"A família real e a sua comitiva tomaram o comboio, no Alentejo, no dia 1 de fevereiro de 1908. A inquietação pairava, apesar terem recebido uma carta de João Franco garantindo que o ambiente político em Lisboa acalmara. Seria mesmo assim?
As dúvidas agravaram-se quando o comboio descarrilou em Casa Branca, no Alentejo. Houve gente que pensou tratar-se de sabotagem e o rei ficou tão apreensivo que não voltou a falar com ninguém até chegar a Lisboa.
Ao desembarcar no Terreiro do Paço apressou-se a perguntar ao chefe da polícia de serviço: Isto como vai? A resposta terá sido: Meu senhor, isto vai muito mal...
Foi portanto com uma expressão grave que o rei recebeu cumprimentos dos vários ministros que o aguardavam e teve uma pequena conversa com João Franco. Em seguida abraçou D. Manuel, que tinha ido esperar a família ao cais, e depois subiram todos para a carruagem, que ali se encontrava para levar a família real ao palácio das Necessidades.
Estava muita gente nas ruas e a atmosfera carregada de sentimentos fortes; medo, raiva, ansiedade, excitação. O cocheiro agitou as rédeas para que os cavalos iniciassem a marcha. A carruagem seguiu lentamente por entre a multidão, que se alinhava nos passeios. De repente destacou-se um homem de barba preta que entreabriu a capa, onde escondia uma carabina, e disparou.
Gerou-se de imediato a maior das confusões. Gritos, berros, um tiroteio cerrado. Do passeio do lado oposto saiu outro homem, que correu em direção à carruagem, saltou para o estribo e despejou o carregador da sua pistola nas costas do rei D. Carlos. O príncipe Luís Filipe ainda se pôs de pé e tentou defender-se a tiro, mas também ele foi abatido. A rainha ergueu-se desvairada, agitando no ar um ramo de flores enquanto gritava: Infames! Infames!
Por entre magotes de gente em pânico as autoridades surgiram por fim, alvejando primeiro os agressores e depois transeuntes ao acaso. Aflitíssimas e desorientadas as pessoas fugiam, chocavam umas com as outras, tropeçavam, caíam, atravessavam-se no caminho dos trens, provocando acidentes em cadeia. E o mesmo grito ecoou pelas ruas da cidade: Mataram o rei! Mataram o rei!"
António Reis, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
In, O 5 de Outubro e a Primeira República
O que aconteceu a seguir e que culminou no dia 5 de Outubro de 1910,
com José Relvas a proclamar às 11 da manhã da varanda da Câmara Municipal de Lisboa:
"Unidos todos numa mesma aspiração ideal, o Povo, o Exército e a Armada acabou de,
em Portugal, proclamar a República."
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