Há um ano atrás relembrámos Zeca Afonso e hoje, no 25º aniversário da sua morte, voltamos a prestar uma homenagem ao cantor da resistência à ditadura, autor de "Grândola, Vila Morena", a canção ícone do 25 de Abril de 1974.
"Eu fiz uma canção (Grândola) que, vendo bem, já não me pertence. Agora é mesmo cantada em meios populares. Mas um cantante com as minhas características tem de fazer canções elaboradas a partir de elementos culturais que sejam da sua própria existência"
Entrevista a Viriato Teles, in "Mundo da Canção", fev./mar. de 1981
Para Viriato Teles "Ao contrário do que habitualmente fazemos, que é compararmos os portugueses com artistas estrangeiros, eu acho que o Pete Seeger é o Zeca Afonso norte-americano. (...) está ao nível de um Bob Dylan, John Lennon, Léo Ferré ou mesmo de um Jacques Brel"
José Afonso nasceu a 2 de agosto de 1929, em Aveiro. O seu pai foi para Angola no ano seguinte, como delegado do procurador da República e José Afonso ficou em Aveiro com uma tia.
Começou a cantar por volta do 5º ano quando estudava no Liceu D. João III, em Coimbra, onde chumbou duas vezes. Além das cantorias e da vida boémia, jogou futebol na Académica.
Foi professor em vários pontos do país, antes de ser expulso do ensino. Nunca leu Marx, admirava Sartre e rejeitou um convite para aderir ao PCP.
Apesar de irónico, era tímido e raramente sorria. Era distraído ao ponto de andar com uma meia de cada cor.
Soube do 25 de Abril às cinco da madrugada, quando bateram à porta da casa do amigo Mário Reis, que lhe dera dormida depois de Zeca lhe ter dito na véspera que a PIDE tentara prendê-lo em Grândola, onde tinha uma casa.
Zeca Afonso morreu em Setúbal, a 23 de fevereiro de 1987, aos 57 anos. Sofria de esclerose lateral amiotrófica, doença neurodegenerativa progressiva fatal que o afastou dos palcos a partir de 1983.
Os seus últimos concertos foram os dos coliseus de Lisboa e Porto. Galinhas do Mato, de 1985, foi o seu último álbum, que teve de ser completado pelos amigos José Mário Branco, Sérgio Godinho, Helena Vieira, Fausto e Luís Represas. Em 1986, já muito debilitado, ainda apoiou a candidatura presidencial de Lourdes Pintassilgo.
"O que é preciso é criar desassossego. Quando começamos a criar alibís para justificar o nosso conformismo, então está tudo lixado! (...) Acho que, acima de tudo, é preciso agitar, não ficar parado, ter coragem, quer se trate de música ou de política. E nós, neste país somos tão pouco corajosos que, qualquer dia, estamos reduzidos à condição de "homenzinhos" e "mulherzinhas". Temos é que ser gente, pá!"
Entrevista a Viriato Teles, in "Se7e", 27/11/1985
Esta semana as homenagens a José Afonso vão multiplicar-se um pouco por todo o lado. As suas músicas vão ouvir-se em vários espaços públicos do nosso país e além fronteiras, nomeadamente em Barcelona.
Segundo Viriato Teles "Se há de facto um músico português que se universalizou foi o Zeca, se calhar tanto ou mais do que Amália, embora esta tenha tido mais visibilidade"
Na Biblioteca Municipal encontrará AQUI bibliografia sobre Zeca Afonso,
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