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abril 12, 2023

QUE MULHER FOI ANNIE?


"Haveria de chegar uma altura em que Annie poderia fazer tudo o que lhe apetecesse; por agora estava convicta de que esse momento só chegaria quando fugisse dali. E não apenas de sua casa! O país era demasiado cinzento, sendo obrigatório guardar silêncio, tanto no interior da família como na sociedade. A revolta de Annie era, por enquanto, mais dirigida à mãe do que ao regime, apesar de as duas dimensões se confundirem na sua cabeça, tantas eram as vezes em que D. Nita elogiava Salazar e amaldiçoava Humberto Delgado."

Ana Maria Duarte Palhota da Silva Pais
Lisboa 01-12-1935 / Cuba, Havana 17-07-1999




Annie Silva Pais, filha de Armanda e Fernando Silva Pais, trocou o marido e uma vida confortável na sombra do Estado Novo pelos ideais da revolução cubana. E por amor. Assumiu paixões tão ardentes como o fogo revolucionário e tornou-se tradutora e intérprete, membro confiado da equipa de Fidel Castro, à qual pertenceu até morrer. Para trás deixou a família e Portugal, onde regressou apenas em 1975, em trabalho e também para interceder pela libertação de seu pai, que nunca deixou de amar. Silva Pais foi o último diretor da PIDE.

O que leva uma filha do regime - filha de um dos homens fortes do regime -, 
casada com um diplomata suíço, a largar tudo e encontrar um propósito 
como militante da revolução cubana?



Ana Cristina Silva nasceu em Lisboa em 1964. É professora no ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida na área de Aquisições Precoces da Linguagem Escrita, Ortografia e Produção Textual.
Autora de 15 romances e de um livro de contos, foi três vezes finalista do Prémio Literário Fernando Namora (2011, 2012 e 2013), que venceu em 2017 com o romance A Noite Não é Eterna e que pode requisitar na Biblioteca Municipal.
Recebeu também o Prémio Literário Urbano Tavares Rodrigues pelo romance O Rei do Monte Brasil, em 2012.
No romance que hoje divulgamos, À  Procura da Manhã Clara, a autora combina realidade com ficção. Pesando factos e indícios, oferece-nos um retrato pleno de intimidade e humanidade, numa galeria de personagens, de entre as quais sobressai Che Guevara, o grande amor de Annie.



"Trouxeste a revolução a Cuba e também à minha vida. Amo-te, amo-te, amo-te, e não é só com recordações que te guardo dentro de mim. O que te torna ainda mais presente são os teus ideais e o propósito de libertar a Humanidade de um mundo tão feroz."







março 29, 2023

VIOLETA


"- Não és nenhuma fedelha. Defende a tua independência, não deixes que ninguém decida por ti. Para isso, tens de ser capaz de te desenrascar sozinha. Entendido? - disse-me ela.
Nunca esqueci essa advertência."



Violeta del Valle é a primeira rapariga numa família de cinco irmãos truculentos. Nasce num dia de tempestade, em 1920, quando ainda se sentem os efeitos devastadores da Grande Guerra e a gripe espanhola chega ao seu país natal, na América do Sul.
Graças à ação determinada do seu pai, a família sairá incólume desta crise, apenas para ter de enfrentar uma outra: a Grande Depressão. A elegante vida urbana que Violeta conhecia até então muda drasticamente. Os Del Valle são forçados a viver numa região selvagem e remota, onde Violeta atinge a maioridade e viverá o primeiro amor.
Décadas depois, numa longa carta dirigida ao seu companheiro espiritual, o mais profundo amor da sua longa existência, Violeta relembra desgostos amorosos e apaixonadas relações, momentos de pobreza e de prosperidade, perdas terríveis e alegrias imensas. A sua vida será moldada por alguns dos momentos mais importantes da História: a luta pelos direitos da mulher, a ascensão e queda de tiranos, os ecos longínquos da Segunda Guerra Mundial.


