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março 01, 2017
fevereiro 24, 2017
IR PARA A FOLIA OU FICAR NO SOFÁ?
Carnaval de Carybé (1911-1997) |
É já este fim de semana que se vai "Brincar ao Carnaval".
Para quem gostar da Folia, não vale a pena falar em leitura de fim de semana.
Mas... há sempre um ou outro Leitor,
ansioso pelo fim de semana para ficar no sofá, com uma bebida quente e ... UM LIVRO;
ou, então, sentar-se no sofá e ver uma "maratona" de Séries.
A Rainha do Sul diz-lhe alguma coisa?
Teresa Mendoza, sabe quem é?
Epifanio Vargas sabe o que faz?
Joaquim de Almeida consegue apanhar a agenda de Güero?
Joaquim de Almeida, no papel de Epifanio Vargas |
Na série A Rainha do Sul, que é transmitida todas as quintas-feiras no canal Fox Life, pelas 23h05, Teresa Mendoza, interpretada pela atriz Alice Braga, sobrinha da nossa conhecida Sonia Braga, contracena com Joaquim de Almeida, no papel de Epifanio Vargas.
Foi baseada no romance do escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte, editado pelas Edições ASA, e que o Leitor pode requisitar para leitura do seu fim de semana.
Teresa Mendoza é uma mulher solitária que constrói um império a partir do nada num mundo implacável inteiramente dominado por homens, o mundo do narcotráfico.
Uma história de corrupção, amor e morte que nos revela o que de melhor e de pior existe no ser humano.
Teresa vê-se forçada a fugir do México quando o namorado, que trabalhava para um cartel de droga, é assassinado. Este vai ser o momento de viragem na sua vida. Pobre e analfabeta, estava longe de imaginar que acabaria por se converter numa lenda do narcotráfico espanhol.
No final, aquela que regressa à sua terra natal para ajustar contas com o passado será uma Teresa muito diferente da que fugiu doze anos antes.
Um romance onde não há bons nem maus, mas que é o reflexo de um universo cruel onde matar, morrer, enganar, corromper, trair, subornar e traficar faz parte do quotidiano. Um mundo em que a moralidade é em absoluto impraticável e onde a chave do sucesso reside, ironicamente, na falta de esperança.
Teresa vê-se forçada a fugir do México quando o namorado, que trabalhava para um cartel de droga, é assassinado. Este vai ser o momento de viragem na sua vida. Pobre e analfabeta, estava longe de imaginar que acabaria por se converter numa lenda do narcotráfico espanhol.
No final, aquela que regressa à sua terra natal para ajustar contas com o passado será uma Teresa muito diferente da que fugiu doze anos antes.
Um romance onde não há bons nem maus, mas que é o reflexo de um universo cruel onde matar, morrer, enganar, corromper, trair, subornar e traficar faz parte do quotidiano. Um mundo em que a moralidade é em absoluto impraticável e onde a chave do sucesso reside, ironicamente, na falta de esperança.
"Não escrevo para que o mundo seja melhor.
Eu escrevo romances em legítima defesa."
Arturo Pérez-Reverte, nasceu em Cartagena a 24 de novembro de 1951. Antigo repórter de guerra, dedica-se exclusivamente à escrita desde 1980. O seu grande êxito, A Tábua de Flandres, foi publicado em 1990, foi um sucesso de vendas, mereceu o Grande Prémio francês para a categoria de romance policial, faz parte do Plano Nacional de Leitura como sugestão de leitura para o ensino secundário e, pode ser requisitado pelo Leitor.
Em 2003 foi eleito membro da Real Academia Espanhola.
Da sua vasta bibliografia, para além dos romances acima mencionados, o Leitor encontra na Biblioteca Municipal, ainda, os seguintes títulos: Território Comache, Um Dia de Cólera, A Pele do Tambor, galardoado com o Prémio Jean Monnet para a Literatura Euripeia.
Como repórter de guerra, durante mais de vinte anos, esteve no Líbano, Nicarágua, Moçambique, Eritreia, Jugoslávia, entre outros países em conflito.
"A História permite-nos compreender melhor o presente. O novo não é mais do que o passado que já esquecemos. Tudo já aconteceu. Quem não leu a Guerra de Tróia, não compreende Sarajevo, quem não leu Xenofonte não compreende a guerra dos mercenários em Angola, em 1978."
