abril 13, 2013

 
 
 


AMOR COMBATE


Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços são a flor do aloendro.
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.

Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:

O nosso amor é sangue. É seiva. É sol. É primavera
Amor intenso. Amor imenso. Amor instante.
O nosso amor é uma arma. É uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.

O nosso amor é um pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa.
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.

Deixa-me soltar estas palavras amarradas
para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.
Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade.

                                 Joaquim Pessoa, in Amor Combate



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Joaquim Pessoa nasceu no Barreiro a 22 de fevereiro de 1948.
Iniciou a sua carreira no Suplemento Literário Juvenil do Diário de Lisboa.
O primeiro livro de Joaquim Pessoa foi editado em 1975 e, até hoje, publicou mais de vinte obras incluindo duas antologias. Foram-lhe atribuídos os prémios literários da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura (Prémio de Poesia de 1981), o Prémio de Literatura António Nobre e o Prémio Cidade de Almada.
Desempenhou durante seis anos (1988-1994) o cargo de director da Sociedade Portuguesa de Autores.  









abril 12, 2013

LEITURA DE FIM DE SEMANA


Foi logo na montra da livraria que descobriste a capa com o título que procuravas. Atrás desta pista visual, lá foste abrindo caminho pela loja dentro através da barreira cerrada dos Livros Que Não Leste, que de cenho franzido te olhavam das mesas e das estantes procurando intimidar-te. Mas tu sabes que não te deves deixar assustar, que no meio deles se estendem por hectares e hectares os Livros Que Podes Passar Sem Ler, os Livros Feitos Para Outros Usos Para Além Da Leitura, os Livros Já Lidos Sem Ser Preciso Sequer Abri-los Por Pertencerem À Categoria Do Já Lido Ainda Antes De Ser Escrito. E assim transpões a primeira muralha de baluartes e cai-te em cima a infantaria dos Livros Que Se Tivesses Mais Vidas Para Viver Certamente Lerias Também De Bom Grado Mas Infelizmente Os Dias Que Tens Para Viver São Os Que Tens Contados. Com um movimento rápido passas por cima deles e vais parar ao meio das falanges dos Livros Que Tens Intenção De Ler Mas Antes Deverias Ler Outros, dos Livros Demasiado Caros Que Podes Esperar Comprar Quando Forem Vendidos Em Saldo, dos Livros Idem Idem Aspas Aspas Quando Forem Reeditados Em Formato De Bolso, dos Livros Que Podes Pedir A Alguém Que Te Empreste e dos Livros Que Todos Leram E Portanto É Quase Como Se Também Os Tivesses Lido. Escapando a estes assaltos diante das torres de reduto, onde se te opõem resistência

 
os Livros Que Há Muito Programaste Ler,
os Livros Que Há Anos Procuravas Sem Os Encontrares,
os Livros Que Tratam De Alguma Coisa De Que Te Ocupas Neste Momento,
os Livros Que Queres Ter Para Estarem À Mão Em Qualquer Circunstância,
os Livros Que Poderias Pôr De Lado Para Leres Se Calhar Este Verão,
os Livros Que Te Faltam Para Pores Ao Lado De Outros Livros Na Tua Estante,
os Livros Que Te Inspiram Uma Curiosidade Repentina, Frenética E Não Claramente Justificada.
E lá conseguiste reduzir o número ilimitado das forças em campo a um conjunto sem dúvida ainda muito grande mas já calculável num número finito, mesmo que este relativo alívio seja atacado pelas emboscadas dos Livros Lidos Há Tanto Tempo Que Já Seria Altura De Voltar A Lê-los e dos Livros Que Dizes Que Leste e Seria Altura De Te Decidires A Lê-los Mesmo."
I                                                   Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno Um Viajante
 
 
"Estou a ler! Não quero que me incomodem!"
(...) Estou a começar a ler o novo romance
de Italo Calvino!"
 