Violeta é um romance de celebração.
Dos 80 anos de vida da autora e 40 de percurso literário


Isabel Allende nasceu a 2 de agosto de 1942, em Lima, no Peru. Viveu no Chile entre 1945 e 1975, com largos períodos de residência noutros locais, na Venezuela até 1988 e, desde então, na Califórnia.
Em 1982, o seu primeiro romance, A Casa dos Espíritos, transformou-se num dos títulos míticos da literatura latino-americana. A obra resultou num filme com o mesmo nome, realizado em 1993 por Bille August, com os atores Jeremy Irons, Meryl Streep, Glen Close, Winona Ryder e Antonio Banderas, tendo grande parte das rodagens decorrido em Lisboa e no Alentejo. 
Seguiram-se muitos outros livros, todos êxitos internacionais e que podem ser requisitados na Biblioteca Municipal. A sua obra está traduzida em trinta e cinco línguas e vendeu mais de sessenta e sete milhões de exemplares. Recebeu mais de cinquenta prémios internacionais e treze doutoramentos honorários. Em 2010, foi galardoada no Chile com o Prémio Nacional de Literatura.
Em 2014, recebeu  de Barack Obama a Medalha Presidencial da Liberdade.
Em 2020, recebeu o Prémio Liber, outorgado pela Federación de Gremios de Editores de España, que a classifica como a autora latino-americana mais destacada da atualidade.
Escrito durante o período da pandemia, o livro que hoje destacamos, Violeta, nasce da sua vontade de contar a história da sua mãe, Doña  Panchita, falecida em 2018.
A sua vida inspirou uma minissérie de 3 episódios, num original da HBO Max, transmitido em 2022 na TVI.



" Há um tempo para viver e um tempo para morrer. 
Entre ambos, há tempo para recordar. 
Foi isso que fiz no silêncio destes dias em que pude escrever 
os pormenores que me faltam ..."




março 16, 2023

TODA A GENTE NESTA SALA UM DIA HÁ DE MORRER



"- É aqui que temos o computador.
O Jef mostra-me um enorme computador de secretária. Ele acabou de me fazer uma visita guiada à igreja para me dar alguma orientação no meu primeiro dia. Tem as mãos nas ancas e está a franzir o sobrolho apreensivamente perante a primordial máquina de tom bege.
- Sabes ligá-lo? - pergunta-me de modo tímido.
Carrego no proeminente botão START. O computador emite um ruído como um cortador de relva reanimado.
- Uau! - o rosto do Jef ilumina-se ao mesmo tempo que o monitor. - Não posso acreditar que já o tenhas posto a funcionar!
Sorrio, nervosa, satisfeita por descobrir que este homem fica facilmente impressionado."


"O equilíbrio perfeito entre macabro e divertido" 
                                                                                                                                       Buzzfeed




Gilda não consegue parar de pensar na morte, imaginando cenários terríveis e improváveis que a deixam de coração aos saltos e com falta de ar. A sua ansiedade é tão grave, que os funcionários das urgências já a conhecem. Desesperada por encontrar algum alívio, dirige-se a uma igreja católica que oferece serviços de psicoterapia, onde é recebida pelo padre Jeff, que depreende que ela está ali para uma entrevista de emprego. Demasiado envergonhada para o corrigir, Gilda confirma e acaba por ser contratada como rececionista, para substituir a antiga funcionária, Grace, uma mulher idosa recentemente falecida.
O problema é que Gilda não só não é católica como também é ateia e lésbica. Sentindo que tem de manter as aparências, decide aprender os procedimentos da igreja, enquanto tenta ganhar coragem para lavar a pilha de louça que se acumula no chão da sua casa e convencer a namorada de que, apesar do aspeto cada vez mais preocupante, está tudo bem consigo.
No decorrer das suas funções, Gilda encontra a correspondência trocada entre Grace e a sua velha amiga Rosemary, mas não tem coragem de lhe dar a má notícia, pelo que começa a fazer-se passar por Grace por e-mail, encontrando algum consolo naquela troca de palavras generosas. Contudo, quando a morte de Grace começa a ser investigada pela polícia, Gilda vê-se obrigada a lidar com as mentiras que contou e que podem revelar a toda a gente a forma como tem verdadeiramente vivido.  