Tem uma visão pessimista do mundo, odeia o humanismo cristão, " O problema da Europa neste momento é que não tem líderes. O melhor que conseguimos é Merkel. Rajoy é um medíocre. Portugal está como está. (..) Dentro de 20 anos chegarão os fascismos. Haverá movimentos neonazis vitoriosos por toda a Europa. (...) Mas eu já não vou cá estar, já não me importa."
Em 2003 foi eleito membro da Real Academia Espanhola.
Da sua vasta bibliografia, para além dos romances acima mencionados, o Leitor encontra na Biblioteca Municipal, ainda, os seguintes títulos: Território Comache, Um Dia de Cólera, A Pele do Tambor, galardoado com o Prémio Jean Monnet para a Literatura Euripeia.
Como repórter de guerra, durante mais de vinte anos, esteve no Líbano, Nicarágua, Moçambique, Eritreia, Jugoslávia, entre outros países em conflito.
"A História permite-nos compreender melhor o presente. O novo não é mais do que o passado que já esquecemos. Tudo já aconteceu. Quem não leu a Guerra de Tróia, não compreende Sarajevo, quem não leu Xenofonte não compreende a guerra dos mercenários em Angola, em 1978."
Tem uma visão pessimista do mundo, odeia o humanismo cristão, " O problema da Europa neste momento é que não tem líderes. O melhor que conseguimos é Merkel. Rajoy é um medíocre. Portugal está como está. (..) Dentro de 20 anos chegarão os fascismos. Haverá movimentos neonazis vitoriosos por toda a Europa. (...) Mas eu já não vou cá estar, já não me importa."
Ficou indeciso entre ir para a rambóia
ou ficar quentinho no sofá com a nossa sugestão de leitura.
Qualquer que seja a sua escolha
Tenha um bom fim de semana.
fevereiro 14, 2017
O TEU NOME FLUTUANDO NO ADEUS
"Adeus, meu amor, disse eu e fechei a porta suavemente, talvez porque o instinto de macho ferido procurasse truques para tornar a lápide mais leve. Desci pela última vez com passos cansados aquela escada de mármore, vi-me refletido nos espelhos dos patamares e soube que nunca mais voltaria.
Estava frio em Hamburgo. A neve de janeiro caía com lentidão, absurdamente grácil, em enormes flocos que levitavam antes de cobrir os carros, as tílias nuas e os meus ombros como se fosse a caspa da dor. (...)
- Há meia hora disse adeus à mulher que amo - murmurei enquanto lhe devolvia a garrafa.
- Merda. E o que pensas fazer?
- Sofrer como um cavalo. Que mais posso fazer? E o pior de tudo é que estou a sofrer num idioma que não é o meu.
- Santíssima merda. E em que idioma costumas sofrer? - perguntou, oferecendo-me a garrafa.
- Em espanhol - respondi antes de dar outro longo golo.
- La rana de San Roque no tiene rabo - exclamou no meu idioma e a seguir começou a rir com escandalosas gargalhadas de alcoólico.
Hesitei entre dar-lhe um pontapé em pleno focinho ou passar-lhe um par de cigarros. Acabei por optar pela última hipótese e afastei-me na direção dos telefones públicos. Sabia que em casa, na minha casa, na casa atraiçoada, uma mulher, a minha mulher, dormia ignorante da sua vitória, porque ela era a vencedora de uma batalha da qual o amor se retirara com o rabo entre as pernas. (...)
Casablanca, 1943 |
Senti tudo isso quando vi pela primeira vez Silke.
- Aqui a minha mulher, aqui uns amigos famintos e molhados - apresentou o velho Kurt.
Os cães uivaram quando lhe dei a mão, os galos cantaram quando aproximou o rosto, ciciaram todos os bronzes e todos os répteis, quando os seus lábios roçaram fugazmente a minha cara no beijo de saudação.(...)
Férias em Roma, 1953 |
- E assim estão as coisas, velho Kurt. Não fui capaz de cumprir a tua exigência. Não será feliz comigo nem eu serei feliz sem ela. Há algumas horas bebi dos seus lábios pela última vez e as palavras de amor não resistiram ao furacão da razão. Disse-lhe adeus e mordi-me a alma."
