Eduarda Dionísio, escritora e dramaturga faleceu na segunda-feira passada, dia 22 de maio, aos 77 anos de idade.
Era licenciada em Filologia Românica pela Universidade Clássica de Lisboa.
Foi professora do ensino secundário em várias escolas de Lisboa e coautora com a sua mãe, de livros escolares para o ensino de Português, publicados entre os anos de 1972 e 1975 e adotados pelas escolas durante alguns anos.
Como professora foi dirigente sindical do SPGL (Sindicato dos Professores da Grande Lisboa) em 1977.
Participou em exposições coletivas de artes plásticas, participou ativamente em teatro, quer como dramaturga quer como atriz, na companhia de teatro a Cornucópia e no Bando.
Foi tradutora de Shakespeare, Scnitzler, Brecht, Müller e Fosse.
A sua estreia literária foi em 1972 com o romance Comente o Seguinte Texto.
Fazem parte do fundo bibliográfico da Biblioteca Municipal e disponíveis para empréstimo domiciliário os seguintes livros da autora:
Pouco Tempo Depois
Retrato de um Amigo Enquanto Falo
Antes que a Noite Venha
Comente o Seguinte Texto
Em 1982 recebeu o Prémio P.E.N Clube Português de Novelística.
Casa da Achada - Centro Mário Dionísio
Atualmente, Eduarda Dionísio dirigia a Casa da Achada, na Mouraria, em Lisboa, onde se encontra o espólio do seu pai, o escritor e pintor Mário Dionísio. Eduarda Dionísio nasceu em Lisboa em 1946.
Estamos no início de junho. É meia-noite. O céu guarda uma enorme lua cheia e... com o que acabei de ouvir, hoje não vou pregar olho. (...)
Ultimamente tenho tido alguns contratempos daqueles que complicam a vida a um profissional: na última viagem ao presídio, aquela gata branca, a Rosita, agarrou-se a mim! Vi-me e desejei-me para a afastar. Jovem depravada! Tive de fugir, esconder-me, abortar a missão e regressar à quinta. Já viram a minha vida? Uma gata admiradora ... ainda por cima, branca? Sonhará ela com uma ninhada cinzenta? ou, às riscas?! que Deus me perdoe, mas não me posso enamorar de alva-companhia, especialmente quando a minha segurança depende de completa discrição! Rosita, miúda, tem calma ... espera por janeiro ... e amanhã, é outro dia!"
Do autor marinhense Fernando L. Silva divulgamos hoje
O Diário de Jó
Imagine um gato inteligente. Tão inteligente como qualquer um de nós. Esse gato viveu na Idade Moderna. Ao tempo, Sebastião José de Carvalho e Melo era Secretário de Estado do Reino, no reinado de D. José I. Compadrios, corrupção e atropelos à justiça não são exclusivos de agora. Diz-se que naquele tempo, era pior. Eles foram os mestres, os inventores e propulsores de tão apurada técnica social.
Nesta pequena história, tudo seria igual. Porém, um ser de quatro patas não esteve pelos ajustes.
Fernando Luís Oliveira da Silva nasceu no sítio onde havia de ficar mais três dias. Depois mudou-se para outro onde esteve trinta anos. Entretanto experimentou uma casa nova, e outra, e outra, etc. etc.... e mais uma tenda aqui, uma roulotte ali ... quando não foi ao relento. Pelo meio, umas viagens de carro, mota, avião-sem-rede, barco-sem-colete e umas voltinhas esforçadas de bicicleta-sem-subidas. As caminhadas longas fazem-lhe sempre bolhas nos pés. Bolhas nos pés, foi coisa que nunca teve.
"Em 2006 comecei a escrever sobre um gato-investigador. Pouco depois, perdi pressão e parei (acontece!). (...)
Recentemente, aproveitando um confinamento, fiz força, muita força ... reli o velho texto, voltei a fazer força, ensaiei a primeira palavra, a primeira linha ... uma página, duas, três e ... (...)
"O Diário de Jó" não é uma enciclopédia nem um romance. Também não é um conto e tal, nem sequer um conto e picos. É só um conto."