 


É o que o leitor vai dizer lá em casa depois de vir à Biblioteca Municipal e requisitar o livro  que hoje sugerimos para leitura de fim de semana

 
Se Numa Noite de Inverno um Viajante
Italo Calvino
Editora: Teorema 
 
 
Segundo o autor, é um romance sobre o prazer de ler romances.
"Acudiu-me  a ideia de escrever um romance feito apenas de inícios de romance. O protagonista podia ser o Leitor que é continuamente interrompido. O Leitor arranja o novo romance A que é do autor Z. Mas é um exemplar defeituoso, e não consegue andar para além do início..."
                                                             Italo Calvino


 
 
 

Jornalista, contista e romancista italiano, considerado um dos maiores escritores europeus do século XX, Italo Calvino nasceu a 15 de Outubro de 1923 em Santiago de Las Vegas, na ilha de Cuba. Ainda criança acompanhou os pais na sua mudança para São Remo, em Itália.
Em 1940, e em consequência da deflagração da Segunda Guerra Mundial, Calvino foi recrutado para a Mocidade Fascista, mas desertou pouco tempo depois, refugiando-se nas montanhas da Ligúria, onde se juntou à Resistência Comunista.
Desfiliou-se do Partido Comunista Italiano em 1957 ( a sua carta de renúncia ficou famosa) após os acontecimetos da Primavera de Praga.
Obtém a sua licenciatura em Letras com uma tese sobre Joseph Conrad em 1947.
Em 1959 viajou pelos Estados Unidos da América, fazendo um contraste com a sua visita à União Soviética em 1952.
É admitido na Einaudi como redator em 1950, cargo que desempenhará durante muito tempo. Colaborador do Corriere della Sera e, posteriormente, do Repubblica, desde a sua fundação, faleceu inesperadamente a 19 de setembro de 1985, vítima de um acidente vascular cerebral.
 
 
 
 
Bom Fim de Semana com Boas Leituras
 

abril 11, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS

Hoje vamos apenas deixar-vos mais um poema alusivo à LIBERDADE. Hoje será um poema de MARIA TERESA HORTA, intitulado MULHERES DO MEU PAÍS.
 


MULHERES DO MEU PAÍS

Deu-nos Abril
o gesto e a palavra

fala de nós
por dentro da raiz

Mulheres
quebrámos as grandes barricadas
dizendo: igualdade
a quem ouvir nos quis

E assim continuamos
de mãos dadas

O povo somos:
mulheres do meu país

Maria Teresa Horta, in Mulheres de Abril
Editorial Caminho



Se quiser conhecer melhor MARIA TERESA HORTA
 
 
 
 

abril 10, 2013

QUE PORTUGAL SE ESPERA EM PORTUGAL? QUE GENTE AINDA HÁ-DE ERGUER-SE DESTA GENTE?


Jorge de Sena, poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta, a sua obra é marcada, sobretudo, pela reflexão humanista acerca da liberdade do Homem.
É hoje considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura do nosso século XX.


"Pensador que sente e sentidor que pensa"
                                                                                                                            Eugénio Lisboa


Nasceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1919. Terminou em 1936 o seu curso de liceu. Mais tarde licenciou-se em engenharia civil na Universidade do Porto.
Durante os seus estudos universitários, publicou, sob o pseudónimo Teles de Abreu, as suas primeiras composições poéticas na revista “Presença” e travou conhecimento com o grupo de poetas que viria a reunir-se em torno de “Cadernos de Poesia”, convivendo, entre outros, com José Blanc de Portugal, Ruy Cinatti, Alberto Serpa e Casais Monteiro.


Trabalhou na Junta Autónoma de Estradas, de 1948 a 1959, ano em que se exilou no Brasil, receando perseguições políticas resultantes de uma falhada tentativa de golpe de estado, a 11 de Março desse ano e em que esteve envolvido.
 