In, A Ilha, de Luís Sepúlveda
O Leitor acabou de ler apenas um pequeno enxerto de um conto de Luis Sepúlveda incluído no livro
publicado pela Oficina do Livro, onde nove grandes romancistas revelam as suas mais secretas histórias de amor.
Desencontros amorosos e naufrágios afetivos cruzam-se
com sonho e traição, infidelidade e paixão,
é a nossa sugestão para hoje,
14 de fevereiro - DIA dos NAMORADOS
é a nossa sugestão para hoje,
14 de fevereiro - DIA dos NAMORADOS
Como o amor e a traição andam, muitas vezes, associados, não se esqueça de passar pela Biblioteca Municipal e ficar a conhecer algumas traições que ficaram famosas na literatura, constituindo verdadeiros best sellers, que continuam a apaixonar diferentes gerações de leitores.
fevereiro 08, 2017
FAZES-ME FALTA, INÊS.
"Fazes-me falta, Inês.
Fazes-me falta como o sol pode fazer falta ao verão, o mar fazer falta ao navio. Bem sei que a muralha que Dona Constança ergueu entre nós não tem brechas, que permanece altiva, lançando uma sombra que se estende sobre toda a minha vida e sobre tudo o que me rodeia. O nosso amor foi condenado ao exílio. Mas haverá coisa mais teimosa do que o amor? (...)
Fazes-me falta, Inês. (...)
Ela chama-se Inês de Castro.
Ele é D. Pedro, o herdeiro da Coroa portuguesa.
Têm ambos 20 anos e amam-se. Estamos em 1340.
Sem o saberem, escreverão uma das mais belas páginas do grande livro dos amores lendários.
Apanhados nas malhas de uma tremenda conjura, serão dilacerados pela oposição entre as razões do Estado e as razões do coração.
De Portugal à planície veneziana, de Castela ao palácio dos papas, Gilbert Sinoué transporta-nos ao coração de um fabuloso fresco onde a pureza de sentimentos se confronta com a crueza dos tempos e o amor devorador com as ambições políticas.
Entre ficção e realidade, entre tragédia e conspiração, o autor leva-nos à célebre e mítica história de uma louca paixão: o amor entre dois seres que nem a morte poderá separar.
Escrito por Gilbert Sinoué
Editado pela Difel
A Rainha Crucificada
Dom Pedro reinou durante dez anos, tendo morrido em Estremoz, em 1367. De acordo com os seus desejos, foi levado para Alcobaça, onde repousa, desde então, junto a Inês. Antes de morrer, teve o cuidado de designar como seu sucessor Dom Fernando, o filho nascido do seu casamento com Dona Constança.
Gilbert Sinoué, filho de pai egípcio e de mãe grega, nasceu a 18 de fevereiro de 1947, no Cairo, Egito, país que deixou aos 18 anos depois dos seus estudos nos jesuítas. Decididamente multifacetado, trabalha num jornal francófono, experimenta a pintura, conhece Brel, parte para Beirute, chega a Paris em 1968, corre os cabarés da Rive Gauche, grava discos, dá aulas de guitarra. Autor-compositor-intérprete, chegou mesmo a participar num festival de Spa. Todavia, tem necessidade de escrever. Um primeiro manuscrito não encontra editor. Mas obstina-se e com razão: La Pourpre et l'olivier foi editado em 1987 e é galardoado com o Prémio de Romance Histórico.
Voltou a ser galardoado, em 2001 com o Grande Prémio do Romance e em 2004, com o Grande Prémio da Literatura Policial.
A que depois de morta foi rainha Lima de Freitas (1927-1998) |
"Cem trombetas encheram os ares, apoiadas por novo rufar do tambor.
Quando voltou a fazer-se silêncio, ele ordenou:
- Instalai Dona Inês no trono! (...)
- A coroa! (...)
- Senhores! Vinde prestar homenagem à vossa rainha! A rainha crucificada!"
fevereiro 03, 2017
FELIZ ANIVERSÁRIO PAUL AUSTER
Paul Auster por André Carrilho |
"A literatura é essencialmente solidão. Escreve-se em solidão, lê-se em solidão e,
apesar de tudo, o ato de leitura permite uma comunicação entre dois seres humanos."
