecia que nenhum queria tomar a responsabilidade de comer a filhó. No entanto, ela lá estava muito dourada, a recortar-se no meio da calda de açúcar. Apetecia mesmo ver e ... comer.
Mas, à volta da mesa, não se decidiam. E a filhó, a última filhó, andava de boca em boca, sem se fixar na boca de ninguém. De oferta em oferta, chegou a vez da tia Luísa propor:
- Os pequenos que comam. Sempre quero ver qual dos meus sobrinhos chega primeiro à filhó.
Os meninos não se precipitaram sobre a filhó apetitosa, como seria de esperar. Cada um ficou à espera do primo ao lado, e o primo ao lado do outro primo ao lado... Fosse por acanhamento ou fosse por que fosse...
- Afinal ninguém a come - observavam do outro extremo da mesa. - Esta filhó deve ser mágica.
Olharam uns para os outros e sorriram.
A ceia estava no fim. Os meninos tinham sono. O avô cabeceava. Começou a ouvir-se o arrastar das cadeiras. Era a debandada.
- Amanhã arruma-se a casa - disse a tia Luísa, e apagou a luz da sala de jantar.
Quando todos já se tinham ido embora, a filhó, no lusco-fusco, ao meio da mesa, começou a brilhar. Intensamente. Acreditem ou não, como se tivesse luz dentro. Como um pequeno sol ou um bocadinho de oiro, a desfazer-se em açúcar.
António Torrado
Naquela casa sobrou uma filhó.
Mas, se o leitor fizer a receita de filhós de abóbora
que aqui lhe deixamos para a sua ceia de Natal...
nem uma vai sobrar.
Ingredientes:
- 2 Kg de abóbora-menina
- 15 gr. de fermento de padeiro
- 2 laranjas grandes
- 5 ovos
- 400 gr. de farinha
- 20 colheres de sopa de açúcar
- óleo para fritar
- açúcar e canela para polvilhar
Preparação:
Corte a abóbora em pedaços e coza em água temperada com sal. Escorra-a muito bem, apertando-a com as mãos. Mude a polpa para um alguidar e junte-lhe o fermento e o sumo das laranjas. Adicione os ovos e misture com a mão, até ficarem bem incorporados.
Aos poucos, vá acrescentando a farinha e o açúcar (a quantidade certa de farinha depende muito do tamanho dos ovos e das laranjas).
Adicione as raspas da casca das laranjas.
Tape o alguidar com um pano e deixe levedar em lugar seco. Passadas 1H30 a 2 horas, frite a massa com a ajuda de duas colheres em óleo bem quente numa frigideira funda.
Retire as filhós com uma escumadeira e escorra o excesso de gordura.
Coloque numa travessa e polvilhe com açúcar e canela.
Boas Festas