 
A mudança para o Brasil permite-lhe uma reconversão profissional, que vai ao encontro da sua vocação, dedicando-se ao ensino da literatura, acabando por se doutorar em Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (São Paulo), em 1964, obtendo também o diploma de Livre-Docência, para o que teve que naturalizar-se brasileiro em 1963.
A sua intervenção cultural ganha novos horizontes com a sua atividade de docente e investigador universitário no Brasil, onde reforça também a sua ação cívica como opositor ao Estado Novo.
Fotografia de Eduardo Gageiro, 1970
A alteração da situação democrática no Brasil, com o golpe militar de 1964, faz temer um regresso ao passado, quer em termos políticos quer em termos de dificuldades económicas. Em 1965 foi viver para os Estados Unidos da América com a sua mulher, Mécia de Sena, com quem teve nove filhos. Em Outubro desse ano passa a integrar o corpo docente da University of Wisconsin, Madison, onde é nomeado professor catedrático efectivo (1967), transitando, em 1970, para a University of California, Santa Barbara (UCSB).


Durante a sua permanência na UCSB, até ao final da vida, ocupa os cargos de director do Departamento de Espanhol e Português e do Programa (interdepartamental) de Literatura Comparada.
Foi ainda membro da Hispanic Society of America, da Modern Languages Association of America e da Renaissance Society of America.
Nos Estados Unidos, a sua atividade cultural fica restringida aos círculos académicos e da emigração (no período californiano, desempenha um importante papel no esclarecimento das comunidades portuguesas sobre o 25 de Abril de 1974).
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago.
Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia em Santa Barbara.
 

Em Creta, com o Minotauro
 
Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Colecionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo, a minha pátria. a pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria  que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me  esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha
(...)
                                                                                              Jorge de Sena, in Poesia-III
 
 
A obra de Jorge de Sena é vasta em volume e em variedade (poesia, ficção, teatro, crítica, ensaio, história, história literária, organização de antologias, tradução).
Sena imprimiu a tudo o que escreveu um vigor, uma ironia corrosiva, uma energia ácida, um ousar quase, por vezes, à beira da loucura, um gosto (e uma capacidade) de subversão, um poder intelectual e espiritual, um apetite omnívoro de outras e diversas fontes culturais capazes de o alimentarem e excitarem, que dão ao corpus da sua obra uma força e uma monumentalidade quase monstruosas.
António Ramos Rosa, Eduardo Lourenço e Eugénio Lisboa contam-se entre os ensaístas que mais atentamente se dedicaram ao estudo e análise da obra de Jorge Sena.
O seu romance “Sinais de Fogo” foi adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha.
 
"Tendo mudado de pele, de continente, de vida, de nacionalidade, de tudo menos de mim mesmo, durante anos e anos".
                                                                                                                 Jorge de Sena
 
 
 
Quando se deu o 25 de AbrilJorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Visitou Portugal, mas  nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa o convidou para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo então continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.
 
Jorge de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro, quando se preparava a sua candidatura ao Prémio Nobel da Literatura.
No ano seguinte a Associação Portuguesa de Escritores instituiu o Prémio de Ensaio Jorge de Sena, ganho por Alexandre PinheiroTorres. 
A 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério dos Prazeres em Lisboa, depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais
 
O leitor encontrará a obra de
Jorge de Sena na sua Biblioteca
 
Só tem de nos visitar
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Quem a tem…
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
Desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
E sempre a verdade vença,
Qual será ser livre aqui,
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.
Mas embora escondam tudo
E me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade
.

                                           Jorge de Sena, in Poesia-II




 

abril 09, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS




O tirano honesto

Dele dizem hoje: governou mas não roubou.
Pois não. Ou muito pouco. Tão só a liberdade
do povo dele e de tantos outros que assim
honestamente sempre oprimiu. Que os tiranos
honestos são os mais temíveis: só os move
a honesta perversão do poder total.

