"Haveria de chegar uma altura em que Annie poderia fazer tudo o que lhe apetecesse; por agora estava convicta de que esse momento só chegaria quando fugisse dali. E não apenas de sua casa! O país era demasiado cinzento, sendo obrigatório guardar silêncio, tanto no interior da família como na sociedade. A revolta de Annie era, por enquanto, mais dirigida à mãe do que ao regime, apesar de as duas dimensões se confundirem na sua cabeça, tantas eram as vezes em que D. Nita elogiava Salazar e amaldiçoava Humberto Delgado."
Ana Maria Duarte Palhota da Silva Pais Lisboa 01-12-1935 / Cuba, Havana 17-07-1999
Annie Silva Pais, filha de Armanda e Fernando Silva Pais, trocou o marido e uma vida confortável na sombra do Estado Novo pelos ideais da revolução cubana. E por amor. Assumiu paixões tão ardentes como o fogo revolucionário e tornou-se tradutora e intérprete, membro confiado da equipa de Fidel Castro, à qual pertenceu até morrer. Para trás deixou a família e Portugal, onde regressou apenas em 1975, em trabalho e também para interceder pela libertação de seu pai, que nunca deixou de amar. Silva Pais foi o último diretor da PIDE.
O que leva uma filha do regime - filha de um dos homens fortes do regime -,
casada com um diplomata suíço, a largar tudo e encontrar um propósito
como militante da revolução cubana?
Ana Cristina Silvanasceu em Lisboa em 1964. É professora no ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida na área de Aquisições Precoces da Linguagem Escrita, Ortografia e Produção Textual.
Autora de 15 romances e de um livro de contos, foi três vezes finalista do Prémio Literário Fernando Namora (2011, 2012 e 2013), que venceu em 2017 com o romance A Noite Não é Eterna e que pode requisitar na Biblioteca Municipal.
Recebeu também o Prémio Literário Urbano Tavares Rodrigues pelo romance O Rei do Monte Brasil, em 2012. No romance que hoje divulgamos, À Procura da Manhã Clara, a autora combina realidade com ficção. Pesando factos e indícios, oferece-nos um retrato pleno de intimidade e humanidade, numa galeria de personagens, de entre as quais sobressai Che Guevara, o grande amor de Annie.
"Trouxeste a revolução a Cuba e também à minha vida. Amo-te, amo-te, amo-te, e não é só com recordações que te guardo dentro de mim. O que te torna ainda mais presente são os teus ideais e o propósito de libertar a Humanidade de um mundo tão feroz."
"- Não és nenhuma fedelha. Defende a tua independência, não deixes que ninguém decida por ti. Para isso, tens de ser capaz de te desenrascar sozinha. Entendido? - disse-me ela.
Nunca esqueci essa advertência."
Violeta del Valle é a primeira rapariga numa família de cinco irmãos truculentos. Nasce num dia de tempestade, em 1920, quando ainda se sentem os efeitos devastadores da Grande Guerra e a gripe espanhola chega ao seu país natal, na América do Sul.
Graças à ação determinada do seu pai, a família sairá incólume desta crise, apenas para ter de enfrentar uma outra: a Grande Depressão. A elegante vida urbana que Violeta conhecia até então muda drasticamente. Os Del Valle são forçados a viver numa região selvagem e remota, onde Violeta atinge a maioridade e viverá o primeiro amor.
Décadas depois, numa longa carta dirigida ao seu companheiro espiritual, o mais profundo amor da sua longa existência, Violeta relembra desgostos amorosos e apaixonadas relações, momentos de pobreza e de prosperidade, perdas terríveis e alegrias imensas. A sua vida será moldada por alguns dos momentos mais importantes da História: a luta pelos direitos da mulher, a ascensão e queda de tiranos, os ecos longínquos da Segunda Guerra Mundial.
Violeta é um romance de celebração.
Dos 80 anos de vida da autora e 40 de percurso literário
Isabel Allendenasceu a 2 de agosto de 1942, em Lima, no Peru. Viveu no Chile entre 1945 e 1975, com largos períodos de residência noutros locais, na Venezuela até 1988 e, desde então, na Califórnia.