Paul Auster
Nome cimeiro da literatura norte-americana dos nossos dias, Paul Auster nasceu a 3 de fevereiro de 1947 em Newark, Nova Jersey. Em 1970 licenciou-se na Universidade de Columbia e residiu durante quatro anos em França, antes de se radicar em Nova Iorque. A sua proximidade à literatura francesa haveria de marcá-lo para sempre. É admirador de André Breton, Paul Éluard, Stéphane Mallarmé, Sartre e Blanchot, alguns dos quais traduziu para a língua inglesa. Além destes consagrados autores franceses, Paul Auster refere ainda Dostoiévski, Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Faulkner, Kafka, Holderlin, Beckett e Proust, como autores que influenciam a sua obra.
Apaixonado também pelo cinema, em 1998 realizou o seu primeiro filme, Lulu on the Bridge.
Paul Auster já foi traduzido em mais de 40 línguas e vendeu milhões de livros (ficção, poesia, ensaio) e nosso país foram mais de 220 mil exemplares vendidos.
Venceu em 2003 o Prémio Médicis e em 2006 o Prémio Princesa das Astúrias.
Hoje é editado entre nós o seu mais recente romance "4 3 2 1" e, enquanto não chega às prateleiras da Biblioteca Municipal, tem o Leitor, para leitura do seu fim de semana, a bibliografia de Paul Auster à sua disposição na nossa mostra bibliográfica no átrio de entrada.
É membro da Academia norte-americana de Artes e Letras, da de Artes e Ciências e presidente do PEN América, cargo que aceitou para liderar a oposição dos escritores americanos ao novo presidente norte-americano, Donald Trump. "Vou falar tanto quanto puder, caso contrário não consigo viver comigo mesmo".
Em setembro deste ano, Paul Auster irá estar em Portugal para participar no próximo Festival Internacional de Cultura de Cascais.
Apaixonado também pelo cinema, em 1998 realizou o seu primeiro filme, Lulu on the Bridge.
Paul Auster já foi traduzido em mais de 40 línguas e vendeu milhões de livros (ficção, poesia, ensaio) e nosso país foram mais de 220 mil exemplares vendidos.
Venceu em 2003 o Prémio Médicis e em 2006 o Prémio Princesa das Astúrias.
Hoje é editado entre nós o seu mais recente romance "4 3 2 1" e, enquanto não chega às prateleiras da Biblioteca Municipal, tem o Leitor, para leitura do seu fim de semana, a bibliografia de Paul Auster à sua disposição na nossa mostra bibliográfica no átrio de entrada.
"Escrever já não é para mim um ato de livre vontade, é uma questão de sobrevivência."
É membro da Academia norte-americana de Artes e Letras, da de Artes e Ciências e presidente do PEN América, cargo que aceitou para liderar a oposição dos escritores americanos ao novo presidente norte-americano, Donald Trump. "Vou falar tanto quanto puder, caso contrário não consigo viver comigo mesmo".
Em setembro deste ano, Paul Auster irá estar em Portugal para participar no próximo Festival Internacional de Cultura de Cascais.
John Singer Sargent |
Bom Fim de Semana com Boas Leituras
fevereiro 01, 2017
janeiro 24, 2017
SILÊNCIO
"E se, por hipótese, Deus não existisse mesmo?" hipótese aterradora! Se Deus não existisse, como tudo se tornaria ridículo! Que drama absurdo teriam sido as vidas de Mokichi e Ichizo, amarrados a um poste, batidos pelas vagas! E os missionários, três anos a sulcar os mares para chegarem a este país!...Que tremenda desilusão a deles! E que absurda situação a minha, vagueando por estes desolados montes. (...) O pecado maior contra Deus é o desespero, bem o sabia, mas o silêncio de Deus é que não me dava para entender".
In, Silêncio
de Shusaku Endo
Em cena no Cinema Teatro Stephens até amanhã, dia 25 de janeiro, o mais recente filme de Martin Scorsese, SILÊNCIO, com a participação de Andrew Garfield, Adam Drives e Liam Neeson ( na foto), entre outros, é uma adaptação de romance com o mesmo nome do japonês Shusaku Endo, e que hoje divulgamos aos nossos leitores.
Considerado o mais importante romance de Shusaku Endo, cuja ação decorre no Japão no século XVII, narra a história de um missionário português envolvido na aventura espiritual da conversão dos povos orientais, o qual acaba por apostatar (renegar a fé cristã), após ter sido sujeito às mais abomináveis pressões das autoridades japonesas, para evitar que um grupo de fiéis seja por ordem delas torturado até à morte.
