novembro 28, 2025

CANÇÃO DO PROFETA

 


Paul Lynch nasceu a 9 de maio de 1977, em Limerick, Irlanda.
É conhecido pela sua prosa intensa, poética e profundamente emocional. Antes de se dedicar totalmente à ficção, foi crítico de cinema e jornalista.
Autor de vários romances premiados, venceu em 2023 o Booker Prize, um dos mais importantes prémios britânicos para livros em língua inglesa, com o romance Canção do Profeta, a nossa sugestão de leitura para o fim de semana.
Escrito quase sem pausas, com descrições imagéticas e sensoriais, o romance cria uma República da Irlanda num regime totalitário após a ascensão da extrema-direita ao poder.

Segundo os jurados, a obra "é um triunfo da narrativa emocional, estimulante e corajosa. Com grande vivacidade, Canção do Profeta capta as ansiedades sociais e políticas do nosso momento atual. Os leitores acharão isso comovente e verdadeiro, e não esquecerão tão cedo os seus avisos."

Em 2024, foi nomeado Distinguished Writing Fellow da Universidade de Maynooth e eleito para a Aosdána, a academia irlandesa das artes que honra artistas distintos. Os seus romances estão traduzidos em mais de 30 línguas.


Numa noite escura e chuvosa em Dublin, a cientista e mãe de quatro filhos Eilish Stack abre a porta de sua casa e depara-se com dois oficiais da recém-formada polícia secreta da Irlanda que pretendem interrogar o seu marido, um sindicalista. Depois do marido, também o seu filho mais velho desaparece.
A Irlanda está a desmoronar-se. O país está sob o domínio de um governo que se inclina para a tirania e Eilish só pode assistir impotente enquanto o mundo que conhecia desaparece.
Até onde irá ela para salvar a sua família? E o que - ou quem - está disposta a deixar para trás para o conseguir?


"Eu estava a tentar ver o caos atual. A agitação nas democracias ocidentais. O problema da Síria - a implosão de uma nação inteira, a escala da sua crise de refugiados e a indiferença do Ocidente. A invasão da Ucrânia nem sequer tinha começado. Não consegui escrever diretamente sobre a Síria, por isso simulei o problema na Irlanda." 


"(...) Não tenho o direito de entrar nesta casa. Certo. Isso pensa você. Não sou eu que penso, é um facto perante a lei. Um facto. Sim, há um Estado de direito, não pode infringir os nossos direitos desta maneira. Um Estado de direito. Exatamente. Diz essa palavra, direito, como se compreendesse o que significa, ora diga-me lá que direitos nasceram com o homem, mostre-me lá em que tábuas estão inscritos, onde é que a natureza decretou que é assim."



"Um dos romances mais importantes desta década."
                                                                                                      Ron Rash


novembro 19, 2025

EU VOU ENCONTRAR-TE



Estão no segredo dos Deuses as filmagens da nova série da Netfilx 
de mais um thriller de Harlan Coben

 


Enquanto isso ... 

a Biblioteca Municipal tem para empréstimo domiciliário o mais recente e alucinante thriller que a Netflix irá apresentar possivelmente em 2026 

Seja o primeiro a saber se ele o vai encontrar




"Mathew tem três anos e vive com os pais, David e Cheryl Burroughs. A vida da família parece um sonho, mas... o pior acontece: David acorda a meio da noite, coberto de sangue do filho, e é condenado a prisão perpétua. Ele sabe que é inocente, mas as provas põe-no atrás das grades. 
Cinco anos passam, e a irmã de Cheryl visita David na prisão. Consigo, leva uma fotografia que uma amiga tirou. No fundo da imagem, está um menino. Esse menino parece-se muito com Matthew. David sente imediatamente que o filho está vivo, tem a certeza, e a única solução é fugir parta o encontrar.
Qual será a verdade?  
Conseguirá rever Matthew e provar a sua inocência?
Quem está por trás de tudo aquilo?"