Emily Austin nasceu em Ontário, no Canadá, e vive atualmente em Otava. Estudou Literatura Inglesa e Ciências da Informação e da Documentação na Western University.
Trabalhou como livreira, professora e técnica de informação. Em 2020, recebeu uma bolsa de escrita criativa do Canadian Council for the Arts.
O livro que hoje sugerimos aos nossos Leitores é o seu primeiro romance e tem recebido ótimas críticas, quer dos leitores quer de outros autores.

"Até agora, apenas pus "gosto" acidentalmente em dois tweets inapropriados a partir da conta da igreja, tendo-me esquecido de que não estava a usar a minha conta pessoal."









março 08, 2023

DEZ MULHERES INESQUECÍVEIS QUE MARCARAM O SÉCULO XX


Maria Callas é indissociável da sua voz. Marie Curie amou a ciência acima de tudo, Coco Chanel, a moda e Marguerite Yourcenar, a sua literatura. A extravagante Gala Dalí entregou-se à arte, enquanto Wallis Simpson se deixou fascinar pelo estatuto e pela riqueza. Golda Meir amou a terra, o povo e um projeto político; a atriz Marlene Dietrich, por seu turno, amou homens, mulheres e a sétima arte. Jacqueline Kennedy Onassis viveu sempre perto de homens de poder; já madre Teresa de Calcutá entregou-se a Deus e ao outro, sem limites.


Uma História fascinante sobre as mulheres que desafiaram convenções, 
alcançaram o êxito e o poder e amaram sem limites.
Os seus feitos ajudaram a moldar o século XX 
e abriram portas a muitas outras mulheres pelo mundo fora.


"Quando escolhi Dez mulheres que amaram demais para título deste livro, estava, obviamente, a debruçar-me sobre um tema que sempre me interessou e que reporta à vida de grandes mulheres que, tendo-se distinguido nos mais variados campos, souberam alcançar fama e poder, mas também se apaixonaram de forma explosiva. (...)
O amor físico e carnal, erótico e sensual terá sido componente destas vidas, apesar de constituir o lado menos conhecido de algumas delas. O qual, nem por isso, deixou de as completar como mulheres. E, afinal, é esse lado mais obscuro que este livro procura revelar. (...)
A vida desta dezena de mulheres marcou, para o bem ou para o mal, uma boa parte do século passado."
Helena Sacadura Cabral




março 02, 2023

CONCURSO NACIONAL DE LEITURA 2023_FASE MUNICIPAL

Realizaram-se ontem, dia 01 de março, as provas escritas da Fase Municipal do Concurso Nacional de Leitura. De acordo com o previsto no n.º 2, do art.º 6.º das Regras do Concurso, ficam apurados para a prova oral (leitura expressiva) os seis alunos de cada nível de ensino com melhor resultado na prova escrita. Assim, os alunos apurados para a prova oral, a realizar no próximo dia 10 de março, em sessão presencial, na Biblioteca Municipal, são os seguintes:





fevereiro 24, 2023

SLAVA UKRAINI

 


"A aparição da Ucrânia no palco central da política europeia e depois americana não é um acaso. A Ucrânia, a maior república pós-soviética a seguir à Rússia e atualmente alvo de agressão por parte desta, nos últimos anos tornou-se num campo de batalha. Ao contrário dos seus vizinhos eslavos a Leste, a Rússia e a Bielorrússia, a Ucrânia manteve sempre instituições e políticas democráticas durante os tumultuosos anos da transição pós-soviética e voltou-se para o Ocidente nas suas aspirações geopolíticas sociais e culturais."
In, A Porta da Europa: Uma História da Ucrânia