Antes de chegar ao Japão, a sua viagem levara-o a Goa, depois Macau e, finalmente, a Nagasáqui e Edo, em etapas que pouco a pouco o haviam transportado a esse Oriente hostil, onde no entanto já se contavam alguns milhares de convertidos à fé católica. Aí descobriria, na luta contra as pessoas e o ambiente adversos, a verdadeira fé, liberta de todo o aparato externo, eclesiástico ou mundano. E aí acabaria por experimentar a derradeira solidão, que é o destino daqueles que quebram a comunhão com aquilo que mais profundamente marca a sua identidade.
"Fica-se quase doente ao ler Silêncio, mas rendemo-nos à verdade e força
dos estados de alma e das confissões das personagens.
As descrições da natureza são magníficas:
as estações do ano, as árvores, as cigarras, o concerto dos pequenos animais da floresta"
Urbano Tavares Rodrigues
Shusaku Endo, nasceu em Tóquio a 27 de março de 1923. Católico desde a infância, foi batizado em 1935, aos 12 anos e foi-lhe dado o nome cristão de Paul. Formou-se em Literatura Francesa, pela Universidade de Keio, tendo estudado depois durante algum tempo em Lyon, como bolseiro do governo japonês.
O seu estilo de escrita tem sido comparado ao de Graham Greene, que aliás o considerava um dos maiores escritores do século XX. Por diversas vezes nomeado para o Prémio Nobel da Literatura, foi galardoado com os mais importantes prémios literários do seu país.
Com o presente romance, o autor mostra que a verdadeira fé, seja ela cristã, budista ou muçulmana, não consiste uma obediência cega dos dogmas religiosos mas, antes, numa constante interpretação das grandes narrativas canónicas e no respeito pelo valor da vida humana.
A 29 de setembro de 1996, faleceu em Tóquio. Vinte anos passados sobre a sua morte, Shusaku Endo continua a ser uma referência para os cristãos japoneses ( 1% da população japonesa) que vivem em constante diálogo cultural e inter-religioso.
O seu estilo de escrita tem sido comparado ao de Graham Greene, que aliás o considerava um dos maiores escritores do século XX. Por diversas vezes nomeado para o Prémio Nobel da Literatura, foi galardoado com os mais importantes prémios literários do seu país.
Com o presente romance, o autor mostra que a verdadeira fé, seja ela cristã, budista ou muçulmana, não consiste uma obediência cega dos dogmas religiosos mas, antes, numa constante interpretação das grandes narrativas canónicas e no respeito pelo valor da vida humana.
A 29 de setembro de 1996, faleceu em Tóquio. Vinte anos passados sobre a sua morte, Shusaku Endo continua a ser uma referência para os cristãos japoneses ( 1% da população japonesa) que vivem em constante diálogo cultural e inter-religioso.
Veja o Filme,mas leia também o Livro
janeiro 18, 2017
18 DE JANEIRO DE 1934
Em 18 de janeiro de 1934, eclode, em vários pontos do país, um "Greve Geral Revolucionária" contra o salazarismo. Não podendo contar com a participação da corrente republicana, a revolta é sufocada.
Várias foram as interpretações propostas por estudiosos, sindicalistas e políticos. Mas, após o 25 de Abril, o "18 de janeiro" transforma-se em grande mito revolucionário comunista.
O livro da historiadora Fátima Patriarca, Sindicatos contra Salazar: A revolta do 18 de janeiro de 1934, que hoje sugerimos para assinalar os 83 anos sobre aquela data, é o resultado da leitura minuciosa de quanto se escreveu, desde então, sobre tão importante acontecimento feito lenda.
Ao tentar reconstruir os acontecimentos, com a ajuda de novos elementos e a consulta inédita de arquivos, a autora procura também perceber os mecanismos da criação de um mito.
"Na Marinha Grande, os assaltos à estação dos correios e ao posto da GNR, envolvendo este último o desarmamento e a prisão dos doze elementos que o compunham, a atentado contra a residência de Emílio Galo, a reabertura da sede sindical e os posteriores confrontos com forças policiais e militares de Leiria, apesar da sua indesmentível ousadia e espetacularidade, também não chegam a ser seguidos de greve, quanto mais não seja porque as autoridades militares decretam o estado de sítio a 18 e greve é algo que não chega a existir a 19. (...)