"A história e a forma como está contada são de génio"
                                                                                                       Financial Times







Harlan Coben é um dos autores mais requisitados na Biblioteca Municipal.
Nasceu a 4 de janeiro de 1962, em Newark, Nova Jersey. Ao longo dos anos construiu uma carreira de sucesso escrevendo thrillers cheios de mistério e suspense, com personagens cativantes. A sua escrita tem um estilo dinâmico que envolve e prende o leitor do principio ao fim.
Foi o primeiro autor a vencer os três mais prestigiados prémios da literatura policial nos Estados Unidos da América: o Edgar Award, o ShamusAward e o Anthony Award.
Tem mais de 80 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo e a sua obra está traduzida em 45 línguas.



"- E o quê? - A voz de Cheryl era puro gelo. - Viste um miúdo parecido com o meu filho morto e resolveste dar cabo da vida de toda a gente?
Da tua vida, não, pensou Rachel, mas achou que era melhor não o dizer."











novembro 14, 2025

SÓ NESTE PAÍS

"Chorávamos de tanto rir conforme nos íamos lembrando de mais histórias esquecidas da política portuguesa. Foi um jantar épico, ainda na década de 2010 (por sinal, num restaurante japonês, como se ali me fosse adivinhado o futuro), e assim se fez a três o acordo, por unanimidade e aclamação, de que voltaríamos a fazer um livro em conjunto, desta vez sobre o labo B da política portuguesa (B de bizarro, boçal, balbúrdia, bárbaro, bobo, banzé, biltre, burlesco, biruta, bazófia, barafunda, baderna, bagunça, bem-humorado)."


"Cada um tem a Marinha Grande que merece. No caso de Mário Soares, em janeiro de 1986, foi na Marinha Grande, e em grande: um estalo em cheio na cara, mais dois guarda-costas agredidos por operários das fábricas de vidro, enquanto o socialista dava o corpo ao manifesto. No caso de André Ventura, em janeiro de 2021, foi em Setúbal, e em pequeno: manifestantes que protestavam à distância acertaram no candidato do Chega... com uma caixa de pastilhas. Para Soares, foi a sorte grande - esse foi o momento de viragem para a sua vitória. Para Ventura, não foi sequer a terminação."


"Por muito bizarros, extravagantes ou inacreditáveis que pareçam os episódios
 que aqui contamos, estão documentados e registados.
 São património nacional, como os políticos que os protagonizaram. 
Isto só neste país."

Leitura descontraída que também ensina, ou recorda, os momentos mais desconcertantes e inesperados da política em Portugal.
É a nossa sugestão para o seu fim de semana.


Os autores, Filipe Santos Costa e Liliana Valente, jornalistas experientes e profundos conhecedores dos meandros políticos nacionais, passaram horas a folhear jornais, recolhendo histórias improváveis, inverosímeis, insólitas, mas nunca insossas.


"Diz-se que rir é o melhor remédio, qualquer que seja a maleita. Não faltam diagnósticos sobre o estado da nossa democracia e, na generalidade, o prognóstico é reservado. O futuro é incerto, o presente é instável, e o passado não é brilhante. E no entanto, chegámos aqui."


Tem curiosidade sobre a política portuguesa? 
Este livro é para si.



novembro 05, 2025

CRIME NAS CORRENTES D'ESCRITAS

"Foi no ano em que as ainda jovens escritoras Tânia Ganho e Gilda Barata participaram pela primeira vez nas Correntes d' Escritas que ocorreu o inesperado e misteriosos desaparecimento do manuscrito que o veterano jornalista e também famoso ficcionista, Mário Zambujal, pretendia apresentar à direção do celebrado evento, pensa-se que com vista à obtenção de um patrocínio da parte da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim destinado à sua publicação."


Germano Almeida nasceu a 31 de julho de 1945 na ilha da Boa Vista e é um dos mais importantes escritores cabo-verdianos contemporâneos.
Formou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa e, depois de regressar ao seu país, exerceu advocacia e foi mais tarde procurador da República.
Além da carreira jurídica, destacou-se na literatura e retrata de forma singular a sociedade cabo-verdiana, com humor, ironia e com um olhar crítico sobre as contradições do seu país.
Pelo conjunto da sua obra, reconhecida pela originalidade, humor e profundidade social, foi em 2018 distinguido com o Prémio Camões, o mais importante galardão literário em língua portuguesa.
Tem obras publicadas no Brasil, França, Espanha, Itália, Alemanha, Suécia, Holanda, Noruega, Dinamarca, Cuba, Estados Unidos, Bulgária e Suíça.