"O alvo dos russos não é apenas (...) a Ucrânia, 
o alvo é a estabilidade na Europa e toda a ordem internacional de paz 
e responsabilizaremos o presidente Putin por isso." 
Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia
24/02/2022

Faz hoje um ano que Vladimir Putin invadiu a Ucrânia com a sua autodenominada "Operação Militar Especial". Esperava com isso dominar o território ucraniano rapidamente e tirar do poder Volodymyr Zelensky. A "Operação Militar Especial" devia durar três dias, o tempo necessário para derrubar Zelensky e instalar em Kiev um regime  fantoche. Um ano depois, o presidente ucraniano continua no poder, as forças russas estão entrincheiradas no Donbass e os dois lados estão preparados para continuar as hostilidades.


O que causou a crise na Ucrânia?
Que papel desempenha a história nestes acontecimentos?
O que diferencia os ucranianos dos russos?
Quem tem direito à Crimeia e ao leste da Ucrânia? 
Porque têm as ações ucranianas repercussões internacionais profundas? 




A nossa sugestão de leitura, para responder a estas e outras perguntas.
Para compreender os acontecimentos atuais na Ucrânia e o seu impacto no mundo.
 







fevereiro 08, 2023

O MUNDO REAL É O BAIRRO

Fotografia de Ana Brígida

Cláudia Araújo Teixeira nasceu no Porto, tem três filhos e um cão. Estudou Direito, chegou a pensar em ser advogada, influenciada pela série "Teias da Lei", mas depressa percebeu que, na sua vida, os tribunais fariam parte apenas da ficção. 
Acabou por se licenciar em Ciências da Comunicação e fez carreira na área editorial. Trabalhou com muitos escritores que admira, como Paul Auster e Arturo Pérez-Reverte, sem nunca lhe ter ocorrido dedicar-se à escrita.

A sua estreia literária acontece com o livro que hoje divulgamos,
  Uma vida Assim-Assim, escrito durante o confinamento. 




Às 21h08 do dia 13 de abril de 1970, enquanto a missão espacial Apollo 13 deixa o mundo em suspenso ao anunciar Houston, we´ve had a problem, Cristina Maria nasce num bairro social do Porto. A coincidência escapa por completo aos seus pais, que perdem assim a oportunidade de juntar uma boa história à já sobrelotada mitologia familiar.
A década de 70 está a dar os primeiros passos e um vislumbre de modernidade ilumina o país. As senhoras fazem a mise, os cinemas inauguram as sessões da meia-noite, diz-se bom-dia com Mokambo, abrem os primeiros centros comerciais... Mas se as melhores casas do país se rendem à alcatifa, no Bairro o linóleo não tem rival. Se milhões choram a separação dos Beatles, no Bairro baila-se alegremente ao som dos Diapasão. O Bairro é imune ao mundo, porque o Bairro é um mundo.
Cristina Maria sonha voar mais alto. Vai conhecendo a cidade que pulsa para lá dos limites do Bairro. Descobre-se e reinventa-se nesse lugar. Ela, que se sente especial desde que tem consciência de si, será posta à prova uma e outra vez. Debate-se entre dois mundos igualmente reais, igualmente cruéis. Mas fez uma promessa a si mesma e não tenciona falhar.



"As casas pequenas, encafuadas em blocos uniformes, só distintos pelos números nas fachadas e pelas cores, do amarelo tosco ao vermelho desmaiado, pareciam o resultado de um devaneio infantil. Tudo era quadrado, simétrico, acotovelado, melting pot de cheiros, sons e vidas em metros quadrados compatíveis com um cubo Rubik. Nascer no Bairro é nascer com autossuficiência social. O mundo lá fora é uma abstração, uma espécie de ficção na qual os seus habitantes são meros figurantes. O mundo real é o Bairro. E no Bairro todos são protagonistas"












janeiro 25, 2023

A TERRA PLANA

 

