26 de fevereiro [2022]
Lviv, 322760 refugiados
"(...) A cidade inteira já está a trabalhar para esta guerra e a guerra não tem 48 horas. "Estamos em guerra há oito anos", é a frase que toda a gente diz. Mas também diz: "Mas nunca pensei, nunca pensei.". Sirenes.
(...) A história da cidade é tempestuosa. Em 1349 é polaca. Em 1648 é brevemente tomada pelos cossacos, camponeses que lutaram contra o feudalismo; democráticos para os padrões da época, elegiam já os seus próprios chefes militares. Os ucranianos, principalmente no oeste, dizem-se orgulhosamente descendentes deles. Em 1704, Lviv passa para as mãos dos suecos e é entregue à Áustria na primeira divisão da Polónia, em 1772. A Rússia chega em 1914. Os alemães invadem em 1941 e os russos voltam depois da vitória sobre os nazis, em 1945. Entre 1914 e 1945, Lviv foi de oito países, impérios, poderes e entidades diferentes. (...)
Os russos só abandonam o país, oficialmente, em 1991, quando a Ucrânia se torna independente, mas um tratado nada pode contra as velhas redes de influência e compadrio. Muitos ucranianos consideram que, até 2004, quando o povo se revolta contra o que muitos consideram a eleição-fantoche de Viktor Yanukovich, apoiado por Moscovo, não tinha ainda havido um momento de unidade nacional contra a influência do Kremlin nos destinos da Ucrânia."
Para assinalar esta triste data, divulgamos hoje o relato das experiências
da jornalista Ana França durante a Guerra da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
A autora permaneceu no país cerca de um mês,
percorrendo diversas cidades (Lviv, Bucha, Kyiv e Mykolaiv),
documentando os acontecimentos e conversando com os habitantes locais.
Esse mês deu origem a este livro.
A 23 de fevereiro de 2022, um dia antes do início da guerra na Ucrânia, Ana França, jornalista, estava de férias em Trieste. E é nesse dia, o último antes de o mundo mudar irremediavelmente, que começa este livro. A 26 de fevereiro já a repórter chegava a Lviv e se adentrava no terreno, conversando com as pessoas, seguindo de cidade em cidade para contar o que via, numa sequência de reportagens que agora se transformam em livro e testemunho vivo de uma guerra ainda em curso.
O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página.
Agostinho de Hipona
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