março 01, 2023

A POESIA ESTÁ VIVA E DE BOA SAÚDE


O gato lembra-se de ti nos intervalos. Espera
de olhos acesos as histórias que nos contas.
Passeia-se inquieto sobre o meu parapeito e eriça
o pêlo, cúmplice, quando pressente que regressas.

Chegas sempre de noite. Sei quem és e ao que vens
e ofereço-te o silêncio de um pequeno quarto recuado,
as sombras das traseiras na minha pele, o tempo
de repetir um gesto inevitável. Ouço-te contar
a mesma lenda com lábios sempre novos. Aprendo-a
e esqueço-a. Nunca a saberemos de cor, o gato ou eu.

Depois partes. Levas contigo a tua voz, mas a música
fica. Eu fecho as portadas devagar. O gato mia baixo
à janela. Ninguém acena: guardamos com os outros
o segredo das tuas visitas. Ambos. O gato e eu.

                                                                                                                     Maria do Rosário Pedreira, 
                                                                                                                     In, Poesia Reunida




Maria do Rosário Pedreira foi a vencedora do Prémio Correntes d'Escritas de 2023.
O Prémio Literário Casino da Póvoa de 2023 foi atribuído ao livro de poesia O Meu Corpo Humano, editado em 2022 pela Quetzal.
O Meu Corpo Humano, foi a escolha do júri composto por Fernando Pinto do Amaral, Helena Vasconcelos, José António Gomes, José Mário Silva e Patrícia Portela, "pela sua coerência temática e estilística, bem como pela sua ousadia na forma como aborda a experiência do corpo humano nas suas múltiplas dimensões (como o desejo, a memória, a morte), incluindo a relação do eu com o outro".


Maria do Rosário Pedreira, escritora, poetisa e editora nasceu em Lisboa a 21 de setembro de 1959.
É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Franceses e Ingleses. 
Como editora tem-se dedicado à descoberta e divulgação de novos autores portugueses.
Estreou-se na poesia em 1996 e a sua poesia está representada em numerosas antologias e revistas portuguesas e estrangeiras. Além de poesia, escreveu o romance Alguns Homens, Duas Mulheres e Eu
 e duas séries de livros juvenis que foram adaptados à televisão.
Recebeu vários prémios literários e participa regularmente em encontros de escritores nacionais e estrangeiros.
Poesia Reunida, publicado em 2012, e que hoje divulgamos aos nossos leitores, foi distinguida com o Prémio da Fundação Inês de Castro.
Mantém o blogue Horas Extraordinárias (horasextraordinarias.blogs.sapo.pt), no qual partilha a sua paixão pelos livros.




"Um pequeno livro de poesia que é um pequeno mundo,
que é uma pequena vida.
A boa poesia é assim: preciosa"
                                                                            José Luís Peixoto




fevereiro 24, 2023

SLAVA UKRAINI

 


"A aparição da Ucrânia no palco central da política europeia e depois americana não é um acaso. A Ucrânia, a maior república pós-soviética a seguir à Rússia e atualmente alvo de agressão por parte desta, nos últimos anos tornou-se num campo de batalha. Ao contrário dos seus vizinhos eslavos a Leste, a Rússia e a Bielorrússia, a Ucrânia manteve sempre instituições e políticas democráticas durante os tumultuosos anos da transição pós-soviética e voltou-se para o Ocidente nas suas aspirações geopolíticas sociais e culturais."
In, A Porta da Europa: Uma História da Ucrânia


"O alvo dos russos não é apenas (...) a Ucrânia, 
o alvo é a estabilidade na Europa e toda a ordem internacional de paz 
e responsabilizaremos o presidente Putin por isso." 
Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia
24/02/2022

Faz hoje um ano que Vladimir Putin invadiu a Ucrânia com a sua autodenominada "Operação Militar Especial". Esperava com isso dominar o território ucraniano rapidamente e tirar do poder Volodymyr Zelensky. A "Operação Militar Especial" devia durar três dias, o tempo necessário para derrubar Zelensky e instalar em Kiev um regime  fantoche. Um ano depois, o presidente ucraniano continua no poder, as forças russas estão entrincheiradas no Donbass e os dois lados estão preparados para continuar as hostilidades.