"Parece incrível, mas em pleno século XXI há pessoas que acreditam que a Terra, o nosso planeta, é afinal plana e que todas as teorias que sustentam o contrário não passam de um tremendo embuste.
Os crentes da teoria da Terra plana acreditam, basicamente, que há uma conspiração mundial envolvendo cientistas e agências espaciais para que todos acreditem que a terra é esférica. Para esta gente o nosso planeta é um gigantesco disco e não um globo, com o Polo Norte no meio e a Antártida delimitando todo o espaço envolvente através de um muro de gelo de 45 metros de altura. (...)
Mas Samuel Shenton não descansou e em 1956 fundou a International Flat Earth Reseatch Society - IFERS ( ou Sociedade de Pesquisa da Terra Plana, em português), da qual era presidente e conta com milhares de seguidores nos quatro cantos do mundo ... literalmente, entre os quais Mohammed Yusuf, fundador do grupo extremista Boko Haram e morto em 2009, o rapper norte-americano B.o.B e a atriz de filmes porno Tila Tequila.
As suas ideias doutrinam-se nas redes sociais em grupos do Facebook, posts no Twitter, vídeos no You Tube, forúns... e sites oficiais, meios por excelência para espalharem a "palavra". (...)


Para os defensores desta teoria, a Lua e o Sol também estão muito mais próximos do que aprendemos na escola, e medem apenas cerca de 51 quilómetros de diâmetro cada um, flutuando sobre o disco da Terra a uma distância de aproximadamente 4,8 mil quilómetros e 4,1 mil quilómetros, respetivamente. Em suma, o astro-rei e a sua companheira celestial não passam de dois penduricalhos daqueles que ficam sobre os berços das crianças, fazendo movimentos circulares que nos dão o dia e a noite. (...)
Tudo tem uma explicação mais racional, desde o nascer do sol, passando pelas marés, tudo é justificável, até a própria lei da gravidade, "justificada" com aquilo a que chamam de "aceleração universal", que consiste num movimento constante para cima, o que explica o facto de que quando pulamos não é o nosso corpo que volta à Terra, mas sim a Terra que vai em direção aos nossos pés.
Há de tudo um pouco. Para os seguidores desta linha de raciocínio, a sociedade e a teoria são como um tipo de exercício epistemológico, seja como crítica ao método científico, ou um tipo de "solipsismo para iniciantes", mas há também os que apenas acham que a certidão de sócio (disponível no site da sociedade) fica engraçada na sala de estar."



TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
de Fernando Neves
Oficina do Livro

Neste livro vamos tentar encontrar explicações sobre o que são, 
quem são os seus protagonistas e, sobretudo, 
como se propagam estas teorias da conspiração
feitas de histórias, mais ou menos fantasiosas, que são passadas de boca em boca 
e que têm atravessado gerações, marcando a nossa forma de ver mundo: O homem não foi à lua, Elvis não morreu, O Titanic não se afundou, Os Illuminati, Pizzagate, ... 




"Há até quem ache que a Terra é afinal ... plana, 
o que de certa forma justifica a expressão "quatro cantos do Mundo", 
e por outro lado há quem jure que a Terra é afinal esférica e ... oca 
e que no seu interior existe ... uma outra Terra!


FERNANDO NEVES, é mestre em Ciências da Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo ISCTE, em Lisboa, onde se encontra a terminar o doutoramento em Ciências da Comunicação. Aos 20 anos estagiou na Rádio Renascença, experiência que lhe permitiu ingressar na Rádio Comercial e mais tarde na Antena 1, de onde saiu para fazer parte da equipa que fundou a TSF Rádio Jornal. Em 2008 regressou à Antena 1 para realizar "A sessão da noite", um projeto de autor que viria a inspirá-lo em anos futuros.
Das experiências da rádio nasceu o seu gosto pelas "Teorias da Conspiração", ou pelas histórias que lhe dão corpo. Ao longo de seis meses foi esse o tema dos 120 episódios transmitidos na Antena 1, constituindo um mundo repleto de mitos populares, lendas urbanas, fábulas místicas e superstições mais ou menos criativas. Chegou ao primeiro lugar dos podcasts mais ouvidos na plataforma digital Spotify e foi um dos programas mais ouvidos na RTP Play durante meses.









