agosto 14, 2012

DE NENHUM FRUTO QUEIRAS SÓ METADE




Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu em S. Martinho de Anta, a 12 de agosto de 1907 e faleceu em Coimbra a 17 de janeiro de 1995, foi um dos mais importantes escritores portugueses de século XX.
Em 1918, foi para o seminário de Lamego. Estudou português, geografia e história, aprendeu latim e familiarizou-se com os textos sagrados. Pouco tempo depois comunicou ao pai que não queria ser padre. 
Emigrou para o Brasil em 1920, com doze anos de idade, para trabalhar na fazenda de café do tio. Ao fim de quatro anos, o tio apercebe-se da sua inteligência e paga-lhe os estudos liceais em Leopoldina, onde se distingue como aluno. Convicto que o sobrinho viria a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-lhe pagar os estudos o que o levou a regressar a Portugal para concluir o liceu.


Em 1928, entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publicou o seu primeiro livro de poesia, Ansiedade.
No ano seguinte, com 22 anos, começou a colaborar na revista Presença, mas rompeu definitivamente com a revista em 1930, assumindo uma posição independente. Foi em 1934 que criou o pseudónimo "Miguel" e "Torga". 
Miguel em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. 
Torga é uma planta transmontana, com raízes agarradas e duras "assim como eu sou duro"



Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

A intervenção cívica de Miguel Torga na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos crimes da guerra civil de Espanha e de Franco, valeu-lhe a apreensão de algumas das sua sobras pela censura.
Foi preso pela PIDE e teve algumas vezes vontade de sair do país: "Mas abandonar a Pátria com um saco às costas? Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, o Mondego, a luz de Coimbra, a biblioteca e as vogais da língua. Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles seria um cadáver a respirar".


Desenho de Carlos Botelho
Começou a exercer clínica geral na sua aldeia natal, mas a experiência foi negativa. Seguiu-se Leiria, uma cidade que gostava, mas por causa do mau trabalho das tipografias (por causa de uma vírgula era capaz de passar uma noite sem dormir), fixou-se definitivamente em Coimbra, em 1941, como otorrinolaringologista.
Em 1940 casou com a professora universitária, a belga Andrée Crabbé: "Vou tentar ser um bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso. (Criação do Mundo V)


Fotografia de Eduardo Gageiro
"De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e  da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo"
Diário, Coimbra, 9 de dezembro de 1993

Os seu livros estão traduzidos em várias línguas, entre elas o espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.

Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram-lhe atribuídos:

  • 1969 - Prémio Diário de Notícias
  • 1976 - Prémio Internacional de Poesia das Bienais de Knokke-Heist
  • 1980 - Prémio Morgado de Mateus
  • 1981 - Prémio Montaigne
  • 1982 - Prémio Écureuil de Literatura
  • 1989 - Prémio Camões
  • 1991 - Prémio Personalidade do Ano
  • 1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores
  • 1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra.
  • Foi ainda proposto para o  Prémio Nobel da Literatura.

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado, 
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
                                                                                                  Miguel Torga, Diário XIII

A Biblioteca Municipal dispõe bibliografia do autor para empréstimo domiciliário.
Veja AQUI



BOM FERIADO

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