outubro 04, 2016

"RAIOS PARTAM A REVOLUÇÃO E A REPÚBLICA E OS HOMENS QUE A FINGEM SERVIR"

"Por vezes diz-se que a Monarquia "morreu", quando o Rei D. Carlos foi morto. Tal afirmação não corresponde à verdade, embora tenhamos que reconhecer, que o regime que vigorou, em Portugal, mais de sete séculos, começou a agonizar após o atentado que vitimou D. Carlos e o Príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.

Funeral do Rei D. Carlos e de D. Luís Filipe

Morto o soberano e o seu primogénito, foi o Infante D. Manuel, jovem de 18 anos e inexperiente em assuntos do Estado, que subiu ao trono, herdando, assim, uma coroa manchada de sangue, num momento particularmente difícil para o País. No dia seguinte ao regicídio, 2 de fevereiro, na reunião do Conselho de Estado a que D. Manuel II presidiu e ao qual assistiram as personalidades mais representativas da política nacional, o monarca disse "que esperava de todos ajuda e bom conselho no momento mais grave que a dinastia atravessa". O Rei, durante a seu curto reinado, esteve rodeado de individualidades políticas, essas sim, na maioria, com larga experiência governativa, mas faltou-lhe o apoio de que necessitava e a ajuda que, expressamente solicitara no Conselho de Estado.
Não obstante o jovem monarca manifestar, por actos e palavras, os seus sinceros sentimentos de pacificação e de concórdia, o certo é que a ambição de Poder por parte dos líderes dos Partidos monárquicos; as querelas mesquinhas dos velhos, experimentados e prestigiados políticos; as rivalidades no seio dos próprios Partidos; as honrarias tão desejadas, tudo isto ligado a Parlamentos onde não se olvidavam ódios, nem rancores, abriram caminho para o abismo que se adivinhava - a queda do Regime.

D. Manuel II

Assim, a causa principal que precipitou o fim da Instituição Monárquica, deve encontrar-se na incúria dos políticos que tinham a responsabilidade de defender o País e o Regime. No entanto, também para a queda da Monarquia contribuíram a defecção dos oficiais da Guarnição de Lisboa, a traição de algumas personalidades ditas monárquicas e a política de "Acalmação" de Ferreira do Amaral que, com a concessão da amnistia geral de 5 de fevereiro de 1908, permitiu libertar todos os "marechais" da República, presos no mês anterior, como suspeitos de conspirarem contra as Instituições.
Todavia e apesar de tudo o que se passou de desprezível e maléfico nos últimos anos da Monarquia, refira-se que, nas cerca de 36 horas que durou o golpe revolucionário que culminou com a proclamação da República, a sorte das armas não foi, desde logo, favorável aos revolucionários.
"Houve, pelo contrário, momentos de grande desânimo, horas em que a derrota pareceu inevitável; e, sem a heróica insistência de Machado Santos, mantendo-se na Rotunda contra o voto dos oficiais de Artilharia, o desastre dos republicanos era certo" escreveu José Relvas nas suas "Memórias Políticas". Tais afirmações não justificando os comportamentos muito pouco abonatórios dos oficiais de Exército, com grandes responsabilidades no Movimento Revolucionário e dos "Marechais" da República nele implicados, explicam, contudo, as atitudes cobardes de uns e de outros. (...)
Quanto aos "Marechais" da República que tinham conseguido engrossar as fileiras dos "descontentes" pela "pena" ou pela "palavra", abandonaram, duvidando da vitória republicana, o seu "Quartel-General" nos banhos de S. Paulo e "foi cada um à sua vida".

Afonso Costa


"Não podendo Afonso Costa fazer mais nada, é homem para mandar assassinar. 
Tudo depende do seu grau de indignação."
                                                                                                           Fernando Pessoa



Afonso Costa, viajando no coupé de praça nº 44 que fora varado, em Alcântara, com alguns tiros de pistola, receoso e convencido de ter sido atingido pelo fogo dirigido à carruagem, refugiou-se, na madrugada do dia 4, no Hotel Central, no Cais do Sodré, onde se encontrava o médico Malva do Vale que, por sinal, detestava Afonso Costa, mas, em face das queixas do caudilho, mandou que se despisse e depois de o examinar, "declarou sarcasticamente que ele (Costa) tinha no corpo um buraco, de nascença e natural...".
(...) a fundação da República ficou a dever-se mais ao demérito dos monárquicos do que ao merecimento dos republicanos."

In, Primeira República em datas e ilustrada
de Eurico Carlos Esteves Lage Cardoso




"A 1ª República, para mim, era uma coisa que não ia levar a sítio nenhum. Mais: estou convencido que era uma coisa esquisita, segundo a qual, se não tivesse havido ditadura, provavelmente Portugal tinha acabado naquele momento, aí por 1925-26. Era uma confusão, ninguém se entendia, não parecia existir saída de espécie alguma."
                                                                                                         Agostinho da Silva



Estas e outras histórias da nossa História 
esperam por si de 3 a 10 de outubro
 no átrio da Biblioteca Municipal.






Sem comentários:

Enviar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...