janeiro 18, 2023

18 DE JANEIRO DE 1934

 
Marinha Grande, 18 de janeiro de 1934


"Decorria o ano de 1934, quando o levantamento operário fez tremer Salazar e o perturbou seriamente.
Os acontecimentos tiveram o palco principal na vila vidreira. Em menor escala, atos semelhantes sucederam-se em diversos locais de país.
De 17 para 18 e durante todo o dia 18 de janeiro, aconteceram pelo país ações de desespero, tendo havido cortes de linhas telefónicas e telegráficas, descarrilamento de comboios, explosões, assaltos a postos policiais, etc., etc..
Contudo foi na Marinha Grande onde o movimento operário teve expressão, devido ao facto de maior coesão de trabalhadores. 
Desde 1922 que o fascismo se instalou na Itália sob a bitola de Mussolini, e, internacionalmente, na Alemanha de Hitler, em 1933.
Em julho de 1932, Salazar toma conta da chefia do governo e mantém o poder durante muitas décadas, fascizando o país e impondo ao seu maior inimigo - o movimento operário - a grilheta e o silêncio, a privação e a fome.
Promulga a 23 de setembro de 1933, o Estatuto do Trabalho Nacional e com ele, os Sindicatos Nacionais, os Grémios e as Corporações. Os Sindicatos Livres  foram encerrados e em 31 de dezembro de 1933, impedida a liberdade sindical.
Com a grande crise económica de 1929, crise mundial, suprimem-se as mais elementares liberdades individuais e aumenta-se a repressão e exploração sobre os trabalhadores. O desemprego e a coação sobre as massas operárias era tão evidente e tão anormal que o 18 de janeiro surgiu, como promissor e desejado salvador. Foi uma aventura arriscada, mas foram as aventuras que dignificaram os factos mais brilhantes da nossa história.
A classe operária, embora numericamente menor em relação à população ativa, sentia a necessidade de lutar contra a fascização dos sindicatos e contra o infeliz Estatuto do Trabalhador Nacional.
A proporção na luta era descomunal ... o desespero não tinha limites!


Edição do Diário de Notícias de 19 de janeiro de 1934

À data do movimento não existia, infelizmente, uma completa identificação de pontos de vista entre os trabalhadores nacionais, razão pelo fracasso do golpe.
No entanto, é digno de assinalar, a lição que hoje não devemos esquecer. Não foi uma inglória luta. Ela foi bem evidente e apesar de tingida com sangue e lágrimas dos gloriosos intervenientes, que sofreram na carne as injustiças dos opressores, vincou indelével, o querer, a força e a legitimidade da razão.
O sacrifício e o sofrimento da gloriosa juventude de 1934, não foi destituída de significado. Constituíram grandes ações, junto com tantas outras, que acumuladas, minaram o terror fascista, causando-lhe o derrube. 
E é ao recordar, hoje, passados cinquenta anos, que não olvidamos a lição dos operários que lutaram denodamente por melhores condições de vida.
Com gratidão, assinalamos a luta dos briosos trabalhadores. Foi um marco na história do operariado, uma estrela que há-de brilhar eternamente."

                                                                                                                   Edmundo Oliveira Órfão
                                                                                                                   In, O Pó Cheira a Flores








janeiro 11, 2023

OS NÚMEROS DE 2022

Como é habitual, vamos divulgar os números que resultam da atividade desenvolvida pela Biblioteca Municipal ao longo de 2022, tentando sempre estabelecer a comparação com os dados de anos anteriores. 
Como enquadramento, convém recordar que o início de 2022 foram meses conturbados na atividade da Biblioteca, marcados ainda por algumas restrições decorrentes do contexto pandémico e pelo processo de transferência das instalações provisórias para o nosso edifício sede, que obrigaram ao encerramento dos serviços entre o final do mês de março até ao dia 23 de abril, com reflexos inevitáveis na própria dinâmica da Biblioteca. Apesar destes constrangimentos, o número de livros emprestados ao longo do ano acabou por superar o dos anos anteriores, recuperando os níveis dos anos anteriores à pandemia covid-19.