Luiz-Manuel,
in Um Pirilampo no Inverno
Folheto Edições & Design
 
 
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Luiz-Manuel [1935-2011] escritor e tradutor bilingue (português e francês), natural da Marinha Grande. Radicado na Suíça desde dezembro de 1962, viveu na cidade de Renens, perto de Lausana. Publicou treze volumes de poesia, em português, francês e bilingues. Traduzido em grego, russo, italiano e romeno.
Traduziu para francês numerosos poetas portugueses: Manuel Alegre, José Bento, António Luís Moita, José Gomes Ferreira, etc. Traduziu e apresentou em português, no semanário marinhense "O Correio", hoje desaparecido, vinte e três poetas suíços, dos quais vinte e três de expressão francesa (Suíça Romanda) e dois de expressão italiana (Ticino).
Um Pirilampo no Inverno foi o seu quinto volume de poesia em português.





 


abril 07, 2013

25 DIAS, 25 POEMAS


Dando continuidade à iniciativa "25 dias, 25 poemas"vamos hoje publicar um poema da autoria de Natália Correia, alusivo à liberdade.

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JÁ AS PRIMEIRAS COUSAS SÃO CHEGADAS / I

Tanta foice isto é coice desconfio...
Tanto de marx martelar já cansa.
Adrede é labirinto não me fio
no fio que o comício ao coro lança.

De tanto ruminar tanto Rossio
numa canga aguilhando tanta esperança.
Tanto poder ao povo com feitio
de espezinhá-lo depois da governança.

Tanta denúncia. É a pedagogia
da Revolução que o excremento avia
e não chegámos ao último terceto.

Recém-nascida apenas deste em cabra
Ó Liberdade! Não sei como isto acaba,
não sei como acabar este soneto.

Natália Correia
in Epístola aos lamitas


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Natália Correia viveu entre 1923 e 1993 e deixou-nos uma vasta obra publicada.
Foi uma escritora multifacetada, desenvolvendo a sua atividade na área da poesia, do romance, do teatro e do ensaio, sendo, porém, a poesia o seu género literário predominante.
Paralelamente à sua obra, e através dela, foi uma mulher que se bateu por grandes causas, onde se inscrevem a defesa dos direitos humanos e os direitos das mulheres. 
Com uma personalidade muito forte, carismática e, muitas vezes, polémica, evidenciou ao longo da sua vida uma forte intervenção política, cultural e cívica, chegando a ser deputada na Assembleia da República. A sua obra foi sempre o reflexo do seu carácter fortemente ideológico.





abril 05, 2013

LEITURA DE FIM DE SEMANA



Suzanna Arundhati Roy nasceu a 24 de novembro de 1961 em Kerala, Índia. Licenciada em arquitetura, cedo se dedicou à escrita de guiões para cinema e séries de televisão. O seu papel como ativista em torno de questões ligadas à justiça social e desigualdade económica valeram-lhe, em 2002, o Cultural Freedam Prize, concedido pela Lannan Foundation. 
Aproveita a sua escrita para se dedicar às lutas pelas causas em que sempre acreditou e ao seu ativismo político: as mulheres e o regime de castas na Índia; a polémica em torno do nuclear e as tensões com o Paquistão; a globalização; o marxismo dissimulado; o 11 de Setembro e a Guerra no Iraque.


O seu primeiro romance, é hoje a nossa 
sugestão de leitura de fim de semana.

Publicado em 1997, recebeu no ano seguinte o Booker Prize, o mais importante prémio literário da língua inglesa.
Arundhati Roy foi a primeira indiana a vencer aquele prémio e logo com a primeira obra. O livro foi editado em 36 países e encabeçou, durante semanas, a lista dos livros mais vendidos na Grã-Bretanha, Austrália, Índia e Noruega.


"Este prémio é sobre o meu passado. 
Não sei se escreverei outro livro. 
Estou à espera que o barulho na minha cabeça pare."
                                                                                                                                Arundhati Roy



Qual é então o livro?

