fevereiro 08, 2023

O MUNDO REAL É O BAIRRO

Fotografia de Ana Brígida

Cláudia Araújo Teixeira nasceu no Porto, tem três filhos e um cão. Estudou Direito, chegou a pensar em ser advogada, influenciada pela série "Teias da Lei", mas depressa percebeu que, na sua vida, os tribunais fariam parte apenas da ficção. 
Acabou por se licenciar em Ciências da Comunicação e fez carreira na área editorial. Trabalhou com muitos escritores que admira, como Paul Auster e Arturo Pérez-Reverte, sem nunca lhe ter ocorrido dedicar-se à escrita.

A sua estreia literária acontece com o livro que hoje divulgamos,
  Uma vida Assim-Assim, escrito durante o confinamento. 




Às 21h08 do dia 13 de abril de 1970, enquanto a missão espacial Apollo 13 deixa o mundo em suspenso ao anunciar Houston, we´ve had a problem, Cristina Maria nasce num bairro social do Porto. A coincidência escapa por completo aos seus pais, que perdem assim a oportunidade de juntar uma boa história à já sobrelotada mitologia familiar.
A década de 70 está a dar os primeiros passos e um vislumbre de modernidade ilumina o país. As senhoras fazem a mise, os cinemas inauguram as sessões da meia-noite, diz-se bom-dia com Mokambo, abrem os primeiros centros comerciais... Mas se as melhores casas do país se rendem à alcatifa, no Bairro o linóleo não tem rival. Se milhões choram a separação dos Beatles, no Bairro baila-se alegremente ao som dos Diapasão. O Bairro é imune ao mundo, porque o Bairro é um mundo.
Cristina Maria sonha voar mais alto. Vai conhecendo a cidade que pulsa para lá dos limites do Bairro. Descobre-se e reinventa-se nesse lugar. Ela, que se sente especial desde que tem consciência de si, será posta à prova uma e outra vez. Debate-se entre dois mundos igualmente reais, igualmente cruéis. Mas fez uma promessa a si mesma e não tenciona falhar.



"As casas pequenas, encafuadas em blocos uniformes, só distintos pelos números nas fachadas e pelas cores, do amarelo tosco ao vermelho desmaiado, pareciam o resultado de um devaneio infantil. Tudo era quadrado, simétrico, acotovelado, melting pot de cheiros, sons e vidas em metros quadrados compatíveis com um cubo Rubik. Nascer no Bairro é nascer com autossuficiência social. O mundo lá fora é uma abstração, uma espécie de ficção na qual os seus habitantes são meros figurantes. O mundo real é o Bairro. E no Bairro todos são protagonistas"












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