"Torto Arado é um romance antigo, que alimento desde a minha adolescência. O núcleo original da trama, a relação entre as irmãs,
o pai e a terra, vem dessa época."
Bibiana e Belonísia são filhas de trabalhadores de uma fazenda no serão da Bahia, descendentes de escravos para quem a abolição nunca passou de uma data marcada no calendário. Intrigadas com uma mala misteriosa sob a cama da avó, pagam o atrevimento de lhe pôr a mão com um acidente que mudará para sempre as suas vidas, tornando-se tão dependentes que uma será até a voz da outra. Porém, com o avançar dos anos, a proximidade vai desfazer-se com a perspetiva que cada uma tem sobre o que as rodeia: enquanto Belonísia parece satisfeita com o trabalho na fazenda e os encantos do pai, Zeca Chapéu Grande, entre velas, incensos e ladaínhas, Bibiana percebe desde cedo a injustiça da servidão que há três décadas é imposta à família e decide lutar pelo direito à terra e pela emancipação dos trabalhadores. Para isso, porém, é obrigada a partir, separando-se da irmã.
Numa trama tecida de segredos antigos que têm quase sempre mulheres por protagonistas, e à sombra de desigualdades que se estendem até hoje no Brasil, Torto Arado é um romance polifónico belo e comovente que conta uma história de vida e morte, combate e redenção, de personagens que atravessam o tempo sem nunca conseguirem sair do anonimato.
"Itamar expõe as feridas de um Brasil que não gosta do que vê
quando olha para si mesmo. Por isso a urgência de sua leitura,
por nos revelar essa consciência com coragem e beleza"
Marcelo Maluf
Itamar Vieira Junior, nasceu a 6 de agosto de 1979, em Salvador, Bahia, Brasil. É geografo e doutor em Estudos Étnicos e Africanos, com pesquisa sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro.
O seu romance de estreia, que hoje apresentamos e que sugerimos como leitura para o seu fim de semana, foi galardoado em 2018 com o Prémio LeYa, em novembro de 2020 com o Prémio Jabuti e com o Prémio Oceanos em dezembro passado. Tudo boas razões para o Leitor vir à Biblioteca Municipal, que ainda continua nas instalações provisórias no edifício da Resinagem, e requisitar o livro.
"Destaca-se a qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor.
Todos estes motivos justificam a atribuição
por unanimidade deste prémio".
Manuel Alegre,
Presidente do Júri do Prémio LeYa 2018
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