O Deus das Pequenas coisas 
Edições Asa

Uma apaixonante saga familiar, de uma autora a quem a crítica compara já com Salmon Rushdie e García Márquez.


"Tudo começou realmente na época em que 
as Leis do Amor foram feitas. 
As leis que estipulavam quem devia ser amado, e como. 
E quanto."



"O Deus das Pequenas Coisas" é a história de três gerações de uma família da região de Kerala, no sul da Índia, que se dispersa por todo o mundo e se reencontra na sua terra natal.
Uma história feita de muitas histórias. A história dos gémeos Estha e Rahel, nascidos em 1962, por entre notícias de uma guerra perdida. A de sua mãe Ammu, que ama de noite o homem que os filhos amam de dia, e de Velutha, o intocável deus das pequenas coisas. A da avó Mammachi, a matriarca cujo corpo guarda cicatrizes da violência de Pappachi. A do tio Chacko, que anseia pela visita da ex-mulher inglesa Margaret, e da filha de ambos, Sophie Mol. A da sua tia-avó mais nova, Baby kochamma, resignada a adiar para a eternidade o seu amor terreno pelo Padre Mulligan.
Estas são as pequenas histórias de uma família, que vive numa época conturbada e de um país cuja essência parece eterna. Onde só as pequenas coisas são ditas e as grandes permanecem por dizer.



"Foi uma época em que o impossível se tornou pensável 
o impossível realmente aconteceu."



Visite-nos, requisite o livro e
Tenha um bom fim de semana 



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FLOR DA LIBERDADE

Sombra dos mortos, maldição dos vivos.
Também nós... Também nós... E o sol recua.
Apenas o teu rosto continua
A sorrir como dantes, 
Liberdade!
Liberdade do homem sobre a terra, 
Ou debaixo da terra.
Liberdade!
O não inconformado que se diz
A Deus, à tirania, à eternidade.

Sepultos insepultos,
Vivos amortalhados,
Passados e presentes cidadãos:
Temos nas nossas mãos
O terrível poder de recusar!
E é essa flor que nunca desespera
No jardim da perpétua primavera.

                                                                               Miguel Torga, in Antologia Poética






abril 03, 2013

QUEM QUISER, QUE VENHA COMIGO!


"Farto de quase 50 anos de opressão,
- farto da incompetência,
- farto de fabricar carne para canhão...
- farto de ajudar meia dúzia de glutões a comer à conta do orçamento,
- farto de "lutar" por causas perdidas,
decidi dizer "Basta!".
(...) Depois do primeiro sinal rádio com E depois do adeus, começamos a acordar o pessoal, que se convenceu estar perante mais uma instrução noturna. (...)
Assim, perante o estado de negação de liberdade e de injustiça que tínhamos atingido, perante as nulas esperanças em melhores dias, havia que mudar o regime, não para nos substiuírmos ao regime anterior, mas para, dando liberdade e democracia, garantir ao povo a escolha do destino coletivo.
Para desanuviar, declarei que havia várias modalidades de Estados: os liberais, os sociais-democratas, os socialistas, etc., mas nenhum pior do que o estado a que chegáramos, pelo que urgia acabar com ele."
           Salgueiro Maia
in Capitão de Abril: Histórias da guerra do ultramar e do 25 de Abril 



"Você devia ter morrido não de um cancro qualquer, 
mas de pé, fulminado por um raio"
                                                                                                             Fernando Assis Pacheco


A 4 de abril de 1992, faz amanhã 21 anos,  aos 47 anos de idade, morreu o "Capitão sem Medo", Salgueiro Maia. A história consagra-o como o maior exemplo de coragem na revolução de 25 de Abril de 1974.
Salgueiro Maia foi sepultado em Castelo de Vide, sua terra natal, ao som da "Grândola", como era seu desejo e na presença de três ex-Presidentes da República (António de Spínola, Costa Gomes e Ramalho Eanes) e de Mário Soares, chefe de estado em funções.