"Desde a primeira edição das Correntes d' Escrita que fui sucessivamente convidado a nela participar, pelo que devo seguramente contar umas vinte presenças. (...) E foi desses dias de agradável convívio que me surgiu a ideia de escrever uma paródia que deveria passar-se durante os quatro dias de uma edição das Correntes, e que decorreria à volta de um misterioso desaparecimento de um manuscrito  pertencente a um dos escritores convidados."



Este romance, que hoje divulgamos, é uma divertida e irónica homenagem ao próprio mundo literário e ao famoso festival de escritores que se realiza 
na Póvoa de Varzim - as Correntes d' Escritas. 
O romance mistura ficção policial e sátira e mostra como se comportam 
os escritores quando se reúnem para falar de literatura.



"A gente tem que aprender com quem sabe como se faz, e olha que ninguém vai estranhar, nem mesmo esses pretos, eles estão, não diria já habituados, direi antes, já treinados para serem acusados de qualquer coisa má que aconteça em qualquer lugar e recebem a acusação sem refilar. (...)
Está bem, contemporizo, vamos então arranjar outra mais convincente, deixemos os palops gozarem as Correntes d' Escritas em paz, acabaremos por encontrar alguma outra vítima que nos sirva, é pena não estar nenhum escritor cigano nestas jornadas literárias".








outubro 31, 2025

O QUE TERÁ JANTADO ...

"(...) Comecei a questionar-me sobre o que poderiam dizer aqueles que estavam na cozinha em momentos chave da História. O que poderia estar a borbulhar nos tachos enquanto se jogavam os destinos do mundo? 
(...) Rapidamente, surgiram outras perguntas. O que terá comido Saddam Hussein depois de ter mandado gasear dezenas de milhares de curdos? Não terá tido dores de barriga? E o que comia Pol Pot na época em que quase dois milhões de Khmers morriam à fome? E o que jantou Fidel Castro quando pôs o mundo à beira de uma guerra nuclear? qual deles gostava de comida picante? Quem comia muito e quem se limitava apenas a debicar o que punha no prato? (...)
Não tinha escolha. Tantas eram as perguntas à espera de resposta que tive de ir à procura dos cozinheiros dos ditadores."


Witold Szablowski é um premiado jornalista e escritor polaco nascido em 1980. É conhecido pelas suas reportagens que cruzam história, política e experiências humanas marcantes. Trabalhou como repórter no jornal Gazeta Wyborcza, onde se destacou pelo olhar sensível e crítico sobre a realidade pós-comunista.


"(...) Levei quase quatro anos a escrever este livro. Durante esse tempo, passei por quatro continentes: desde uma aldeola esquecida por todos na savana queniana, às ruínas da antiga Babilónia no Iraque, ou à selva do Camboja, onde se esconderam os últimos Khmers Vermelhos.
(...) Foi-me difícil convencê-los a conversar comigo. Alguns ainda não tinham recuperado do trauma de trabalhar para alguém que podia matá-los a qualquer momento.
 (...) Graças às conversas com os cozinheiros, compreendi como os ditadores aparecem no mundo. É um conhecimento importante num tempo em que, segundo o relatório da organização americana Freedom House, há quarenta e nove países governados por ditadores. Ainda por cima, este número tem crescido constantemente. O ambiente atual é favorável a ditadores e vale a pena sabermos o mais possível sobre eles."

Para leitura no seu fim de semana, escolhemos um livro que apresenta as histórias
 dos cozinheiros que trabalharam para Saddam Hussein (Iraque), Idi Amin Dada (Uganda), 
Enver Hoxha (Albânia), Fidel Castro (Cuba) e Pol Pot (Camboja). 

