fevereiro 29, 2012

O AMOR PODE SER

Hoje vamos publicar um poema que nos foi enviado pelo escritor Alberto Riogrande e que deveria ter feito parte das participações no nosso Desafio - Dia de S. Valentim, mas que, por motivos técnicos, só agora nos foi possível proceder à sua publicação.

O AMOR PODE SER

O amor pode ser tudo o que tu quiseres,
tudo o que já foi dito
desde o começo dos tempos
em milhões de linhas empolgadas
e outras tantas, ainda,
desabadas
gravadas em silêncios
ensurdecedores e ásperos tormentos.

Um dia dirás que o amor é
uma engrenagem complexa,
imperfeita
e sempre inacabada;
quando pensas saber tudo
sobre essa combustão mágica
no caminho celestial,
forrado de beijos
e esperas
e veludo
cobrindo os dedos,
num sopro indomáveis ventos

levam-te o sonho
trazem-te os medos
e o tudo,
o céu
onde agarravas as mãos,
é uma sombra no pó da estrada.

Mas voltas à carga
como um cavaleiro mongol,
ébrio, rasgando a estepe
cinzelada no rosto,
no arfar gravado de sol
e céu
no caminhar vagabundo

e na estrada sem fim haverá,
quem sabe,
nos confins da estepe,
um mensageiro
a indicar-te o caminho,
talvez uma metade à espera de ti.
Para te sentires o sol, de corpo inteiro.

Um velho confessou-me, um dia,
que o amor
pode ser o sol
a lua,
todos os astros:
por ele já se fizeram guerras intermináveis
- lembras-te de Helena, Cleópatra, Inês?
se esboroaram impérios
todas
as quimeras,
se cometeram martírios abomináveis,
o general mais coriáceo, chorou
como uma criança
à frente do seu exército, de rastos,
vencido,
pela inclemente mordedura da paixão.

Dirás, mas se é assim uma estrada
tão cheia de sol e tempestade,
no incerto sopé
do vulcão, valerá a pena caminhar por aí?

É de todas a mais esplenderosa viagem,
grava no tempo,
no rosto, quem a percorreu:
às vezes é uma tormenta, doce miragem
nos encontros alvoraçados
de julieta e romeu,
outras a tatuagem que falta
a quem o sonhou, perdidamente, mas não o viveu.


Alberto Riogrande é um pseudónimo. Nasceu numa quinta, entre duas montanhas, à beira do Mondego. Licenciou-se pela Universidade de Coimbra e é professor na área das Humanidades. Viajou pela Europa e Norte de África e viveu durante longos períodos na Provença, Luxemburgo, norte dos Balcãs, Paris e na ilha do Pico. Por ser admirador destas vozes, gostava que um texto seu fosse cantado por Mariza, Luz Casal, Maria Bethânia ou KD Lang. Publicou, em 2010, o livro "A lua no teu umbigo".



Os nossos agradecimentos pela participação.
 Veja aqui o nosso DESAFIO

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