O que causou a crise na Ucrânia?
Que papel desempenha a história nestes acontecimentos?
O que diferencia os ucranianos dos russos?
Quem tem direito à Crimeia e ao leste da Ucrânia? 
Porque têm as ações ucranianas repercussões internacionais profundas? 




A nossa sugestão de leitura, para responder a estas e outras perguntas.
Para compreender os acontecimentos atuais na Ucrânia e o seu impacto no mundo.
 







fevereiro 17, 2023

À PROCURA DO SEU EU INTERIOR


 Comece por espreitar atrás das almofadas do sofá.
É onde tudo se encontra, do comando da televisão 
ao verdadeiro eu!



Passagem para a Índia

"A Serra Nevada é o destino preferido para quem quer esquiar e ficar com um pantone Cinha Jardim na tez, em pleno mês de fevereiro (se é, ou foi, banqueiro, onde se lê "Serra Nevada" deve ler-se "Alpes Suíços"). Nova Iorque ou Tóquio são destinos de eleição para quem aprecia grandes metrópoles. O Brasil é a escolha certa para quem fica "doidão" com o Carnaval (quem fica maluco com o Entrudo mas tem menos orçamento pode ficar pela Mealhada, e ainda come leitão). (...)
O mesmo acontece se dissermos que a Índia é o destino número um para quem procura o seu eu interior. E é isto que eu não consigo entender.
Porquê a Índia?! As associações Serra Nevada-snowboard, Nova Iorque-agitação Rio de Janeiro-sambódromo são coisas que entendo com facilidade. Já a ligação entre a Índia e a autodescoberta custa-me mais a entender.
Normalmente, procuramos as coisas em lugares onde já estivemos. Se perdi a carteira, volto ao estabelecimento onde almocei para perguntar se alguém a viu. Se nunca pus os pés na Índia, por que raio me passa pela cabeça que o meu verdadeiro eu tenha ficado lá? Era mais provável encontrá-lo em Trás-os-Montes, na aldeia de um trisavô, do que num ponto remoto da Índia. Há um sem-fim de motivos para viajar até à Índia: visitar o Taj Mahal, ver de perto o rio Ganges, comer um chicken tikka masala melhor do que aquele do indiano na Almirante Reis, enfim...  (...).
Já todos perdemos um amigo para a Índia. Se ainda não vos aconteceu, deverá estar para breve. E preparem-se, porque é terrível para todas as pessoas que o rodeiam. (...)"


Com a nossa
sugestão de leitura para este fim de semana
vai conseguir descobrir o seu eu interior 
sem precisar de gastar dinheiro numa viagem à Índia.





Ao longo destas páginas vai encontrar conselhos muito úteis para pensar positivo em todas as situações (sim, até na Loja do Cidadão quando faltam 167 senhas), ideias peregrinas para cultivar a sabedoria, a auto-estima, o amor-próprio (e tudo o mais que queira cultivar, quem sabe uma horta caseira...)
Este livro vai dizer-lhe a verdade. E a verdade é como as vacinas: na maioria das vezes dói.
No fundo, este livro é o equivalente àquele amigo muito sincero que lhe diz as verdades todas na cara. É um trabalho sujo, mas alguém tem de o fazer.