Em 1982, o seu primeiro romance, A Casa dos Espíritos, transformou-se num dos títulos míticos da literatura latino-americana. A obra resultou num filme com o mesmo nome, realizado em 1993 por Bille August, com os atores Jeremy Irons, Meryl Streep, Glen Close, Winona Ryder e Antonio Banderas, tendo grande parte das rodagens decorrido em Lisboa e no Alentejo.
Seguiram-se muitos outros livros, todos êxitos internacionais e que podem ser requisitados na Biblioteca Municipal. A sua obra está traduzida em trinta e cinco línguas e vendeu mais de sessenta e sete milhões de exemplares. Recebeu mais de cinquenta prémios internacionais e treze doutoramentos honorários. Em 2010, foi galardoada no Chile com o Prémio Nacional de Literatura.
Em 2014, recebeu de Barack Obama a Medalha Presidencial da Liberdade.
Em 2020, recebeu o Prémio Liber, outorgado pela Federación de Gremios de Editores de España, que a classifica como a autora latino-americana mais destacada da atualidade.
Escrito durante o período da pandemia, o livro que hoje destacamos, Violeta, nasce da sua vontade de contar a história da sua mãe, Doña Panchita, falecida em 2018.
A sua vida inspirou uma minissérie de 3 episódios, num original da HBO Max, transmitido em 2022 na TVI.
" Há um tempo para viver e um tempo para morrer.
Entre ambos, há tempo para recordar.
Foi isso que fiz no silêncio destes dias em que pude escrever
José Carlos Barrosnasceu a 19 de julho de 1963, em Boticas.
É licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora. Vive e trabalha no Algarve, em Vila Nova de Cacela. Tem exercido atividade profissional no âmbito do ordenamento do território e da conservação da natureza e foi diretor do Parque Nacional da Ria Formosa. Foi também técnico superior do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e da Direção Regional do Ambiente do Algarve. Foi ainda vereador municipal na Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e deputado na Assembleia da República de 2015 a 2019.
Recebeu vários Prémios Literários:
Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama
Prémio Guerra Junqueiro
Prémio Literário Vila de Fânzeres
Prémio de Poesia Fernão de Magalhães
Prémio Leya 2021 por unanimidade e numa prova cega.
"Este livro foi escrito em dez anos. Se não tivesse ganho este prémio, como diria aos meus netos que o avô tinha estado dez anos da sua vida a escrever um livro que ninguém ia ler. Fico contente que por causa do prémio o livro seja falado, mas principalmente lido."
E é o romance vencedor do Prémio Leya 2021,
As pessoas Invisíveis
a nossa sugestão de leitura para o seu fim de semana
Em 1980, é encontrado em Berlim um caderno que relata a descoberta, em terras portuguesas, de uma jazida de ouro, segredo que levará o leitor aos anos da Segunda Guerra Mundial, à exploração de volfrâmio e à improvável amizade de um engenheiro alemão com o jovem Xavier Sarmiento, que descobre ter o dom de curar e se fascina com a ideia de Poder. É a sua história, de curandeiro e mágico a temido chefe das milícias, que acompanharemos ao longo do romance, assistindo às suas curas e milagres, bem como aos amores clandestinos e à fuga para África.
Percorrendo episódios da vida portuguesa ao longo de cinco décadas - das movimentações na raia transmontana, durante a Guerra Civil de Espanha, à morte de Francisco Sá Carneiro, As Pessoas Invisíveis é também a revisitação de um dos eventos mais trágicos e menos conhecidos da nossa história colonial: o massacre de um grande número de nativos forros, mostrando como o fim legal da escravatura precedeu, em muitas dezenas de anos, a sua efetiva abolição.
"E este pensamento unia-o à jovem magricela numa cumplicidade que não estava ainda preparado para compreender, embora lhe parecesse cada vez mais certo que há muitas pessoas no mundo que são invisíveis e que quase nenhuma sabe da invisibilidade das outras."
O Jef mostra-me um enorme computador de secretária. Ele acabou de me fazer uma visita guiada à igreja para me dar alguma orientação no meu primeiro dia. Tem as mãos nas ancas e está a franzir o sobrolho apreensivamente perante a primordial máquina de tom bege.
