Landgrave ou Maria Helena Vieira da Silva
"(...) Reconhecemos o tão atento olhar. Os olhos muito abertos como os olhos que estão pintados à proa dos barcos. O olhar que busca o aparecer do mundo, o surgir do mundo, o emergir do visível e da visão. Reconhecemos a viagem, a longa navegação, a memória acumulada. A atenção da Sibila, da bússola, do sismógrafo, da antena."
Fevereiro de 1988
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Ilhas
Maria Helena Vieira da Silva |
"Conheci Maria Helena Vieira da Silva em 1962, em Lisboa. Havia algo de natural na sua celebridade. Não como as vedetas, que se afeiçoam e servem a tudo o que as ilumina; mas uma grandeza sem ilusões, que é inútil comunicar aos outros e que até se observa vulgarmente como ingratidão. Um andar em uníssono com o mundo, sem contudo estar de acordo com ele. Nenhuma extravagância, nenhuma leviandade no seu humor. Antes um fino espírito de quem não acha a terra bastante vasta para conter à distância os maldizentes daqueles que executam um trabalho sério."
Agustina Bessa-Luís, in Longos Dias têm Cem Anos
Maria Helena Vieira da Silva, uma das mais importantes pintoras europeias da segunda metade do século XX, nasceu em Lisboa a 13 de junho de 1908 e morreu em Paris a 6 de março de 1992, faz hoje 21 anos.
Despertou cedo para a pintura e aos onze anos entrou na Academia de Belas-Artes em Lisboa, onde estudou desenho e pintura. Motivada também pela escultura, estudou Anatomia na Faculdade de Medicina de Lisboa.
Foi viver para Paris em 1928, onde estudou com Fernand Léger e trabalhou com Henri de Waroquie e Charles Dufresne.
"Eu vim para Paris por razões de ordem intelectual, sem qualquer razão prática."
Foi também em Paris que conheceu o seu futuro marido, o também pintor hungaro Arpad Szenes, com quem casou em 1930. E segundo a lei portuguesa, todas as mulheres que se casassem com um estrangeiro passavam automaticamente a adotar a nacionalidade deste.
"Arpad Szenes e Vieira da Silva são a mais bela história de amor e pintura que jamais conheci"
Arpad Szene e Vieira da Silva, Paris, 1930 |
Em Paris, Vieira da Silva contacta com os seus contemporâneos, Picasso, Duchamp, Braque. Expôs pela primeira vez no Salon de Paris em 1933 e em Portugal em 1935.
Com a II Guerra Mundial e a perseguição ao povo judeu, Maria Helena Vieira da Silva e o seu marido, judeu, refugiam-se no Rio de Janeiro, onde enfrentam um exílio até 1947.
O governo português não lhe concedeu, nem a ela nem a Arpad Szenes, a nacionalidade portuguesa, o que fez com que ambos, fossem considerados apátridas refugiados em França.
No Rio de Janeiro privaram com os poetas Murilo Mendes e Cecília Meireles, com o pintor Carlos Scliar e ainda Carlos Drummond de Andrade.
Esteve patente no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de 17/12/2012 a 17/02/2013, uma exposição intitulada "Vieira da Silva Agora", com uma retrospetiva da sua pintura. A mostra, foi inserida no programa do Ano de Portugal no Brasil e contou com 42 mil visitantes.
A partir de 1948 o Estado francês começa a adquirir as suas pinturas e em 1956 o casal obtém a nacionalidade francesa.
É condecorada pelo Governo francês em 1960 e em 1966 é a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Artes.
Em 1961 vence o Prémio Internacional de Pintura na Bienal de São Paulo.
Em 1979 torna-se Cavaleira da Legião de Honra Francesa.
As retrospetivas do seu trabalho multiplicam-se pela Europa (Hanover, Bremen, Grenoble, Turim, Paris, Oslo, Basileia, entre outas)
Em Portugal expõe em 1971 na Fundação Gulbenkian.
Em 1977, 17 anos depois do governo francês, o governo português decide condecorá-la com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de Espada.
Maria Helena Vieira da Silva foi eleita membro da Royal Academy of Arts de Londres em 1988; ordenada, em 1991, Officier de la Legion d'Honneur pelo então presidente François Mitterrand.
Além de figurar nas principais coleções nacionais, a sua obra encontra-se igualmente nos grandes museus mundiais: Centre Georges Pompidou (Paris), MoMA e Guggenheim Museum (Nona Iorque), Walker Art Center (Minneapolis), Tate Collection (Londres), Museo Thyssen-Bornemisza (Madrid), Art Institute of Chicago (Chicago), Ashmolean Museum (Oxford), Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo).
A 10 de maio de 1990, foi criada em Lisboa a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, para promover e divulgar o estudo da obra do casal. A Fundação gere um museu destinado a expôr as obras de Vieira da Silva e do seu marido, tal como de outros artistas contemporâneos.
A pedido da sua amiga Sophia de Mello Breyner Andresen,
e editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, Vieira da Silva criou este cartaz para comemorar o 25 de Abril de 1974.
Vieira da Silva está presente na Biblioteca da sua cidade.
AQUI encontra bibliografia para consulta.
Visite-nos
Sem comentários:
Enviar um comentário