maio 05, 2022

TODA A GENTE COMETE ERROS. ATÉ DEUS


"Eu admirei Gorki, Mann, Machado, James Joyce como os expoentes da minha geração, mas foi com paixão que me aproximei de Isaac Babel e, dez anos mais tarde, de Hemingway".
                                                                                      Ilya Ehrenburg


Quem foi Isaac Babel, cujo seu livro "Contos de Odessa" foi mencionado pelo jornalista Carlos Vaz Marques no seu programa da SIC Notícias - Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer e pelo critico literário José Mário Silva na edição de 1 de maio do semanário Expresso?

Consultando o nosso catálogo bibliográfico, descobrimos uma edição de 1972, 
da Editorial Inova, com tradução de Egito Gonçalves e
 que hoje divulgamos.




Contos de Odessa
Publicados em 1931, são uma série de histórias curtas, de inspiração autobiográficas, que narram a sua infância na comunidade judaica no gueto de Moldavanka.
Babel descreve, entre outras histórias, a vida do chefe da máfia judaica Bénia Krik, um dos grandes anti-heróis da literatura russa, e o seu gangue, na época da Revolução de Outubro.


Mas quem foi Isaac Babel?


"Nasci em 1894 em Odessa, no bairro de Moldavanka; sou filho de um comerciante judeu. Até aos dezasseis anos, a pedido de meu pai, estudei hebraico, a Bíblia e o Talmude. A vida em casa era difícil: de manhã à noite obrigavam-me a estudar um sem-número de matérias. (...)
Terminada a escola desloquei-me a Kiev e em 1915 a Petersburgo. Passei mal nesta cidade, não tinha autorização de residência e escondia-me da polícia na rua Puckine, num sótão habitado por um criado de café ébrio. (...) no final de 1916, avistei-me com Gorki. Devo tudo àquele encontro e hoje pronuncio o nome dele com veneração e carinho. Publicou os meus primeiros textos em "Létopis" no número de novembro de 1916 (por causa desses textos fui processado nos termos do artigo 1001)".

A 16 de janeiro de 1940, Lavrenti Beria apresentou a Estaline uma lista de 346 nomes de opositores ao regime recomendando o seu fuzilamento. Isaac Babel constava dessa lista. Era o numero 12. Foi julgado 10 dias depois em 20 minutos. "Estou inocente" foram as suas últimas palavras. 
Na versão oficial soviética, Isaac Babel morreu num Gulag a 17 de março de 1941 e os seus escritos e arquivos foram destruídos pela NKVD.
A 23 de dezembro de 1954, durante a governação de Nikita Khruschev, Isaac Babel foi oficialmente absolvido do seu "crime".

"Uma das grandes tragédias da literatura do século XX
                                                                                                                        Peter Constantine,
                                                                                        um dos tradutores de Babel para o inglês

Odessa, Ucrânia


"- Tia Pésia - disse Bénia à velha desgrenhada que se retorcia no chão -, se necessita da minha vida, tome-a, mas toda a gente comete erros. Até Deus. Foi um erro enorme, Tia Pésia. Mas acaso não foi um erro Deus colocar os judeus na Rússia para que sofram como o inferno? Haveria algum mal em que os judeus vivessem na Suíça, rodeados de lagos de primeira qualidade, de ar de montanha e de franceses a dar com um pau? Todos cometem erros. Até Deus". 








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