Joana Marques nasceu em Lisboa no dia 3 de janeiro de 1986. Seis anos mais tarde, graças à ajuda de uma mental coach, vulgo professora primária, conseguiu aprender a escrever. A partir daí, manteve o foco, acreditou em si, teve pensamentos positivos e nunca mais parou. Escreveu post its, cartas, livros de reclamações e, também, de forma profissional. Guionista desde 2007, foi autora e apresentadora, com Daniel Leitão, do programa Altos&Baixos e, também, na sua versão ao vivo. Faz parte da equipa do programa As Três da Manhã na Rádio Renascença, onde é responsável pela rubrica "Extremamente Desagradável". Era o elemento mais baixo da equipa de autores do programa Gente que não sabe estar, de Ricardo Araújo Pereira.
Foi nomeada Personalidade Feminina Rádio 2019 pela Revista Lux.
Em 2022 recebeu o Globo de Ouro de Personalidade do Ano Digital na categoria Entretenimento.
Viver cada dia como se fosse o último parece perigoso, por isso gosta de viver cada dia como se fosse o primeiro. Gosta de observar o mundo como se tivesse acabado de cá aterrar.
Podemos ler a sua coluna na revista Visão, todas as quintas-feiras, na sala de periódicos da Biblioteca Municipal. 
Desiludida com os livros de auto-ajuda, resolveu escreveu um livro de anti-ajuda, que hoje sugerimos como leitura de fim de semana e que faz parte da mostra bibliográfica O Humor na Literatura, patente no átrio da Biblioteca Municipal.




"Se toda a gente fundisse os fusíveis nesta loucura da autodescoberta quando pisasse solo indiano, os Da Vinci nunca teriam conseguido escrever essa obra-prima que dá pelo nome de Conquistador. O poema iria só até Angola, Moçambique, Goa e ... parou aí. Já não havia Macau para ninguém, nem Timor tão-pouco. Chegavam à Índia e não queriam conhecer mais nada."








fevereiro 08, 2023

O MUNDO REAL É O BAIRRO

Fotografia de Ana Brígida

Cláudia Araújo Teixeira nasceu no Porto, tem três filhos e um cão. Estudou Direito, chegou a pensar em ser advogada, influenciada pela série "Teias da Lei", mas depressa percebeu que, na sua vida, os tribunais fariam parte apenas da ficção. 
Acabou por se licenciar em Ciências da Comunicação e fez carreira na área editorial. Trabalhou com muitos escritores que admira, como Paul Auster e Arturo Pérez-Reverte, sem nunca lhe ter ocorrido dedicar-se à escrita.

A sua estreia literária acontece com o livro que hoje divulgamos,
  Uma vida Assim-Assim, escrito durante o confinamento. 




Às 21h08 do dia 13 de abril de 1970, enquanto a missão espacial Apollo 13 deixa o mundo em suspenso ao anunciar Houston, we´ve had a problem, Cristina Maria nasce num bairro social do Porto. A coincidência escapa por completo aos seus pais, que perdem assim a oportunidade de juntar uma boa história à já sobrelotada mitologia familiar.
A década de 70 está a dar os primeiros passos e um vislumbre de modernidade ilumina o país. As senhoras fazem a mise, os cinemas inauguram as sessões da meia-noite, diz-se bom-dia com Mokambo, abrem os primeiros centros comerciais... Mas se as melhores casas do país se rendem à alcatifa, no Bairro o linóleo não tem rival. Se milhões choram a separação dos Beatles, no Bairro baila-se alegremente ao som dos Diapasão. O Bairro é imune ao mundo, porque o Bairro é um mundo.
Cristina Maria sonha voar mais alto. Vai conhecendo a cidade que pulsa para lá dos limites do Bairro. Descobre-se e reinventa-se nesse lugar. Ela, que se sente especial desde que tem consciência de si, será posta à prova uma e outra vez. Debate-se entre dois mundos igualmente reais, igualmente cruéis. Mas fez uma promessa a si mesma e não tenciona falhar.



