"A minha desforra é escrever"
Urbano Tavares Rodrigues
Urbano Tavares Rodrigues nasceu em Lisboa, a 6 de dezembro de 1923, filho de uma família de grandes proprietários agrícolas de Moura, Alentejo.
Grande conhecedor de Manuel Teixeira Gomes, foi sobre este autor que elaborou a sua tese de licenciatura em Filologia Românica, em 1950. Foi ainda sobre Manuel Teixeira Gomes que incidiu a sua dissertação de doutouramento em 1984.
Desde cedo a sua oposição ao Estado Novo impediu-o de lecionar em Portugal.
Foi preso e torturado em Caxias e partiu para um longo exílio em França, onde foi leitor de português nas universidades de Montpellier, Aix e Paris, entre 1949 e 1955.
Em Paris conheceu alguns dos intelectuais da década de 1950, entre eles Albert Camus, de quem foi amigo.
"Fui amigo do Camus, conheci um pouco Sartre, dei-me com ele, estivemos juntos num congresso para a liberdade da cultura em Florença. Com o Malraux dei-me pouco mas é como se me tivesse dado sempre."
Como jornalista, trabalhou no Diário de Notícias (tendo entrado em 1946), Diário de Lisboa, Artes e Letras, Jornal do Comércio e O Século, entre outros. E como repórter viajou pelo mundo inteiro:
"Em 1961 vou a Cuba no momento do ataque [Baía dos Porcos] e conheço pessoalmente e travo relações de amizade com alguém que ia marcar toda a minha vida: O Che Guevara. Tivemos conversas muito interessante, algumas, justamente, sobre poesia. "A poesia de alta qualidade, mesmo quando não parece diretamente ligada ao processo revolucionário, é sempre progressista. Porque a beleza em si é uma forma de progresso, de aperfeiçoamento do ser humano", disse-lhe. O Guevara deu-me esta resposta de que nunca me esqueci: "Talvez tu tenhas razão. Mas se puderem dar um jeitinho para o nosso lado, agradeço!". Isto era o Che."
No passado mês de julho entregou à sua editora na Dom Quixote o seu último livro "Nenhuma Vida", que será publicado ainda este ano. É um romance que assinalará os 90 anos do escritor e aborda questões que Urbano Tavares Rodrigues tratou na sua obra, mas também ao longo da sua vida, como as lutas políticas e sociais, a solidariedade, as relações humanas, a sexualidade e o erotismo.
O romance terá um prefácio escrito pelo próprio e é já uma despedida. "Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luz".
O romance terá um prefácio escrito pelo próprio e é já uma despedida. "Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luz".
"É um romance muito curto e onde está todo o espírito do autor"
Cecília Andrade, sua editora
Urbano Tavares Rodrigues foi distinguido com os galardões literários da Associação Internacional de Críticos Literários e da Imprensa Cultural, bem como com os prémios Ricardo Malheiros, Aquilino Ribeiro, Fernando Namora, Jacinto do Prado Coelho, Camilo Castelo Branco e o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores em 2003.
"Ainda não tive o Prémio Camões porque soube recentemente que há membros do juri que dizem: esse comunista não terá o Prémio Camões", acusou.
Em 2010 a Biblioteca Nacional adquiriu o espólio do escritor.
A 30 de maio de 2012, foi homenageado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, homenagem essa que contou com a presença do Secretário de Estado da Cultura de então, Francisco José Viegas, de Helena Carvalhão Buescu e do próprio.
Este ano foi o autor homenageado, a par de Manuel António Pina, na Póvoa de Varzim, na 14ª edição do Festival Literário Correntes d'Escritas, o qual, por motivos de saúde não pode estar presente.
Em julho passado, a Federação Nacional dos Professores anunciou a criação do Prémio de Novela e Romance Urbano Tavares Rodrigues, no valor de 7500 euros. O galardão será atribuído a 5 de outubro e pretende distinguir obras literárias, de poesia ou ficção narrativa, de professores no ativo ou aposentados, de qualquer grau de educação e de ensino.
Urbano Tavares Rodrigues, faleceu aos 89 anos, a 9 de agosto deste ano.
O seu velório realizou-se na Sociedade Portuguesa de Autores, na sala Carlos Paredes, por vontade expressa do próprio.
No dia da sua morte, o seu amigo Manuel Alegre homenageou-o com o seguinte poema:
Na Morte de Urbano Tavares Rodrigues
No dia 9 de agosto de 2013
houve uma vaga de calor. De certo modo
ele morreu dentro de um seu romance.
Não foi notícia de abertura. Os telejornais
mostraram mulheres gordas em Carcavelos
e um sujeito pequenino (parece que ministro)
a falar de "cultura política nova".
Mais tarde este dia será lembrado
como a data em que morreu
Urbano Tavares Rodrigues.
Manuel Alegre, Lisboa, 9/08/2013
Muitos dos seu livros estão traduzidos na Alemanha, Bulgária, Egito, Espanha, França, Grécia, Polónia, República Checa, Suécia e Ucrania.
O Leitor pode lê-los em português, é só visitar-nos
Esperamos por si