O livro mostra-nos que até na cozinha dos ditadores há histórias 
que dizem muito sobre o século XX e sobre a condição humana.



 
Um livro de leitura compulsiva a que não falta, 
mesmo sob um pano de fundo de horrores, uma pitada de humor.




outubro 16, 2025

A ÚNICA MULHER NA SALA



"A minha voz soou calma, uma emoção completamente contrária ao que eu estava a sentir:
- Deixem-me ver se compreendi. Estão a recusar a nossa invenção, que nos tornaria praticamente invencíveis nos mares, só porque eu sou mulher? E uma mulher famosa que preferiam pôr a vender títulos de guerra em vez de vos ajudar a criar armas eficazes? Sabem que posso fazer as duas coisas, se é isso que querem: vender os títulos de guerra e ajudar-vos a melhorar os torpedos."


"- (...) Mas, já que levantou a questão, tenho de admitir que nos custaria um bocado fazer depender a vida dos nossos soldados e marinheiros de um sistema de armamento inventado por uma mulher. E não estamos dispostos a correr esse risco."


Na altura, os militares norte-americanos não souberam apreciar a utilidade do invento que Hedy Lamarr lhes oferecera. Só muitos anos mais tarde, em 1962, aquando da crise dos mísseis cubanos, é que a tecnologia de Lamarr foi utilizada para interceptar as comunicações e o controlo dos torpedos. Atualmente, este método é utilizado pelos sistemas de posicionamento via satélite, como o GPS, e foi o precursor do WiFi.
Quando as suas capacidades e feitos foram finalmente reconhecidos, já era demasiado tarde. A sua amargura aumentara ao ponto de, quando lhe comunicaram que fora premiada com o Pioneer Award em 1997, ter ficado imperturbável e dito: It's about time (Até que enfim).
No verão de 1999,  Kunsthalle de Viena organizou um projeto multimédia em homenagem à atriz e inventora mais singular do século XX.
Na Áustria, seu país natal e em sua homenagem,  o Dia do Inventor celebra-se a 9 de novembro, data do seu nascimento.

O romance que hoje divulgamos fala-nos da austríaca Hedy Lamarr, que encheu as salas de cinema nas décadas de 1930 e 1940. Protagonizou o primeiro nu integral da história do cinema e foi considerada uma das atrizes mais belas de Hollywood.
A sua faceta de atriz eclipsou por completo a sua dimensão de inventora.

"Qualquer rapariga pode ser glamorosa. 
Tudo o que precisa de fazer é ficar quieta e parecer estúpida", disse ironicamente.




Ela é linda. E é um génio.
Será um mundo dominado por homens capaz de a aceitar?

Marie Benedict

"Todos os dias, quase todos nós pegamos num objeto idealizado - ainda que indiretamente - por Hedy Lamarr. 
Que pedaço literal da História é este? Trata-se de um objeto que não pude abordar neste livro, dado o seu alcance e âmbito temporal. É o telemóvel. Mas como raio é que uma invenção patenteada por uma estrela de cinema espampanante em 1942 se pode ter tornado a base para o moderno telemóvel, um aparelho que transformou por completo o nosso mundo?
Como provavelmente já sabem, A Única Mulher na Sala explora a vida singular e frequentemente inacreditável da mulher que ficou célebre como a estrela de cinema Hedy Lamarr. Se eu tiver feito bem o meu trabalho, o livro também revela alguns aspetos bastante menos conhecidos da sua vida: a sua infância como jovem judia numa Áustria extremamente católica; o seu casamento tão surpreendente quanto perturbador com o fabricante e vendedor de armas Friedrich "Fritz" Mandl, de quem acabou por fugir; e, talvez a parte mais importante, o tempo que passou a desenvolver invenções que esperava poderem ajudar os Aliados a derrotar os nazis na Segunda Guerra Mundial."


