fevereiro 06, 2013

A POESIA PARA MIM É UM INSTRUMENTO E, MUITO, UM REFÚGIO PARA UMA SÉRIE DE DRAMAS INTERIORES


Amigos:
As palavras mesmo estranhas
se têm música verdadeira
só precisam de quem as toque
ao mesmo ritmo para serem
todas irmãs
                                                                                                                 José Craveirinha



"Podemos considerar José Craveirinha como o poeta nacional moçambicano, 
assim como Luís de Camões o é para Portugal."

"Nasci a primeira vez em 28 de maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Pela parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai fiquei José.
Aonde? Na avenida do Zichacha entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros pobres. 
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato. A seguir fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros. Quando meu pai foi de vez, tive outro pai: o seu irmão. E a partir de cada nascimento eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais.
(...) Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe negra."

Filho de pai algarvio, cuja família partira para Moçambique em 1908 em busca de fortuna, estudou na escola "Primeiro de Janeiro", pertencente à Maçonaria. Ainda adolescente, começou a frequentar a Associação Africana. Colaborou n' O Brado Africano, que tratava de assuntos de caráter local da população mais desprotegida. Trabalhou no jornal Notícias, onde fez campanha contra o racismo e foi o primeiro jornalista oficialmente sindicalizado.

Devido às suas ligações à FRELIMO, esteve preso pela PIDE entre 1964 e 1968, na célebre Cela 1, onde conheceu o pintor Malangatana e o escritor Rui Nogar.


Todo o poeta quando preso

Todo o poeta quando preso
é um refugiado livre no universo
de cada coração
na rua.

O chefe da polícia
de defesa da segurança do estado
sabe como se prende um suspeito 
mas quanto ao resto
não sabe nada.

E nem desconfia
                                                                               


Apesar da sua obra refletir a influência dos surrealistas, é muito marcada pelo caráter popular tipicamente moçambicano.
Escritor com ligações afetivas a Portugal, a sua primeira obra foi publicada em 1964, através da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa. 

Em 1991 foi-lhe atribuído o Prémio Camões, o primeiro autor africano a ser distinguido com o galardão mais importante da literatura portuguesa e recebeu condecorações dos presidentes de Portugal e de Moçambique, Jorge Sampaio e Joaquim Chissano, respetivamente.

Aforismo

Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
estávamos iguais
com duas diferenças:
Não era interrogada e por descuido podiam pisá-la.
Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam ajoelhar-nos.


Vice-presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, escritor galardoado com o prémio "Vida Literária" da Associação de Escritores Moçambicanos, foi homenageado no dia 28 de maio de 2002, numa iniciativa do governo moçambicano em consagrar o ano de 2002 a José Craveirinha. Faleceu no ano seguinte, a 6 de fevereiro, na África do Sul, faz hoje 11 anos.


Ler poesia é mais útil para o cérebro que livros de autoajuda, dizem os cientistas.

O leitor pode começar pelo autor que hoje divulgamos.
Veja AQUI a bibliografia de José Craveirinha que a Biblioteca Municipal dispõe para empréstimo domiciliário.


"Se os líderes lessem poesia, seriam mais sábios"
                                                                                                                            Octavio Paz



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