- Sabes ligá-lo? - pergunta-me de modo tímido.
Carrego no proeminente botão START. O computador emite um ruído como um cortador de relva reanimado.
- Uau! - o rosto do Jef ilumina-se ao mesmo tempo que o monitor. - Não posso acreditar que já o tenhas posto a funcionar!
Sorrio, nervosa, satisfeita por descobrir que este homem fica facilmente impressionado."
"O equilíbrio perfeito entre macabro e divertido"
Buzzfeed
Gilda não consegue parar de pensar na morte, imaginando cenários terríveis e improváveis que a deixam de coração aos saltos e com falta de ar. A sua ansiedade é tão grave, que os funcionários das urgências já a conhecem. Desesperada por encontrar algum alívio, dirige-se a uma igreja católica que oferece serviços de psicoterapia, onde é recebida pelo padre Jeff, que depreende que ela está ali para uma entrevista de emprego. Demasiado envergonhada para o corrigir, Gilda confirma e acaba por ser contratada como rececionista, para substituir a antiga funcionária, Grace, uma mulher idosa recentemente falecida.
O problema é que Gilda não só não é católica como também é ateia e lésbica. Sentindo que tem de manter as aparências, decide aprender os procedimentos da igreja, enquanto tenta ganhar coragem para lavar a pilha de louça que se acumula no chão da sua casa e convencer a namorada de que, apesar do aspeto cada vez mais preocupante, está tudo bem consigo.
No decorrer das suas funções, Gilda encontra a correspondência trocada entre Grace e a sua velha amiga Rosemary, mas não tem coragem de lhe dar a má notícia, pelo que começa a fazer-se passar por Grace por e-mail, encontrando algum consolo naquela troca de palavras generosas. Contudo, quando a morte de Grace começa a ser investigada pela polícia, Gilda vê-se obrigada a lidar com as mentiras que contou e que podem revelar a toda a gente a forma como tem verdadeiramente vivido.
Emily Austin nasceu em Ontário, no Canadá, e vive atualmente em Otava. Estudou Literatura Inglesa e Ciências da Informação e da Documentação na Western University.
Trabalhou como livreira, professora e técnica de informação. Em 2020, recebeu uma bolsa de escrita criativa do Canadian Council for the Arts.
O livro que hoje sugerimos aos nossos Leitores é o seu primeiro romance e tem recebido ótimas críticas, quer dos leitores quer de outros autores.
"Até agora, apenas pus "gosto" acidentalmente em dois tweets inapropriados a partir da conta da igreja, tendo-me esquecido de que não estava a usar a minha conta pessoal."
Maria Callas é indissociável da sua voz. Marie Curie amou a ciência acima de tudo, Coco Chanel, a moda e Marguerite Yourcenar, a sua literatura. A extravagante Gala Dalí entregou-se à arte, enquanto Wallis Simpson se deixou fascinar pelo estatuto e pela riqueza. Golda Meir amou a terra, o povo e um projeto político; a atriz Marlene Dietrich, por seu turno, amou homens, mulheres e a sétima arte. Jacqueline Kennedy Onassis viveu sempre perto de homens de poder; já madre Teresa de Calcutá entregou-se a Deus e ao outro, sem limites.
Uma História fascinante sobre as mulheres que desafiaram convenções,
alcançaram o êxito e o poder e amaram sem limites.
Os seus feitos ajudaram a moldar o século XX
e abriram portas a muitas outras mulheres pelo mundo fora.
"Quando escolhi Dez mulheres que amaram demais para título deste livro, estava, obviamente, a debruçar-me sobre um tema que sempre me interessou e que reporta à vida de grandes mulheres que, tendo-se distinguido nos mais variados campos, souberam alcançar fama e poder, mas também se apaixonaram de forma explosiva. (...)
O amor físico e carnal, erótico e sensual terá sido componente destas vidas, apesar de constituir o lado menos conhecido de algumas delas. O qual, nem por isso, deixou de as completar como mulheres. E, afinal, é esse lado mais obscuro que este livro procura revelar. (...)
A vida desta dezena de mulheres marcou, para o bem ou para o mal, uma boa parte do século passado."