"As casas pequenas, encafuadas em blocos uniformes, só distintos pelos números nas fachadas e pelas cores, do amarelo tosco ao vermelho desmaiado, pareciam o resultado de um devaneio infantil. Tudo era quadrado, simétrico, acotovelado, melting pot de cheiros, sons e vidas em metros quadrados compatíveis com um cubo Rubik. Nascer no Bairro é nascer com autossuficiência social. O mundo lá fora é uma abstração, uma espécie de ficção na qual os seus habitantes são meros figurantes. O mundo real é o Bairro. E no Bairro todos são protagonistas"












fevereiro 03, 2023

SE A VIDA É APENAS UMA PASSAGEM, SOBRE ESSA PASSAGEM, AO MENOS, SEMEEMOS FLORES




"Os meus vizinhos são determinados. Não têm preocupações, não se apaixonam, não roem as unhas, não acreditam no acaso, não fazem promessas nem barulho, não têm segurança social, não choram, não procuram as chaves nem os óculos, o telecomando, os filhos ou a felicidade.
Não leem, não pagam impostos, não fazem dieta, não têm preferências, não mudam de opinião, não fazem a cama, não fumam, não fazem listas, não pensam duas vezes antes de falar. Não têm substitutos. 
Não são graxistas, ambiciosos, rancorosos, sedutores, mesquinhos, generosos, invejosos, desleixados, sublimes, curiosos, viciados, avarentos, sorridentes, maliciosos, violentos, apaixonados, mal-humorados, hipócritas, dóceis, duros, mudos, maus, mentirososladrões, jogadores, corajosos, falsos, crentes, pervertidos, otimistas.
Estão mortos.
A única diferença entre eles é a madeira do caixão: carvalho, pinho ou mogno."


O romance que hoje sugerimos para 
leitura do seu fim de semana
venceu os prémios Maison de la Press e o Prix des Lecteurs.
Está traduzido em mais de trinta línguas. 
Em Itália, no ano da sua publicação, foi o livro mais vendido.
Em 2018 foi adaptado ao teatro por Mikaël Chirinian e Caroline Rochefort,
Irá ser adaptado em televisão numa minissérie. 




Violette Toussaint é guarda de cemitério numa pequena vila da Borgonha. A sua vida é preenchida pelas confidências - comoventes, trágicas, cómicas - dos visitantes do cemitério e pelos seus colegas: três coveiros, três agentes funerários e um padre. E os seus dias pareciam ser assim para sempre. Até à chegada do chefe de polícia Julien Seul, que quer deixar as cinzas da mãe na campa de um desconhecido.
A história de amor clandestino da mãe daquele homem afeta de tal forma Violette, que toda a dor que tentou calar vem ao de cima. É tempo de descobrir o responsável pela tragédia que afetou a sua vida.
Atmosférico, tocante e - tantas vezes - hilariante, este é um romance de vida: dos que partiram e vivem em nós, da luz que se pode revelar mesmo na mais plena escuridão. Porque às vezes basta a simplicidade de um gesto, basta a frescura da água viva para nos devolver ao mundo, a nós mesmos e aos outros.

" O poder desta história é extraordinário.
Há muito tempo que não lia um romance tão bem escrito"
                                                                                                     Wall Street Journal


Valérie Perrin nasceu a 19 de janeiro de 1967 em Remiremont, Vosges e é atualmente uma das autoras mais importantes do panorama literário francês.
Foi fotógrafa de cena e cenógrafa e a nossa sugestão de leitura para o seu fim de semana, é o seu segundo romance, o primeiro publicado em Portugal.


"Os gatos vêm roçar-se nas minhas pernas. De momento, há onze a viver no cemitério. Cinco deles pertenciam a defuntos, pelo menos é o que me parece, pois surgiram no dia dos funerais de Charlotte Boivin (1954-2010), Olivier Feige (1965-2012) ...
Em geral, os visitantes gostam de encontrar os gatos no cemitério. Muitos dizem que os defuntos se servem dos felinos para enviarem sinais. Na campa de Micheline Clément (1957-2013) está escrito: " Se o paraíso existir, paraíso não será se eu não for aí recebida pelos meus cães e gatos"










janeiro 25, 2023

A TERRA PLANA

 

