"Tenho trinta e dois anos e há oito que trabalho no mundo da publicidade, quatro deles na mesma agência. Comecei como estagiária, depois contrataram-me como copy e agora tenho um cargo de chefia intermédio com gente sob a minha responsabilidade e um absurdo título em inglês que serve para me armar no LinkedIn e responder a perguntas de cortesia no Tinder. A verdade é que não sei fazer nada em particular e não sei como é que cheguei até aqui. Desconfio que fui aperfeiçoando a brincadeira dos escritórios até que os outros começaram a acreditar que sou uma grande profissional."
Com uma escrita ao mesmo tempo divertida,
ácida e dura, gera uma empatia quase imediata.
Um livro para ser lido de uma vez só.
Marisa está na casa dos trinta anos e fartinha do seu emprego. Uma das razões pelas quais aparece no escritório é para poupar dinheiro em ar condicionado no calor sufocante de agosto em Madrid. Marisa detesta trabalhar, mas o emprego é a única coisa que lhe garante um ordenado para pagar a renda e comprar todas as coisas bonitas a que não resiste.
Durante a semana que antecede uma viagem "inesquecível" de team building organizada pela empresa, a ansiedade de Marisa dispara. Conceber passar um fim de semana inteiro com os seus colegas de trabalho é uma ideia insuportável, desencadeando a memória soterrada de um acontecimento traumático no escritório. Com o passar dos dias, a sua máscara social, incólume e polida ao longo dos anos, vai-se quebrando até rebentar com estrondo, ameaçando pôr toda a sua vida em desatino.
Uma radiografia das crises vividas por qualquer trabalhador, da solidão, da necessidade de relações e conexões humanas para encontrar uma luz esperança que nos dê força para não nos atirarmos para a frente de um autocarro sempre que chega a segunda-feira de manhã.
Beatriz Serrano é uma autora e jornalista espanhola, nascida em Madrid em 1989.
É licenciada em Jornalismo pela Universidade Complutense daquela cidade. Desenvolveu a sua carreira no jornalismo digital, especializando-se em "novas narrativas". O seu jornalismo destaca-se por uma abordagem irónica e reflexiva, focada em temas como a precariedade laboral e emocional, especialmente entre os millenials. Hoje é jornalista no El País.
Estreou-se na literatura em 2023 com o romance que hoje apresentamos aos nossos leitoras, O Desencanto. É um verdadeiro fenómeno literário, já traduzido em diversas línguas, que expõe com humor ácido e alguma intensidade emocional as angústias do trabalho contemporâneo.
A autora confessa que a conexão entre ela e a protagonista Marina é emocional: ambas compartilham "a raiva, a sensação de inadequação".
A vida tem de ser mais do que preparar a tupperware
do dia seguinte,
trabalhar, ir ao supermercado e ver uma série
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