Telma Marlise Escórcio da Silva, pseudónimo literário da nossa autora de hoje, Telma Tvon, nasceu em Luanda em 1980, tendo emigrado para Lisboa em 1993, onde frequentou o ensino secundário ao mesmo tempo que se integrava na cultura Hip Hop. Desde os 16 anos que o seu mundo é o rap, o soul e o hip hop. Recentemente colaborou com o brasileiro Luca Argel no projeto Samba de Guerrilha.
Licenciou-se em Estudos Africanos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e concluiu o mestrado em Serviço Social pelo ISCTE.
A sua carreira como escritora teve início em 2017, com o romance Um Preto Muito Português, que tem agora uma nova edição pela Quetzal e que divulgamos junto dos nossos leitores.
A Câmara Municipal de Lisboa, em 2022, convidou 48 autoras (cantautoras, poetas, escritoras) a escreverem uma frase alusiva à Liberdade e Telma Tvon foi uma delas. As 48 frases foram depois pintadas no chão da cidade, no âmbito das comemorações dos 48 anos de 25 de Abril.
"Perguntam-me várias vezes de onde sou. Sou filho de cabo-verdianos que vivem em Portugal. Sou neto de cabo-verdianos que nunca conheceram Portugal. Sou bisneto de holandeses que mal conheceram Portugal. Sou bisneto de africanas que muito ouviram falar de Portugal.
E de onde sou eu? Nasci em Lisboa, mas sou tão tido como estrangeiro. (...)
Eu até me licenciei, eu até falo português conveniente. Ninguém sabe como lidar comigo, não se sabe se sou Preto o suficiente ou se ando a tentar passar por Branco inconscientemente. (...)
Cresci conformado, cresci habituado talvez, e nunca questionei a hostilidade que pairava sobre a minha proveniência, sobre a minha existência. Era tudo tão normal como eu ser estrangeiro na terra que imparcialmente me pariu."
"Ontem candidatei-me a um emprego e, não obstante a informação estar no meu curriculum vitae, fizeram-me a pergunta da praxe: "De onde é, João?"
Ao que respondi: " Sou português."
Ela ficou meio atordoada, mas insistiu: "Pois, mas tem outras origens, certo?"
E eu, parvamente, disse: "Tenho, claro, sou originário da Maternidade Alfredo da Costa, mas vivo na linha de Sintra.
Fim de conversa."
Sem comentários:
Enviar um comentário