O trabalho que a Biblioteca Municipal tem vindo a desenvolver ao longo dos anos, no sentido de ser um serviço público com impacto na comunidade, procurando ir ao encontro das necessidades manifestadas pelos utilizadores, de ser uma referência local no acesso gratuito à informação, promovendo o seu uso regular e presencial, tentando elevar os níveis de literacia, consciencializando para a importância da leitura na formação dos mais jovens, esta trajetória, apesar de ter sido interrompida nos anos mais atingidos pelas restrições impostas pela covid-19, já apresenta uma franca recuperação.

Também ao nível das inscrições de novos leitores é notória a recuperação face a anos pré-covid, sendo reflexo do regresso dos serviços ao edifício sede, com a possibilidade de termos todo o acervo bibliográfico disponível para consulta e empréstimo, a manutenção da gratuitidade dos serviços prestados e a retoma das atividades educativas em grupo, sem restrições, são fatores que motivam a comunidade local  a utilizarem os recursos da Biblioteca Municipal. Um dos fatores com forte impacto no aumento do número de novas inscrições está relacionado com o aumento da população imigrante, que escolheu a Marinha Grande para residir e trabalhar, em especial, a de língua portuguesa, que veem na Biblioteca um espaço que os acolhe sem qualquer tipo de limitações ou constrangimentos.





Registamos a continuidade da tendência de anos anteriores, que revelam que o género feminino requisita muito mais livros do que o género masculino, sendo a diferença bastante significativa, dado que 74% dos livros emprestados, ao longo de 2022, foram a leitores do género feminino e o género masculino representa apenas 26% do universo de leitores que requisitaram livros.




Outro dado que extraímos dos números de 2022, e que é uma tendência que se mantem já há alguns anos, é a reduzida percentagem de leitores que requisitam livros na faixa etária entre os 13 e os 17 anos. A faixa etária até aos 12 anos também não é muito elevada, mas aqui convém referir, que muitos dos livros destinados a esta faixa etária são requisitados pelos pais ou encarregados de educação, acabando por ser contabilizados pelo sistema informático como empréstimos na faixa acima dos 18 anos. 



Os livros mais requisitados em 2022





















janeiro 03, 2023

EXPOSIÇÃO

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de res­tolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um ban­quete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira — sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.(...)

Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que assen­tam em coisa nenhuma. Vives. (...)

José Saramago, 
excertos da crónica "Carta para Josefa, minha avó",
in, Deste Mundo e do Outro: Crónicas 


Até ao dia 31 de Janeiro irão estar expostos, no átrio da entrada da Biblioteca Municipal, um conjunto de trabalhos realizados pelos alunos dos 2.º e 3.º CEB dos Agrupamentos de Escolas da Marinha Grande, inspirados na crónica "Carta para Josefa, minha avó", extraída do livro "Deste Mundo e do Outro: Crónicas", da autoria de José Saramago. A iniciativa insere-se no âmbito das comemorações do Centenário do Nascimento de José Saramago, que se assinalou ao longo do ano 2022, e resultou do trabalho de parceria entre a Biblioteca Municipal e as Bibliotecas Escolares, através dos seus Professores Bibliotecários. 

Partindo da carta escrita por Saramago, dedicada à sua avó Josefa, e dado que os conteúdos programáticos da disciplina de Português contemplam a abordagem de várias tipologias textuais, sendo a "carta" uma delas, os alunos foram desafiados a escrever eles próprios uma carta, dedicada aos avós ou a alguém que seja muito especial para eles. Este desafio resultou em dezenas de cartas, na sua maioria dedicadas aos avós, onde os alunos puderam expressar sentimentos de afeto, carinho, admiração e ternura.