Os cortes de comunicações, ainda que apontados, normalmente, como meios de impedir a ação das forças repressivas, e que na Marinha Grande não são impeditivos de coisa nenhuma, mais não fazem do que isolar, de forma irremediável, as localidades e os focos de revolta, como se os sindicalistas tivessem decidido, exatamente, coartar os seus próprios movimentos e, de algum modo, auto-sitiar-se. (...)
Se nos lembrarmos de que a rendição e prisão dos elementos da GNR local ocorrera entre as 5 e as 6 horas da manhã e se admitirmos que as forças policiais vindas de Leiria entraram na Marinha Grande pelas 7 horas, torna-se evidente que a vila teria estado sob controlo dos revoltosos, sem lutas e sobressaltos, no máximo pouco mais de uma hora. Por fim, com a chegada das forças de Leiria e a debandada dos revoltosos, a insurreição encontra-se terminada, na melhor das hipóteses, pelas 8 horas da manhã.(...)
E o comandante militar, major Jaime da Fonseca, não deixa margem para dúvidas. Em telegrama que dirige ao ministro do Interior, declara ter assumido o "comando militar" e ordenado" a suspensão das garantias". Pelas 11.20, hora a que fora expedido o telegrama, a ordem encontrava-se restabelecida na Marinha Grande e o major informava o ministro de que estava a "proceder às diligências necessárias na vila e mata nacional para a captura dos revoltosos."
Com as fábricas encerradas e o trânsito limitado, greve é algo que deixa de poder existir.
Os únicos factos a registar ao longo do dia 18 situam-se, assim, do lado das forças da ordem, as quais procedem a uma série de buscas e prisões arbitrárias.
(...) o teste da greve na Marinha Grande ia ser feito, não a 18, mas a 19. E sê-lo-ia em condições particularmente adversas."
O livro da historiadora Fátima Patriarca, Sindicatos contra Salazar: A revolta do 18 de janeiro de 1934, que hoje sugerimos para assinalar os 83 anos sobre aquela data, é o resultado da leitura minuciosa de quanto se escreveu, desde então, sobre tão importante acontecimento feito lenda.
Ao tentar reconstruir os acontecimentos, com a ajuda de novos elementos e a consulta inédita de arquivos, a autora procura também perceber os mecanismos da criação de um mito.
"Na Marinha Grande, os assaltos à estação dos correios e ao posto da GNR, envolvendo este último o desarmamento e a prisão dos doze elementos que o compunham, a atentado contra a residência de Emílio Galo, a reabertura da sede sindical e os posteriores confrontos com forças policiais e militares de Leiria, apesar da sua indesmentível ousadia e espetacularidade, também não chegam a ser seguidos de greve, quanto mais não seja porque as autoridades militares decretam o estado de sítio a 18 e greve é algo que não chega a existir a 19. (...)
Os cortes de comunicações, ainda que apontados, normalmente, como meios de impedir a ação das forças repressivas, e que na Marinha Grande não são impeditivos de coisa nenhuma, mais não fazem do que isolar, de forma irremediável, as localidades e os focos de revolta, como se os sindicalistas tivessem decidido, exatamente, coartar os seus próprios movimentos e, de algum modo, auto-sitiar-se. (...)
Se nos lembrarmos de que a rendição e prisão dos elementos da GNR local ocorrera entre as 5 e as 6 horas da manhã e se admitirmos que as forças policiais vindas de Leiria entraram na Marinha Grande pelas 7 horas, torna-se evidente que a vila teria estado sob controlo dos revoltosos, sem lutas e sobressaltos, no máximo pouco mais de uma hora. Por fim, com a chegada das forças de Leiria e a debandada dos revoltosos, a insurreição encontra-se terminada, na melhor das hipóteses, pelas 8 horas da manhã.(...)
E o comandante militar, major Jaime da Fonseca, não deixa margem para dúvidas. Em telegrama que dirige ao ministro do Interior, declara ter assumido o "comando militar" e ordenado" a suspensão das garantias". Pelas 11.20, hora a que fora expedido o telegrama, a ordem encontrava-se restabelecida na Marinha Grande e o major informava o ministro de que estava a "proceder às diligências necessárias na vila e mata nacional para a captura dos revoltosos."
Com as fábricas encerradas e o trânsito limitado, greve é algo que deixa de poder existir.
