Há palavras que nos beijam
Alexandre O'Neill escreveu
Cristina Branco canta
Caricatura de André Carrilho |
21 de agosto de 1986, faz hoje 26 anos que morreu Alexandre O'Neill, vítima de um acidente vascular cerebral, depois de ter passado vários anos doente.
A sua vida mistura-se com a das personalidades mais conhecidas das artes e das letras em Portugal na segunda metade de século XX.
Alexandre O'Neill foi poeta, publicitário, escreveu para teatro, cinema, televisão, letras para fados,(escreveu a letra do fado "Gaivota" destinado à voz de Amália Rodrigues, com música de Alain Oulman) cronista, tradutor e organizador de antologias e ainda um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa.
As suas primeiras influências surrealistas surgem em 1947, quando contacta com Mário Cesariny.
Em 1948, fundam o Grupo Surrealista de Lisboa, juntamente com José Augusto-França, António Pedro e Vespeira. Este grupo depressa se divide em dois e dá origem ao Grupo Surrealista Dissidente, com personalidades como António Maria Lisboa e Pedro Oom.
Discurso
no dize-tu-direi-eu
havia um que dizia
quer dizer é como quem diz
que o mesmo é não dizer nada
tenho dito
Em 1943, com dezassete anos, publicou os primeiros versos num jornal de Amarante, o "Flor do Tâmega". A partir de 1957, começou a escrever para os jornais, assinando colunas regulares do Diário de Lisboa, A Capital e Jornal de Letras. Com a edição, em 1958 de "No Reino da Dinamarca", O'Neill viu-se reconhecido como poeta. Em 1959 iniciou-se como redator de publicidade e ficaram famosos alguns slogans publicitários da sua autoria.
Quem é que nunca ouviu "Há mar e mar, há ir e voltar"?
Em 1953, esteve preso vinte e um dias no Estabelecimento Prisional de Caxias, por ter ido esperar Maria Lamas, regressada do Congresso Mundial da Paz em Viena. A partir dessa data, passou a ser vigiado pela PIDE, chegando mesmo a ter o passaporte confiscado.
O Amor é o Amor
O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos - somo um? somos dois?
espírito e calor!
O amor é o amor
Recebeu em 1982, o Prémio da Associação de Críticos Literários.
Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses.
Idiota e Felicidade
"(...) Os idiotas, de um modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia, podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima com poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa".
Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"
Os Convencidos da Vida
(...) Todos os dias os encontro. Evito-os. Ás vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrange. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vença, lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.
Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim".
Quem for viajar, encontrará, desde o passado dia 17 de julho, Alexandre O'Neill, numa caricatura do cartonista António nas paredes da extensão do metro do aeroporto de Lisboa.
Descendente de irlandeses, Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill, ou simplesmente Alexandre O'Neill, nasceu em Lisboa a 19 de dezembro de 1924.
Venha à Biblioteca Municipal
Aqui encontrará mais informação sobre O'Neill e
Aqui a sua poesia, que poderá levar consigo.