"Como ontem e hoje, espero que amanhã seja (ainda) mais um dia.
Felizmente os miúdos estão aí. Agora, o tempo é deles...!
"Haveria de chegar uma altura em que Annie poderia fazer tudo o que lhe apetecesse; por agora estava convicta de que esse momento só chegaria quando fugisse dali. E não apenas de sua casa! O país era demasiado cinzento, sendo obrigatório guardar silêncio, tanto no interior da família como na sociedade. A revolta de Annie era, por enquanto, mais dirigida à mãe do que ao regime, apesar de as duas dimensões se confundirem na sua cabeça, tantas eram as vezes em que D. Nita elogiava Salazar e amaldiçoava Humberto Delgado."
Ana Maria Duarte Palhota da Silva Pais Lisboa 01-12-1935 / Cuba, Havana 17-07-1999
Annie Silva Pais, filha de Armanda e Fernando Silva Pais, trocou o marido e uma vida confortável na sombra do Estado Novo pelos ideais da revolução cubana. E por amor. Assumiu paixões tão ardentes como o fogo revolucionário e tornou-se tradutora e intérprete, membro confiado da equipa de Fidel Castro, à qual pertenceu até morrer. Para trás deixou a família e Portugal, onde regressou apenas em 1975, em trabalho e também para interceder pela libertação de seu pai, que nunca deixou de amar. Silva Pais foi o último diretor da PIDE.
O que leva uma filha do regime - filha de um dos homens fortes do regime -,
casada com um diplomata suíço, a largar tudo e encontrar um propósito
como militante da revolução cubana?
Ana Cristina Silvanasceu em Lisboa em 1964. É professora no ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida na área de Aquisições Precoces da Linguagem Escrita, Ortografia e Produção Textual.
Autora de 15 romances e de um livro de contos, foi três vezes finalista do Prémio Literário Fernando Namora (2011, 2012 e 2013), que venceu em 2017 com o romance A Noite Não é Eterna e que pode requisitar na Biblioteca Municipal.
Recebeu também o Prémio Literário Urbano Tavares Rodrigues pelo romance O Rei do Monte Brasil, em 2012. No romance que hoje divulgamos, À Procura da Manhã Clara, a autora combina realidade com ficção. Pesando factos e indícios, oferece-nos um retrato pleno de intimidade e humanidade, numa galeria de personagens, de entre as quais sobressai Che Guevara, o grande amor de Annie.
"Trouxeste a revolução a Cuba e também à minha vida. Amo-te, amo-te, amo-te, e não é só com recordações que te guardo dentro de mim. O que te torna ainda mais presente são os teus ideais e o propósito de libertar a Humanidade de um mundo tão feroz."
"- Não és nenhuma fedelha. Defende a tua independência, não deixes que ninguém decida por ti. Para isso, tens de ser capaz de te desenrascar sozinha. Entendido? - disse-me ela.
Nunca esqueci essa advertência."
Violeta del Valle é a primeira rapariga numa família de cinco irmãos truculentos. Nasce num dia de tempestade, em 1920, quando ainda se sentem os efeitos devastadores da Grande Guerra e a gripe espanhola chega ao seu país natal, na América do Sul.
Graças à ação determinada do seu pai, a família sairá incólume desta crise, apenas para ter de enfrentar uma outra: a Grande Depressão. A elegante vida urbana que Violeta conhecia até então muda drasticamente. Os Del Valle são forçados a viver numa região selvagem e remota, onde Violeta atinge a maioridade e viverá o primeiro amor.
Décadas depois, numa longa carta dirigida ao seu companheiro espiritual, o mais profundo amor da sua longa existência, Violeta relembra desgostos amorosos e apaixonadas relações, momentos de pobreza e de prosperidade, perdas terríveis e alegrias imensas. A sua vida será moldada por alguns dos momentos mais importantes da História: a luta pelos direitos da mulher, a ascensão e queda de tiranos, os ecos longínquos da Segunda Guerra Mundial.
Violeta é um romance de celebração.