"Parece incrível, mas em pleno século XXI há pessoas que acreditam que a Terra, o nosso planeta, é afinal plana e que todas as teorias que sustentam o contrário não passam de um tremendo embuste.
Os crentes da teoria da Terra plana acreditam, basicamente, que há uma conspiração mundial envolvendo cientistas e agências espaciais para que todos acreditem que a terra é esférica. Para esta gente o nosso planeta é um gigantesco disco e não um globo, com o Polo Norte no meio e a Antártida delimitando todo o espaço envolvente através de um muro de gelo de 45 metros de altura. (...)
Mas Samuel Shenton não descansou e em 1956 fundou a International Flat Earth Reseatch Society - IFERS ( ou Sociedade de Pesquisa da Terra Plana, em português), da qual era presidente e conta com milhares de seguidores nos quatro cantos do mundo ... literalmente, entre os quais Mohammed Yusuf, fundador do grupo extremista Boko Haram e morto em 2009, o rapper norte-americano B.o.B e a atriz de filmes porno Tila Tequila.
As suas ideias doutrinam-se nas redes sociais em grupos do Facebook, posts no Twitter, vídeos no You Tube, forúns... e sites oficiais, meios por excelência para espalharem a "palavra". (...)


Para os defensores desta teoria, a Lua e o Sol também estão muito mais próximos do que aprendemos na escola, e medem apenas cerca de 51 quilómetros de diâmetro cada um, flutuando sobre o disco da Terra a uma distância de aproximadamente 4,8 mil quilómetros e 4,1 mil quilómetros, respetivamente. Em suma, o astro-rei e a sua companheira celestial não passam de dois penduricalhos daqueles que ficam sobre os berços das crianças, fazendo movimentos circulares que nos dão o dia e a noite. (...)
Tudo tem uma explicação mais racional, desde o nascer do sol, passando pelas marés, tudo é justificável, até a própria lei da gravidade, "justificada" com aquilo a que chamam de "aceleração universal", que consiste num movimento constante para cima, o que explica o facto de que quando pulamos não é o nosso corpo que volta à Terra, mas sim a Terra que vai em direção aos nossos pés.
Há de tudo um pouco. Para os seguidores desta linha de raciocínio, a sociedade e a teoria são como um tipo de exercício epistemológico, seja como crítica ao método científico, ou um tipo de "solipsismo para iniciantes", mas há também os que apenas acham que a certidão de sócio (disponível no site da sociedade) fica engraçada na sala de estar."



TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
de Fernando Neves
Oficina do Livro

Neste livro vamos tentar encontrar explicações sobre o que são, 
quem são os seus protagonistas e, sobretudo, 
como se propagam estas teorias da conspiração
feitas de histórias, mais ou menos fantasiosas, que são passadas de boca em boca 
e que têm atravessado gerações, marcando a nossa forma de ver mundo: O homem não foi à lua, Elvis não morreu, O Titanic não se afundou, Os Illuminati, Pizzagate, ... 




"Há até quem ache que a Terra é afinal ... plana, 
o que de certa forma justifica a expressão "quatro cantos do Mundo", 
e por outro lado há quem jure que a Terra é afinal esférica e ... oca 
e que no seu interior existe ... uma outra Terra!


FERNANDO NEVES, é mestre em Ciências da Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação pelo ISCTE, em Lisboa, onde se encontra a terminar o doutoramento em Ciências da Comunicação. Aos 20 anos estagiou na Rádio Renascença, experiência que lhe permitiu ingressar na Rádio Comercial e mais tarde na Antena 1, de onde saiu para fazer parte da equipa que fundou a TSF Rádio Jornal. Em 2008 regressou à Antena 1 para realizar "A sessão da noite", um projeto de autor que viria a inspirá-lo em anos futuros.
Das experiências da rádio nasceu o seu gosto pelas "Teorias da Conspiração", ou pelas histórias que lhe dão corpo. Ao longo de seis meses foi esse o tema dos 120 episódios transmitidos na Antena 1, constituindo um mundo repleto de mitos populares, lendas urbanas, fábulas místicas e superstições mais ou menos criativas. Chegou ao primeiro lugar dos podcasts mais ouvidos na plataforma digital Spotify e foi um dos programas mais ouvidos na RTP Play durante meses.