Os únicos factos a registar ao longo do dia 18 situam-se, assim, do lado das forças da ordem, as quais procedem a uma série de buscas e prisões arbitrárias.
(...) o teste da greve na Marinha Grande ia ser feito, não a 18, mas a 19. E sê-lo-ia em condições particularmente adversas."
Fátima Patriarca,
In Sindicatos contra Salazar: A revolta de 18 de janeiro de 1934
Boa Semana
Com Boas Leituras
janeiro 12, 2017
POIS SIM; MAS EU É QUE NÃO ESTOU PARA O ATURAR
Estreou nas salas de cinema a 5 de janeiro, o filme Zeus, realizado por Paulo Filipe Monteiro.
Manuel Teixeira Gomes, representante do Partido Democrático, foi o sétimo presidente da Primeira República Portuguesa, de 6 de outubro de 1923 a 11 de dezembro de 1925, no meio de permanentes convulsões políticas e sociais. A 11 de dezembro de 1925 enviou uma carta de renúncia ao Presidente do Congresso, alegando motivos de saúde, e dando início a um exílio voluntário de 15 anos: " Pois sim; mas eu é que não estou para o aturar", numa alusão ao presidente do Conselho.
Político, escritor e diplomata, Manuel Teixeira Gomes, nasceu a 27 de maio de 1862, em Portimão. Aos dez anos mudou-se para Coimbra para estudar no liceu do Seminário Diocesano, onde travou conhecimento com José Relvas. Em Lisboa frequentava regularmente a Biblioteca Nacional e conviveu com João de Deus e Fialho de Almeida. Depois de cumprir o serviço militar fixou-se na cidade do Porto, tendo colaborado com o jornal Primeiro de Janeiro e noutros jornais e revistas de menor expansão. Deixou a vida boémia do Porto e regressou a Portimão a fim de ajudar o seu pai nos negócios familiares. Aí e paralelamente à atividade comercial, continuou a escrever e interessou-se pela atividade republicana local, participando em comícios, reuniões e colaborando no jornal A Luta.
Em 1910, com a Implantação da República, foi nomeado embaixador em Londres, tornando-se assim o primeiro representante da República no Reino Unido. No exercício das suas funções evidenciou-se nas negociações anglo-germânicas, relativas às colónias portuguesas, na cooperação com os governos portugueses na Primeira Guerra Mundial e integrou os círculos do movimento das sufragistas na capital londrina.
O facto de defender a entrada de Portugal na guerra, trouxe-lhe inimizades, levando-o a pedir a demissão do cargo, facto que só aconteceu em 1918, durante a ditadura de Sidónio Pais, que o mandou regressar a Portugal. Foi-lhe retirado o passaporte diplomático e colocado sob prisão no Hotel Avenida Palace. Depois da queda de Sidónio Pais regressou à atividade diplomática em Madrid e mais tarde em Londres. Em 1922 representou o país na Sociedade das Nações, chegando a ocupar uma das vice-presidências.
Em 6 de agosto de 1923, apoiado pelo partido republicano, vence as eleições à Presidência da República. No entanto o momento não era propício a uma presidência pacífica, dado que as lutas políticas eram intensas. Dececionado com a política, renunciou à Presidência, alegando motivos de saúde.
Parte quase em segredo na cargueiro Zeus com destino ao norte de África.
Morreu a 18 de outubro de 1941, sendo sepultado no cemitério cristão de Bougie, no jazigo dos proprietários do hotel onde passou os últimos anos. Por vontade da família, os seus restos mortais foram transladados para a sua cidade natal, Portimão, em 1950.
Em março de 2006, na sua última deslocação ao estrangeiro, o presidente Jorge Sampaio deslocou-se à Argélia para inaugurar um busto de homenagem a Manuel Teixeira Gomes e para participar no lançamento de uma antologia sobre o antigo Chefe de Estado Português.
Não se trata do principal deus da mitologia grega, considerado na Grécia Antiga como o deus dos deuses mas, o nome de um cargueiro, que saiu de Lisboa a 17 de dezembro de 1925 e cujo rumo era a Argélia.
Nele ia, aos 65 anos de idade, Manuel Teixeira Gomes e não mais voltaria à Pátria.
Não levou consigo nem um papel, nem um livro, nada que lhe lembrasse o país. Levou apenas uma mala de roupa que usaria até ao fim da sua vida.
