A cidade foi crescendo para as margens e os blocos de vidro e betão ceifaram as quintas e moradias dos arrabaldes. A casa de Vergílio - um verdadeiro casulo cheio de memórias - é a única que resiste, mas está, assim mesmo, condenada à extinção.
Enquanto recebe a visita da agente imobiliária que se ocupará da venda da propriedade, este homem adulto e sozinho recorda o que foi a vida nesse refúgio - a superproteção das mulheres (mãe, avó e bisavó, vistas como bonecas russas), a megalomania do pai, a simbiose perfeita com a irmã, as atitudes intempestivas e hilariantes do tio mutilado na guerra colonial, a loucura do professor de quem recebia estranhas lições particulares. Nenhuma das suas figuras de referência o preparou para a emancipação - todas, pelo contrário, o incompatibilizaram com a vida comum.
A Vida Verdadeira
Romance escrito por Vasco Luís Curado
É a nossa sugestão de leitura para o seu fim de semana
"A Vida Verdadeira tem uma personagem principal e várias secundárias,
mas a verdadeira protagonista é a própria vida, a vida genética,
hereditária, da qual as pessoas concretas são mero fantoches."
Pedro Mexia
Vasco Luís Curado nasceu em 1971. Publicou um livro de contos em 1999, A Casa da Loucura, e um pequeno romance em 2001, O Senhor Ambíguo. Publicou alguns contos na revista Bang!.
Psicólogo clínico de formação, pelo ISPA, trabalhou dez anos num hospital militar e publicou em 2000 uma tese de mestrado na área da psicologia, intitulada Sonho, Delírio e Linguagem.
A nossa sugestão de leitura para este fim de semana, A Vida Verdadeira, foi publicada em 2010 e, em 2012, publicou Gare do Oriente, ambos editados pelas Publicações Dom Quixote.
"- Não sei, Vergílio. Não sei tudo o que o futuro me vai trazer.
Mas eu vou à procura. Há uma vida para ser vivida".
Irene, In A vida Verdadeira
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