Fernando José Salgueiro Maia, nasceu a 1 de julho de 1944 em Castelo de Vide. Em 1964, ingressou na Academia Militar em Lisboa. Terminado o curso, apresentou-se na Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém. Aí foi comandante de instrução e em 1968, em plena guerra colonial, partiu para o norte de Moçambique, integrado na 9ª Companhia de Comandos. Em março de 1971, foi promovido a capitão e em julho foi para a Guiné. Dois anos depois, regressou a Santarém, à Escola Prática de Cavalaria, de onde saiu na madrugada do 25 de Abril. 



"No Carmo dominou tudo e todos: dominou a guarda, dominou o Governo, dominou os ministros que choravam, dominou a multidão e dominou o ódio coletivo dos que gritavam vingança. E dominou o tempo e a vitória que veio ter com ele, obediente e fascinada."
                                                                                                             Francisco Sousa Tavares 


Depois da revolução licenciou-se em Ciências  Políticas e Sociais, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.
Participou no 25 de novembro de 1975, saindo da EPC no comando de uma coluna às ordens do Presidente da República Costa Gomes. Foi transferido para os Açores, só voltando em 1979 a Santarém. Em 1981 foi promovido a major e em 1984 regressou à Escola Prática de Cavalaria.
Avesso a privilégios e honrarias, Salgueiro Maia recusou ser membro do Conselho da Revolução, adido militar numa embaixada à sua escolha, governador civil de Santarém e pertencer à Casa Militar da Presidência da República.
Recebeu em 1983 a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, em 1992, a título póstumo, o grau de Grande Oficial da Ordem da Torre e Espada e, em 2007, a Medalha de Ouro de Santarém.
Em 1988, já doente, solicita uma irrisória pensão por "serviços excecionais ou relevantes" prestados ao país, que lhe é recusada, ao mesmo que era atribuía a dois antigos inspetores da PIDE.

Na sua Biblioteca Municipal o leitor encontrará toda a informação sobre o símbolo da revolução dos cravos.

Visite-nos


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SALGUEIRO MAIA

Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido

Aquele que deu  tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi "Fiel à palavra dada à ideia tida"
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse

                                                                          Sophia de Mello Breyner Andresen
in Musa




abril 01, 2013

Porque hoje é o 1º dia de abril 

CLIQUE AQUI 

Leia a nossa NEWSLETER  fique a conhecer as nossas atividades 

Apesar do estado caótico em que se encontra hoje a nossa Biblioteca Municipal, em virtude das fortes chuvadas de ontem, que inundaram parcialmente as nossas instalações, como poderá comprovar pelas fotos que publicamos, nós não baixamos os braços....






... e vamos dar hoje início à atividade

25 DIAS, 25 POEMAS

Assim, ao longo de 25 dias iremos publicar POEMAS alusivos à LIBERDADE. Serão 25 poemas, um por dia, publicados diariamente nos nossos blogues e que irão, gradualmente, constituir uma mostra bibliográfica de poetas e um painel de poemas, que poderão ser vistos no átrio da entrada da Biblioteca Municipal. Este poema foi a nossa primeira escolha. Ora leia.

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Liberdade

Sobre esta página escrevo
teu nome que no peito trago escrito
laranja verde limão
amargo e doce o teu nome.

Sobre esta página escrevo
o teu nome de muitos nomes feito
água e fogo lenha vento
primavera pátria exílio.

Teu nome onde exilado habito e canto
mais do que nome: navio
onde já fui marinheiro
naufragado no teu nome.

Sobre esta página escrevo
o teu nome: tempestade.
E mais do que nome: sangue.
Amor e morte. Navio.

Esta chama ateada no meu peito
por quem morro por quem vivo
este nome rosa e cardo
por quem livre sou cativo.

Sobre esta página escrevo
o teu nome: liberdade.

Manuel Alegre, in Obra Poética
Publicações Dom Quixote


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Não perca os outros poemas! 
Vamos aqui
sentir ABRIL todos os dias!





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