julho 30, 2014

VOZES DA PALESTINA E DE ISRAEL


"Não se trata de julgar, trata-se de compreender."
                                                                                             Espinosa


Todos os dias ao ligarmos a televisão deparamo-nos com imagens do conflito Israelo-Palestiniano.

Caro Leitor, não é uma análise política sobre este conflito, que se confunde com a própria História contemporânea, que aqui vos deixamos,  mas antes uma sugestão de leitura, que dá a palavra às vitimas que compõem as duas faces do conflito, transformando-se numa poderosa, chocante e profundamente comovente coletânea de testemunhos de crianças e adultos, que contam as suas vivências nos territórios ocupados.
É o retrato de dois povos que vivem de igual maneira o terror, culpando-se mutuamente pela continuação do conflito; mas é também um sentido apelo à Paz, uma Paz que reconheça injustiças e ofereça dignidade a todos.

 
 
O PERFUME DA NOSSA TERRA
vozes da Palestina e de Israel
Escrito por Kenizé Mourad
Publicado pelas Edições Asa

 
 
EXCEÇÃO
 
Todos chegam ao seu destino
o rio, o comboio
a voz, o navio
a luz, as cartas
o telegrama de condolências
o convite para jantar
a mala diplomática
a nave espacial
Todos chegam ao seu destino
exceto ... os meus passos ao meu país
                  
 Murid AL-Barghuti,
In Pequena Antologia da Poesia Palestiniana Contemporânea
                    (Pode ser requisitado na Biblioteca Municipal)
 
 
 
Kenizé Mourad nasceu a 15 de junho de 1940 em Paris, é uma jornalista e escritora francesa de origem turco-indiana. Filha de mãe turca, uma princesa otomana, filha do sultão Murad I, que casou com um rajá indiano e que se refugiou em Paris. Órfã de mãe desde a nascença, Kenizé foi educada no meio católico.
Aos vinte anos de idade procurou as suas raízes e lançou-se à descoberta do islão com a leitura dos textos dos sábios do sufismo. Fez várias viagens à India e ao Paquistão, enquanto estudava psicologia e sociologia na Universidade de Sorbonne.
Jornalista do Nouvel Observateur de 1970 a 1983 e especialista em assuntos relacionados com o Médio-Oriente e Índia, a autora fez a cobertura jornalística das guerras do Líbano, dos conflitos Israelo-Palestinianos, Indopaquistanês, do Bangladesh e da revolução iraniana.
Em 1983 deixou o jornalismo para se dedicar a uma carreira literária e escrever, ainda que sob a capa da ficção, a história da sua própria família. E em 1987 publicou o seu primeiro romance "Da parte da princesa morta", seguindo-se "Um jardim em Badalpur", que o Leitor pode requisitar na sua Biblioteca.

 
 
EU, QUE EU POSSA DESCANSAR EM PAZ
 
Eu, que eu possa descasar em paz
eu, que ainda estou vivo e digo:
que eu possa ter paz no que tenho de vida.
Eu quero paz agora mesmo, enquanto ainda estou vivo.
Não quero esperar como aquele piedoso que almejava
uma perna do trono de ouro do Paraíso. Quero uma cadeira
de quatro pernas, aqui mesmo, uma cadeira simples de madeira.
Quero o resto da minha paz agora.
Vivi minha vida em guerras de toda espécie: batalhas dentro e fora,
combate cara a cara, a cara sempre a minha mesmo,
minha cara de amante, minha cara de inimigo.
Guerras com velhas armas, paus e pedras, machado enferrujado, palavras,
rasgão de faca cega, amor e ódio,
e guerra com armas de último forno, metralha, míssil,
palavras, minas terrestres explodindo, amor e ódio.
Não quero cumprir a profecia de meus pais de que vida é guerra
Eu quero paz com todo meu corpo e em toda minha alma.
Descansem-me em paz...
 
Yehuda Amichai, poeta israelita, 1924-2000
Tradução de Millôr Fernandes




Boa Semana
  
 
 

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