Não levou consigo nem um papel, nem um livro, nada que lhe lembrasse o país. Levou apenas uma mala de roupa que usaria até ao fim da sua vida.
Durante os 15 anos seguintes viveu na cidade argelina de Bougie, no quarto nº 13, do Hotel de L'Étoile, onde retomou a sua atividade literária, desde há muito interrompida, e onde escreveu, segundo os críticos, uma das obras-primas da literatura portuguesa dos século XX, Maria Adelaide, outros outros livros de contos, memórias e cartas.
Bougie, Hotel onde faleceu Manuel Teixeira Gomes a 18/10/1941 |
Manuel Teixeira Gomes, representante do Partido Democrático, foi o sétimo presidente da Primeira República Portuguesa, de 6 de outubro de 1923 a 11 de dezembro de 1925, no meio de permanentes convulsões políticas e sociais. A 11 de dezembro de 1925 enviou uma carta de renúncia ao Presidente do Congresso, alegando motivos de saúde, e dando início a um exílio voluntário de 15 anos: " Pois sim; mas eu é que não estou para o aturar", numa alusão ao presidente do Conselho.
Mamuel Teixeira Gomes no seu gabinete em Londres |
Político, escritor e diplomata, Manuel Teixeira Gomes, nasceu a 27 de maio de 1862, em Portimão. Aos dez anos mudou-se para Coimbra para estudar no liceu do Seminário Diocesano, onde travou conhecimento com José Relvas. Em Lisboa frequentava regularmente a Biblioteca Nacional e conviveu com João de Deus e Fialho de Almeida. Depois de cumprir o serviço militar fixou-se na cidade do Porto, tendo colaborado com o jornal Primeiro de Janeiro e noutros jornais e revistas de menor expansão. Deixou a vida boémia do Porto e regressou a Portimão a fim de ajudar o seu pai nos negócios familiares. Aí e paralelamente à atividade comercial, continuou a escrever e interessou-se pela atividade republicana local, participando em comícios, reuniões e colaborando no jornal A Luta.
Em 1910, com a Implantação da República, foi nomeado embaixador em Londres, tornando-se assim o primeiro representante da República no Reino Unido. No exercício das suas funções evidenciou-se nas negociações anglo-germânicas, relativas às colónias portuguesas, na cooperação com os governos portugueses na Primeira Guerra Mundial e integrou os círculos do movimento das sufragistas na capital londrina.
O facto de defender a entrada de Portugal na guerra, trouxe-lhe inimizades, levando-o a pedir a demissão do cargo, facto que só aconteceu em 1918, durante a ditadura de Sidónio Pais, que o mandou regressar a Portugal. Foi-lhe retirado o passaporte diplomático e colocado sob prisão no Hotel Avenida Palace. Depois da queda de Sidónio Pais regressou à atividade diplomática em Madrid e mais tarde em Londres. Em 1922 representou o país na Sociedade das Nações, chegando a ocupar uma das vice-presidências.
Em 6 de agosto de 1923, apoiado pelo partido republicano, vence as eleições à Presidência da República. No entanto o momento não era propício a uma presidência pacífica, dado que as lutas políticas eram intensas. Dececionado com a política, renunciou à Presidência, alegando motivos de saúde.
Parte quase em segredo na cargueiro Zeus com destino ao norte de África.
1950, aniversário da sua morte, o corpo é trasladado para a cidade de Portimão. |
Morreu a 18 de outubro de 1941, sendo sepultado no cemitério cristão de Bougie, no jazigo dos proprietários do hotel onde passou os últimos anos. Por vontade da família, os seus restos mortais foram transladados para a sua cidade natal, Portimão, em 1950.
Em março de 2006, na sua última deslocação ao estrangeiro, o presidente Jorge Sampaio deslocou-se à Argélia para inaugurar um busto de homenagem a Manuel Teixeira Gomes e para participar no lançamento de uma antologia sobre o antigo Chefe de Estado Português.
"Pouca gente conhece que tivemos um Presidente da República destes,
uma pessoa desta envergadura. Um presidente que tenha escrito livros eróticos,
acho que é único no mundo."
Paulo Filipe Monteiro
Caro Leitor,
aqui fica o convite
aqui fica o convite
para se deslocar à Biblioteca Municipal
e ficar a conhecer a bibliografia
de um dos nossos Presidente da República.
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