"Um retrato brilhante de uma mulher que tem consciência do poder
 da sua beleza,  mas que deseja ser reconhecida pelo seu intelecto aguçado.
Os leitores vão ficar fascinados"
                                                                  Publishers Weekley




outubro 08, 2025

APAGAR A HISTÓRIA





Jason Stanley, nasceu nos Estados Unidos em 1971.
É um filósofo e professor, amplamente reconhecido pelos seus estudos sobre liberdade de expressão, autoritarismo, democracia e propaganda. 
Filho de um refugiado judeu alemão que escapou ao regime nazi, a sua história familiar influenciou o seu interesse pelos mecanismos do autoritarismo e da manipulação ideológica. É igualmente um ativo comentador em debates públicos sobre democracia, extremismo e desinformação, colaborando regularmente com jornais  e outros meios de comunicação internacionais. 
No final de março deste ano, Jason Stanley anunciou que ia deixar a Universidade de Yale, onde é professor desde 2013, e mudar-se para a Munk School na Universidade de Toronto por causa da política de Donald Trump. Garante que já há aspetos fascistas no seu país e diz não ter a certeza de que não chegará o dia em que personalidades da oposição não venham a ser presas.


"Os pilares da democracia são as escolas, as universidades, 
os media e o sistema judicial.
 E eles estão a ser atacados."
                                                                                                                      Jason Stanley


Jason Stanley argumenta que vivemos um momento global em que há um ressurgimento dos movimentos autoritários ou fascistas, e que uma das suas estratégias chave é manipular, reescrever ou apagar o passado - sobretudo na educação - como forma de controlar o futuro.



"Este livro também foi escrito na véspera das eleições americanas, que ameaçam mergulhar o meu próprio país no autoritarismo, aparentemente de bom grado, sem um regime fascista externo como a Rússia a ameaçar-nos. O movimento autoritário tem travado uma guerra em múltiplas frentes contra a democracia norte-americana. As escolas, a imprensa e os adversários políticos têm sido denegridos como antiamericanos. Os direitos laborais, a ação contra as alterações climáticas e os direitos das mulheres têm sido restringidos em nome de pretensos valores norte-americanos (capitalismo e cristianismo). A fase seguinte consiste em atacar a própria democracia com a mesma acusação."  
                                                                                                                            In, Apagar a História 


Como a extrema-direita tenta reescrever a história e desfazer décadas de progresso em matérias de raça, género, sexo e classes.

O autor expõe o verdadeiro perigo dos ataques da direita autoritária à educação, identifica as suas principais táticas e financiadores, e traça as suas raízes intelectuais. Explica também, como as escolas e universidades das sociedades democráticas estão mal preparadas para se defenderem do ataque fascista em curso.





"Jason Stanley denuncia o projeto de ataque mundial fascista à história. 
Leitura obrigatória para combater o autoritarismo e a desinformação."
                                                                                                                         Anthea Butler






outubro 03, 2025

COMO PODIA AQUILO TER ACONTECIDO?


Continuamos a dar destaque às novas aquisições e hoje 
sugerimos para leitura do seu fim de semana,
 o romance de estreia de Leonor Sampaio da Silva,
 finalista do Prémio Leya em 2023

Passagem Noturna



Certa noite, um fenómeno natural súbito e inexplicável deixa um hotel completamente isolado e rodeado por uma cratera funda, o que não só resulta numa perda de liberdade de movimentos para os hóspedes (que não podem sair e têm de passar a ocupar posições específicas para não desequilibrarem um edifício em perigo de derrocada), mas também num convívio forçado entre pessoas de contextos e gerações muito diferentes que eventualmente nunca chegariam a conhecer-se.
O "sinistro"- como virá a ser referida a catástrofe - é pressentido pela filha do Engenheiro responsável pela construção do hotel, uma pré-adolescente que perdeu a mãe em circunstâncias pouco claras dois anos antes; leitora voraz e de imaginação fértil, a Menina Sem Sorte Nenhuma crê que recebeu a mensagem do abalo e, cansada das namoradas do pai, resolve lançar-se numa aventura, pondo-se em contacto com a Guia Turística que se encontra sitiada no hotel.