Dos 80 anos de vida da autora e 40 de percurso literário
Isabel Allendenasceu a 2 de agosto de 1942, em Lima, no Peru. Viveu no Chile entre 1945 e 1975, com largos períodos de residência noutros locais, na Venezuela até 1988 e, desde então, na Califórnia.
Em 1982, o seu primeiro romance, A Casa dos Espíritos, transformou-se num dos títulos míticos da literatura latino-americana. A obra resultou num filme com o mesmo nome, realizado em 1993 por Bille August, com os atores Jeremy Irons, Meryl Streep, Glen Close, Winona Ryder e Antonio Banderas, tendo grande parte das rodagens decorrido em Lisboa e no Alentejo.
Seguiram-se muitos outros livros, todos êxitos internacionais e que podem ser requisitados na Biblioteca Municipal. A sua obra está traduzida em trinta e cinco línguas e vendeu mais de sessenta e sete milhões de exemplares. Recebeu mais de cinquenta prémios internacionais e treze doutoramentos honorários. Em 2010, foi galardoada no Chile com o Prémio Nacional de Literatura.
Em 2014, recebeu de Barack Obama a Medalha Presidencial da Liberdade.
Em 2020, recebeu o Prémio Liber, outorgado pela Federación de Gremios de Editores de España, que a classifica como a autora latino-americana mais destacada da atualidade.
Escrito durante o período da pandemia, o livro que hoje destacamos, Violeta, nasce da sua vontade de contar a história da sua mãe, Doña Panchita, falecida em 2018.
A sua vida inspirou uma minissérie de 3 episódios, num original da HBO Max, transmitido em 2022 na TVI.
" Há um tempo para viver e um tempo para morrer.
Entre ambos, há tempo para recordar.
Foi isso que fiz no silêncio destes dias em que pude escrever
José Carlos Barrosnasceu a 19 de julho de 1963, em Boticas.
É licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora. Vive e trabalha no Algarve, em Vila Nova de Cacela. Tem exercido atividade profissional no âmbito do ordenamento do território e da conservação da natureza e foi diretor do Parque Nacional da Ria Formosa. Foi também técnico superior do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e da Direção Regional do Ambiente do Algarve. Foi ainda vereador municipal na Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e deputado na Assembleia da República de 2015 a 2019.
Recebeu vários Prémios Literários:
Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama
Prémio Guerra Junqueiro
Prémio Literário Vila de Fânzeres
Prémio de Poesia Fernão de Magalhães
Prémio Leya 2021 por unanimidade e numa prova cega.
"Este livro foi escrito em dez anos. Se não tivesse ganho este prémio, como diria aos meus netos que o avô tinha estado dez anos da sua vida a escrever um livro que ninguém ia ler. Fico contente que por causa do prémio o livro seja falado, mas principalmente lido."
E é o romance vencedor do Prémio Leya 2021,
As pessoas Invisíveis
a nossa sugestão de leitura para o seu fim de semana
Em 1980, é encontrado em Berlim um caderno que relata a descoberta, em terras portuguesas, de uma jazida de ouro, segredo que levará o leitor aos anos da Segunda Guerra Mundial, à exploração de volfrâmio e à improvável amizade de um engenheiro alemão com o jovem Xavier Sarmiento, que descobre ter o dom de curar e se fascina com a ideia de Poder. É a sua história, de curandeiro e mágico a temido chefe das milícias, que acompanharemos ao longo do romance, assistindo às suas curas e milagres, bem como aos amores clandestinos e à fuga para África.
Percorrendo episódios da vida portuguesa ao longo de cinco décadas - das movimentações na raia transmontana, durante a Guerra Civil de Espanha, à morte de Francisco Sá Carneiro, As Pessoas Invisíveis é também a revisitação de um dos eventos mais trágicos e menos conhecidos da nossa história colonial: o massacre de um grande número de nativos forros, mostrando como o fim legal da escravatura precedeu, em muitas dezenas de anos, a sua efetiva abolição.
"E este pensamento unia-o à jovem magricela numa cumplicidade que não estava ainda preparado para compreender, embora lhe parecesse cada vez mais certo que há muitas pessoas no mundo que são invisíveis e que quase nenhuma sabe da invisibilidade das outras."