A mão
vinte e sete ossos,
trinta e cinco músculos,
cerca de duas mil células nervosas
em cada um das pontas dos cinco dedos.
É quanto basta
para escrever Mein Kampf
para escrever Mein Kampf
ou a Casinha do Ursinho Puff.
Tradução do polaco de Teresa Swiatkiewicz
Wislawa Szymborska nasceu a 2 de julho de 1923 em Kórnik, na Polónia. Em 1931 mudou-se com a família para Cracóvia, onde estudou literatura e sociologia.
Estreou-se como poeta em 1945 com o poema Szukam Slowa (Procuro uma palavra). De 1953 a 1981 colaborou, como editora de poesia e como colunista, na revista semanal Zycie Literakie (A vida Literária).
Wislawa Szymborska, na sua poesia, aborda temas como o Holocausto, a Segunda Guerra Mundial, a ocupação soviética e a transição para a democracia, a situação atual polaca.
Em 2007, juntou-se aos intelectuais polacos que acusaram a direita conservadora dos irmãos gémeos Lech e Jaroslaw Kaczynski (então Presidente da República e Primeiro-Ministro, respetivamente) de "não compreenderem" a democracia e "tentarem enfraquecer e renegar instituições de um Estado democrático como os tribunais independentes e os Media livres".
No aeroporto
Correm um para o outro de braços abertos,
exclamam ridentes: Até que enfim! Enfim!
Ambos vestidos com agasalhos de inverno,
gorros de lã,
cachecóis,
luvas,
botas,
mas só para nós.
Porque um para o outro estão nus.
Tradução do polaco de Teresa Swiatkiewicz
A autora, que se destacou por uma poesia mesclada de emoção, ironia, e pela habilidade de usar trocadilhos, ao longo da sua carreira ganhou vários prémios e, em 1996, aos 73 anos, ganhou o Prémio Nobel da Literatura.
Segundo a Academia Sueca "por uma poesia que com precisão irónica permite que os contextos históricos e biológicos reluzam em fragmentos de realidade humana". O Comité do Nobel considerou-a o "Mozart da poesia".
Sempre que lhe perguntavam por que escrevia poesia, respondia com um simples "Isso eu não sei".
Aos 88 anos de idade, a 1 de fevereiro deste ano, faleceu, vítima de cancro do pulmão.
Os poemas de Szymborska exploram situações pessoais, mas são ao mesmo tempo tão genéricos que permitem à sua autora evitar confidências. No seu conhecido poema sobre um gato num apartamento vazio, em vez do lamento pela perda do marido de uma amiga lemos:
GATO NUM APARTAMENTO VAZIO
Morrer não é coisa
que se faça a um gato.
Que há-de um gato
fazer
num apartamento
vazio?
Subir às paredes?
Roçar-se nos
móveis?
Aparentemente não
mudou nada
e no entanto está
tudo mudado.
Continua tudo no
seu lugar
e no entanto está
tudo fora do sítio.
E à noite a
lâmpada já não está acesa.
Ouvem-se passos
nas escadas,
mas não são os
mesmos.
A mão que põe o
peixe no prato
também já não é a
que o punha.
Há aqui qualquer
coisa que já não começa
à hora do costume,
qualquer coisa que
não se passa
como deveria
passar-se.
Havia aqui alguém
que há muito estava e estava
e que de repente
desapareceu
e agora
insistentemente não está.
Procurou-se em
todos os armários,
revistaram-se as
estantes,
espreitou-se para
debaixo do tapete.
Violou-se até a
proibição
de desarrumar os
papéis.
Que mais se pode
fazer?
Dormir e esperar.
Quando regressar,
ele vai ver,
ele vai ver quando
chegar.
Vai ficar a saber
que isto não é
coisa que se faça a um gato.
Caminhar-se-á em
direcção a ele
como que
contrariado,
devagarinho,
com patas amuadas.
E nada de saltos
ou mios. Pelo menos ao princípio.
Tradução de Manuel António Pina
Os seus poemas foram traduzidos em 36 línguas e em Portugal foram publicados 3 livros que se encontram esgotados e que a Biblioteca Municipal infelizmente não dispõe para empréstimo domiciliário.
Mas, não deixe de nos visitar.
Esperamos por si.
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