janeiro 18, 2023

18 DE JANEIRO DE 1934

 
Marinha Grande, 18 de janeiro de 1934


"Decorria o ano de 1934, quando o levantamento operário fez tremer Salazar e o perturbou seriamente.
Os acontecimentos tiveram o palco principal na vila vidreira. Em menor escala, atos semelhantes sucederam-se em diversos locais de país.
De 17 para 18 e durante todo o dia 18 de janeiro, aconteceram pelo país ações de desespero, tendo havido cortes de linhas telefónicas e telegráficas, descarrilamento de comboios, explosões, assaltos a postos policiais, etc., etc..
Contudo foi na Marinha Grande onde o movimento operário teve expressão, devido ao facto de maior coesão de trabalhadores. 
Desde 1922 que o fascismo se instalou na Itália sob a bitola de Mussolini, e, internacionalmente, na Alemanha de Hitler, em 1933.
Em julho de 1932, Salazar toma conta da chefia do governo e mantém o poder durante muitas décadas, fascizando o país e impondo ao seu maior inimigo - o movimento operário - a grilheta e o silêncio, a privação e a fome.
Promulga a 23 de setembro de 1933, o Estatuto do Trabalho Nacional e com ele, os Sindicatos Nacionais, os Grémios e as Corporações. Os Sindicatos Livres  foram encerrados e em 31 de dezembro de 1933, impedida a liberdade sindical.
Com a grande crise económica de 1929, crise mundial, suprimem-se as mais elementares liberdades individuais e aumenta-se a repressão e exploração sobre os trabalhadores. O desemprego e a coação sobre as massas operárias era tão evidente e tão anormal que o 18 de janeiro surgiu, como promissor e desejado salvador. Foi uma aventura arriscada, mas foram as aventuras que dignificaram os factos mais brilhantes da nossa história.
A classe operária, embora numericamente menor em relação à população ativa, sentia a necessidade de lutar contra a fascização dos sindicatos e contra o infeliz Estatuto do Trabalhador Nacional.
A proporção na luta era descomunal ... o desespero não tinha limites!


Edição do Diário de Notícias de 19 de janeiro de 1934

À data do movimento não existia, infelizmente, uma completa identificação de pontos de vista entre os trabalhadores nacionais, razão pelo fracasso do golpe.
No entanto, é digno de assinalar, a lição que hoje não devemos esquecer. Não foi uma inglória luta. Ela foi bem evidente e apesar de tingida com sangue e lágrimas dos gloriosos intervenientes, que sofreram na carne as injustiças dos opressores, vincou indelével, o querer, a força e a legitimidade da razão.
O sacrifício e o sofrimento da gloriosa juventude de 1934, não foi destituída de significado. Constituíram grandes ações, junto com tantas outras, que acumuladas, minaram o terror fascista, causando-lhe o derrube. 
E é ao recordar, hoje, passados cinquenta anos, que não olvidamos a lição dos operários que lutaram denodamente por melhores condições de vida.
Com gratidão, assinalamos a luta dos briosos trabalhadores. Foi um marco na história do operariado, uma estrela que há-de brilhar eternamente."

                                                                                                                   Edmundo Oliveira Órfão
                                                                                                                   In, O Pó Cheira a Flores








janeiro 11, 2023

OS NÚMEROS DE 2022

Como é habitual, vamos divulgar os números que resultam da atividade desenvolvida pela Biblioteca Municipal ao longo de 2022, tentando sempre estabelecer a comparação com os dados de anos anteriores. 
Como enquadramento, convém recordar que o início de 2022 foram meses conturbados na atividade da Biblioteca, marcados ainda por algumas restrições decorrentes do contexto pandémico e pelo processo de transferência das instalações provisórias para o nosso edifício sede, que obrigaram ao encerramento dos serviços entre o final do mês de março até ao dia 23 de abril, com reflexos inevitáveis na própria dinâmica da Biblioteca. Apesar destes constrangimentos, o número de livros emprestados ao longo do ano acabou por superar o dos anos anteriores, recuperando os níveis dos anos anteriores à pandemia covid-19.