Até 31 de Janeiro, 
passe pela Biblioteca Municipal e partilhe destas emoções, 
quem sabe se não vai encontrar uma carta que foi escrita a pensar em si.




dezembro 14, 2022

ÁRABE SIGNIFICA TER A MERCEARIA ABERTA À NOITE E AO DOMINGO

 Duas gerações diferentes
Duas religiões distintas
Uma amizade única
Omar Sharif e Pierre Boulanger

"O senhor Ibrahim sempre fora velho. Os habitantes da Rua Bleue e da Rua do Faubourg-Poissonnière sempre tinham visto o senhor Ibrahim na sua mercearia, desde as oito da manhã até noite cerrada, curvado entre a caixa e os produtos de limpeza, uma perna cá fora e outra debaixo das caixas de fósforos, um casaco cinzento por cima de uma camisa branca, dentes cor de marfim escondidos sob um bigode farto, olhos cor de pistácio, verdes e castanhos, mais claros do que a sua pele morena, marcada pela sabedoria que a vida lhe trouxera.


Omar Sharif, Cesar 2004 melhor ator

Era opinião generalizada que o senhor Ibrahim era sábio. Provavelmente por ser, há cerca de quarenta anos, o único árabe numa rua de judeus. Sem dúvida também porque sorria muito e falava pouco. (...)
- Eu não sou árabe, Momo, eu sou do Crescente Dourado. (...)
- Eu não sou árabe, Momo, sou muçulmano.
- Então porque dizem que o senhor é o árabe da rua se nem sequer é árabe?
- Árabe, Momo, quer dizer mercearia "aberta das oito da manhã à meia-noite, mesmo ao domingo." 




Momo é um rapazinho que se aborrece na escola e em casa, junto do seu pai, um advogado infeliz. Porém, na Rua Bleue onde mora, há mulheres pouco recomendáveis que o tratam muito bem e, acima de tudo, há o senhor Ibrahim, o merceeiro árabe do bairro, que parece conhecer os segredos da felicidade e dos verdadeiros sorrisos, dos quais Momo depressa aprende a tirar partido.
Depois de o seu pai se atirar para debaixo de um comboio, Momo é acolhido pelo senhor Ibrahim. Juntos, vão encerrar a loja, comprar um automóvel e partir para o país natal do velho homem, o país dos dervixes rodopiantes, sábios da contemplação, do Alcorão, das suas flores e da poesia do mundo.


Um livro para ler e reler, uma lição de sabedoria, 
de tolerância, de fatalismo e de bondade.



Éric-Emmanuel Schmitt nasceu a 28 de março de 1960 em Sainte-Foy-lès-Lyon, França.
É um dos mais populares escritores e dramaturgos franceses. As suas obras foram traduzidas e encenadas em mais de 40 países. É considerado um dos 10 autores de língua francesa mais lidos.
Entre os seus prémios contam-se o prestigiado Prémio Goncourt de Romance e ainda o Grande Prémio de Teatro da Academia Francesa.
Em 1999, quando escreveu a peça "O Senhor Ibraim e as Flores do Alcorão", que mais tarde adaptou em formato de novela e que hoje divulgamos, vivia na rue Bleue, onde a parte principal da ação se desenrola. Era um bairro judeu, onde um árabe mantinha a sua loja aberta das 8 da manhã à meia-noite.

O Senhor Ibrahim e as flores do Alcorão foi adaptado ao cinema em 2003, realizado por François Dupeyron, com argumento do próprio autor e do realizador, tendo nos papeis principais Omar Sharif, que venceu em 2004 o Cesar de melhor ator no papel do Senhor Ibrahim, Pierre Boulager e Isabelle Adjani.
Em Portugal, a encenação desta peça por Miguel Seabra em 2012 valeu ao Teatro Meridional o Prémio do Público no Festival Internacional de Teatro de Almada.
Em 2022, para celebrar os 25 anos de existência daquela companhia de teatro, esteve novamente em cena de 6 a 23 de junho.

"Um hino à vida"
                                                 Le Pariscope



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