DICÇÃO
Vou
falar em português,
com
cada vogal no seu lugar, dita
com
toda a clareza,
uma
de cada vez. Assim,
não
comendo os és nem os is,
e
pondo cada ó, aberto
ou
fechado, dentro da sílaba
que
lhe cabe, o português
fica
com os pontos nos is,
para
que o ouvido perceba
o
que é dele,
e
quem o escreva saiba
que
a letra escrita
não
vai ser letra morta
na
boca
de
quem lhe abra a porta.
Nuno Júdice
No Dia do Autor Português, a Biblioteca Municipal dá os parabéns a Nuno Júdice, que foi no passado dia 16 de maio, galardoado
com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, que
reconhece o conjunto de uma obra de um autor vivo, cujo valor
literário constitui uma contribuição relevante ao património
cultural Ibero-Americano.
O galardão, atribuído pelo Património
Nacional e pela Universidade de Salamanca e dotado com 42.100 euros,
celebra este ano a sua XXII edição e é considerado o mais
prestigiado deste género no universo Ibero-Americano.
Poeta,
ensaísta e académico, nasceu a 29
de Abril de 1949, no Algarve, em
Mexilhoeira Grande.
Licenciou-se
em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa e obteve o grau de
Doutor pela Universidade Nova, onde é Professor Catedrático,
apresentando, em 1989, uma dissertação sobre Literatura Medieval.
Foi nomeado, em 1997, Conselheiro
Cultural da Embaixada de Portugal e Director do Instituto Camões em
Paris, cargos que exerceu até fevereiro de 2004. Publicou antologias, edições de crítica literária, estudos
sobre Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa e mantém uma
colaboração regular na imprensa. Foi
o responsável pela Língua e Cultura Portuguesa, na organização do
Pavilhão Português, na Exposição de Sevilha, em 1992, bem como
pela área de Literatura, na Sociedade Portugal-Frankfurt, em 1997. Organizou
a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa 94 - Capital
Europeia da Cultura.
Exerce
uma atividade regular de crítica e ensaística literária, quer no
âmbito das atividades universitárias, quer em jornais, como o
Expresso e o JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias. Foi
Diretor da revista literária Tabacaria, editada pela Casa Fernando
Pessoa.
É
um dos responsáveis pelos Seminários colectivos de tradução de
poesia, que se realizam duas vezes por ano no Palácio de Mateus, no
Norte de Portugal, e membro permanente do júri do Prémio D. Dinis
da Fundação Casa de Mateus.
Lusofonia
rapariga:
s.f., fem. de rapaz; mulher nova; moça; menina; (Brasil), meretriz.
Escrevo
um poema sobre a rapariga que está sentada
no
café, em frente da chávena do café, enquanto
alisa
os cabelos com a mão. Mas não posso escrever este
poema
sobre essa rapariga porque, no Brasil, a palavra
rapariga
não quer dizer o que ela diz em Portugal. Então,
terei
de escrever a mulher nova do café, a jovem do café,
a
menina do café, para que a reputação da pobre rapariga
que
alisa os cabelos com a mão, num café de Lisboa, não
fique
estragada para sempre quando este poema atravessar
o
atlântico para desembarcar no Rio de Janeiro. E isto tudo
sem
pensar em África, porque aí lá terei
de
escrever sobre a moça do café, para
evitar
o tom demasiado continental da rapariga, que é
uma
palavra que já me está a pôr com dores
de
cabeça até porque, no fundo, a única coisa que eu queria
era
escrever um poema sobre a rapariga
do
café. A solução, então, é mudar de café, e limitar-me a
escrever
um poema sobre aquele café onde nenhuma rapariga se
pode
sentar à mesa porque só servem cafés ao balcão.
Nuno Júdice
A sua estreia literária deu-se em 1972 com A Noção de Poema. Em 1985
recebeu o Prémio Pen Clube, e em 1990 o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus. Em 1994 a Associação Portuguesa de Escritores,
distinguiu-o pela publicação de Meditação sobre Ruínas,
finalista do Prémio Europeu de Literatura Aristeion. Assinou ainda
obras para teatro e traduziu autores como Corneille e Emily
Dickinson.
Nuno
Júdice recebeu ainda o Prémio de Poesia Pablo Neruda e o Prémio da
Fundação da Casa de Mateus.
Em 2004 recebeu
o Prémio Literário Fernando Namora, pelo romance O Anjo da
Tempestade , e em 2005, foi a vez de receber o Prémio Cesário Verde "Consagração",
pela sua obra O Estado dos Campos.
Em
2007 foi galardoado com o Prémio Nacional de Poesia Ramos Rosa.
Até
ao fim
Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjetivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.
Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjetivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.
Nuno Júdice
Foram três os poemas de Nuno Júdice que vos deixamos aqui. Os outros, bem como os seus romances,
o leitor poderá encontrá-los
na sala de leitura da sua Biblioteca.
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