O trabalho que a Biblioteca Municipal tem vindo a desenvolver ao longo dos anos, no sentido de ser um serviço público com impacto na comunidade, procurando ir ao encontro das necessidades manifestadas pelos utilizadores, de ser uma referência local no acesso gratuito à informação, promovendo o seu uso regular e presencial, tentando elevar os níveis de literacia, consciencializando para a importância da leitura na formação dos mais jovens, esta trajetória, apesar de ter sido interrompida nos anos mais atingidos pelas restrições impostas pela covid-19, já apresenta uma franca recuperação.

Também ao nível das inscrições de novos leitores é notória a recuperação face a anos pré-covid, sendo reflexo do regresso dos serviços ao edifício sede, com a possibilidade de termos todo o acervo bibliográfico disponível para consulta e empréstimo, a manutenção da gratuitidade dos serviços prestados e a retoma das atividades educativas em grupo, sem restrições, são fatores que motivam a comunidade local  a utilizarem os recursos da Biblioteca Municipal. Um dos fatores com forte impacto no aumento do número de novas inscrições está relacionado com o aumento da população imigrante, que escolheu a Marinha Grande para residir e trabalhar, em especial, a de língua portuguesa, que veem na Biblioteca um espaço que os acolhe sem qualquer tipo de limitações ou constrangimentos.





Registamos a continuidade da tendência de anos anteriores, que revelam que o género feminino requisita muito mais livros do que o género masculino, sendo a diferença bastante significativa, dado que 74% dos livros emprestados, ao longo de 2022, foram a leitores do género feminino e o género masculino representa apenas 26% do universo de leitores que requisitaram livros.




Outro dado que extraímos dos números de 2022, e que é uma tendência que se mantem já há alguns anos, é a reduzida percentagem de leitores que requisitam livros na faixa etária entre os 13 e os 17 anos. A faixa etária até aos 12 anos também não é muito elevada, mas aqui convém referir, que muitos dos livros destinados a esta faixa etária são requisitados pelos pais ou encarregados de educação, acabando por ser contabilizados pelo sistema informático como empréstimos na faixa acima dos 18 anos. 



Os livros mais requisitados em 2022





















janeiro 03, 2023

EXPOSIÇÃO

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de res­tolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um ban­quete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira — sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.(...)

Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que assen­tam em coisa nenhuma. Vives. (...)

José Saramago, 
excertos da crónica "Carta para Josefa, minha avó",
in, Deste Mundo e do Outro: Crónicas 


Até ao dia 31 de Janeiro irão estar expostos, no átrio da entrada da Biblioteca Municipal, um conjunto de trabalhos realizados pelos alunos dos 2.º e 3.º CEB dos Agrupamentos de Escolas da Marinha Grande, inspirados na crónica "Carta para Josefa, minha avó", extraída do livro "Deste Mundo e do Outro: Crónicas", da autoria de José Saramago. A iniciativa insere-se no âmbito das comemorações do Centenário do Nascimento de José Saramago, que se assinalou ao longo do ano 2022, e resultou do trabalho de parceria entre a Biblioteca Municipal e as Bibliotecas Escolares, através dos seus Professores Bibliotecários. 

Partindo da carta escrita por Saramago, dedicada à sua avó Josefa, e dado que os conteúdos programáticos da disciplina de Português contemplam a abordagem de várias tipologias textuais, sendo a "carta" uma delas, os alunos foram desafiados a escrever eles próprios uma carta, dedicada aos avós ou a alguém que seja muito especial para eles. Este desafio resultou em dezenas de cartas, na sua maioria dedicadas aos avós, onde os alunos puderam expressar sentimentos de afeto, carinho, admiração e ternura.






Até 31 de Janeiro, 
passe pela Biblioteca Municipal e partilhe destas emoções, 
quem sabe se não vai encontrar uma carta que foi escrita a pensar em si.




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