"No dia seguinte, ninguém sobreviveu. Assim poderia começar este livro - com a história de um crime em tudo oposto à ficção de Saramago. Mas não foi dessa maneira que as autoridades competentes classificaram o acontecimento. Uma catástrofe. Uma tragédia. Um credo na ponta da língua. Uma desgraça, meu Deus, nas pontas de outras línguas. Um agora-é-arregaçar-as-mangas-e-aprender-com-os-erros-do-passado, nas línguas mais práticas. Diria Saramago que aprenderam sobretudo os que não sobreviveram e que pouco nos valerá a lição, pois não estarão cá para no-la contar. Mas eu estou e, tendo sobrevivido, contarei a minha versão."



Leonor Sampaio da Silva é natural de Ponta Delgada, ilha de São Miguel.
É professora Associada no Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade dos Açores. Além do seu trabalho académico, dedica-se à escrita literária, contando com várias obras publicadas, nos géneros do conto e da poesia. Estreou-se como escritora com o livro de contos Mau Tempo e Má Sorte - contos pouco exemplares, que foi distinguido com o Prémio de Humanidades Daniel de Sá em 2014.
Passagem Noturna é o seu romance de estreia e foi finalista do Prémio LeYa em 2023.

"Do outro lado da cratera, o Senhor Engenheiro fez uma recomendação surpreendente: pediu ao Diretor do Hotel que mandasse todos os hóspedes para os seus quartos. Com o peso dos turistas concentrados no lóbi, o edifício inclinara-se para sul e ele ainda não decidira se essa seria a melhor direção da derrocada"


BOA LEITURA



setembro 24, 2025

A LIBERDADE PERDE-SE AOS POUCOS. MILTON MAYER MOSTRA-NOS COMO

Milton Sanford Mayer, 1908-1986

"Como americano, a ascensão do nacional-socialismo na Alemanha causou-me repugnância. 
Como americano de ascendência alemã, encheu-me de vergonha.
 Como judeu, deixou-me destroçado. 
Como jornalista, senti-me fascinado."

Milton Sanford Mayer foi professor, jornalista e publicou mais de uma dezena de livros. Estudou na Universidade de Chicago e foi jornalista na Associated Press, no Chicago Evening Post e no Chicago Evening American, tendo-se notabilizado por uma coluna mensal que manteve durante 40 anos na revista The Progressive.

Deu aulas em várias universidades americanas antes de, depois da Segunda Guerra Mundial, se mudar para a Alemanha para viver e conversar com várias famílias alemãs. Quis entender como pessoas aparentemente "normais" (trabalhadores, professores, lojistas, funcionários) puderam aceitar, apoiar ou pelo menos tolerar o regime nazi e as suas atrocidades. Para isso entrevistou 10 homens, da classe média e baixa alemã e que tinham sido membros do Partido Nazi.



O livro reúne depoimentos, reflexões e análises sobre a vida quotidiana durante o Terceiro Reich. O autor mostra-nos como o nazismo se infiltrou de forma gradual, normalizando as políticas repressivas e autoritárias ao ponto de as pessoas se irem adaptando sem grande resistência.
Eles Pensavam Que Eram Livres mostra-nos que o nazismo não resultou apenas da existência de líderes carismáticos e violentos, mas também da aceitação passiva de milhões de pessoas que acreditavam estar a viver normalmente. Não foi só o terror e a propaganda que susteve o regime mas também o consentimento passivo de cidadãos comuns.

Este livro, que faz parte das novas aquisições da Biblioteca Municipal, foi originalmente publicado em 1955. No entanto, continua a  ser citado em debates sobre extremismo, populismo e sobre as fragilidades das democracias contemporâneas.


"Os nazis não eram extraterrestres e não vieram de outro planeta. Foram sendo criados, passo a passo, a partir de pessoas comuns. Foram esses nazis comuns que Milton Mayer, um judeu americano de ascendência alemã e convertido ao cristianismo, decidiu que tinha de conhecer. Desse encontro resultou este livro tão fascinante quanto assustador - um alerta sobre como a passividade se torna cumplicidade nos regimes autoritários."
                                                                                                                                           Rui Tavares



A Liberdade não se perde de repente, perde-se aos poucos 
- quando deixamos de a defender.



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